Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

domingo, 30 de setembro de 2012

Finalidades de uma Organização.


Finalidades de uma Organização.
Um pequeno desabado de um velhote Escoteiro. Risos.

            De vez em quando sou atropelado por formadores de opinião ou mesmo escotistas quanto as minhas ideias que muitos julgam estapafúrdia, aboletas e desrespeitosas. Acredito que boa parte ainda não me conhece pessoalmente e fazem julgamentos apressados ao meu respeito. Já disse aqui que não tenho registro na UEB simplesmente para poder dar vazão as minhas razões e argumentos visando única e exclusivamente à expansão do escotismo brasileiro. Só assim ele terá o respeito que merece e terá o apoio por parte da nossa sociedade de uma maneira geral. Em tempo algum o escotismo aceitou uma forma de oposição mesmo que sadia e carregada de princípios éticos. Colocam nossa organização como intocável, sem defeitos, e até uns acham que ela é nosso pai e como tal somos uma família e que família contesta seus pais?

           Li uma vez uma definição sobre a palavra Organização. Trata-se do escritor Aldous Huxler, vejamos:

“Uma organização não é consciente nem viva”. Seu valor é instrumental e derivado. Não é boa em si; É boa apenas na medida em que promoveu o bem dos indivíduos que são partes do todo. Dar primazia às organizações sobre as pessoas é subordinar os fins aos meios.
Tudo estaria a salvo se toda a população fosse capaz de ler e se permitisse que toda espécie de opiniões fosse dirigida aos homens, pela palavra ou pela escrita, e se pelo voto, os homens pudessem eleger um legislativo que representasse às opiniões que tivessem adotado!

          Aldous não é o dono da verdade, mas suas palavras para mim trazem um fundo inspiracional. Se não houver contestações, divergências ou oposições sadias seria isto o que deseja Baden Powell quando organizou e criou o escotismo no mundo? Vejam abaixo um comentário seu sobre democracia:                                        

“A maior ameaça a uma democracia é o homem que não quer pensar pôr si mesmo e não quer aprender a pensar logicamente em linha reta, tal como aprendeu a andar em linha reta”. A democracia pode salvar o mundo, porém jamais será salva enquanto os preguiçosos mentais não forem salvos de si mesmos. Eles não querem pensar, desejam apenas ir para frente, seguindo a ponta do nariz através da vida. E geralmente, estes, alguém os guia puxando-os pelo nariz!
- Saia da sua estreita rotina se quer alargar sua mente.

         Claro, em ambos os casos estamos sujeitos a interpretações. Isto é válido e democrático. Mas será válida uma organização que por anos a fio dirigiu, alterou, modificou e apesar de acertos não teve o escotismo um crescimento significativo como se espera dentro das premissas do crescimento populacional? Não podemos contestar? Discordar? Criamos uma forma de obediência que nos obriga a aceitar tudo que vem determinado pelos dirigentes e sem poder discordar? Não me venham dizer que somos obedientes e disciplinados e que juramos servir a União dos Escoteiros do Brasil. Se não houvesse disciplina seria o caos. Mas isto não nos tira o direito de mostrar mesmo que erroneamente o caminho que acreditamos poder atingir o sucesso esperado.

         Eu poderia dizer que se tudo que foi feito tivesse sido feito democraticamente, com a participação de pelo menos boa parte dos nossos membros adultos, poderia sem sombra de duvida concordar e dizer que o caminho percorrido valeu ou não valeu, pois houve consenso de todos. Mas não é isto que acontece. As normas, estatutos, RI e muitas outras decisões foram feitas e aprovadas por menos de 0,5% do nosso efetivo adulto Escoteiro. Nunca houve consenso nacional. Nunca todos os grupos escoteiros foram consultados e só uma pequena minoria participou. Os novos que estão chegando não sabem do passado, e quando são informados são dados incompletos cheios de interesses pessoais e que dá uma impressão errônea da verdade.

         Não sou de outra organização e nem serei. Nasci na UEB e vou morrer nela. Mas nunca deixarei de lutar pelas minhas ideias. Podem dizer que guardo mágoas do passado, mas quem me conhece pessoalmente sabe como sou. Nunca fugi da luta. Não aceito estes feudos que se formaram na Direção Nacional, nas regiões, distritos e até em muitos grupos escoteiros.  Se aqueles que se sentem satisfeitos com o estado atual, se eles vivem me dizendo que nossa meta é o jovem, se acham que devem dizer amem a tudo que vem de cima, nada posso fazer. Isto também é democrático. Mas precisamos mesmo de coragem. Não para desmerecer tudo, não para ficar só criticando, mas temos que pensar se podemos melhorar. Para isto enquanto não se fizer uma mudança geral em todas as normas estatutárias, enquanto não chegarem à conclusão que a participação e decisões devem ser motivadas por uma ampla pesquisa nacional, seremos este movimento que não tem respaldo na sociedade e nem ocupa o lugar que merece nos meios educacionais em nosso país.

