Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Quando termina a motivação o que fazer?


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Quando termina a motivação o que fazer?

                                  Chegando o final de ano. Mais uma leva de chefes entrando para a Legião dos Esquecidos. Quem são eles? São os que desistiram. Tiveram seus motivos. Sabemos que a UEB as Regiões e Distritos não se preocupam com eles. Os grupos perdem e correm a procurar substitutos. Quantos já se foram? Mil? Cinquenta mil? Cem mil? Pense e depois me diga. Nunca na vida real iremos saber, pois não existe um senso sobre isto. Não precisamos estar presentes em cada Grupo Escoteiro para saber. E olhe estamos falando de adultos, pois de jovens nem adianta falar. Assim como todos que um dia foram Escoteiros e saíram ninguém se lembra. Eu os chamo da Legião dos Esquecidos. Fiz até um artigo sobre o tema. Hoje me veio à mente um dos motivos que fazem com que partamos das fileiras Escoteiras para nunca mais voltar. Cada um de nós sabemos o que acontece quando estamos na ativa. Sabemos também que os jovens nos motivam e nos fazem sorrir, mas os adultos? Ufa! É difícil viver em grupo onde cada um tem seu próprio idioma em uma enorme torre de babel.    

                                      A motivação nem sempre é constante, É difícil aconselhar quem não há tem mais. Quem não passou por isto? Tem hora que você desanima. Dá vontade de largar tudo e sair por ai. Outros ainda insistem, mas sabem que o caminho que estão seguindo não leva ao sucesso. Se procurarmos um serviço de autoajuda teremos vários. As belas frases de efeito pululam por todos os lados. Todas com belas palavras, mas que não nos fazem sentir revigorados como antes. O escotismo é interessante. No início tudo são flores, sorrisos, promessas, alguns até deixam as amizades que tinham em troca de novas que conquistaram. Nos primeiros meses, e até nos primeiros anos aqueles mais chegados que não foram catequisados espantam com tanto carisma, com tanta alegria e demonstração de que ele alcançou um novo patamar, uma nova vida. Agora sou feliz ele pensa. Será mesmo?

                  Dizem os poetas que o que mais sofremos no mundo não é a dificuldade, é o desânimo em superá-la. Não é a provação, é o desespero diante do sofrimento. Não seria o fracasso e sim a teimosia de não reconhecer os próprios erros.  Mas o maior poeta já tinha dito que tudo isto são palavras e palavras nada mais são que palavras. Eu já passei por isto. Inúmeras vezes. Os problemas são diversos. Familiar, profissional, falta de ética, de amor, tratamento diferenciado, de sinceridade dos que se dizem irmãos de uniforme e de sangue e tantos sorrindo para você e você querendo chorar. Sabe da vontade de encontrar um buraco e se enfiar nele. Claro tem os mais fortes. Eles não transmitem para ninguém seus desânimos. São fortes. Tem sempre uma explicação para tudo. Mas será que dizem a verdade?

                 Se notarmos bem a matemática Escoteira ela é simples. Trinta e poucas reuniões por ano. Somando as reuniões de sede, acampamentos e excursões que sabe podemos chegar a aproximadamente quinhentas horas anuais. Claro, prevendo quatro atividades (e aí considerei às de vinte horas do dia) e considerando também nove meses de atividade, pois muitos têm férias em julho, dezembro e janeiro. Se estiver certo dedicamos cerca de vinte dias por ano ao escotismo. Claro que tem aqueles mais abnegados com o dobro de horas trabalhadas. Para uns uma eternidade para outros muito pouco. Mas porque então o desanimo? Olhem, existem vários motivos, mas para mim o principal deles é a decepção com o ser humano. Querer abancar o mundo e dizer que o líder é aquele que sabe liderar e ser liderado é fácil. Mas nem todos pensam assim. Tem os déspotas, que com o tempo a gente se sente ameaçado por uma força opressora mesmo vindo de alguém que se diz amigo de todos e irmãos dos demais.

