Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A Escola da Vida!


Conversa ao pé do fogo.
A Escola da Vida!

"Deus nos concede, a cada dia, uma página de vida nova no livro do tempo. Aquilo que colocarmos nela, corre por nossa conta."

                       Não sei se existe idade para que nós possamos aprender nesta formidável escola do mundo em que vivemos. Uma grande poetiza já dizia que todos nós estamos matriculados na escola da vida. Desde que nascemos. Nesta escola o mestre é o tempo. A cada dia vamos aprendendo. Não importa a idade, pois o aprendizado não para. Dia e noite. É bom aprender com o silêncio, com os falantes, com os intolerantes e os gentís. Eu posso dizer que sou grato a todos pelo que aprendi e ainda aprendo. Não levo em consideração se são rudes, se são estranhos. A eles sou eternamente grato. De vez em penso nas palavras de Baden Powell quando disse que é uma pena que um homem tenha que viver sessenta anos para adquirir alguma experiência de vida e a leve para o túmulo, cabendo aos que o seguem começar tudo de novo, cometendo os mesmos erros e enfrentando os mesmos problemas.

                     Leonardo da Vinci comentou que a experiência é uma escola onde são caras as lições, mas em nenhuma outra os tolos podem aprender. Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende. São duas coisas distintas – O saber dado pelos mestres nas escolas e a vida como ela é, sendo olhada, guardada em nossa mente e nos fazendo crescer no dia a dia. Outro pensador comentou que, no dia em que guiarmos nossas ações, juízos, estudos e decisões por valores que visam ao sublime em vez da mesquinhez, quando agirmos inspirados mais nos critérios de justiça, da generosidade, da prudência, da temperança do que do interesse do egoísmo, no dia em que agirmos meditando sempre na beleza da doçura, na importância da humildade, no valor da coragem e no lugar da compaixão, nesse dia nosso planeta atingirá aquele estágio supremo que toda evolução técnica teve por meta.

                O escotismo nos deu escolhas. Não importa se entramos nele como jovens ou adultos. Ele o escotismo nos dá escolhas simples, honestas baseadas em uma lei e uma promessa. Aprendemos tanto a cada dia, a cada hora, a cada minuto. Aos poucos vamos fazendo um arquivo em nossa memória impossível de descrever ou escrever. É este arquivo é quem nos ensina como compreender, ser calmo, ponderado, e assim aceitarmos mais alegremente a vida como ela é, sem reclamar e aceitando o que nos foi dado como meta. Fico pensando que muitos jovens ou mesmos outros que ainda não estiveram em todas as salas da escola da vida não querem ainda escolher com aqueles que já passaram por todas elas, carregam experiência e não se perdem no caminho desta escola. Eles os jovens se sentem seguros, Andam com firmeza e acreditam que o que fazem é o certo. Mas isto não é bom? Lá bem distante um dia eles verão que o caminho poderia ter sido outro. Mas e o livre arbítrio?

                Ainda bem que tive a alegria de participar ativamente deste movimento que só me deu alegrias. Os percalços que encontrei foram também aprendizado. Hoje não fico preocupado em não poder estar na ativa e junto ao lado dos jovens. A Escola da Vida e Deus me deram o que preciso para continuar a jornada. Mente clara, pensante, ativa procurando nos seus recônditos uma maneira de ajudar e colaborar. Sim aprendi muito e nunca esqueço as belas palavras de Baden Powell. Ele nos mostrou o valor da natureza em nosso crescimento. Dizia ele que quando um filhote de lobo ouve as palavras “estudo da natureza”, seu primeiro pensamento é sobre coleções da escola de folha secas, mas estudo da natureza real significa muito mais do que isso, o que significa saber sobre tudo o que não é feito pelo homem, mas criado por Deus.  È ela a natureza uma das grandes matérias da Escola da Vida.

                 Todo homem toda a mulher passa pela escola da vida. Eles são os que sustentam a nação e o mundo com o que aprenderam. São livros não escritos, são matérias do dia a dia. São as alegrias, as dificuldades, os sacrifícios que nos dão a certeza de um dia receber o diploma tão esperado. Mas este diploma é apenas uma etapa. A Escola da Vida não para. Há muito que aprender. Ela nos dá a única riqueza que vamos levar conosco na viagem que um dia iremos realizar. E a cada estação, a cada apito do trem descendo ou subindo iremos encontrar mais e mais escolas. São milhares. Nunca irão parar. Seria bom que todos trocassem ideias como os que passaram por esta escola antes da maturidade. Mas acredito que tem de ser assim. E como dizia Saramago, mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo!

O homem que é cego para as belezas da Natureza perdeu metade do prazer da vida!

Lord Baden Powell.

domingo, 23 de novembro de 2014

Estamos caminhando rumo ao sucesso?


Crônicas de um Velho escoteiro.
Estamos caminhando rumo ao sucesso?