             O escotismo não pertence a alguns privilegiados que se encastelaram no poder. Ele é de todos. O dia em que não pudermos mais discordar, sugerir e brigar pelas nossas ideias então acabou por completo o sonho da democracia. Aí se verá que a ditadura está implantada. Calam-se todos. As vozes não mais se levantarão. O desejo de muitos políticos que hoje querem calar a imprensa para mandarem e desmandarem será uma realidade Escoteira. Não podemos aceitar isto. A UEB tem homens de valor. Muitos. Merecem nossos aplausos pelo sacrifício, mas que respeitem uma oposição sadia. Esta história de Comissão de Ética para os revoltosos se acontecer como já aconteceu no passado não pode ser aceita. Que as opiniões de norte a sul sejam respeitadas. Claro dentro do principio legal, e da nossa Lei Escoteira!

PS. Quero deixar claro que não sou candidato a nada. Não consigo andar direito, tenho problemas pulmonares e não posso sair de casa por mais de duas horas. Risos. Portanto se não pudesse expor minhas ideias enquanto vivo não mereceria ser chamado de Osvaldo, um Escoteiro!  

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Um agradável acampamento de Monitores.


"Quero que vocês, guias de patrulha, entrem em ação e adestrem suas Patrulhas inteiramente sozinhos e ao seu jeito porque, para vocês, é perfeitamente possível pegar cada rapaz da Patrulha e fazer dele um bom camarada, um verdadeiro Homem. De nada vale ter um ou dois rapazes admiráveis e o resto não prestar para nada. Vocês devem fazer deles inteiramente bons.
Baden-Powell of Gilwell.”.

Um agradável acampamento de Monitores. Fasc. 76

              O "Velho" Escoteiro não se fez de rogado. Era um dia que ele estava palrador, e eu gostava quando estava assim. Dizia-me: - Faço-lhe um convite. Agora você não está responsável pela tropa Escoteira? Chame seus Monitores, pergunte se já fizeram um Acampamento de Monitores. Eles vão olhar para você de outra maneira. Irão ficar se perguntando o que seria. Garanto que em pouco tempo todos irão se interessar e muito. Afinal você é o Monitor dos seus Monitores. Saiba que é uma maravilhosa atividade. Diga a eles que vai ser voltada única e exclusivamente para aprendê-lo a fazer fazendo, portanto aquelas tropas com Patrulhas bem adestradas com altos conhecimentos de técnicas mateiras não sei se iriam gostar, mas nunca é demais, pois o campo sempre é uma atração para nós escoteiros. – Portanto não sei como está agora sua nova tropa!
              Olhei para o "Velho" Escoteiro. Pensei com meus botões porque não? Afinal adoro um acampamento e fazer um só com Monitores e subs será uma experiência encantadora. – Você já fez "Velho"? – Ele me olhou com aquela cara de quem não gostou e disse – Claro que sim. Não iria sugerir nada que não tivesse boa experiência. Chame e discuta o assunto com seus assistentes. Explique o objetivo que é de dar maior conhecimento técnico ao Monitor, ensinar maneiras de liderar, dividir tarefas enfim coisas e coisas escoteiras. Depois chame os Monitores. Discuta a ideia mais e mais. Você sabe, será só você e eles. Claro para formar uma Patrulha completa convide os Submonitores. Depois coloque em discussão o nome da Patrulha e o grito. Não dê palpites. Eles devem providenciar o totem e o bastão. Agora é partir para a preparação de tudo.

              - Veja bem, sei que você conhece, mas minha sugestão é fazer algum diferente. Se possível que eles desconheçam. Primeiro - Escolha do local. Escolha bem. Veja se alguns deles tem sugestão. Veja se tem bambus ou eucalipto ou outro tipo de madeira para usar. Claro tudo com autorização do proprietário. Sem isto a técnica mateira não será possível desenvolver. - Escolhido o local, marcar a data. Neste período ver as providencias de praxe. Autorizações (dos pais, do grupo ou distrito se for o caso), ver a lista de material de campo, alimentação e duração do acampamento. Sugiro saírem em uma sexta a noite e voltarem no domingo. Ah! Esqueci-me de dizer. Será um acampamento com uma atividade noturna no primeiro dia. Já, já vou comentar sobre isto. Não levem muita coisa. Alguns costumam levar além do que precisam. Isto é só carregar peso a mais. No primeiro dia farão uma jornada noturna de mais de seis ou oito quilômetros. Todo o material será levado nas costas de cada um. O material individual ao mínimo necessário. Irão aprender a lavar roupa e secar passando. Diga que esqueçam o saco de dormir. Irão dormir sobre folhas secas ou capim. Quanto aos utensílios quem sabe um caldeirão pequeno, uma cafeteira, coador uma frigideira pequena e uma panela pequena para arroz ou algum parecido. Um facão (ou dois) uma machadinha pequena (ou duas) uma lima, e não esquecer. Um rolo de sisal.