                Nestas horas é que todos nós sentimos falta de um aperto de mão carinhoso sincero. Que falta que faz um abraço, um sorriso uma palavra de carinho principalmente daqueles que convivemos em ambiente que achamos familiar no grupo Escoteiro. Tem aqueles que nos olham como se fossemos parte do todo, indispensáveis em todos os sentidos, mas não é assim a maioria. Estes nos veem como indesejáveis, subservientes, dispensáveis, e se pudesse diriam: - Vocês estão aqui para servir e mais nada! Lembrem-se da promessa! Para ser como eu tem que “ralar”. E então vem aquele desanimo aquela vontade de sumir de mandar todo mundo às favas. Nem sempre fazemos na hora. A promessa que fizemos é um nó que nos atou nos sonhos escoteiros. Insistimos e alguns dão a volta por cima, mas outros, estes não conseguem. Quem sabe está aí um dos motivos da grande perda que temos de adultos que estão nos ajudando como voluntários, mas foram considerados eternos desconhecidos.

                   Não é o programa somente que nos afeta. Poderiam ser nossas finanças que apertam a cada atividade, a cada taxa cobrada seja em cursos e tem alguns que voluntários Escoteiros que pagam mensalidades. Pode! Está ali ajudando e paga para ajudar. Não sei e até posso estar enganado, mas se todos que labutam nas lides escoteiras, do mais alto escalão a aquele que está dando tudo de si pudessem mudar tentar um pouco ser mais irmão, não pensar em si próprio e dizer ao seu amigo palavras gostosas de motivação: - Que alegria em te ver novamente! - Aceite um forte aperto de mão sincero! - Posso te dar um abraço? - Quero que saiba que você é muito importante para nós, não nos deixe nunca, pois sem você iremos perder muito na expansão do nosso Movimento Escoteiro.

                     E aí quem sabe, seu desânimo seria guardado lá bem no fundo do bornal, pois você passou a acreditar que agora estava vivendo entre irmãos escoteiros. E você iria acreditar que não haveria mais os superiores, não haveria mais aquele sorriso de desdém, não haveria mais a conversa de esquina, a conversa de comadre. Ninguém iria desmerecer seu trabalho. Mas olhe, de vez em quando é bom dar um passo a frente. Faça um pouco a sua parte. Como dizia o nosso fundador e repetido por muitos, a felicidade só é completa quando você também conseguir fazer a felicidade dos outros!

¶Põe tuas mágoas bem no fundo do bornal e sorri, sorri e sorri,
O que importa é vencer o mal, mantem sua alegria,
Não importa você se zangar, pois o mal há de acabar e então!

Põe tuas mágoas bem no fundo do bornal e sorri, sorri e sorri.¶.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O lenço Escoteiro.


Conversa ao pé do fogo
O lenço Escoteiro.

              Um lenço? Só isto? Não meu amigo, se você não sabe ele tem um significado enorme. Ele fica conosco por toda a vida. Junto com nosso distintivo da promessa lá está ele preso ao pescoço. Quando o colocamos sentimos um orgulho enorme. Ele representa nossa casa Escoteira onde nascemos. Dá um toque especial para dizer: - Vejam! Ele é Escoteiro! Tem alguns países que o lenço é uniforme (igual) para todos, independente do Grupo ou a unidade local. Aqui não. Quando da abertura de um Grupo Escoteiro, ele foi discutido, escolhido votado e tem muitos que depois de receberem o guardam para o resto da vida. (o meu de 1947 está bem guardado) Quando muitos irmãos Escoteiros se encontram quase sempre vem àquela pergunta: - Você é do Grupo Tal? Ele reconheceu o lenço. Quer trocar? Tem gente que troca, mas o da promessa não. Este irá fazer parte de sua tradição na vida Escoteira. Contam-se maravilhosas histórias de Escoteiros e Escoteiras que fizeram do seu lenço um meio de ajuda ao proximo. Sei de casos que ajudaram a salvar vidas, ajudaram a tirar dores, e outros que serviram para coisas impossíveis de se pensar.