            Deveria me manter na minha sina de Velho chato e antigo Escoteiro tradicionalista. Deveria ficar na minha, quieto, sem ficar sempre dizendo a mesma coisa. Sempre digo a mim mesmo que não ia mais comentar a postura de um uniforme, farda, traje ou como agora dizem se chamara vestimenta. É chover no molhado. Sei que muitos amigos aqui não irão gostar, mas olhe, não escrevo para reprimir e nem criticar ninguém. Não faz parte de minha índole Escoteira magoar alguém. Mas caramba, agora pela manhã sentado na minha cadeira na varanda de meu lar resolvo ler um pouco de Baden-Powell. Putz! Dou de cara com o que um dia escreveu sobre a farda Escoteira (farda, uniforme, traje e vestimenta tudo é a mesma coisa): A farda escoteira, pela sua uniformidade, constitui agora num laço de fraternidade entre os rapazes do mundo inteiro. O uso correto do uniforme e a elegância na aparência de cada Escoteiro, individualmente, torna-o um motivo de crédito para o nosso Movimento. Mostra que está orgulhoso de si mesmo e da sua tropa. Pôr outro lado um escoteiro desleixado, mal vestido, pode causar aos olhos do público, uma péssima impressão sobre todo o movimento. Mostrem-me um desses tipos e lhes afianço que provarei que ele é um daqueles que não conseguiu pegar o verdadeiro Espírito Escoteiro e não se orgulha de ser membro da nossa Grande “Fraternidade”. 

             Errado ele? Cada um deve pensar como quiser, mas acreditem depois do advento da vestimenta fico pensando se estamos realmente fazendo boa apresentação à comunidade, se estamos garbosos e bem apresentados, se estamos elegantes e se nossa apresentação irá fazer com que a sociedade irá nos dar mais créditos que antes. Fico perplexo com o que vejo. Primeiro a escolha pessoal é grande. Dizem ser mais de quinze tipos. Concordo que a cor é uma só, mas vejo em tropas e em grupos muitos vestidos diferentes um do outro. Alguns de calça comprida outros com a curta, alguns de meias brancas, azuis pretas ou outras cores. Camisa solta ou presa dentro da calça, manga comprida ou curta. E os bonés e outras coberturas? Vê-se no mesmo grupo vários tipos e cores. E os calçados? Prefiro não continuar. Dizem-me que o POR define. Será que todos estão ao par? Não sei. Só sei que de vez em quando vejo fotos de cursantes e os dirigentes se portam do mesmo jeito.

                Sempre digo que somos o exemplo. Se eu coloco um lenço preso nas pontas meus jovens farão o mesmo. (inventaram isto e todos copiaram) Se eu estou de camisa solta eles irão copiar, Se eu escolho uma cobertura que gosto porque eles não irão fazer o mesmo? Quando menino ninguém vestia o uniforme antes da promessa. Recebíamos uma aula do Monitor como se manter bem uniformizado e se orgulhar do que vestimos. Vi diversas vezes o Chefe chamando o Escoteiro ou o lobinho em particular para dar a ele conhecimentos sadios e como ele devia se portar e orgulhar do seu uniforme. Pode ser que isto é uma tradição que não cabe mais hoje em dia. A liberdade agora faz parte de muitos adultos e jovens que acreditam poder escolher o que quer e o que vestir. Até admito a mudança mesmo sendo contra a maneira como foi imposta, mas não posso admitir esta parafernália de escolhas que ao meu modo de ver não vai trazer benefícios aos olhos do publico que ainda não se enquadraram com as escolhas que a Direção Nacional nos impôs. Muitos ainda acreditam que colocando o lenço exaltam o escotismo. Não importa se o lenço está sendo usado em roupa civil. O Velho Escoteiro não aceita isto de modo algum.

                 Levamos anos para demonstrar um escotismo autêntico, um escotismo respeitado, um escotismo que sempre foi motivo de orgulho para nossas famílias e para os que nos conheciam. Tivemos homens célebres orgulhosos do nosso movimento. A liberdade hoje desta uniformização não acredito se vai trazer benefícios. Mostrem-me alguma organização, associação ou mesmo nos meios escolares, sem mesmo citar nossas organizações militares onde alguns deles tiveram a liberdade de escolher seus uniformes ou a vestimenta como a querem chamar. Se no POR tudo está definido procurem os dirigentes olhar melhor o que se passa nas associações Escoteiras. O que está acontecendo é culpa única e exclusiva dos dirigentes que criaram tudo isto. Não esqueçam também que os formadores em cursos aplicados tem responsabilidade no exemplo pessoal. Um formador deve ser o primeiro a dar o exemplo e exigir de todos durante a realização do curso.


                   Ah! BP! Olhar você dando exemplo pessoal, faz-me lembrar dos meus tempos de orgulho quando vestia meu uniforme. Recordar que com o caqui e minhas calças curtas cumprimentei amigos, familiares, vizinhos, grandes dirigentes empresariais, homens de toda a gama politica existente, autoridades eclesiásticas, governadores e até um Presidente da republica. Lembrar que em locais remotos tínhamos orgulho de estar bem uniformizados e ser bem recebidos vendo todos dizendo? Olhem! Os Escoteiros estão chegando. Finalmente não posso dizer se é diferente de hoje. Os lideres Escoteiros do passado tinham orgulho do seu uniforme. Faziam questão de se apresentar garbosamente. E os jovens? Tira-se o chapéu para eles com seus sorrisos maravilhosos, com suas patrulhas bem postadas, esperando que o Chefe os visse e dissesse: Parabéns patrulhas! Estou orgulhoso de vocês. A disciplina tinha outro significado. Ninguém criava ou usava o que não era permitido. Ainda bem que era só um e depois com o traje outro. Agora? Mais de quinze! Durma-se com um barulho destes. Um celebre filósofo dizia e eu não tiro uma vírgula: - Dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros. – É a única!     