                - Levar ainda quatro ou cinco lonas de 4x4 metros ou similar, (destas simples que todo grupo tem e que não pesam nada) elas serão dobradas de maneira tal que dá para amarrar na mochila. Os Monitores que tiverem facas, lanternas, canivetes escoteiros, cantis devem levá-los. Não levarão barracas. Com as lonas irão improvisar abrigos. Escolhido o material de sapa acima detalhado e o de campo a preocupação é com a alimentação. Simples. Muito simples brinco sempre que um arroz, macarrão e batata e algumas linguiças comemos por dias e dias sem perder peso. Risos. E se lá puderem pegar uns lambaris que tal lambaris fritos com arroz? Se isto for possível um ou dois anzóis, uma chumbada leve e alguns metros de linha de nylon bem final. Afinal você sabe pescar não? Toda a alimentação será divida pelos participantes e levadas na mochila deles. Primeiro fazer uma lista. Ex. X quilos de arroz, X quilos de batata e assim por diante. Não esquecer óleo, Bombril, sabão, sal, açúcar, café em pó etc. Lista pronta divide-se pelos participantes.

                - Interessante. Na minha época sabíamos o que cada um precisava para se alimentar. Chamávamos ração A, ração B e ração C. A primeira para acampamentos de fins de semana, a segunda para dois a quatro dias e a ultima pra mais de seis dias. Todos sabiam de cor, tinham a lista em casa. Fácil para cada um levar o seu. Lembre-se a quantidade deve ser sempre para mais e não para menos. Pode-se também dividir por itens. Ex. um leva o arroz, outro a batata e assim por diante. Bem acho que estou ensinando padre nosso ao seu vigário. Risos. Mas vamos continuar. Estes itens alimentícios e de limpeza irão conforme já disse dentro das mochilas de cada um. Cuidado. Embalar bem. Se possível em pequenas tapoers e amarradas com plásticos. É um desastre alguma abrir e fazer festa com o material individual. É possível que esqueci alguma coisa. Compete a voces descobrir e acrescentar. Agora vamos partir para o programa. - Esquecer a ideia de tal hora isto tal hora aquilo. Então qual é o programa? Encontro na sede às oito e meia da noite, convidar dois ou três pais para transportá-los até o inicio da jornada (caso seja necessário) e para buscar no domingo bem tardinha. De trem ou ônibus melhor ainda. Dividir todo material entre si e pé na tábua.

               - Estava gostando da ideia do "Velho" Escoteiro. Já tinha visto outras tropas fazerem acampamentos de Monitores, mas não como este. – "Velho" e a tropa? – Um dos assistentes fica responsável pela reunião. Você sabe existe um tal sub do sub que não está escrito, mas é fato. O sub do sub assume! Certo "Velho". Continue: - Ao chegar à estrada ou trilha, adeus aos pais e começo da jornada a pé. Vá junto a eles, se possível prepare uma serie de histórias curtas para no caminho ir contando. Incentive-os a terem seus contos também. Incentive-os também a ouvir os ruídos da noite. Tentar descobrir o que é. Eles devem aprender para quando estivem em marcha com a Patrulha. Lembre-se a cada meia hora pare por dez minutos. Pés acima da cabeça e do coração. Assim além de descansar mais é bom para a circulação. Não ande mais que três horas. Ao ver um local afastado da estrada, (uma estrada carroçável, melhor se dirigir a uma pequena fazenda ou sitio) Hora de dormir. Pelo menos uns quinhentos metros fora da estrada. Olhe o local, veja cada moita, cada monte de folhas e capim. Forre com uma ou duas lonas. – Uma canção, quem sabe um daqueles jogos de boa noite, oração e vamos dormir. Nada como ter o céu como barraca e as estrelas como proteção da noite.

