Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Levem-nos aos paredões! Eles não sabem o que falam. Palavras do Senhor!


Levem-nos aos paredões!
Eles não sabem o que falam. Palavras do Senhor!

"Dê o primeiro passo na fé. Você não precisa ver a escada inteira. Apenas dê o primeiro passo."

Escotismo amado, escotismo sem igual, escotismo que me deu outra forma de viver, escotismo que fez de mim alguém que acredita na força dos jovens do Brasil do amanhã. Louvemos o escotismo que amamos. Gritemos aos quatro ventos que para nós não existe nada que nos forneça uma filosofia de vida como o escotismo. Deixem as nuvens levarem nossas mensagens aos quatro cantos da terra. Uma vez Escoteiro sempre Escoteiro.

Lindo de montão. Eu mesmo repito isto todas as noites e as manhãs de sol chuva ou de inverno. Mas minha voz alcança até onde? Meus amigos? Meus familiares? Até onde ela alcança? Os vizinhos do bairro? Da minha cidade e da minha nação? Sei que não. Sei que nosso movimento amado não vai tão longe. Ele é um completo desconhecido. Preocupam-se os gigantes da terra do Nunca em alterar, em mudar e nós subservientes mortais Escoteiros aceitamos sem saber se o caminho é o certo e aplaudindo e justificando.
Quantas vezes já desfizeram do nosso querido movimento? Para mim dezenas de vezes. Sei que a revolta foi nossa só nossa, pois o público ou os leitores se divertiram com o acontecido. Eles reconhecem o Escoteiro por aquele menino ou menina que ajuda a velhinha a atravessar a rua e mais nada. Agora eu pergunto de quem é a culpa? Deles o público ou nossa? Dirão – Nem pensar Chefe, a culpa é deles. Será? Afinal eles nem sabem o que é escotismo, para que serve, qual a sua finalidade, pois desconhecem completamente as vantagens de um movimento de jovens reconhecidamente com altos valores em outros países.

Culpa nossa? Sempre somos os culpados? Até que sim, pois desconhecemos a nossa presença nos atos públicos, bem uniformizados e fazendo o proselitismo que se faria necessário. Mas isto basta? Onde está aquele marketing agressivo? Aquele marketing mostrando o que somos e para que servimos? Estamos mendigando favores de políticos que nada fazem por nós. Colocamos lenços em autoridades que se comprazem em sorrir para as massas do seu partido e visando eleições futuras. Mas Chefe – diriam – Eu não posso fazer isto, não tenho como. – Concordo você não, mas se foram eleitos lideres Escoteiros eles não seriam os responsáveis? Sei que você ou alguns de vocês dirão – Mas Chefe! Eu não votei em ninguém. As normas votaram. Eu não tenho direito a voz e voto. E agora José?

Quantos Pedro Bial da vida precisamos para aumentar nossa revolta? Risos. Eles nem sabem o que é isto. Não entendem nada de escotismo. Fazer uma nota de pesar ou pedir desculpas não ajuda, e o gigante Globo não está nem aí.  Somos uns eternos conformados. Fazemos nosso trabalho acreditando que os outros também o farão. Depois lamentamos as injurias as performance de atores, de repórteres e de outros tantos que estão aí levando nosso nome à panaceia de um programa global. Bial não foi o primeiro e até acredito que ele nem sabia do resultado. Mas os verdadeiros culpados ficarão impunes sempre. Eles foram eleitos para mostrar ao nosso Brasil que o escotismo é tudo para uma nação. Ele poderia ser a salvaguarda de uma juventude que precisa de orientação, Mas enquanto formos subservientes em uma Lei e Promessa que eles nos impingem a cada momento, nos jogando sem nos perguntarem em alterações de normas, distintivos, uniformes ou como o chamam de vestimenta, acredito que não temos o direito da revolta, apesar de que ela dói e machuca muito.