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O Selvagem das Terras Altas. A história do Cacique Capotira. O Selvagem da Cabeça Branca.


Evitar o perigo não é, a longo prazo, tão seguro quanto expor-se ao perigo. A vida é uma aventura ousada ou, então, não é nada.

O Selvagem das Terras Altas.
A história do Cacique Capotira. O Selvagem da Cabeça Branca.

                Se havia algum que me deixava deprimido era não poder fazer alguma atividade que por um motivo ou outro pensei em fazer. Nunca em minha vida tive medo de enfrentar a estrada, as matas, campinas, os rios estreitos e largos, as cachoeiras, as corredeiras infernais e até as mais altas montanhas. Deliciava-me quando conseguia conquistar cumes imensos, atravessar rios caudalosos seja de que maneira for descendo corredeiras ou mesmo encontrar com o imponderável pela frente era motivo de orgulho. Não sei quantas vezes passei por isto. Medo? Um pouco. Muitas vezes “molhei as calças” e não me envergonho de dizer. O que me deixava agora chateado era não encontrar alguém da Patrulha para ir comigo. Estava enfezado. Israel disse que não podia – Bitelô, como vou ficar vinte dias fora? – Tãozinho então – Nem posso pensar nisto Bitelô, meu pai não vai deixar nunca. E assim um por um não encontrei ninguém que topasse enfrentar um desafio novo.

               Tudo começou quando fui cortar o cabelo na Barbearia do seu Praxedes. Era o barbeiro do meu pai há muitos anos. Eu cortava cabelo com ele desde os cinco. Ele sempre soube o que fazer e como era o corte. Estava lá entretido quando entrou um sujeito com um bigode que nunca tinha visto um igual. Enorme. Diria que os lados quase alcançavam ao queixo. Passou um tempo e ele começou a conversar com o seu Praxedes e conversa vai conversa vem disse que morava na Morada do Morto Vivo. Nunca ouvi falar. Seu Praxedes balançou a cabeça. Contou então a história mais incrível que tinha ouvido. Disse que bem longe de sua casa, bem ao norte subindo o Rio Turvo, quem sabe duas semanas a pé, existia uma serra alta, toda tomada por uma imensa floresta. Ninguém ainda tinha entrado nela. Era completamente desconhecida. Um dia um homem todo marcado e sangrando como se tivesse sido esfolado vivo chegou a sua porta pedindo ajuda e socorro. Trataram dele dentro do que conheciam e no quinto dia ele partiu. Quando ia virando a curva da Trilha da Goiabeira gritou – Nunca tentei entrar na Floresta do Diabo! Lá ainda mora o Selvagem da Cabeça Branca. Ele não conversa com ninguém. Ele esfola e mata. E sumiu junto as plantação de figo que tínhamos acabado de plantar.

              Depois não falou mais. Cortou o cabelo aparou o bigode e quando ia saindo o segurei pelo braço. Ele me olhou e vi nos seus olhos faiscarem. Conhecia este tipo de valentia de outras eras quando das minhas brigas eternas e quase desisti de perguntar. – Moço, como faço para chegar na Floresta do Diabo? Ele riu. Pegue o trem. Desça em Baixo Guandu. Suba o Rio Turvo por oitenta quilômetros. Quando avistar uma garganta entre duas montanhas, vá por baixo mais dez quilômetros. Quando ela terminar irá ver uma imensa floresta subindo aos céus e densa por causa do nevoeiro. É lá. Mas menino, nunca vá lá. O Selvagem da Cabeça Branca dizem nunca deixou ninguém vivo e os que conseguiram fugir ficaram com sequelas no corpo morrendo em poucos meses. Virou-me as costas e sumiu na Rua do Sumidouro e nunca mais o vi. À noite minha patrulha tinha marcado uma reunião na sede. Pretendíamos acampar nas férias de julho e poderíamos escolher um bom local e quem sabe fazer as grandes pioneirias que sempre planejamos e não fizemos. Poderíamos ficar oito dias acampados.
  
               Enquanto todos discutiam lembrei da conversa do Homem do Bigode Rastapé que me contou a história fantástica. Contei para a Patrulha. Riram e não deram atenção. Tentei de todo modo motivar a irmos lá. Foi Israel que colocou a questão crucial – Olhe Bitelô, Oitenta quilômetros rio acima, depois mais vinte. Você sabe. Sem trilhas, matas dos dois lados e com corredeiras tem de ser a pé. Pelos meus cálculos não conseguiremos andar mais que vinte quilômetros por dia, e olhe lá. Só aí seriam cinco dias para ir e mais cinco para voltar. Nem sabemos o que vamos encontrar. Claro que na volta uma jangada pode nos trazer mais rápido, mas e então? Subir uma montanha que ninguém nunca subiu? E se for verdade esta historia do tal Selvagem esfolador? Não somos heróis. Nem sabemos o que vamos encontrar.