                 - Costumava – dizia o "Velho" Escoteiro – Escolher local onde não houvesse perigo. Caso desconfie, coloque guarda. Uma hora para cada um. Sempre bem perto de você. Explique como é. Qualquer coisa qualquer dúvida deve chama-lo imediatamente. – Bem cedo, sol ainda não nasceu e alvorada. Não vão sair sem café. A Patrulha se vira. Um deles é o cozinheiro. Você só orienta. Outro vai ver água ou então se precaveram antes com um cantil cheio e não usado. Biscoitos ou pão com manteiga já preparado. Pança cheia pé na taboa. Você já deve saber que mais duas horas chegarão ao local onde vão acampar. – Olhe em marcha de estrada você deve intercalar que vai à frente e quem vai por último. Sempre trocando. A distância de um e de outro não deve ser acima de três metros. Acima disto pare espere o atrasado. Não se esqueça das canções, observações ou quem sabe um relatório individual de cada um sobre os pássaros encontrados, nomes, se apareceu algum outro animal, e olhe, não vale animal domestico ou de criação. Seria estupendo um quati, um lobo, uma capivara ou um macaco prego. Não importa.

                 Ao chegar ao local escolhido, nada de pressa. Analise junto a eles onde deveria ser o melhor local do acampamento. Mostre exemplos de chuva torrencial, enchentes, local sujeito a ficar barrento, água de chuva em cascata nas barracas enfim tudo que for útil para a escolha. Depois deixe que cada escolha seu local. Individualmente. Ninguém fala com ninguém. Uma conversa ao pé do fogo e vamos ver a maioria onde escolheu. Veja as horas, se preocupe com um bom fogão, claro irão fazer um suspenso enquanto isto se vire com um tropeiro mesmo. Ficou claro na sede que cada um será responsável por uma montagem. O Monitor é todos, o sub sempre é o intendente, ainda tem o almoxarife, o aguadeiro, o lenhador, o cozinheiro e construtor de pioneiras. Não vale no campo os cargos burocráticos de sede. Bom sinal é a fumaça. Se ela existe é um começo para que o almoço seja iniciado. Deixe dois se preocupando. Os demais divida as tarefas. Explique a eles que breve serão os Monitores em um acampamento.

                - O "Velho" estava animado e eu também. Ele contava tim, tim por tim, e assim eu aprendia tudo. – Continuou o "Velho" Escoteiro – Antes da montagem do campo você deve ter conversado com todos o que poderiam fazer no campo. Quem sabe uma mesa, um fogão suspenso, fossas, lenheiro, W.C, enfim o que puderem fazer. Exija que os nós sejam bem feitos. As amarras bem acabadas. Lembre-se você ali é o Monitor dos Monitores. Não faça nada. Só ensine e explique. Bom ensinar também como usar o machado, o facão, a faca, a limpeza deles, não deixar em qualquer lugar. Ter um porta ferramentas, um toco pequeno para as de corte, explique com fazer achas de lenhas, cuidados necessários para evitar acidentes, nunca sair sem avisar aonde vai e sempre com mais um. Depois de duas horas pare tudo. Faça uma conversa ao pé do fogo. Discuta com eles o que foi feito e como está andando tudo. Deixe que cada um dê sua opinião. Após continuação dos trabalhos e parar só quando o almoço estiver pronto. Lembre-se da higiene. Lavar as mãos, o rosto, se já terem a mesa ótimo se não procurar um local apropriado onde todos ficarão juntos. Ninguém pode fazer a refeição longe um do outro.

                      - O "Velho" Escoteiro estava me prendendo com sua ideia, deixei ele continuar e não interrompi. – Olhe, continuou, acho que após o almoço alguns ajustes finais e até às dezesseis horas deve estar tudo pronto. Se sim, é hora de uma inspeção. A Patrulha forma em frente ao campo, dão ao grito e o Monitor mais velho que assumiu apresenta a Patrulha para inspeção. É bom todos acompanharem, mas explique que em campos de Patrulha onde estão todos só o Monitor acompanha a chefia. Esqueci-me de dizer sobre a barraca. Voces só levaram lonas. Fácil. Muito fácil uma armação tipo cavalete, a lona por cima presa com piquetes/espeques e fechada à frente (metade) e atrás com galhos com bastantes folhas e amarrados as laterais dos cavaletes. Não é difícil fazer uma esteira bem “acochada”.   Na frente o mesmo, mas tipo porta de abrir e fechar. Não se esqueçam das valas em volta dos abrigos. Se chover poderão dormir tranquilo.
       
                          - Já é tarde. Quem sabe um adestramento simples de usar a corda para prender entre duas árvores. É preciso força e nós apropriados. Você sabe quais são. O Volta do Fiel feito em um cabo é uma coisa, feito em corda em uma árvore outra. Quem sabe um fiel duplo? Melhor todos treinarem bem. Tem outro que faz o papel de uma roldana e puxado por todos vai servir tranquilamente. Torno a repetir, eles fazem você só orienta. A corda deve ficar não mais que um metro do chão. Com um bastão um jogo de atravessar a corda equilibrando. Claro usando os pés e o bastão como ponto de equilíbrio. No começo ninguém consegue passar. Não mais que seis ou oito metros de distância. Bem treinado varias vezes a maioria passa. O bastão serve de guia. Se der tempo praticam ao nó de evasão. Corda as costas, achar um galho, fazer um nó e descer pela corda. Marcar o tempo. Todos fazem e treinam quantas vezes quiserem. Agora um banho, uma canção, piadas e fiquem a vontade até o escurecer. Depois já sabe, inicio do jantar e os demais preparar as barracas ou abrigos para a noite. Não se esqueça da lenha para o fogo do conselho à noite. Cada um da Patrulha pega uma parte. Nada de gravetos.