             Mas me dizem: - Ele não é uma simples peça do uniforme? – Claro que sim, mas de todas as peças que compõe nossa uniformização ele tem mil e uma utilidades. Sei que todos Escoteiros e Escoteiras um dia utilizaram o lenço para alguma ajuda ou mesmo para resolver problemas seus que poderiam ajudar a evitar acidentes e claro uma forma de colaborar quando estes acontecem. Vamos lembrar algumas: - Quem sabe o lenço serve para se fazer diversos tipos de tipoia? Ajuda para pegar uma panela quente no acampamento? Depois de molhado serve de proteção contra fumo, pó ou fumaça? Quem sabe substituir a falta do sisal para prender algum como emergência? Lembram-se quando ele serviu como venda nos olhos para um gostoso jogo Escoteiro? Treinando se faz dele uma bolsa de emergência para levar frutas gostosas encontrada no campo? Poderia servir como uma atadura temporária? Ou então como bandeirola para chamar a atenção da patrulha ou de um Escoteiro?

               É o lenço é inigualável. Veja que ele ajuda a transportar pesos na cabeça, serve de almofada, quebra o galho para substituir o cinto que se quebrou, ajuda a tampar alimentos frescos antes do almoço para evitar mosquitos e olhe serve até para fazer uma escada em emergências com dois bastões. Sem contar que serve para amarrar tripés, fazer costura de arremate, e tem até Escoteiro que tentou enforcar um bandido com seu lenço! Calma, estou exagerando! Kkkkk. Mas o lenço é formidável. Agora o seu de promessa tem de ser respeitado para não estragar. Cuidados com mofos, sujeira demais, dobrar errado. Dobrar? Existem diversas técnicas para dobrar o lenço. Cada Chefe tem uma. Tem aqueles que dobram em cima de uma mesa. Tem outros que fazem voltas com ele sobre si mesmo (eu nunca consegui) tem aqueles que usam o ferro de passar e tem aquela técnica que eu uso. Preso no dente e enrolando aos poucos com as duas mãos. Mas só para quem treinou bastante. Claro que cada Chefe com sua experiência de anos têm outras utilidades e formas de dobrar o lenço. Mas o principal é o respeito. Ele é seu grupo preso a você. Se orgulhe dele.

              Durante muitos anos os lenços Escoteiros eram quadrados. Dobrados em triângulo e depois enrolado. Na lista de material individual pedido aos rapazes de Brownsea, constava um lenço, de preferencia da cor verde escura. Existia no passado uma tradição que ao sair com ele o Escoteiro dava um nó na ponta. Isto para lembrar que devemos fazer uma boa ação diária. Escoteiro sem o nó significava que já fez sua boa ação. O termo em inglês para o nosso lenço é “neckerchief” ou “scarf”. Dizem que só por volta de 1923 é que se tornou um o hábito de usar uma anilha (anel) nos lenços. Até aí era simplesmente usado um nó tipo gravata. Conta-se que os Escoteiros americanos (boy scout) só começaram a usar o lenço no uniforme a partir de 1920.    


                Chega por hoje, mas olhe siga meu conselho treine muito o uso do lenço, não fique só na teoria. Um dia vai precisar e verá que a teoria não ajudou. Pratique sempre e não esqueça se orgulhe do seu lenço, ele é sua senha para se declarar Escoteiro do mundo!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O Escoteiro Zezé e o Espião de olhos vermelhos


Lendas Escoteiras.
O Escoteiro Zezé e o Espião de olhos vermelhos

             Zezé era um Escoteiro Sênior dos bons. Nunca foi Monitor. Nem sub monitor. Entrara como Escoteiro há quatro anos. Achava-se obediente e disciplinado. Conseguiu a segunda classe e quase “tirou” a primeira. Passou para os seniores e estava na Patrulha Leão do Norte há um ano e meio. Também nunca foi escolhido para liderar a patrulha. Ele fazia do escotismo sua diversão e seu modo de vida. Os seniores tinham uma bela união. Eram três patrulhas. No ano anterior duas escoteiras passaram para guias. Resolveram colocar na Patrulha, pois eram quatro escoteiros. Elas e eles se deram muito bem.