               Tentei de todo modo motivar a turma. Não estava conseguindo convencer aqueles seniores destemidos. Deram todo tipo de desculpa. Parece que não era a minha Patrulha que não recusava nenhum desafio. Voltei para casa frustrado. No dia seguinte Pedrinho me procurou em casa cedo ainda – Olhe Bitelô, não dormi a noite. Só pensando nesta história do esfolador. Encontrei com o Israel e ele me disse a mesma coisa. Acho que devemos nos reunir hoje na sede e conversar de novo sobre isto. Dito e feito. A Patrulha conversou por horas. No final tudo planejado. Achávamos que quinze dias seriam suficientes. Os seis valentes seniores da patrulha Cascavel iriam entrar em ação novamente. Que nos esperasse a Floresta do Diabo. E que se danasse o Selvagem da Cabeça Branca. Ele ia conhecer uma turma da pesada! A aventura ia começar e que aventura foi meu Deus!

                Seu Josué era o Chefe da Estação da Estrada de ferro. Já nos conhecia. Aproximou-se e perguntou – Para onde vão desta vez? Até Baixo Guandu Seu Josué. E de lá? - Bem vamos tentar chegar até a Floresta do Diabo. Isto é vamos subir o Rio Turvo. – O rio eu conheço, mas esta floresta não. Cuidado com o Rio. Quando menos se espera ele sobe até dois ou três metros do seu nível.  Gente boa seu Josué. O trem parou na plataforma. Subimos na Segunda Classe e logo ele partiu. Seriam por volta de três horas de viagem. Se tudo corresse bem chegaríamos em Baixo Guandu lá pela uma da tarde. Foram preparativos imensos. Nossa ração que estávamos acostumados era de no máximo dez dias. Ração para quinze ou vinte não sei não. Mas achamos que encontraríamos pelo caminho muita verdura, peixes e quem sabe algum animal ou ave para matar a fome e economizar nosso farnel.

                   Éramos seis. Eu, Romildo, Fumanchú, Taozinho, Israel e Pedrinho. A Patrulha estava completa. Todos foram segunda e Primeira Classe quando escoteiros e agora muitos portavam a eficiência II. Não havia pata tenras. Passamos juntos por poucas e boas. Na viagem o espírito era nota dez. Cantamos, contamos “causos”, até umas piadinhas que não podiam ser contadas para os lobinhos. Meio dia e meio avistamos Baixo Guandu. Uma cidade de mais ou menos quinze mil almas naquela época. Hoje não sei. Antes de o trem entrar na estação avistamos o pontilhão do Rio Turvo. Descemos e como sempre atraiamos atenção. Não dava tempo para conversar. Partimos. Um trecho de estrada estadual e logo uma carroçável margeava o rio. Sabíamos que ela iria desaparecer em breve. Dito e feito. Uma mata rala, e logo uma mata fechada. Que dificuldade para dar cada passo. O rio naquele trecho era manso. A tarde veio chegando. Precisávamos de um lugar para arranchar. Sabíamos que não podíamos ficar próximo à margem. Pelos menos uns trezentos metros. As muriçocas nos comeriam vivos. Experiência de outras épocas.

                   A primeira noite foi calma e assim a segunda. Mas cada dia mais difícil ficava a caminhada. Na tarde do terceiro dia avistamos uma cachoeira enorme. Época da piracema. Um espetáculo a parte. Quem já viu sabe como é. Lindo! A luta dos peixes para subir rio acima é algum de espetacular. Escolhemos um belo piau de dois quilos e o Fumanchú nos fez uma gostoso assado de peixe na brasa. No dia seguinte demoramos mais de três horas para escalar a cachoeira. Não foi fácil. No quinto dia achávamos que estávamos atravessando o inferno. Que dificuldade meu Deus! Cada metro mais e mais um emaranhado da floresta. Naquele dia acho que não andamos cinco quilômetros. Se continuasse assim não chegaríamos a tal Garganta. No sexto dia a mata ficou rarefeita. Tiramos o atraso. Na manhã do sétimo dia avistamos a Garganta. Fácil de percorrer. Um gostoso riacho pedregoso e raso com águas límpidas. Na tarde daquele dia avistamos a famosa Floresta do Diabo. Imponente. Grandiosa. Misteriosa. Uma nevoa encobria o seu topo. Resolvemos dormir e prosseguir no outro dia.

                Levantamos cedo. Graças a Deus que durante os sete dias não choveu. Não foi preciso usar as lonas. Dormimos sob as estrelas. Pela manhã após um cafezinho partimos. Não havia como escolher uma local para a subida. Por toda parte arvores gigantescas e vegetação encobrindo tudo. Fomos em frente. Fumanchú nos disse que nossa ração daria para mais quatro dias. Se pudéssemos encontrar alguma caça ou pescar seria bom. Pescar ali não dava. A subida ficou íngreme. Três passos a frente um atrás. Quem sabe encontraríamos algumas frutas silvestres pensava enquanto andávamos. A mata fechada. Muito fechada. Começou a escurecer. Abrimos uma pequena clareira e dormimos, não antes de uma gostosa sopa de batata. Um bule de café nas brasas umas batatas doce e a noite chegou firme. Pegávamos no sono com facilidade.

               Acordei com o dia raiando. Vi o Romildo e o Fumanchú de pé, sem se mexer e olhando firme para frente. Tremi na base. Um índio enorme. Olhe mais de dois metros. Grande e sem ser gordo era descomunal. Cabeleira longa e totalmente branca. Sem barba. Olhos negros fitando-nos. Não disse nada. E agora, seria o tal Selvagem da Cabeça Branca? Vai nos esfolar e matar? Israel e Tãozinho se levantaram. Pedrinho sentou e se assustou. Era o menor de todos. Todos se aproximaram e ficamos juntos. Romildo o Monitor pegou seu bastão. Arma? Que nada, era leve e nem como porrete quebraria o galho. Calças começaram a ficar molhadas. Ele fez um sinal como dissesse – Venham comigo. Fazer o que? Juntamos nossas tralhas e fomos com ele.

                  Gente, o caminho era uma surpresa. Ele nos levou por uma encosta, onde uma trilha mínima e tendo como esteio um cipó enorme, atravessamos. Do outro lado uma pequena ponte pênsil que ele puxou não sei de onde, passamos e chegamos próximo a um platô, enorme. Avistamos algumas Ocas e uns vinte índios nos cercaram. A maioria mulheres e crianças. Ninguém falava nada, ninguém sorria. O tal da cabeça branca nos mandou entrar em uma oca. Enorme. Grande mesmo. Cabia lá toda a tribo isto é pensei que poderia ser uma. Um pequeno fogo no meio e que cheiro ruim. Ruim mesmo. De que seria? Romildo disse que mataram um porco do mato e ele estava em um canto da oca. Só podia ser ele. O tal da Cabeça Branca nos mandou sentar. Todos sentaram. Ele humildemente, o que estranhei começou a falar:

                 - Eu e os demais da tribo estamos pensando o que fazer com vocês. Não gostamos de estranhos. Eles nos fazem mal. Todos que aqui vem nós o matamos ou esfolamos. Um aviso para ninguém vir. Há muitas e muitas luas seus irmãos brancos mataram quase todos da minha tribo. Morávamos próximo a Aimorés, quase junto a Lagoa da Traíra. Éramos de paz. A sua FUNAI nos deu terras e fazendeiros nos tomaram. Uma noite entraram em nossa aldeia. Mataram quase todos. Eu, filho do cacique Lobo Branco, Pontiac filho do bravo Amanaki, Iraci minha namorada na tribo e filha de Caíare estávamos caçando. Quando chegamos vimos todos mortos e os brancos saqueando tudo. Nos escondemos. Levaram os corpos e os enterraram na entrada da Aldeia, mais de cinco quilômetros onde morávamos. Choramos muito. Mais cinco crianças correram até nós. Estavam vivos. Eu tinha dezesseis anos e era o mais velho. Resolvemos fugir.

                - Descobrimos esta floresta depois de dias de viagem pelo Rio Turvo. Achamos que quase ninguém viria aqui. Na Garganta Cajuru montamos um ponto para observar todos que se aproximam. Voces passaram por ela. Vimos todos os seus passos. São meninos como eu era. Sei que vieram por aventura. Eu também fui assim. Hoje somos menos de trinta. Iraci me deu oito filhos. Paramos. Não podemos crescer mais. Um livro sagrado foi escrito. Todos sabem o que diz lá. Aqui temos muita água e fizemos uma represa para criarmos peixes. Temos uma horta com muitas verduras. Conseguimos mudas de cana, de mandioca e de abóbora. É nosso sustento. Não queremos riquezas e aqui sabemos do ouro tão ambicionados por voces. Amanhã vamos decidir seus destinos. Ficarão na Oca de Pontiac. Não saiam de lá.

                 Saiu e fomos levado por Pontiac até sua morada. Custamos para dormir. Pela manhã eu já estava de pé quando uma indiazinha de uns doze anos entrou e disse que o Cacique Capotira (o tal da cabeça branca) nos chamava. Em uma roda de índios nos entregou nossas mochilas e algumas frutas. Disse que podíamos ir embora. Não pediu para ficarmos calados só disse que se contássemos a história da tribo e onde estávamos ele sabia que não iam durar muito. Deu a cada um uma pepita de ouro. – Façam o que quiserem. Pegamos nossas mochilas e partimos com ele a frente. Levou-nos até a Garganta Cajuru. Mostrou-nos muitas piteiras secas. Disse que com oito poderíamos descer o rio facilmente. Quando a corredeira aumentar saiam da água. A cachoeira esta próxima. Partimos.

                  Para dizer a verdade eu chorei. Gostei demais da tribo. Apesar de pouco tempo ficamos orgulhosos em conhecer todos. Cinco dias depois chegamos em Baixo Guandu. Eu, Romildo, Fumanchú, Taozinho, Israel e Pedrinho fizemos um juramento de não contar para ninguém. Foi uma das nossas maiores aventuras. Sempre quando acampávamos a noite em fogo de conselho ou em uma simples conversa ao pé do fogo, rememorávamos com saudades daquela aventura que ficou gravada em nossa mente para sempre. Os anos passaram e eu passei com eles. Há vinte anos atrás encontrei com Romildo. Sei que já foi para o grande acampamento. Disse-me que um dia soube pelos jornais a história da tribo dos Cabeças Brancas. O governo deu a eles as terras e nunca mais foram importunados por brancos.

                   Acampamentos, excursões, grandes aventuras. Elas ficam gravadas para sempre em nossa mente. Assim são os escoteiros. Não sabem se esconder em sede. Partem em buscas de suas aventuras. Seja ela simples, seja ela com grande perigo. Não importa. Eles sabem até podem ir. Saudades de Capotira, de Pontiac, de Iraci e daqueles amigos sinceros que fizemos. Espero que até hoje estejam felizes, pois lá em sua tribo sentiam-se libertos, e só o sol e a lua sabiam como a felicidade fazia parte de todos aqueles Cabeças Brancas. Quem sejam muito felizes. E as pepitas de ouro? Risos. Com ela papai terminou nossa casinha na Pastoril!

O amor vive de repetição. Cada um de nós tem, na existência, no mínimo uma grande aventura. O segredo da vida é reeditar essa aventura sempre que seja possível.



segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Acampar é viver com a natureza.


Conversa ao pé do fogo.
Acampar é viver com a natureza.

                        Se você é Escoteiro já deve ter acampado. Isto mesmo e eu sei que foram muitas vezes. Já escrevi aqui a diferença de Camping com Acampamentos Escoteiros. Eu já fiz camping por boa parte deste Brasil. É divertido. Temos conforto, uma barraca que dá para ficar em pé, levamos rádio, TV, o fogareiro a gás tem duas ou três bocas, as mesinhas são fáceis de armar, os bancos ou cadeiras de praias estão ali para nosso deleite. Enfim, um conforto enorme e sem esquecer que temos luz elétrica e próximo chuveiros quentes. Uma delicia. E em um Trailer? Impossível imaginar a “gostosura”. Bom demais. Tive um Diamante e me esbaldava com ele. Que conforto meu Deus! Mas isto não é escotismo. Nunca foi. Vejo fotos de barracas inteligentes, suspensas, algumas em árvores como se fosse à casa do Tarzan. A turma se delicia com estas fotos e com estes confortos. Mas pergunto novamente isto é acampamento? Isto é escotismo?

               Claro que não. Eu lembro quase tudo dos meus acampamentos Escoteiros, mas pouco me lembro dos meus campings e do meu trailer. Não desmereço os primeiros acampamentos, as barracas novas, cheirando a pano de loja. Isto é norma para pata tenras. Mas se sua turma já é escolada, ela acampa com ou sem barraca e que venha a chuva! Quer saber? Nunca usei um Sleeping ou saco de dormir. Nunca usei um colchonete. Mas sei que hoje os tempos são outros e a meninada precisa primeiro aprender a ser um bom mateiro. Por isto vá cortando de acampamento em acampamento. Quando eles souberem fazer um abrigo e tiver somente uma lona em cima o caminho começa a dar frutos.

              Um Chefe outro dia comentou que ele já dispensa os veículos dos pais ou ônibus fretado, e aprenderam a usar as pernas como transporte. Carregam tudo que precisam na mochila, pegam ônibus, trens e vão aonde muitos nem sequer imaginaram. Mas isto eu sei é para uma tropa mateira. E olhe ele disse que mora em cidade grande. Estupendo! Um artigo meu fazendo gosação comentou sobre o que ensinou um Chefe Escoteiro sobre o material a levar para o campo. Incrível eu pensei. Isto é material para os escoteirinhos pata-tenras, onde a Mamãe a vovó e a titia ficam ali insistindo com ele para levar. Coitado. Vai aprender a carregar peso sem a necessidade e pobre das suas costas. E quando ele entrar em um ônibus? Bate aqui, bate ali e todo mundo olhando para ele espantado ou resmungando. No caminho ele fica para trás. Um bom Chefe divide com os demais a tralha dele com os outros, eu não, eu deixo ele se matar para aprender. Não é fazendo que se aprenda?

                Lá no acampamento é uma beleza. Os bons chefes vão lá ajudar a escoteirada a armar a tenda, a preparar um fogo, a fazer a cozinhar e etc. e tal. Eu não. O que eles foram fazer ali? Um jogo de olhar o Chefe? Eles que se virem. Afinal para que serviu o acampamento de monitores, o acampamento experimental de um fim de semana? Não ajudo mesmo. Que fiquem com fome que durmam no relento. Quando a fome apertar eles farão o fogo, quando o fogo estiver pronto eles aprendem a cozinhar. Se botarem açúcar no arroz paciência. Que comam arroz doce. Se o bife torrou danou-se, mas que mordam o queimado. Se for para pegar na mão do Escoteiro não conte comigo. Olhe que já acampei com tropas e tropas neste mundão de Deus. Quantos mateiros Escoteiros e escoteiras eu vi crescer? Centenas. Gente boa, gente que aprendeu a fazer fazendo e que quando adulto saberão se virar e ter iniciativa. Isto sem a mamãe e o chefinho Professor.

                Quantas vezes dormimos ao relento? Quantas chuvas enfrentamos? Quantos dias frios tiramos de letra com um bom Fogo Espelho? Conheci meninos Escoteiros que uma parada de uma hora em uma jornada era suficiente para uma fazer uma sopa e prosseguir. Turma da pesada! E quantas vezes dormimos sobre pedras, nas subidas das montanhas, molhados com a chuva e nos viramos com uma árvore copada? Pergunte aos que fizeram isto e verão um brilho em seus olhos, uma lembrança gostosa, um sabor diferente no aprender para a vida. Sei que hoje os pais não são como antigamente, mas se fosse eu diria: - Senhor, o escotismo vai ser assim. Se quiser que seu filho seja um homem no sentido da palavra ele vai aprender a fazer fazendo. Se o senhor acha que não dá, melhor que ele não fique conosco! Deixa o jovem chorar e reclamar com o pai. Ou ele o deixa ir conosco e aprender ou então que o leve para casa.