                            - Um bom banho, descanso, o tempo para voces não existe. Inicio do jantar. Todos ajudam. Jantem com calma, contando “causos”. Incentivem seus Monitores e subs a contar também. Quando for lá pelas nove, tente montar uma imagem de um fogo de conselho diferente. Quem fizer vai ter que acender com um só palito. Deixe que fiquem a vontade em volta do fogo. Cada um senta onde quiser. Quem acende fica responsável pelo fogo e pela sua alimentação. Deixe que os Monitores puxem as canções, incentive palmas novas inventadas ali, leve duas ou três que eles não conhecem. Quando o fogo for aceso e é claro que pode dar errado com um só palito deixe que seja tentado uma ou mais vezes. Explique o porquê não deu certo. Muitos usam achas grossas e outros capins ou mato que juntam na hora achando que vai dar certo. No dia seguinte você vai fazer um jogo onde cada um fará seu fogo e acenderá com um só palito. Treino é treino jogo é jogo. Risos. Sabe, eu ali instituiria uma tradição. O batismo. Como? Todos serão batizado com um nome de guerra. Criem uma mística. Pode ser ficar de joelhos em frente ao Monitor. Com o bastão ele faz uma declaração. Venda seus olhos e ele seguro pelo Monitor salta o fogo uma ou duas vezes gritando seu nome de guerra. Pode ser indígena ou alguma figura proeminente de nossa história.

                          - O "Velho" escoteiro não parava. Olhei para o relógio. Uma da manhã, caramba! As sete tinha de estar no trabalho. Ele desconfiou. – Olhe vou terminar – disse. – No domingo último dia, faça uma boa inspeção no campo. De primeira qualidade, mas com todos juntos. Vá explicando o que sempre é olhado. Ensine como deveriam ter colocado o uniforme a noite para não amassar e nem pegar sereno. Depois da bandeira aproveite e treine semáforas. Você não deve esquecer-se de levar pelo menos quatro pares de bandeirolas. Com as semáforas voces vão passar boa parte da manhã. Lá pelas onze faça uma disputa. Transmissão a distancia. Aproveite para ensinar também como se usa a fumaça em transmissão a distancia. É gostoso. Fazer um fogo e quando estiver aceso ir colocando folhas secas. Sem labaredas usar uma manta ou lona. Ensine o S.O.S, ensine voltar ao ponto de reunião, ensine o que souber. – Olhe, voces se divertiram. Não foi aquele programa. O importante em tudo foi à confiança. A troca de ideias, mostrar a eles como liderar suas patrulhas.

                         - O "Velho" me olhou e disse – O final do domingo desmonte tudo. Explique como se faz. Não deixe vestígios. Convide o proprietário ou o responsável. Apresente aos jovens. Leve um lenço do grupo e dê para ele. Não colocar no seu pescoço. Risos. Lá pelas três faça um grande jogo. Você já deve ter preparado antes. Uma caça ao tesouro de olhos vendados. Como é o jogo? Caramba! Se não sabe montar um desista de ser Chefe escoteiro. Invente! Vamos ver se eles conhecem bem o terreno que ficaram. Depois um banho gostoso e esperar os pais para o retorno. Quando chegar a sede, não dê o debandar logo. Faça uma Corte de Honra rápida. Peça ao secretário para fazer a ata. Na hora. Todos assinam. Ficará para sempre com a Patrulha de Monitores. Uma tradição.

                      - Olhei para o "Velho" Escoteiro e disse – Olhe "Velho", nem tinha pensando nisto. Mas veja adorei a ideia. Vou desenvolver junto aos Monitores e aos assistentes. Não vai ficar engavetado. Se Deus quiser em um mês iremos fazer nosso primeiro acampamento de Monitores. Obrigado, mas desculpe, são duas da manhã e tenho que ir. Volto na sexta está bem? – Vá, você é um preguiçoso e riu. – O "Velho" Escoteiro sabia como era minha vida. Corrida. Mas adorava estar com ele. Aprendia muito. Na rua ao retornar, fiquei matutando. Vou me divertir muito agora na minha nova tropa. Desculpe a tropa que colaborava. Não é minha. Como diz o "Velho" Escoteiro paguei quanto pela tropa?  
  