          Acampavam sempre. Todos eram bons mateiros. Zezé há tempos atrás começou a ler todos os livros que lhe caiam em mãos. Lia tudo. Não importava o tema. Com o passar do tempo passou a ler mais livros de ficção, e adorava os policiais, principalmente aqueles de espionagem. Passou a ser um entendido das grandes agencias de espionagens em todo o mundo. Aprofundou seus conhecimentos no MI5 Inglês, na Cia Americana, na KGB russa, no Mossard Israelense e na SSA Francesa. Claro sabia um pouco de outras, mas essas eram suas preferidas.

          Quando não estava na escola lá estava Zezé na parada de ônibus interestadual, na estação de trem e de olho em algum veiculo novo que entrasse na cidade. Ganhou de seu avô um chapéu de feltro e paletó cinza que sua mãe cortou na sua altura. Colocava o paletó, o chapéu e lá ia ele meio escondido nas colunas da estação ferroviária a perscrutar quem descia da composição. Tinha amizade com Dona Manuelita do Hotel Ouro Verde e ela sabia do que ele gostava. Rindo dizia – Zezé nenhum cliente novo. Se chegar alguém te aviso.

           Estava Zezé naquela quarta feira na estação, como sempre atrás da coluna da entrada, claro, com sua indefectível capa e chapéu de feltro, quando desceu do vagão de primeira classe um individuo suspeito. Usava óculos escuros, terno preto e gravata vermelha, e somente uma maleta de couro marrom nas mãos. Sinal de que ficaria pouco tempo. (Zezé era assim, um Sherlock às avessas). Notou que o individuo olhou para um lado, para o outro, de cabeça baixa, claro Zezé sabia que ele não queria ser reconhecido.

          Notou que ele subiu na charrete do Laureano e foram em direção ao hotel Ouro Verde. Esperou um tempo e entrou. Dona Manuelita olhou para ele e sorriu. – Acho que desta vez seu espião chegou! Zezé sentiu o sangue ferver. Ele sempre pensou que jovens como ele tinham dentro de sí uma grande batalha a vencer. Ele sabia que ali estava sua oportunidade. Não poderia ser sua ultima vela de uma viagem ao mar. Ele não iria desta vez esperar que as bandeiras fossem desfraldadas antes da continência.

          É como diziam os Árabes, Senta-te nos calcanhares enquanto ruge o trovão e deixa que Alá vele pelo amanhã. Zezé começou sua vigília. Não procurou os amigos da Patrulha. Poderia até ter procurado a Camélia sua amiga e confidente na patrulha. Mas não. Sabia que o espião não conta suas fontes, nada diz as suas amantes e seus contatos são feitos de modo tal que ninguém irá descobrir. Zezé era um “expert”. Iria descobrir quem era Franz Henri e o que ele tinha ido fazer em Monte Alegre.

          Pena que sua escola era de manhã. Mas nem almoçou direito quando chegou a casa. Colocou sua capa seu chapéu e subiu na “Cavernosa” (sua bicicleta Hercules que seu pai comprou para ele faziam dois anos). Foi rápido ao hotel. Dona Manuelita lhe disse que já tinha saído. Para onde foi? E como foi? Na Praça Lionel um dos charreteiros de aluguel contou que ele alugou a charrete do Laureano e ele mesmo iria levar a charrete. Dispensou Laureano. – Ai tem treta! E das grandes pensou!

      Só podia ter ido rumo à fazenda do Vasconcelos. Lá foi Zezé a toda velocidade na sua Hercules e claro, logo viu a marca do pneu da charrete. Menos de oito quilômetros depois lá estava ela, presa na cerca de madeira. Onde ele foi? Onde? Viu no alto do morro ele descendo. Onde teria ido? Esperou e ficou a pouca distancia observando. Notou que ele demorava a descer. – Sentiu um cano nas suas costas. – O que quer aqui rapaz? Zezé virou. Levou o maior surto. O tal do Franz o olhava e dos seus olhos brotavam chispa vermelhas! Na sua mão uma Luger PPK, que para Zezé parecia uma metralhadora Gatling.