Como fazer quando fazer ou fazer o que, é uma pergunta que faço sempre. Afinal somos ou não um movimento democrático? Ou a primeira lei de uma democracia seria votar e ser votado, e exigir a transparência que não nos é dada. O mote de vá a Assembleia, de se preocupar com nossos jovens entre outros é muito lindo, mas não é real quando vemos que nos desconhecem como um movimento sério e formação de caráter. Enquanto os meios educacionais não nos respeitarem como um movimento de jovens que pode dar dividendos enormes ao país, enquanto autoridades não nos reconhecerem com a responsabilidade de falar de igual para igual, seremos isto que todos estão vendo. Uma preocupação de alterações de uniforme, distintivos e programas não vai resolver. Esquecem o mais importante. Um marketing agressivo em órgãos da imprensa falada, escrita e televisada. Quem no passado viu este marketing na CNN em espanhol sabe o que é.

Aguentem, pois o Pedro Bial mesmo que suas desculpas não satisfez a massa escoteira. Lembremos que passaram anos e anos e continuamos os mesmos. E querem saber? Acredito que a culpa é nossa e de mais ninguém!


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Meu melhor curso escoteiro foi com os monitores.


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Meu melhor curso escoteiro foi com os monitores.

Passagens da vida contada pelo Velho Escoteiro que viveu o escotismo como poucos.

Ei Chefe, não é uma pegada de um Quati? – olhei com calma, nunca tinha visto, mas se o Escoteiro dissera eu acreditava. Paramos, analisamos o peso, as passadas e assim fomos aprendendo a seguir pistas de animais. Eu e meus amigos monitores e subs. Junto a eles eu estava na melhor escola escoteira que tinha conhecido. – Chefe? É um ninho de Inhambu? Dizem que ele não se preocupa muito e junta umas folhas próximo a uma árvore disse Niltinho um Monitor da Gavião. Nunca fui expert em ninhos só sabia que Gill um sub Monitor um dia me contou que o ninho do João de Barro dava uma mão de obra danada para o casal. Barro húmido, esterco e palha. Fazem centenas de viagens para terminar. Mais ou menos com 30 cm de diâmetro. O casal de João de Barro amassa as bolas de barro com os pés. Tem área para colocar os ovos, tem porta de entrada sempre em direção contrária a da chuva e de difícil acesso para predadores. Nunca usam a casinha mais de uma vez. Após o crescimento dos filhotes eles voam para outras plagas. Os monitores me olharam espantados. Ficamos ali naquela floresta conversando sobre pássaros por muito tempo e como aprendi.

       Ei Chefe, sabe o Zózimo? Olhei para Bob Low um Monitor da Quati. O que tem ele Bob? Na eleição passada ele foi eleito Monitor e não queria – Por quê? Perguntei. Ele disse que ser Intendente/almoxarife era melhor. – Não acreditei e insisti – Como? Ele acha que o intendente é a alma de uma patrulha. Um bom acampamento depende dele, se faltar material ele é culpado. Se sumir ele é culpado. Se alguém precisa tem de falar com ele. E ele se preocupa muito com material que some no campo. Os escoteiros pata tenras são mestres. Vão cortar um bambu e o facão hó! E olhe Chefe ele me disse que sua barraca de intendência tem tudo. A alimentação fica fora das formigas e animais do campo. Lazinho o Cozinheiro o adora. Sabe que ele é chato, pois quer as panelas nos trinques. Nada de carvão! E eu sei que nem precisa falar com ele o que levar no acampamento. Ele sabe o que deve ser levado para um acampamento longo e um curto. Mas Chefe, se não fosse ele nosso material já teria sumido e estragado. Ele fez até um curso de barracas!

      O que eu mais gostava era a conversa ao pé do fogo. Cada um se abria, contava histórias, falava dos seus amigos, das namoradas que se olhavam de longe, dos seus pais, da escola e dos seus sonhos. Chefe ficou sabendo que o Lindolfo da Pantera
jurou que ia ser médico? Disse Matusalém da Anta. Era o nosso enfermeiro e aproveitava também para ser o bombeiro e lenhador. Era outro que Lazinho cozinheiro adorava. Nunca faltava lenha seca e agua à vontade. Seu porta lenha era perfeito. Podia chover canivete. Ele era um bamba e sabia escolher a melhor lenha, aquela que durava mais. Cozinheiro que se preza não fica sem um bom bombeiro e lenhador se não fica soprando o todo o tempo e os gravetos finos do fogão com os olhos cheios de lágrimas. Risos. Quer saber? Eu nem sabia disto. Eles é que me ensinavam. Uma patrulha que alguém preferia ser o intendente? - Foi Joel quem contou sobre Lazinho o cozinheiro. Ele Chefe é demais. Sabia surpreender a patrulha com suas iguarias. – Chefe ele encheu as “paciências” de sua mãe. Aprendeu tudo. Era um mestre cuca como ele gostava de ser chamado dos melhores. Chegou a fazer um forno de barro!