Para conseguir isso, a coisa mais importante é o próprio exemplo, porque, o que vocês fizerem, os seus Escoteiros farão.
Mostrem a todos eles que vocês sabem obedecer às ordens dadas, sejam elas ordens verbais, ou sejam regras que estejam escritas ou impressas; e que vocês cumpram as ordens, esteja ou não o Chefe escoteiro presente. Mostrem que conseguem conquistar distintivos de Especialidades e, com um pouco de persuasão, os seus rapazes seguirão o seu exemplo.
Mas, lembrem-se que vocês devem guiá-los, e não empurrá-los.
Baden-Powell of Gilwell.”.


domingo, 2 de setembro de 2012

Quando o sucesso bate a sua porta. Fasc. 75



Quando alguém encontra seu caminho precisa ter coragem suficiente para dar passos errados. As decepções, as derrotas, o desânimo são ferramentas que Deus utiliza para mostrar a estrada.

Quando o sucesso bate a sua porta. Fasc. 75

          Naquela quinta cheguei mais cedo à casa do "Velho" Escoteiro. Era um dos meus dias na semana que nunca deixei de lhe fazer uma visita. Saia cedo de lá, mas ouve casos de ficar até altas madrugadas. O "Velho" Escoteiro parece que não tinha sono. Quando começava a falar não parava ou quando parava melhor debandar. O "Velho" Escoteiro era uma figura única. Como conhecia o escotismo. Sabia tudo. Dizia sempre que era nossa obrigação conhecer como agir e como fazer. Quem sabe fazer a massa sabe fazer o pão era uma das suas máximas. Era realmente uma figura. Para mim até muito mais, pois o considerava como um pai.
          Entrei na sala grande como sempre e não o vi. Não era usual isto. Vovó logo chegou com um belo sorriso. Conversamos e ela me disse que ele tinha ido dormir mais cedo. – O que? Perguntei. Que milagre foi esse? Senti a Vovó triste. Não era aquela de sempre. Sentamos e ela me contou que o "Velho" Escoteiro recebeu a visita de um amigo. Não era exatamente um amigo. Respeitavam-se sim, pois ambos participaram por muito tempo como adestradores e o "Velho" sempre reclamava porque na época ele quase nunca participava de seus convites para cursos e outros eventos que ele organizava. Havia sim uma enorme diferença entre os dois. Enquanto o "Velho" Escoteiro tentava de todas as maneiras mostrar que devia se mudar muitas atitudes e normas na liderança, principalmente a sede por cargos que nunca acaba seu amigo era diverso. Acreditava que estavam no caminho certo e os defendia em tudo que o "Velho" dizia.
           - E sabe que hoje discutiram muito?  Disse a Vovó. Nunca vi o "Velho" assim. Sempre se respeitavam. Mesmo divergindo tinham aquela “fleuma” Escoteira que só os mais velhos tem e que é verdadeira. Tudo por causa de um relatório de 2007. Pode isto? Estamos em 2012 e eles discutindo por 2007? – Mas Vovó, que relatório é esse que não conheço? Olhe o "Velho" também não conhecia. Seu amigo foi quem trouxe uma cópia. Porque não sei. Vovó levantou e foi até a estante e de lá trouxe uma encadernação de mais de 80 folhas. Na capa escrito – O Escotismo Brasileiro no primeiro decênio do século XXI. Escrito pelo Doutor Jean Casaigneau que a pedido da UEB fez um diagnostico perspectivas, propostas e recomendação sobre o Escotismo Brasileiro. Quando o "Velho" leu se assustou.
            - Vovó começou a desfiar seu pensamento o que quase nunca acontecia. Olhe meu amigo, ele leu o relatório e o achou perfeito. Mas o que houve? Ele sentia que pouca coisa tinha mudado. Tentou dialogar com seu amigo. Um diálogo difícil. Ambos se defendendo e acusando. Nunca chegariam a bom termo. Caminhos diferentes, escolhas diferentes. Você sabe eu não gosto de interferir no que o "Velho" Escoteiro faz. Temos uma vida em conjunto e o respeito muito. Sei de tudo que deu e fez ao escotismo. Talvez além do que devia ter dado. Mas ele sempre foi teimoso. Sonhava alto e seus sonhos ficaram perdidos nas estradas da vida.