     Claro, a vida de espião de Zezé nem bem tinha começado e ele já molhava as calças! Zezé saiu em desabalada carreira com sua Hercules e nem olhou para trás. Quando chegou a casa seu coração batia sem parar. Seus olhos estavam esbugalhados. Entrou para seu quarto e ficou ali por muito tempo até seu coração parar de bater. Não poderia descobrir o que o espião foi fazer na sua cidade sozinho. Tinha que convencer sua Patrulha a ajudar. Sabia que eles iriam rir dele, mas como convencê-los?

    Primeiro foi à casa da Camélia. Ela ficou séria e acreditou em tudo que Zezé contou. Foram à casa do Tiãozinho, mas ele riu de tudo que lhe contaram. Mesmo assim foram até a casa do Levegildo, do Moreno e do Marquito. Dalí foi para a sede escoteira. Durante mais de duas horas Zezé contou e recontou tudo que viu e sentiu. Eles a principio davam risadas. Já conheciam o Zezé e suas manias de espionagem. Mas chegaram à conclusão se verdade ou não eles não poderiam ficar de fora.

   Traçaram um plano para a Patrulha seguir o tal de Franz. Quem estudasse a tarde ficaria responsável pela “campana” da manhã e a tarde quem estudasse de manhã. Só Tiãozinho o Monitor e Marquito estudavam à tarde. Mas Tiãozinho foi taxativo. Faremos tudo com uniforme. Nada de ficar como civil. Se ele for um espião verá que não somos qualquer coisa. Somos escoteiros. Aqueles que morrem de pé e não tem medo de cara feia!

    Quando Zezé saiu da escola encontrou com Marquito que dizia saber onde o tal Franz estava. Reuniu toda a Patrulha. Naquele dia Tiãozinho e Marquito não foram para a escola. Tudo pela honra da Patrulha. Enturmados lá foram eles em suas bicicletas rumo à fazenda do Vasconcelos. A charrete estava no mesmo lugar. Deixaram as bicicletas próximo à cerca e subiram o morro. Marquito mostrou onde ele estava. Na Pedra do Embaúba. Mas que “Diabos” ele foi fazer ali? Rastejando, como se estivessem em um grande jogo se aproximaram da pedra.

    Lá estava o Franz. Seus olhos eram medonhos. Vermelhos. Parecia que saiam chispas de fogo. Ele tateava devagar, com calma cada centímetro da pedra. Quando estava dando a volta viram que ele sumiu. Não apareceu mais. Mesmo amedrontados eles foram até a pedra. Deram uma volta e o danado do Franz tinha sumido. Mas para onde? Não tinha como sair pelo morro. Eles o viriam. Começaram a tatear parte por parte da pedra. Marquito deu um grito! Achei! Correram todos. Uma saliência brotou quando ele apertou uma pedra solta. Logo a abertura de um túnel apareceu.

E então perguntaram a Zezé. - Então que vamos entrar, disse Zezé. Entraram e a porta se fechou. Uma escuridão tremenda. Não viam nada. E o pior não tinham levado lanterna e nem vela. E agora o que fazer? Não achavam nada na pedra por dentro que fizesse a abertura abrir. Os olhos aos poucos acostumaram com a escuridão. Lá em baixo uma pequena luz. Tateando foram descendo uma espécie de escada. Pé ante pé! Lá estava Franz. Nas mãos um castiçal enorme, uma âmbula e um cálice que brilhava como se tivesse luz própria.

A poucos metros havia uma área escavada. O Espião cavou ali. Deixou tudo enrolado em uma manta em um canto e começou a subir as e escadas devagar com uma lanterna. Eles conseguiram esconder-se numa saliência. Ele passou por eles e se foi. Havia no fundo da gruta uma iluminação que eles não souberam explicar. Levegildo voltou subindo as escadas e agora podiam ver melhor onde entraram. Ele encontrou a saliência. Gritou para todos. Logo a porta se abriu e saíram dando alívios e urras de alegria.