      Uma vez resolvemos fazer uma mesa com toldo e bancos reclináveis. Queríamos bater todos os recordes de tempo na construção. Claro eu sempre deixei que eles começassem que discutissem entre eles como iam fazer projetos e coisa e tal. E corta daqui, e corta dali o madeirame estava pronto. Ajudei pouco. Sabia bem as amarras. Sabia do acabamento, pois era uma exigência entre os Escoteiros. Fui ajudar somente na costura de arremate no tampo da mesa. Nem peguei no cipó (se tivéssemos cipós nada de sisal) e um Monitor logo disse – Chefe, não é assim. Veja se fizermos certos e damos no final um arremate perfeito com um volta de fiel duplo à tampa sempre vai ficar firme! Eu nos meus tantos anos sorria. Contradizer? Nunca. Eles eram meus mestres meus formadores.

        - Chefe! Que tal fazermos um programa diferente nas férias de julho? Humm! A última surpresa deles nós caímos numa gelada. Um frio de rachar. Bob Low riu, pois nunca esqueceu o frio que passamos. Chefe está na hora de aprendermos a fazer fogo. Fogueirinha de fogão e Fogo do Conselho todo mundo sabe. Lembra-se do acampamento nas Montanhas geladas do Rio Pequeno? Morremos de frio porque éramos uns pata tenras. – Concordei com ele. – Pois é Chefe, poderíamos treinar muito como evitar isto, eu li muito sobre fogo Espelho. Garantem se bem feito no frio pode se dormir de short sem camisa! Sabendo a técnica e ter cuidado para medir a distancia e não colocar fogo na barraca! E eles riram a valer.

       Eu posso dizer que meus melhores cursos foram com meus amigos monitores. Aprendi muito com eles. E trocamos tantas ideias e aprendemos tanto uns com os outros e sempre de comum acordo. Amigos são assim. Sempre fazer e insistir a acertar quantas vezes for preciso. Lembro que um deles resolveu surpreender em um fogo de conselho. Uma bola de papel bem encharcada de querosene, um galho em forma de F encurvado e pequeno para correr preso em um cipó ou sisal segurando a bola de fogo que na imaginação dele iria surpreender todo mundo. Ele todo posudo, em frente ao fogo, todos nós sentados em volta e ele gritou: - “Que os ventos do norte! Que os ventos do sul” Quem os ventos do este e do oeste nos traga hoje o espirito da paz e que BP nos guie pelas sendas da vida e que Deus nos proteja! Ascenda-te fogo! E a bola de fogo que foi acesa por outro encarapitado em uma arvore, desce a toda velocidade até onde esta o fogo e as chamas sobem aos céus!

         Quem sabe se não fosse por eles eu não saberia do valor de uma patrulha, de um patrulheiro intendente, de um bombeiro lenhador, de um cozinheiro, do sanitarista, do aguadeiro, do construtor de pioneirias e de tantos outros. Foram eles que me ensinaram e com eles fazendo e ouvindo eu aprendi. Lembro-me de uma noite de fogo de conselho onde resolvemos trazer o espirito da floresta na forma da Lei Escoteira. Foi lindo. Fico pensando se todos são como eu. Aprender com eles, sentar a moda índia em um fogo estrela, comer uma batata quente, beber um café do bule e deixar que eles cantem que eles riem de suas piadas, que eles inventem aplausos, canções e que a noite para eles seja uma criança. Deixar que eles mesmos possam contar estrelas, descobrir novos caminhos e assim quem sabe, eu no alto da minha enorme idade voltarei a aprender com eles na tenra idade de um escotismo que resolvi adotar. Aprender com monitores! Uma técnica que poucos até hoje conseguiram enxergar!


Meus melhores cursos foram com meus amigos monitores. Aprendi fazendo e vivendo situações divertidas e que me valeram muito pelo resto da minha vida!