             Vovó se calou. Achei que devia ir embora. Quando ela parava a conversa era igual ao "Velho" Escoteiro. Não me deixou sair sem tomar um chocolate quente e comer alguns biscoitos de polvilho o meu preferido. Fui para a casa e como estava de carro não deu para pensar muito. Morava a menos de quatro quarteirões do "Velho" Escoteiro. Dormi logo e não pensei no assunto. Na sexta não costumava ir à casa do "Velho" Escoteiro. Aproveitei para ler o relatório na integra. Muito interessante. Mas não tinha argumentos para ver o certo e o errado. As opiniões que o Doutor Jean ouviu de participantes não tinha o que discutir. Mesmo novo no escotismo, apenas nove anos eu tinha amigos em vários grupos. Eles sempre comentavam comigo que a arrogância de muitos dirigentes e até de chefes no Grupo Escoteiro faziam com que alguns que entravam desistissem logo.
               Bem tinha muita coisa a pensar e raciocinar para no Domingo conversar com o "Velho" Escoteiro. Domingo sempre ia cedo para sua casa. Eu e minha esposa aprendemos que almoçar lá valia a pena. Não por economia, mas pelo cardápio da Vovó. Ela era uma cozinheira de mão cheia. E a Vovó e o "Velho" Escoteiro adoravam receber amigos. Chegamos cedo. Minha esposa era fã da Vovó e elas ficaram também horas e horas conversando. Não vou descrever aqui a bacalhoada que a Vovó fez. Ela é incrível e antes de servir trouxe para nós eu e o "Velho" deliciosos bolinhos de bacalhau. Uma cerveja no ponto acompanhou nossas conversas que nada eram conversas sobre escotismo. O "Velho" Escoteiro não tinha outro assunto.
               Depois do almoço como sempre, uma rotina de muitos e muitos anos fui para a Sala Grande e no meu banquinho de três pés tirei um cochilo, ao som de Paul Mauriat. Adorava suas músicas e agora tocava “Song for Anna”. Meu cochilo foi pequeno. O pigarro do "Velho" Escoteiro interrompeu a doce preguiça que estava possuído. – Vai dormir a tarde toda? Disse o "Velho" Escoteiro. Não disse nada. Era sempre assim. Olhei para ele. Não tinha notado, mas parecia abatido. O "Velho" Escoteiro estava com 84 anos. Eu o achava sempre o mesmo, mas na verdade não era mais. Ainda bem que não tinha nenhuma doença de velhice. O escotismo fez bem a ele. Andou muito. Viajou muito. Fez coisas impossíveis e suas histórias sempre me encheram ade júbilo. Eu gostava dele, ou melhor, amava aquele "Velho". Alem de ser meu assessor Escoteiro que eu mesmo escolhi, pois ninguém nunca o procurou para isto eu sabia o quanto aprendi com ele.
           Não dei chances para ele. Fui direto ao assunto. "Velho" Escoteiro eu li o relatório do Doutor Jeans. Ele me olhou de soslaio. – E dai? O que você entende disto? – Danado de "Velho" escoteiro. Achei que ele ia gostar do tema e me responde desta maneira. – Mas foi só um introito. Ele logo se abriu comigo. Disse que desconhecia o relatório. Nunca o viu. Durante todos estes anos juntos aos velhos escoteiros como ele, sempre bateu na mesma tecla. Ninguém nunca deu ouvido. Sempre defendendo. Sempre defendendo. Ora, ora. Defender o indefensável. – Veja bem disse ele – Um deles que não sei se é meu amigo defendeu tanto que fiquei até magoado. Disse-me muitas coisas. Que eu era contra tudo e contra todos. Nunca estou satisfeito com nada.
          - Veja bem meu amigo, sempre procurei mostrar a todos que não éramos um movimento democrático. Nunca tivemos pesquisas de nada. As decisões eram tomadas por poucos e quando ficávamos sabendo já estava tudo pronto. Se você leu bem viu o que os escotistas ou não escotistas disseram a ele. Sempre as mesmas reclamações. Até hoje se voltarem a fazer uma nova pesquisa será o mesmo. Nada mudou. Os estatutos e regimento ainda são modificados por uns poucos. Discutem em quatro paredes e colocam em votação em um congresso qualquer e todos votam. Todos? 0,5% do nosso efetivo. Parece que não querem sair. Disseram-me muitas coisas que agora não pode ficar mais que dois ou três mandatos. Não sei bem. Mas lá estão eles.
           - O Escotista que aqui esteve tentou me mostrar muitas coisas. Se nosso efetivo era alto e decresceu agora estamos crescendo. Esqueceu-se de ver o número de jovens registrados sem ônus. Este é o maior crescimento. Disse para ele que o escotismo estava sendo feito para ricos, ele discordou. Preferi não continuar. Estava me aborrecendo. Tantos anos perdidos. Se em 2007 éramos pouco menos de 0,2% da população brasileira e hoje? E ainda continuam seus desmandos do passado. Um programa feito por poucas mãos. Tiraram um novo uniforme da cartola e o esconderam. Para que isto? Até hoje tento explicar a todos que não somos um movimento uniformizado. De um cinza em 73 que se dizia social hoje virou rotina. Metade do Brasil com o caqui outra metade com o cinza. Chegam ao ponto de inventar. Muitas vezes para faturar. Faturaram uma fábula com o ultimo Jamboree. Para vender colocaram mil coisas para o uniforme. Uniforme? Bah! Amarram a ponta do lenço e colocam um chapéu com abas amarrada na cabeça e lá vai à meninada sorrindo.