Uma alegria que durou pouco. O danado do Fritz estava a poucos metros deles com sua Luger PPK nas mãos e rindo. Gruiu umas palavras que ninguém entendeu e atirou. O tiro passou de raspão na orelha de Zezé. Nunca correram tanto. Uma ventania desceu o morro e passaram com rapidez pela cerca. Em desabalada carreira voltaram para a cidade. Foram para a casa da Camélia. Seu pai era o delegado. Melhor colocar ele ao par.

Custou a acreditar naqueles meninos. O Delegado Davison não era de brincadeira. Foi com eles até a pedra do Embaúba. Abriram a porta e desceram. O Delegado viu a manta com os objetos. Deve ter sido há muitos anos que saqueadores de igrejas esconderam ali seu butim. Só podia ser isso. Voltaram levando os objetos. O Delegado foi até ao hotel, mas o tal Espião havia partido. Para onde ninguém sabia. Meses mais tarde descobriram se tratar de peças de mais de um século. Valiosíssimas. O Governo as levou. Para onde? Perguntaram. Para o museu da capital.

Não houve festa, condecorações, agradecimentos nada. Apenas a lembrança do Espião dos olhos vermelhos. Esqueci a tropa e quase toda cidade passaram a fazer da Pedra ado Embaúba um local turístico. Usaram tanto que o dia a pedra não abriu mais. O prefeito quis dinamitar, mas a Câmara de Vereadores não concordou.

Zezé continua a bancar o caçador de espiões até hoje. Agora um Pioneiro está sempre de plantão na rodoviária a espera de alguém que não aparece mais. A noitinha corre para a estação a espera do noturno. Quem sabe um dia ele de novo vai se encontrar com algum outro espião? Esse Zezé é um grande Escoteiro. Na Patrulha adquiriu o maior respeito. Até fez de Camélia sua namorada. Dizem eu não sei que casou com ela. É dono da sorveteria da cidade e nunca deixou de olhar e observar quem chegava e quem saia.


Acho mesmo que ele tinha na veia uma queda pela espionagem. Pena que a Cia e o MI5 não o descobriram. 007 que se cuide, pois Zezé é o “bamba” em Monte Alegre. A cidade sabe que um dia será conhecida por alojar em sua família o maior espião de todos os tempos. O Escoteiro Zezé!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O palavrão.


Conversa ao pé do fogo.
O palavrão.

                      Não gosto. Não gosto mesmo. Se tiver quem goste fique a vontade claro longe de mim. Não critico. Na minha época de menino diziam que estávamos com a boca suja. Na minha família dificilmente alguém dizia um palavrão. E se por acaso dissessem podia esperar um pedido de desculpas. Lembro uma das minhas irmãs sobre um ex-namorado dela falou um palavrão. Uma semana depois quando estávamos jantando ela pediu desculpas a todos. Era questão de honra na patrulha e na tropa não falar palavrão. Se fosse seguir a lei escoteira aí que palavrão seria proibido em qualquer lugar. Lembro que em um acampamento distrital de patrulhas uma delas não tinha papas na língua. Quando um chamava o outro logo vinha um palavrão. O cozinheiro coitado era xingando a torto e a direito. Dizem que nós adultos somos responsáveis pelos jovens falarem palavrão. Concordo. O jovem sem a gente perceber copia tudo que o adulto faz.

              Nestes acampamentos nacionais, aventuras e Jamborees soube que os palavrões andam soltos. Não posso afirmar, pois não tenho participado deles. Dizem que entre os jovens isto é comum. Comum? Bem só se for para eles, pois para mim não. Assim como dou o respeito exijo ser respeitado. Outro dia um Escotista me disse que isto hoje é natural. Não é não. É falta de respeito. É descumprir a lei escoteira. Para dizer a verdade nem piadas com palavrões eu gosto. Quando alguém começa a contar e vem um palavrão eu fecho a cara. Podem chamar-me de quadradão, Velho chato o escambal. Como pensar em um jovem ou uma jovem adquirir o “Espírito Escoteiro” falando palavrão? Afinal dizer por dizer que o Escoteiro é limpo de corpo e alma é fácil, mas ser limpo realmente é outra coisa.