                 Acampar à Escoteira! Bom demais. Sozinho, enfrentando tudo. Medo? Putz! De que por acaso? Fantasmas? Eu dou risadas. Curei meu medo nos acampamentos onde uma árvore á noite era cópia do demônio. Onde uma casa de cupim nos montes nos fazia tremer nas madrugadas. Cobras? Escorpiões? Animais selvagens? Não sei se isto existe mais. Dormi amarrado por horas em um pé de pequi olhando para baixo e vendo uma jaguatirica deitada me esperando. Hoje isto não mais existe, mas ainda dá para fazer atividades aventureiras. Ora se dá. Agora se você é daqueles que levam pais para ajudar na cozinha, se você é daqueles que montam barracas e pioneirias explicando como se faz com a escoteirada em volta, paciência. Você não é o tipo de Chefe que acredito. Muito mais se é você quem estica a corda que é o primeiro a fazer o comando Crown e a escoteirada olhando, que adora fazer um caminho de barro e deixar que eles se lambuzem para uma boa foto, vá lá. Faça assim. Não é o que faria.

                    Muitas vezes não culpo você por isto. Você não teve a felicidade de acampar como os Escoteiros acampam. Hoje você tenta ao seu modo, pois aprendeu assim. Os cursos não lhe deram um começo de pista. Mas quer saber? Errar é humano e persistir no erro é uma tremenda burrice. Saia da sua rotina de sempre se quer fazer bons escoteiros. Acampe, vá onde ninguém foi com eles, mas deixe que eles tomem a frente. Você não é o Borba Gato, um Raposo Tavares ou um Fernão Dias Paes. Se divirta com o que eles fazem. Sinta-se realizado em estar ali ajudando de longe e claro você sabe disto. Eles precisam de você, mas não como o papai e a mamãe, mas como um herói que eles querem ser. Lembre-se não seja enganado como o foi Fernão Dias Paes que sempre acreditou ter encontrado esmeraldas, mas nunca ficou sabendo da riqueza que encontrou. As famosas turmalinas de Minas Gerais.


                   Barracas suspensas com um simples toque? Luz elétrica no campo? Enormes sacos de dormir acolchoados esticados nas barracas? Unguento para mosquitos? Bah! Não é o escotismo que penso. Faça acampamento meu amigo, acampamento de Gilwell como deve ser e não Camping. E por favor, não me convide para isto, mesmo Velho Escoteiro como sou ainda acho que dormirei bem em um galho de arvore sem necessidade da Jaguatirica a me olhar. Ufa! Acho que foi isto que me fez Escoteiro até hoje! 

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Valeu a pena e se valeu!


Conversa ao pé do fogo.
Valeu a pena e se valeu!

                 A cada dia que passa minha felicidade aumenta. Aumentou quando cheguei pela primeira vez no Orkut. Depois com minha nova casa o Facebook. Comecei do nada, uma página simples que foi crescendo até atingir hoje os 5.000 amigos. Muitos me procurando e eu sem condições de abrir a porta da minha morada a eles. Tomei uma resolução e comecei nova página. Já passou dos 3.000 amigos. Nela recebo todos com o coração aberto. Como tudo que faço rende frutos, comecei um grupo que hoje está com quase 17.000 amigos. Na sequência vieram mais dois grupos. Minhas histórias meus contos e meus artigos já são conhecidos de norte a sul. Tenho amigos no Rio Grande do Sul e passando por todos os estados do Brasil fiquei o pé no Acre. Logo vieram os amigos da America do Sul, da Europa e da America do Norte. Ásia e Oceania deram seu alerta e estão aqui presente. Quem imaginava?

                Eles chegaram e deram-me a honra de comentar, curtir e compartilhar meus escritos de um simples escritor escoteiro que um dia se arrolou como um expert em escotismo que nunca foi. Tive algumas defecções. Tinha de haver. Afinal apesar de ter nascido UEB e pretender morrer com ela não assino em baixo tudo que fazem. Certo ou errado os que eu considero e considerava como errado o caminho que estavam fazendo nos níveis regionais e nacionais, a maioria dos dirigentes preferiram não ser meus amigos. Deixaram minhas páginas e os grupos que atuo. Tenho que aceitar a lógica democrática mesmo sabendo que nossa associação não é democrática. Minha experiência começou em outubro se não me engano no ano de 1947 onde tive a felicidade de iniciar minha vida Escoteira. Nunca desisti e mesmo menino não me deixava levar por tudo que diziam. Quando Comissário Regional em Minas Gerais apresentei uma série de estudos que fiz do escotismo e sua falta de crescimento. Nunca deram a mínima como até hoje não dão.