          Quando comento da nossa evasão anual não existe defesa. Algumas explicações aqui e ali que não convencem. Mas cá entre nós e quem se preocupa com isto? Você se pudesse visitar durante um ano um Grupo Escoteiro por semana, iria ver a disparidade de um e outro. Onde estão os regionais? Os distritais? Os que mudaram tudo e esqueceram boa parte do bom escotismo ao ar livre se escondem em um uniforme ou traje que na maioria das vezes é colado na sede antes das reuniões. Vergonha do uniforme? O Doutor Jeans fala muito sobre isto. Mudou alguma coisa? Escotismo de balinha, escotismo de meninos bobos, escotismo de tantas coisas que só não escuta quem não anda por aí. E nossas autoridades educacionais? Nunca viveram o escotismo e vender a eles as vantagens da nossa educação Escoteira será difícil com o nosso efetivo e com nossa apresentação.
           - Olhe meu amigo, eu teria tantas coisas para falar, mas falar o que? Este Escotista que aqui esteve diz que só sei criticar esqueceu que em minha vida Escoteira do passado eu tentei tudo. Nunca consegui nada. Um estado viciado, onde uma “máfia” definia quem seria eleito e todos aplaudiam. Se você mostrasse que era oposição então! E acredito que até hoje é assim. Mentira? Eu vivi lá por anos e ele mesmo até hoje discorda de mim. Infelizmente entra ano e sai ano, os dirigentes lá estão. Firmes em seus cargos. Sempre eleitos. É fácil se reeleger. Os ditadores que o digam. Se você um dia tiver o prazer de fazer uma visita a eles, verás que a maioria se coloca em posição de superioridade tal que a gente imagina se o Escoteiro é amigo e todos e irmão dos demais escoteiros.
           – Sabe, o pior cego é aquele que não quer enxergar. Ele, este Escotista que esteve aqui ontem, sabe que nós dois e muitos outros estamos caminhando para o fim de nossas vidas. Os novos que estão chegando, havidos de cargos irão com certeza fazer mais mudanças. E um trabalho sério, compenetrado, com a participação de todos os adultos do movimento, discutindo, aprovando, votando nunca irá existir. Pesquisa de campo para saber o que pensam todos também não. Sempre tem aqueles que afoito dizem saber o que todos pensam. Assim sempre dizem os ditadores. O seu séquito segue o líder. O líder decide se é bom ou ruim.
            O "Velho" Escoteiro se calou. Senti nos seus olhos uma tristeza que nunca tinha visto. Pediu-me desculpas. Disse que iria recolher. Estava cansado, do corpo e da mente. Nunca em tempo algum em minhas visitas isto aconteceu. Fiquei preocupado, mas a Vovó me acalmou. Disse que era por uns dias. Ele não corria da luta. Iria morrer um dia, mas iria morrer lutando pelos seus ideais. Naquele domingo nem esperei o café gostoso da Vovó. Não dava. Eu mesmo estava engasgado. Ainda tinha esperança que tudo mudasse. Minha esposa já tinha ido e levado o carro. Voltei a pé. Uma brisa fresca daquele noite enluarada me pegou em cheio. Olhei para o céu e pensei - Não adianta todos os meses lá está ela, cheia, bonita, um luar encantador. Ela iria embora, voltaria no dia seguinte, no mês seguinte no ano seguinte.
            Gostaria que um luar como aquele fosse visto por todos os milhares de membros do nosso bom movimento. Olhar e ver e acreditar que cada dia tudo muda, mas sempre se volta ao normal. A mesma pose da lua, o branco ofuscante, como a dizer – Calma voces também podem chegar lá. Será? Um trovão se fez rebombar no céu. Não vi o raio. Dizem que devemos nos preocupar com o raio, mas o trovão é que assusta. Apertei o passo. Ainda tinha dois quarteirões para percorrer. Não deu tempo. A tempestade se desabou sobre mim. Deixei-a cair. Sorri uma duas várias vezes. Quem me visse sorrindo naquela cascata de pingos frios ia achar que sou louco. Nunca que seria um Escoteiro a sorrir nas dificuldades!    

A árvore quando está sendo cortada, observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira.