Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

domingo, 24 de agosto de 2014

Interpretação e aplicação do Livro da Jângal.


Conversa ao pé do fogo.
Interpretação e aplicação do Livro da Jângal.

            Nunca fui um estudioso da Mística da Jângal. Fui Chefe de Alcateia por dois anos, mas tinha um defeito, era muito voltado ao sistema de patrulhas e queria que os lobos fossem assim também. Levava a Alcateia para acampar, cozinhar, viver aventuras que sempre dizia ser a procura de Mowgly na Selva. Meus lobos eram bons de Morse, semáforas e duas matilhas em uma atividade construíram um Ninho de Águia. Mal feito é claro, mas construíram. Nas jornadas pelas florestas encontrávamos o Shery Kaan o Balu, a Bagheera e tantos outros com jogos camuflados que eu criava. Desisti. Adorava os lobos, pois fui um deles e quando senti que não estava no caminho certo procurei os novos cursos que apareciam na época. Eu me matriculava e me decepcionava. Não era o que pensava. Melhor dar vez a quem gosta e tem na alma o coração de um lobinho mais moderno. Soube que em cada década modificaram um pouco o passado do que pensava ser um lobismo perfeito. Parece que as estrelas no Boné que indicava lobo segunda e primeira estrela foram extintos. Hoje existe cuidados extremos no trato com as alcateias. Já vi lobos em reuniões a cantar, desenhar cortar papeis e fiquei pensando o que os segurava ali. Na escola e em casa faziam isto e ir para uma reunião para fazer o mesmo? Quem sabe foi os jogos que os seguraram por algum tempo na Alcateia. Vi outras Alcatéias em atividade e gostei do que vi, nestas pelo menos a chefia interpretava bem o Livro da Jângal. Não posso criticar. Não sou um expert como era nos meus tempos de lobo.

            Quando comecei minha saga de diretor de curso, os chefes de lobos se assustavam comigo. Achei melhor me cercar do que melhor tinha na liderança nestas andanças pela Jângal. Dou risadas pelos comentários que recebi dos Famosos DCIMs da época, quando uma vez fui a uma cidade bem longe da capital para dar um CAB Escoteiro e lá vi mais de oitenta chefes reunidos querendo participar. Não disseram a eles que seria um curso para chefes de tropa. Lá estavam chefes de lobos e seniores. Como sou um idiota escoteiro completo, na hora fiz três cursos simultâneos. Não ia decepcionar aqueles que sonhavam em aprender e aplicar em seus grupos os conhecimentos de seu ramo.  Um de Chefe Escoteiro, um de Lobos e um de Seniores. Estava comigo só dois assistentes. Falei com eles - Riram e me disseram por que não? Corria por todo lado como um louco. Eu tinha na pasta o manual do curso e não me apertei com o programa. Cinco chefes que foram só para ver o inicio eu os lacei. Agora serão meus assistentes. Saia-me bem na Tropa Escoteira e na sênior. Na Alcateia sempre esquecendo. Ainda bem que tinha uma assistente que conhecia mais que eu. Se naquela época eu tivesse conhecimentos profundos da Interpretação do livro da Jângal teria sido muito mais fácil. Claro que apareceram os críticos, eles existem para que? Para criticar é claro. Afinal em cada década aparecem os Papas do escotismo para mudar. Eles sabem o que é bom para nós. O “negocio” é obedecer. Sei que hoje a literatura e muito do método da nova pedagogia para lobos mudaram um pouco.

            Mas eu insisto que todos os chefes de lobinhos tem a obrigação de ler se não cinco pelo menos dez vezes o Livro da Jângal por ano. Eu me delicio com ela, amo de montão e tiro o chapéu para Rudyard Kipling que além de ter escrito o Livro da Jângal é autor também de KIM e outros clássicos infantis. Kipling é considerado um dos maiores escritores para crianças, pois seus clássicos da literatura infantil dão mostra de um talento versátil e brilhante. Portanto o Livro da Jângal é uma história formidável só comparada ao Escotismo para Rapazes de BP livro de cabeceira e considero obrigatório e que deve ser lido pelo menos vinte página por mês. Ano passado folheando a internet me deparei com o Livro em PDF do Chefe Blair de Miranda Mendes. Tratava-se da Interpretação do Livro da Jângal. Baixei na hora. Blair é um Velho Lobo amigo lá das Minas Gerais, ativo e participante até hoje. DCIM e quem o conheceu como eu lá pelos idos de 1968 teríamos juntos muitas histórias para contar. Se hoje tivermos que escolher os dez mais entendidos em lobismo no Brasil o Blair seguramente estará entre eles. Ele teve assistentes para escrever o livro, mas é muito bom. Aconselho a todos da área do lobismo que o tenham em seus arquivos e o leiam sempre. Vale a pena, pois para os novatos uma nova visão do lobismo para as reuniões semanal. Se você não o têm me escreva – Elioso@terra.com.br e envio para você na hora.


              E como na Jângal de Mowgly eu desejo a todos os chefes de Alcateia uma Boa Caçada e boas leituras e claro, nunca esquecendo o que A velha Serpente disse quando Mowgly chorava para ir à cidade dos homens. – Somos irmãos de sangue pele lisa, tu e eu!         

domingo, 17 de agosto de 2014

Saudades do meu chapéu Escoteiro.


Saudades do meu chapéu Escoteiro.

O CHAPÉU DE TRES BICOS
♪♪O meu chapéu tem três pontas,
Tem três pontas o meu chapéu!
O meu chapéu tem três bicos,
Tem três bicos o meu chapéu. ♪♪

“Velha canção escoteira do nosso chapéu de abas largas”

                  Uma das principais caraterísticas do nosso uniforme e porque não dizer do escotismo é o chapéu de abas largas. Sempre foi conhecido por todos aqueles que admiravam o movimento Escoteiro em qualquer lugar do mundo. Hoje ele está sendo esquecido no Brasil. Alguns ainda o usam, mas até para comprar é difícil. Nossos dirigentes em nome da modernidade o colocaram na clandestinidade. Dizem que devemos agora ter nova roupagem nova imagem para crescermos. Acredito que eles mesmos nunca usam o chapéu e se usaram um dia não souberam manter uma tradição tão querida. Sinceramente quando vejo fotos de acampamentos, jornadas e afins, sem o chapéu não sinto ali escotismo. Esta vestimenta nunca vai me lembrar do meu passado e o passado de tantos que viveram o escotismo. Saudosista? Sou sim. Afinal quem não tem passado não tem futuro.

Escrevi muitas histórias Escoteiras dizendo as vantagens do chapéu. Uma delas “O Meu chapéu tem três bicos” bateu recordes de leituras. Significa que o chapéu ainda tem lembranças, sonhos e pensamentos dos tempos bons que se foram. Vejam algumas partes do conto:

                 - Existiu e existe na minha mente a história de um Chapéu Escoteiro com três bicos. Foi ele quem me contou. Estão rindo? Chapéu não fala? Este falava. E muitas vezes eu notei lagrimas derramando de sua aba reta.  Teve três donos e cada um a sua maneira o tratou como tal. Não tinha mágoas, pois suas lembranças o fizeram um grande chapéu de aventuras ao lado dos seus donos escoteiros. Esteve em locais que nunca poderia imaginar. Caiu em um despenhadeiro e quase não foi encontrado. Ele enfrentou borrascas, chuvas intermitentes, ventanias que pareciam vendavais e ele sempre se safando. Quer conhecer a história? Fácil, está aqui a disposição em PDF. Posso enviar via e-mail.  É só pedir no meu e-mail elioso@terra.com.br. Mas não esqueçam se gostarem da história comentem, pois só assim direi a ele que muitos hoje conhecem sua saga de grande Escoteiro. Nós ainda conversamos em OF. Não acreditam? Alguns trechos da história:

               - Vadinho voltava de um acampamento de tropa. Cansado, (voltavam a pé), ajudou sua patrulha a guardar a tralha que estava estocada na carrocinha. Quando conseguiram comprá-la todos foram tomados por uma satisfação imensa, pois agora levar e trazer o material de acampamento ficaria bem mais fácil. Da sede até sua casa ainda tinha uma boa jornada. Ele estava acostumado. Sempre fazia este caminho e os passantes e moradores já o conheciam de longa data. Ao avistar sua residência, viu no portão da cerca de madeira, suas irmãs, seu pai e sua mãe, e ficou intrigado.

Quando entrou em casa, viu em cima da sua cama, o seu novo Chapéu de Três Bicos. Incrível! Extraordinário! Ria, cantava e abraçava a toda a sua família. O Chapéu de Três Bicos também sorria. Gostou de Vadinho. Achou que seria muito útil e dalí em diante, também iria pertencer àquela família tão simpática. No dia seguinte Vadinho procurou um marceneiro, para saber quanto seria para fazer um porta chapéu. Tinha visto o Chefe com um, e viu que seria ótimo para guardá-lo mantendo sempre as abas retas durante anos e anos. Combinaram o preço e Vadinho trabalhou mais e mais engraxando sapatos para pagar sua encomenda. Continua...


Obs. Será que daqui a muitos anos teremos fotos como as do passado com a nova vestimenta e chapéus de todos os tipos, calça curta, comprida, camisa para dentro camisa para fora, lenço amarrado nas pontas, fazendo a alegria dos novos Escoteiros? Será que a figura da patrulha de chapéu, na chuva, nas montanhas, nas grandes aventuras irá desaparecer?

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Projetos de pioneirias.


Conversa ao pé do fogo.
Projetos de pioneirias.

Eu estou sempre fazendo aquilo que não sou capaz, numa tentativa de aprender como fazê-lo.

     - Você pode ver em ambos os casos que o crescimento nunca vai se igualar, mas a verdade é que a sua maneira, cada uma dessas patrulhas estão alcançando o objetivo. - Disse o Chefe. A diferença estava à vista. Logo ao chegar ao acampamento de fim de semana, uma Patrulha nova, recém-formada, tentava fazer o melhor possível para sua instalação do campo. Às outras três, bem mais experientes, estavam bem à frente, com quase todos os acessórios necessários prontos. Era um acampamento de dois dias. Chegaram sábado pela manhã, e iriam retornar no domingo à tarde. No entanto, a instalação padrão sempre foi exigida. O motivo era simples: - Precisavam aprender que o campo de Patrulha seria uma extensão de suas casas e o mínimo de conforto deveria ser conseguido. Não se pretendia formar técnicos em construções e projetos, mas cada um deveria ter a mínima noção de que sua parte era importante nesta montagem de campo. Era assim o Sistema de Patrulha e assim se trabalha em equipe.

     Nada ali era improvisado. Às patrulhas em reuniões anteriores, tinham decidido o que fazer e como fazer.  Muitos dos escoteiros já conheciam bem o “Projeto de Pioneiras”, que o chefe sempre falava. “Os projetos” tanto poderiam ser de uma pequena ou uma grande pioneiría. Devia ser levados em consideração a duração do acampamento, o material que estaria disponível no campo e o programa. Tudo era muito simples, dizia o Chefe: - Nada de burocracia.  A experiência com o tempo facilitava muito mais a montagem de campo já que os projetos em sua maioria estavam prontos no arquivo da Patrulha. A liberdade para criar e modificar era ampla e irrestrita. Havia o básico para um acampamento de uma noite ou de mais, dependo do planejamento anual.

     - É possível que você tenha razão, - falou o Velho Escoteiro - Hoje já não é possível encontrar facilidades de locais para acampamentos e principalmente em florestas com alguns tipos de madeira para serem usadas. Mas vamos olhar para o outro lado da questão. Não pretendemos que o jovem se adestre para se preparar de uma eventual possibilidade de no futuro usar tais conhecimentos. (apesar de saber que é um excelente meio para descobrir seu potencial profissional!) A possibilidade de se perderem numa floresta é mínima. - A técnica de pioneirias tem a finalidade de preparar seu espírito para a vida de adulto - continuou -. Saber que às dificuldades serão vencidas, e que em qualquer ramo de atividade é necessário estar bem preparado e só assim poderá vencer na luta pela sobrevivência profissional. A inventividade faz parte do homem, mas a maturidade traz o sucesso.

     - Também não vejo tanta dificuldade em conseguir um local para pelo menos duas vezes ao ano, poder utilizar a técnica de pioneirias. Existem tantas fazendas e grandes sítios, onde algumas árvores são consideradas como “praga” que pôr mais que se corte mais ela se multiplica. Um exemplo é o “Assapeixe“, sem nenhuma utilidade e qualquer proprietário (desde que seja amigo dos escoteiros - emendou -) ficaria satisfeito pela poda ou corte e não irá ser prejudicado e nem iríamos agredir o meio ambiente. Também se podem usar outros tipos de madeira, tipo eucaliptos, bambus etc. que são plantados com a finalidade de uso diversos, principalmente na construção civil. O que não se pode, é tentar formar e adestrar técnicas de campo, usando um fogareiro a gás, pois isto não traz nenhum beneficio a não ser a técnica de cozinha, e que claro também faz parte do adestramento.

    Infelizmente, alguns de nossos Escotistas devido não estarem preparados já que não vivenciaram tais técnicas, procuram de todas às formas motivos diversos para fazerem Camping e não acampamentos. - Posso afirmar que é possível manter um padrão técnico de pioneirias em qualquer parte do mundo. E afinal é o sonho de qualquer jovem é saber que vai participar de um acampamento com padrões escoteiros, dormindo sob barracas, fazendo sua própria comida, construindo sua cama sua cadeira, sua mesa e até sua torre de observação. - O importante é o trabalho em equipe. A Patrulha é a base para que esta técnica seja primordial no seu crescimento. Os Escotistas não podem de maneira nenhuma tentar modificar as estruturas e métodos somente porque acham que não é possível ou pode ser substituído.

     - Vou ser sincero, o que cortamos de madeira em um acampamento, claro, desde que o Projeto foi bem feito é o mínimo e não prejudica de forma alguma o meio ambiente. Quando você corta uma arvore, em alguns casos elas produzem diversas mudas que pela simples razão da natureza se multiplicam. E se você ensina aos jovens como devem plantar mudas, você está retribuindo em dobro o que cortou. - Devemos também ensinar aos rapazes e moças que a proteção e o respeito à natureza faz parte da formação e do “Espírito Escoteiro”. E finalmente, a melhor a mais bonita, a mais importante pioneira é a que o escoteiro fez, e não você!

Tive que concordar com o “Velho” Escoteiro. Escotismo é campismo na sua forma primitiva. Mudar isto seria mudar o sistema e a sua maneira de ser. Nós e amarras são técnicas escoteiras com finalidades objetivas. Se for para fazer Camping, um ou dois nós bastam para armar a barraca. O “Velho” pigarreou algumas vezes, foi conversar com a Vovó e esqueceu que eu estava na sala. Nada mudou no país de “Abrantes”. Eu estava acostumado.

     Mas valeu mais uma noite e a conversa com o “Velho”.  Meu Adestramento estava sempre aprimorando, principalmente agora que bolei uma nova mesa de patrulha com apenas quatro pedaços de madeira de 2 metros!

É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Rio Negro, a cidade das sombras!


Lendas Escoteiras.
Rio Negro, a cidade das sombras!

                       Um telegrama simples. Dizia: “Gostaríamos de contar com sua presença nas festividades do Grupo Escoteiro Enigma do Santo Sepulcro. Será dia 28 próximo em Rio Negro, a cidade das sombras. Todas as despesas serão por nossa conta”. Mais nada. Que seria isto? Alguma brincadeira? Eu recebia sim muitos convites para palestras e pequenos cursos escoteiros em várias cidades. Mas aquele convite era extraordinário. Na internet só descobri uma cidade parecida próxima a Parecis, e mesmo assim diziam que a cidade não existia mais. Deve ser alguma brincadeira pensei. Pitágoras o Comissário sempre fazia isto comigo. Liguei para ele: - Não fui eu! Juro! Ele disse. Dei boas risadas, mas fiquei inquieto, ou melhor, encucado com tudo aquilo.

                      Não dormi bem. Não tive sonhos e nem pesadelos, mas acordei suando. Parecia que alguém dizia para eu ir à estação Rodoviária comprar a passagem. Liguei para a região para me informarem se tinha algum grupo com este nome. Riram na minha cara. Tirei o carro da garagem e fui até a Rodoviária do Tietê. Nem bem entrei vi um homem de paletó roxo, chapéu enterrado até os olhos, descalço, unhas enormes e com uma placa – Passagens para Rio Negro. – Aproximei. Ele levantou o chapéu. Enormes olhos negros. Um nariz comprido e afilado. Uma boca enorme cheia de dentes de ouro. Não tinha orelhas. Nas mãos em cada uma dois dedos tirou do bolso uma passagem. – Mandaram-me entregar, o ônibus parte a meia noite. Terminal dois. O homem desapareceu. Procurei em todos os guichês da rodoviária e nada. Informei-me sobre a cidade. Ninguém conhecia.

                     Seja o que Deus quiser. Não costumo me esconder de desafios. Iria lá nesta cidade fantasma. A final sou um Escoteiro e o Escoteiro não foge dos desafios. Nunca! À noite já com minha mochila e de uniforme social fui para a rodoviária. Eram onze e quarenta da noite. Lá estava o morto vivo a minha espera. O “cara” era esquisito. Disse-me – Siga-me. E lá fui eu. Descemos umas escadas, um corredor escuro, um vento húmido e frio a soprar. Senti frio. Um frio que machucava. Vi o ônibus. Pequeno. Negro. Sem nada escrito. Na placa Rio Negro. A porta aberta. Entrei. Ele pediu a mochila – Vai no meu colo disse – Sentei bem à frente. Não tinha ninguém no ônibus. O ônibus partiu em seguida. Só eu de passageiro. Alguém de voz rouca e cavernosa começou a cantar a canção da Promessa. Dormi. Acordei com o dia amanhecendo. Uma bruma cinzenta cobria a cidade. O ônibus parou. Desci. Suspirei fundo. Um Chefe Escoteiro de uniforme. Brim roxo. Todo roxo. Um lenço negro com uma caveira desenhada atrás. Sem sapatos. Descalço. Unhas enormes. Sempre Alerta Chefe! Sou o Funério, seu assessor pessoal, disse. Venha comigo.

                       Um carro negro fúnebre nos esperava. Atrás levava um caixão. Algum defunto para enterrar. A cidade era coberta por uma bruma cinza e seca. Quase não se via as casas. Aqui e ali pessoas atravessavam a rua devagar, como se estivessem pisando em brasas. Não havia barulho. Nenhuma ave por perto. Não vi cachorro e nem gato. O carro parou. Olhei o motorista. Sempre de costa. Um boné de couro preto. Abriu a porta e sai dando de cara com um cemitério. Aqui? Perguntei. Ele se virou. O rosto sem pele. Ou melhor, uma pele fina, mas só os ossos apareciam. – Não se preocupe Chefe. A sede do grupo é linda. Foi toda construída pelos habitantes do lugar. O Senhor vai gostar. Bragg! Comecei a tremer! Onde fui me meter? Ele me pegou pela mão como se eu fosse uma criança. Fui com ele. Não tinha outra saída. Nem sabia onde estava. Catacumbas e mausoléus enormes. Nomes estranhos. Aqui jaz – Baldassari, morreu por falta de sangue – Em outro dizia: Aqui jaz, Narkissa, a princesa beijada pelo Vampiro Damien. E assim se seguia. Meu Deus! O lugar era misterioso, amedrontador.

                     Fechei os olhos, um medo terrível. Abri. Lá estava a sede. Em letras góticas uma enorme placa: Grupo Escoteiro Enigma do Santo Sepulcro. Enormes caixões enfeitavam o teto da sede. Um belo esquife branco estava em pé, na porta e dentro um Chefe bem velho de bigode e cabelos brancos com a nova vestimenta da UEB. Estranhei. A tropa, Alcatéia e os seniores formados na bandeira. Não havia bandeira nacional. Eram bandeiras negras com escritos em grego e latim e desenhos de zumbis e cadáveres. Um Chefe se aproximou. Bem vindo Chefe! Estamos tristes com sua chegada. Mas não estão alegres? Eu disse. Aqui Chefe é o contrário. Olhei a escoteirada. Todos de uniformes negros e os lobinhos de roxo. Ninguém sorria. Sérios. Como se estivessem mortos. Vi que nenhum dos jovens tinha olhos. Só um buraco fundo. Putz! Onde fui me meter? Porque aceitei? Não havia volta. Um zumbido e um grito e as bandeiras negras com símbolos vampirescos começaram a ser içadas. Vampiros enormes voavam sobre nossas cabeças. Ao termino não houve oração. Olhei em uma catacumba mais alta e chacais davam uivos áulicos e lamurientos. Achei que um deles o mais forte poderia ser Duamutef, o filho de Hórus. Abraçaram-se todos os escoteiros e lobinhos e começaram a chorar. Todos se lamentavam por haver morrido. Morrido? Eram mortos vivos? Pensei em correr dali.

                     Pegaram-me pela mão. Levaram-me até um alto mausoléu. Diziam que eu estava no campo santo. Em volta de mim vi um jazigo cheio de ossos. Parecia que o cemitério estava acordando. Em cada catacumba, em cada mausoléu, em cada cova uma mão, uma cabeça e logo uma multidão de mortos em minha volta. Eram milhares. O Chefe do grupo me pediu para fazer a palestra. Todos aguardavam ansiosos este momento. De que meu Deus! Que palestra querem que eu faça? Nada sei do tal grande acampamento. Dizem que lá ficam todos os escoteiros que morreram, mas eu? A última vez que fui a um enterro faz anos! – Chamem Baden Powell! Ele entende disto melhor que eu!  Não Chefe, nada disto. Todos aqui querem saber como funciona a União dos Escoteiros do Brasil. Querem saber como funcionam as alcateias. Querem nomes de Akelás que o Senhor conhece para visitarem a meia noite. Todos se preocupam com as tropas. Querem nomes também dos seus amigos do Facebook. Pediram sua opinião se eles seriam bem recebidos na Assembleia Nacional do ano que vem. Deus do céu! Que era aquilo? Ajuda-me Baden Powell! Socorre-me almas escoteiras do outro mundo que já se foram!


                     Chefe Patrulha Águia convidando para o jantar. Chefe Patrulha Cucu convidando para o jantar. Chefe Patrulha corvo se apresentando para avisar que o jantar está pronto. Acordei. Abri os olhos e vi monitores fazendo o convite. Obrigado meu Deus. Era apenas um sonho. Um pesadelo. Estava com meus escoteiros num lindo acampamento. Vi o sol se pondo no horizonte. Bendito sol! Vi o regato de águas límpidas logo ali. Vi um peixinho pulando nas corredeiras. Graças a Deus. Graças a Deus. Ainda bem. Levantei-me. Espreguicei. Dei um enorme sorriso de felicidade. Havia dormido no tempo livre dado a eles para prepararem as refeições. Fui até o córrego lavar o rosto e me refrescar. Cantarolava o Rataplã, agora sim, eu estava vivo e gostava de estar. Levantei peguei a toalha para enxugar. Do outro lado do córrego, lá estava ele, Funério o morto vivo da rodoviária. – Disse alto com voz grossa cavernosa e fúnebre – Sempre Alerta Chefe, à meia noite virei te buscar!


quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Dia do Chefe Escoteiro



OBRIGADO SENHOR POR ME PERMITIR SER UM CHEFE ESCOTEIRO.

A todos vocês que me seguem em meu blog, e se é um Chefe Escoteiro, aceite meu abraço, meu Sempre Alerta e meus parabéns. Fui um de vocês e hoje sei que o escotismo nunca morrerá por tantos chefes abnegados a fazerem pelos jovens o que BP nos ensinou. PARABÉNS!

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Escotismo adulto. Você gostaria de fazer?


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Escotismo adulto. Você gostaria de fazer?

            Cresce entre adultos Escoteiros a ideia de fazerem um escotismo entre eles. Na Europa a ideia já germinou e uma organização floresce. Aqui no Brasil muitos já se interessaram em filiar e dizem (em não sei) a própria UEB está estudando a filiação com uma organização própria. Onde isto vai dar não sei. Outros não concordam com a UEB ser exclusivista. Acham que o Escotismo adulto deve caminhar com suas próprias pernas. Eu como mineiro fico na minha matutando. Tudo que aparece sobre o tema eu leio e tento entender bem o que seria Escotismo adulto. Sou meio tapado com estas coisas. Sei que a palavra já diz tudo, mas precisa mesmo ter uma organização a parte? Claro que discordo da UEB ser a mentora, pois logo aparecem “sumidades” Escoteiras a determinar isto e aquilo desfigurando o sentido da ideia. Sei não. Eu vejo o Escotismo Adulto de outra forma. Uma organização poderia ser bem vinda se ela viesse nos oferecer liberdade e democracia. Se ela fosse viva e cheia de fraternidade. Se ela tivesse a ideia de dar aqueles que não tiveram a oportunidade de fazer um escotismo mateiro os levar para o campo com liberdade sem imposição.

              Vejo, no entanto que isto nem sempre transparece nas ideias europeias. Claro que uma organização voltada para a boa ação é sempre bem vinda. Quem sabe eles pretendem dar todo apoio às associações Escoteiras que estão com dificuldades ou mesmo dar facilidades ao crescimento dos jovens nos Grupos Escoteiros. Por outro lado vejo uma infinidade de adultos voluntários que nunca tiveram a oportunidade de fazerem um escotismo autêntico, no sistema de patrulhas, nos acampamentos de Gilwell, e entre sí jogarem gostosamente os maravilhosos jogos Escoteiros como aqueles que a meninada se diverte em tropas Escoteiras. Todos que fizeram escotismo quando jovens, entre eles muito se comenta com saudades “daqueles tempos” e logo a mente os transporta para os acampamentos vivendo a vida de um Escoteiro fazendo tudo que a oportunidade lhe deu. Pensando assim eu vejo uma possibilidade de se ter um programa de Escotismo Adulto. Voltado para as atividades Escoteiras que uns nunca fizeram e outros com lembranças boas querendo retornar a Gilwell.

                 Muitos confundem Indabas com atividades preparatórias para programas, cursos e em algumas existem um pouco do escotismo aventureiro, mas sempre com o líder ensinando e falando e apitando. Não sei se isto é válido para uma volta aos tempos de menino ou mesmo sonhar ser um menino Escoteiro que nunca foi. Sei que existem milhares de Chefes que não tiveram a oportunidade de viver uma vida de campo. Quem armou uma barraca e dormiu sob ela em um campo de patrulha junto com outros chefes? Quem junto a uma patrulha construiu um ninho de águia? Quem construiu uma ponte pênsil ou seguiu uma pegada de um animal qualquer na floresta? Que ficou até a madrugada contando estrelas e cantando com seus amigos chefes da patrulha? E quantos mais decidiram fazer uma jornada seguindo um mapa, um percurso de Giwell, utilizando o Passo Escoteiro ou o Passo Duplo? Quem pode um dia transmitir mensagens em semáforos ou Morse a distancia principalmente em um jogo noturno? Sei que muitos que não foram escoteiros sonham com isto. Mas feito de maneira a “Escoteira” decidindo por sí só ou pela patrulha unida.

                       Como seria bom olhar para o outro lado da estrada. Uma patrulha de chefes ou várias, caminhando como se fossem jovens patrulheiros naquela trilha a procura de um bom lugar para acampar. Quem sabe tendo um Monitor eleito democraticamente e sabendo que poderia ser retirado por qualquer “audácia” de impor suas ideias. São muitas coisas que muitos chefes sonham. Seria este o Escotismo Adulto que eu penso. Um escotismo aventureiro para chefes. Sem apitos, sem gritos, sem imposições e sempre voltado democraticamente no pensamento de todos. Uma patrulha de chefes que seria viva para sempre. Um sai outro entra. A patrulha de chefes tem normas para eleições, tem normas de amizade e fraternidade. Ela a patrulha poderia ser formada por chefes do próprio grupo ou do distrito. Tem normas de respeito e ética e todas elas nunca escritas, mas sempre sabida. – Ei Patrulheiros da Raposa! Tudo pronto para o acampamento de verão? Sei que existem muitas necessidades para se atingir a maioridade. Mas não dizem que se conhece o Escoteiro no acampamento? Porque então não acampar com os chefes para conhecê-los melhor?

                         Não acho impossível isto acontecer. Com alguns acampamentos os chefes do grupo e do distrito não teriam outro diapasão? Quem sabe viver em uma patrulha daria oportunidade para entender melhor nossas deficiências e as deficiências dos outros chefes? Lembre-se que aqui falo de Chefes Escoteiros Aventureiros e mais nada. Sem imposição e se tiver um dirigente ele seria previamente eleito, mas determinado há um tempo mínimo na liderança, pois seria substituído por outro a seguir. Afinal ele não gostaria de estar lá na patrulha? Sei que é difícil começar, mas não dizem que tudo tem um começo? Se alguém na liderança não apoiar eu acredito que falta apoio aos Adultos Escoteiros. Eles não podem ser massa de manobra como até hoje. Levados pela mão aonde o dirigente acha que é o caminho. Eles não estão dando aos chefes Escoteiros a possibilidade de discordar, de sugerir, e de votar. Portanto pensem bem afinal vocês não tem sonhos? E porque não realizá-los? Só lembre-se que o acampamento é para chefes e dos chefes mais ninguém. Os Pioneiros e seniores já tem o seu. Aquele é seu agora é sua vez.

                       Eu sei que a ideia de BP era voltada para os rapazes e moças. Tudo que ele fez foi em função da formação individual, o desenvolvimento da liderança e formar caráter e civismo para jovens. Mas hoje temos milhares de adultos Escoteiros que nunca fizeram tais técnicas e tais atividades. Afinal, eles não têm este direito? Conversem entre si se acham que a sugestão é valida. Discutam se acreditam que a outra forma europeia é mais valida. Quem sabe o embrião que está surgindo na Europa não seria válido aqui? Mas se querem também fazer escotismo, viver a vida mateira e aventureira como adulto e junto a outros adultos está na hora de se por em ação. Como diz um amigo meu, pé no pedaço, preparem o programa, mochila as costas, uniforme no lombo, chapéu Escoteiro, uma bandeira e escolham sua trilha e parta para onde o vento os levar, cantando uma bela canção! Bons ventos e bons caminhos!


“Saudades de quando junto a amigos chefes, embrenhávamos na mata, fazíamos uma clareira e ali vivíamos a vida de um escoteiro. Quantas amizades foram marcadas para sempre”!