                Em São Paulo convidei uma centena de chefes, formadores, bem colocados na direção para conversarmos e ver se o nosso rumo era certo. Não estávamos crescendo e poucos lideres nas comunidades conheciam o nosso valor.  Em poucos meses a maioria se afastou. Uma porque foram admoestados pelos dirigentes, outra porque não concordavam com o que eu apresentava. Era um direito. Todos temos. Tive a hora de ser um Líder em cinco Grupos Escoteiros. Duas vezes Comissário Distrital e membro da Equipe Nacional de adestramento (hoje formação). Durante alguns anos fui o responsável pela Equipe de Adestramento em São Paulo. Orgulho-me dos amigos que fiz em mais de duzentos cursos que apliquei em vários estados brasileiros. Nunca em tempo algum abaixei a cabeça ou me acovardei, ou mesmo aceitei as alterações que fizeram do programa Escoteiro. Fui e sou contra a nova vestimenta, não por ela em si e sim pela maneira impositiva, pela maneira discutida em quatro paredes, pela falta de transparência e mesmo dizendo que sim eu sei que não houve consultas e nem pesquisas. Em um belo espetáculo apresentaram seus resultados em uma reunião do Congresso Escoteiro. Até então ela permaneceu escondida a sete chaves. Isto é transparência? Houve  democracia?

               Recebo mensalmente dezenas de relatos de perseguições, de chefes que desistem de jovens que reclamam o que acontece em seus grupos. Vejo em muitas páginas alguns sendo ameaçados, e sempre com o velho chavão de se não está satisfeito vá à assembléia ou então copiam o que diziam os ditadores do passado. Brasil ame-o ou deixe-o! Escotismo! Ame-o ou deixe-o! – Por quê? Porque eu tenho de desistir? Eu não comecei ontem, em fiz uma promessa em 1947. Eu fiz escotismo como poucos fizeram. Eu rodei o Brasil como Escoteiro. Eu fiz tudo para ajudar a todos que me procuraram. Falei com pessoas importantes, saí do emprego diversas vezes para falar com governadores e outros políticos que julgava podiam trazer dividendos ao escotismo. Em meu estado estive presente apertando a mão de milhares de chefes em mais de uma centena de cidades.

                 Um dia quase desisti. Cheguei a pensar em fazer um escotismo à parte, outra associação, mas sem fugir do método e do programa de Baden-Powell que os lideres dizem ser deles. Os que assim o fizeram são motivos de perseguições e processos nas diversas estâncias judiciais do Brasil. A ideia não foi avante. Eu ia lutar a moda Escoteira, com um sorriso nos lábios e meu amor ao movimento badeniano que sempre esteve preso em meu coração. Com a internet achei um campo ideal. Hoje escrevo histórias que sei são contadas em centenas ou milhares de reuniões de tropa e alcatéia. São cantadas em versos em Fogo de Conselho. Quer maior orgulho? Meus artigos onde faço comentários sobre os desmando, sobre a ideia anti democrática de muitos que em um ano eleitoral fizeram de tudo pelo seu candidato, vi que no escotismo não abrem mão da ditadura do proletariado. Poucos se dão o direito de discordar e eu sei que se fizerem isto as perseguições se farão existir.

                 Escotismo ou Escoteiro é uma palavra mundial. Não tem dono. Quem se arvora em ter os direitos não tem nenhum espirito Escoteiro ou respeito com nosso fundador. Ele se acha como um potentado de um país qualquer onde um só manda e os demais obedecem sem discutir. Não existe volta para as mudanças que fizeram. Os antigos aqueles que participaram de um escotismo de raiz, um escotismo aventureiro onde um chapéu de abas largas era reconhecido em qualquer parte do Brasil, não reconhecem estas alterações. Alegam os amigos do poder que vivemos uma nova era, precisamos ser moderno para crescer. Querem nos fazer crer que é o caminho para a glória. Mas eu meus amigos e minhas amigas ainda luto mesmo sabendo que sou um Escoteiro que anda só. Os novos que hoje lideram as sessões Escoteiras não tem o que discordar. Aprenderam assim, mas eles também deviam pensar que sem a democracia não somos ninguém. Eu sempre digo que meu direito termina onde começa o seu.

        Sempre digo que não entendo de politica. Não sei fazer normas e nem tampouco sei agradar a gregos e troianos. O que sei fazer e acho que faço muito bem é motivar através dos meus escritos que no dia a dia posto aqui. Quero levar as  mentes Escoteiras o que é um escotismo fantástico onde o jovem vive uma realidade, onde a fé que remove montanhas irá fazer dele no futuro um homem ou uma mulher que poderemos acreditar em sua honestidade, em sua ética em sua honra e em seu caráter. Hoje me sinto realizado. Meus livros e escritos que a UEB nunca se interessou é lido por boa parte dos Escoteiros do Brasil. Seja da UEB ou de outras associações que eu os considero meus irmãos.


                  Ainda visto meu uniforme caqui com orgulho. Tenho o meu lenço da Insígnia o mesmo que ganhei em 1966. Coloco as poucas medalhas que me deram e olhe recebi por ser um dirigente, pois se não o fosse não teria recebido. Não aceito que por não ter o registro na UEB possam dizer que não sou Escoteiro, para mim apenas um número, uma burocracia. Fiz meu melhor escotismo sem ele. Acho que não sabem o que é valor, o que é honra, o que é ética, dignidade e a palavra Escoteira. Serei o que sou ontem hoje e sempre. E tenho um enorme orgulho de ser um Escoteiro que ama sua farda, sua promessa e que até em seus últimos dias irá se orgulhar de um movimento que é de Baden-Powell e de mais ninguém. Sempre Alerta!