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

As memórias do Chefe Bill Wagryth Meu amor mora nas estrelas.



As memórias do Chefe Bill Wagryth
Meu amor mora nas estrelas.

Lá onde mora o amor
não há dor, não há tristeza,
lá tem cor, lá tem riqueza,
lá tem bem, lá tem nobreza.
Lá onde mora a amizade
não há rancor, nem falsidade,
lá tem respeito, lá tem verdade,
lá tem afeto, lá tem cumplicidade.

Saulo Fernandes

                  O dia ainda estava claro. A primavera, dizem os poetas trás o perfume das flores, os pássaros cantam nas arvores mais afinados, as matas os bosques, às campinas ficam mais verdes e os rios correm para o mar sorrindo. Eu sempre gostei da primavera. E quando a brisa daquela tarde gostosa e sonolenta soprava em nossa face era como se estivemos vivendo uma tarde em um acampamento qualquer. Eu e o "Velho" Escoteiro estávamos sentados na varanda de sua casa, e de lá podíamos avistar o morro das Bermudas, que graças a Deus foi mantido como uma reserva florestal e não sucateada por alguma imobiliária. Eu almocei na casa do Velho Escoteiro e sabia que igual à Vovó na cozinha pode ter muitas, mas superior não.

                     O "Velho" como sempre nestas tardes, como a chamar a atenção dos jovens que brincavam seus folguedos na calçada em frente, colocou o seu velho LP do Trio Irakitan a repicar gostosamente várias canções escoteiras na sua vitrola já gasta com o tempo. Ficamos assim sem conversar, mas vi que o "Velho" Escoteiro queria me contar alguma de suas histórias ou então das suas eternas discordâncias com nossos dirigentes, uma luta de anos e anos. – Olhe, começou – Acho que nunca comentei com você. Existem tantas coisas que aconteceram em minha vida Escoteira que precisávamos ficar juntos uma eternidade para lhe contar tudo. Acordei esta madrugada lembrando-me do meu querido amigo o Chefe Bill Wagryth. Já falei dele com você? Não? Bem vamos lá. Bill Wagryth entrou como Escoteiro na Patrulha Puma. Eu estava na Touro. Mesmo assim como morávamos na mesma rua sempre íamos e voltávamos do grupo juntos. Nasceu daí uma bela amizade.

                    Fomos juntos para os seniores, e nos pioneiros ele ficou pouco tempo. Como tinha feito um concurso para a Aeronáutica, durante quatro anos ficou na Academia da Força Aérea, em Pirassununga. Víamo-nos nas férias, e até fizemos um acampamento juntos a convite de escoteiros da Costa Rica, no Sopé da Cordilheira Central, em Guanacaste e Tilarán. Foi um acampamento que marcou muito. Quando se formou como Aspirante foi logo promovido a Segundo Tenente. Quase não tinha folga, mas sempre sobrava um tempinho para tomarmos uns chopes, uma ou três noites de campo ou a explorar alguma das mais belas grutas de Minas, e até mesmo participar do Sétimo Jamboree Mundial em Bad Ischl, na Áustria. Nossa amizade permaneceu firme e logo ele foi promovido a Tenente. Foi nesta época que ele foi designado para servir na capital e transferido para o gerenciamento do Tráfego Aéreo do aeroporto Catorze Bis na capital, o que lhe tomava muito tempo.

                  Um dia ele me convidou para conhecer seu trabalho e achei fora de série. A cada minuto alguém suava com algum problema. Alí todos trabalhavam com o estresse a flor da pele. Não era nada fácil. A vida de centenas de aeronaves estavam nas mãos deles. Ele me convidou para um cafezinho no bar do aeroporto e lá fomos nós. Foi então que me contou sua história. Incrível história. Se eu não soubesse que era um Escoteiro dos bons diria que ou estava estressado demais ou um tremendo mentiroso. – assim começou sua narrativa - Foi em um dia de semana qualquer. Aeronaves descendo e subindo. Na minha linha ouvi uma voz feminina com um sotaque russo. Pedia para desobstruir toda a pista número quatro. Eles iam descer em quatro minutos. Pedi para se identificarem. Não responderam. No radar vi que era uma nave gigantesca.