              Dizem que um grande escritor já escreveu o dicionário do palavrão brasileiro. Um herói para muitos. Para mim não. Herói é outra coisa. Herói é o que fala e escreve sobre o amor, do respeito, da ética, do caráter, do aperto de mão sincero, do sorriso verdadeiro e saber que ele é um homem honrado e não me venham dizer que o palavrão não atrapalha nada disto. Já me disseram tantas coisas da modernidade que eu fico pensando se vale a pena ser moderno. Uma vez, há muitos anos visitei amigos que participavam de um grupo Escoteiro. Cheguei lá como sempre chego. Meu caqui querido, meu chapelão, barbeado, banho tomado, lenço bem dobrado, meião nos “trinques”, sapato engraxado e unhas aparadas. Queria dar o respeito aos jovens que ali estavam. Jogavam futebol. Meu Deus! Quanto palavrão. O Chefe ria a vontade. Olhei para ele sério – Você acha graça? Isto é escotismo? Futebol? Palavrões? Dizer o que? Primeiro futebol qualquer Escoteiro joga a semana toda em sua escola, na rua em qualquer lugar. Nas reuniões de tropa é falta de programa é falta de conhecimento de bons jogos, e os palavrões? Caramba! Que mau exemplo.

             Esta semana vi um artigo de uma jovem mãe cujo nome não me lembro. Adorei o que ela escreveu. Fez-me ver que não estou sozinho nesta cruzada. Disse ela: Sinal dos tempos ou falta de educação:
- Outro dia li uma nota em uma coluna e contava que a quadra de tênis de um condomínio na Barra tinha sido interditada não por problemas de estrutura, obras nem nada, mas pela falta de educação dos frequentadores. De tão desbocados, eles – crianças, adolescente, jovens – começaram a incomodar tanto os vizinhos à quadra que o jeito foi fechá-la. Já tem um tempo que venho observando isso e me impressionado. Gente é meu ouvido que está ficando velho e chato ou as crianças andam desbocadas demais? Vejo crianças de sete, oito, dez anos falando palavrões que eu só fui falar na vida adulta e ainda assim me arrependo de ter adquirido esse hábito pouco fino. Tenho amigos que falam palavrões com os filhos normalmente e isso me faz lembrar-se do quão desbocado era meu pai. Só que meu pai nunca dirigiu um palavrão a mim ou a minha irmã e jamais admitiu que falássemos. Às vezes me sinto incomodada em locais públicos, como a praia ou o saguão de um cinema, em que adultos falam palavrões aos berros, sem a menor cerimônia, como se não houvesse crianças em volta.
                 Aí outro dia ouvi uma psicóloga que tem coluna numa rádio de notícias dizer que isso tem a ver com o código de cada família e que os pais podem conversar com os filhos e estabelecer as próprias regras, tipo esse palavrão pode, esse não pode. Sei lá, achei isso meio complicado e, considerando que uma hora não se tem mais controle sobre o vocabulário dos filhos mesmo, acho mais prático proibir enquanto crianças e adolescentes e estabelecer o limite do tolerável quando jovens e adultos. Mas que não quero ver minha filha na pracinha ou no play xingando os amigos ou berrando palavrões a esmo, ah, não quero mesmo.

                       Bem pensado bem falado e bem escrito. Continuo não aceitando palavrões principalmente no escotismo. Bolas, que escotismo é esse que está cheio de palavrões? Bah! Quer falta de respeito. Não me convidem para nada onde eu possa ouvir um palavrão. Quer saber? Participei de centenas de Fogo do Conselho. Se um esquete ou algum participante falava um palavrão, esperava acabar e o chamava em particular. – Mas chefe! Não viu como eles riram? Diziam. Pode ser. Mas eu não ri. E se você considera que é um Escoteiro puro nos seus pensamentos nas suas palavras e nas suas ações, tenho certeza que nunca mais irá falar um palavrão!