                    Não tive saída. A pista foi interditada para eles. Não vi direito a nave. Ela aparecia brilhante quando alguma nuvem no céu cobria o aeroporto. Mesmo assim com dificuldade. A maior parte do tempo estava invisível. Parecia ser um enorme charuto. Imenso. Mais de quarenta metros de altura e mais de cento e quarenta metros de comprimento. – Eu prestava a maior atenção ao "Velho" Escoteiro. Uma história que parece ele tinha tirado do fundo do baú. Eu gostava destas historias, se eu acreditava eram outros quinhentos. – Ele continuou – Meu amigo Bill engasgado, disse que ouviu a voz feminina de antes – Precisamos nos falar. Preciso explicar. Pode ser em algum lugar reservado? Disse que seria na sala do Brigadeiro Duarte. Ele ainda não sabia do que estava acontecendo. Fui até lá. Expliquei. – Está doido? Por Deus brigadeiro é a mais pura verdade, aqui não é lugar para este tipo de brincadeira.

                     A voz parecia flutuar e disse – Estou me materializando na sala. Não façam nada. Nem um gesto. Ela apareceu ao vivo e a cores. Uma linda mulher, cabelos loiros de olhos verdes esmeralda com um uniforme estranho. Olhou-me e na sua voz fanhosa explicou. – Sei que vai ser difícil acreditarem, mas somos de um planeta distante, que pelas suas medidas fica a mais de cem milhões de anos luz da terra. Nosso planeta irá se desintegrar em alguns anos. Nossos cientistas descobriram um parecido com o nosso na Constelação de Centauro, que vocês chamam de Alpha Centauro por ser a estrela mais brilhante no céu em determinados meses do ano.  Estamos alguns séculos avançados em relação ao seu planeta. Somos orientados a não interferir no crescimento de vocês e de outros povos que habitam não só a sua galáxia como a de milhões que conseguimos descobrir. Nossa nave estelar pode viajar grandes distâncias entre sistemas solares. A velocidade da luz para nós não tem segredos. Podemos viajar mais de vinte vezes a velocidade da luz.

                     - Continuou o Chefe Bill. – Meu nome aqui para vocês será Sheyla. Minha aparecia normal não é esta. Mas precisava adaptar uma nova vestimenta humana para podermos conversar. Ninguém poderá saber que estamos aqui. Um pequeno problema em nosso motor de dobra não foi possível reparar no espaço e nos obrigou a descer aqui. Seria difícil para você entenderem como funciona nossa nave. Escolhemos o Brasil por ele ser um país de paz e não colocará aqui sua parafernália de guerra como fazem os outros países. – Eu olhei para o "Velho" Escoteiro. Ou ele ou o amigo dele o tal Chefe Bill tinham uma incrível imaginação. Assisti a filmes e mais filmes em que os americanos queriam dominar e até atiravam nos alienígenas antes de conversar. – O "Velho" não se fez de rogado e mostrando que lê meus pensamentos parou a história. – "Velho"? O que foi? – Ele rispidamente disse – se acha que estou mentindo porque continuar a contar a você seu pirralho?

                      - Tudo bem "Velho". Desculpe. Gostaria de saber o final de tudo. Vou continuar – disse. Mas se notar qualquer olhar de galhofa paro na hora. – Juro que não o farei "Velho".  – Ele como se fosse tomar um ar lá fora, foi até a escada que levava a rua e em pé mesmo continuou – Chefe Bill me contou que ficaram seis horas na pista quatro. Sheyla o convidou para conhecer a nave. Incrível. Lá havia mais de trinta mil passageiros. Na realidade a aparência deles era de pequenos anões, magros, cara fina, sem cabelos e orelhas. Sheyla riu do meu espanto e do brigadeiro, pois ele insistiu em ir. Não havia animosidade e nem cara feia para nós. Todos sorriam e parecia que viviam em um sistema de harmonia perfeita. O pior foi que o Chefe Bill me disse que tinha se apaixonado por Sheyla. – Como? Perguntei. Não sei. Eu sabia que a aparecia dela não era aquela e o pior ela me convidou para conhecer Alpha Centauro. O brigadeiro foi contra.

                        - Para finalizar eles partiram por volta de meia noite aquele dia. Chefe Bill foi com eles. O brigadeiro não aceitou e disse que levaria o caso a Corte Marcial. Seis meses depois o Chefe Bill voltou. Uma aeronave que voltava para buscar mais gente o deixou em algum lugar do Deserto de Saara. Olhe eu mesmo não acreditei na conversa do Chefe Bill. Mas ele me mostrou uma gravação feita lá no novo planeta onde iriam viver. Incrível! Os primeiros pioneiros que lá chegaram mudaram o clima, os quatro oceanos eles os transformaram em um só, o planeta todo foi reflorestado e agora já estava com florestas imensas de polo a polo do planeta. Eles tinham muitos dos animais que temos aqui na terra. Olhe, poderia ficar aqui contando a você tudo que o Chefe Bill me contou. Tem muito mais e nada que um bom Escoteiro explorador não tenha vivido como ele viveu.

                          Chefe Bill Wagryth até hoje não casou. Disse que se apaixonou por Sheyla. Sabia que nunca poderiam viver juntos nem agora e nem nunca. Ela estava anos luz adiantada dele. Se em um passado longínquo tinham se conhecido em alguma estrela do universo hoje a distancia entre os dois era bem grande. O Brigadeiro Duarte não gostou do final de tudo. Não o expulsou e até o ajudou com um analista da aeronáutica. Mas voltar a sala de comando na torre estava fora de cogitação. Abriram uma exceção. Agora ele estava treinando novos Controladores de Voos. Disse-me que está morando em uma casinha próximo ao lago Santa Inês. Pertence a Aeronáutica. O brigadeiro disse que poderia morar o tempo que quisesse. - E ele terminou dizendo – Olhe meu amigo não enlouqueci. Mas depois que conheci Sheyla não quero viver com nenhuma outra mulher.

                        Fico a imaginar se tudo não foi obra do destino, um destino que não entendo, para muitos impossíveis de imaginar. Amar alguém que mora nas estrelas? Se apaixonar por alguém que nunca poderão viver juntos? Não conto esta história para ninguém. Eu mesmo disse ao Chefe Bill que ele estava ficando louco. Interessante que a Aeronáutica e a Infraero conseguiram abafar tudo. Não deu nada na imprensa. Foi uma história não contada. Abafada pelas Forças Armadas. Ninguém soube e nem irá saber. Ele disse que confiava em mim. Que não contaria a ninguém. – O "Velho" riu alto. Claro estou contando a você porque não sei. Quem sabe por que o Chefe Bill morreu a duas semanas? Ou por que não tenho com quem falar e conversar? Quase ninguém vem aqui. Olhe o Chefe Bill antes de morrer me disse ainda que todos os abandonaram. Noêmia a sua noiva nem chorar chorou quando o mandou passear. Com os olhos cheios d’água me disse que precisava desabafar com alguém. Nada como o "Velho" Escoteiro. E ele me disse que quando fosse para o outro lado da vida que eu estaria liberado para contar.

                       O "Velho" Escoteiro se calou. Não disse mais nada. Nunca me contou uma história assim. Passava das duas da manhã. Fui embora quando vi o "Velho" Escoteiro subindo as escadas para o seu quarto. Acho que Vovó já estava dormindo. Na rua fria e atípica de uma noite de inverno fui pensando na história do "Velho". De escotismo pouco, de historias inverossímeis muito. Este "Velho" Escoteiro nunca me deixou na mão com boas histórias. Atravessei a rua e sem querer torci o pé e cai ao chão. Sem pensar olhei para o céu. Uma nave gigantesca estava passando em grande velocidade. Velocidade de Dobra? Risos. Não sei. Melhor é continuar mesmo mancando. Não posso me apaixonar por alguém que mora nas estrelas. Já tenho uma esposa e outra não ficaria bem para um Chefe Escoteiro. Que sono! Acho que vou dormir bem, mas pouco. Amanhã, ou melhor, hoje tem trabalho. "Velho" escoteiro. Amo este "Velho".


Simplicidade é ter o céu e só querer uma estrela...
É ter o mar e só querer uma gota...
É ter o mundo e só querer você...
Simplesmente você...