Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

John Thurman um visionário?


Conversa ao pé do fogo.

John Thurman um visionário?

 

Quantas vezes eu postei aqui? Inúmeras. Repeteco que eu gosto e toda vez que eu leio me atualizo. Ora, John Thurman escreveu em agosto de 1957, como é atual? Porque os lideres Escoteiros precisam muito de uma dose de sensatez, de ver onde estão pisando, e se possivel parar de inventar e voltar ao bom escotismo de Baden-Powell. A modernidade tem seu valor, mas o passado não deve ser esquecido. Tudo que acharam de moderno hoje e mudaram ainda não deu e nem sei se vão dar resultados. John Thurman foi durante muito tempo Chefe de campo de Giwell Park. O artigo ainda tem muito de atual. Nada que possamos dizer – Não somos mais assim! O mundo mudou. Será?

 

Os Sete Perigos

Por John Thurman - agosto de 1957 (chefe de campo de Giwell Park)

Existem sete perigos para o Escotismo, para os quais, me parece, devemos estar alertas e tomar cuidado:

1. Complacência, do tipo de pessoas que pensam: "há cinqüenta anos temos trabalhado assim e temos feito um bom trabalho, portanto continuemos assim". Recordemo-nos que o trabalho para os rapazes de hoje tem que ser feito pelos homens do presente. Estou tão orgulhoso, como qualquer outro Escotista, do nosso passado, mas isso não nos leva a parte alguma. Há, hoje, muito mais a ser feito do que houve em qualquer outra época e o máximo que o passado pode fazer para nós é inspirar-nos para um maior esforço;

2. Centralização. Acampamentos Nacionais, Regionais e Jamborees são muito bons, mas quando muito freqüentes, podem ser desastrosos. Devemos dar ao Escotista a maior oportunidade possível para trabalhar com a sua Tropa e infundir-lhe os bons princípios e não juntar os rapazes em grandes massas para um grande espetáculo. Às vezes existe tal número de atividades organizadas pelo Distrito ou Região que praticamente não resta tempo ao Escotista para trabalhar com as Patrulhas ou Alcatéias;

3. Super administração e não suficiente capacitação. Gostaria de sugerir-lhes dar uma olhadela nos orçamentos e balanços, para verificar se aquilo que gasta com papelada e administração está equilibrado com o que se emprega na capacitação técnica. Ambas as coisas são necessárias, porém mantenhamos o equilíbrio.

4. Seriedade Demasiada. O Escotismo é algo sério, contudo, uma das grandes coisas é a alegria de participar dele, isso tanto para os dirigentes como para os rapazes. Em alguns países, há o perigo de se pensar em termos educacionais ou psicológicos e, enquanto fazemos isso, perdemos muito da nossa condição de "amadores". E vocês todos sabem que como amadores somos bons, mas como profissionais somos péssimos. Somos uma parte complementar na vida do rapaz; complementar na escola, dos pais, da igreja, e, mais tarde, do trabalho.

5. Exclusividade, o perigo de pensar que "os chefes devem provir do próprio Movimento". Penso que necessitamos de gente de fora, com diferentes experiências - homens de bem que tenham a faculdade de crítica construtiva e que tragam sangue fresco para o Movimento; 

6. Austeridade demasiada. Acho que tendemos a nos fazer demasiado respeitáveis e a nos converter em um movimento para apenas os rapazes bons, em vez de levar o Movimento para os rapazes que dele necessitam. O Escotismo nasceu em 1907 entre meninos pobres e, se economicamente os rapazes melhoraram desde então, por outro lado moral e espiritualmente existem rapazes tão pobres como naquela época, que necessitam do Escotismo.

7. Trabalhar para fazer super escoteiros. Devemos estar conscientes, no que diz respeito a adestramento, de não tratar de começar um curso a partir de onde deixamos o anterior, sem pensar que necessitamos começar e recomeçar sempre pelas bases e os princípios para progredir a partir destes.

Para terminar, recordemo-nos que Baden-Powell, em 1938, proclamava com orgulho e alegria o número de três milhões e meio de Escoteiros no mundo. Agora podemos ver um movimento que ultrapassou os oito milhões, (1957) devido justamente à sua simplicidade e ao prazer dos rapazes que tem sido contínuo.

Sem dúvida, Baden-Powell tocou o dedo em algumas das mais formidáveis idéias e práticas que levam os rapazes a segui-las com entusiasmo, e nos métodos, e modo de manejar e guiar os rapazes. É por isso que devemos nos manter o mais possível dentro da simplicidade, da alegria e do entusiasmo que ele inspirou.

OS ÚNICOS CAPAZES E POSSÍVEIS DE PÔR O ESCOTISMO A PERDER SÃO OS PRÓPRIOS CHEFES E DIRIGENTES.

Se nos tornarmos arrogantes, complacentes e a nos fazermos passar por demasiado auto-suficientes, então - e apenas com essas coisas - poderemos arruinar o Movimento.

Feliz palavra de John Thurman. O mundo está mudando, e as mudanças que o escotismo tem feito não estão dando resultados. Muitos rapazes e moças estão saindo. Reclamam das atividades. Precisamos meditar.


Afinal estamos em 2015 não? Agora temos um novo escotismo? Feliz o que não quer enxergar além da ponta do seu nariz!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

As aventuras de Juliano e a Jaguatirica Amarela do Pântano do Demônio.


Lendas Escoteiras.
As aventuras de Juliano e a Jaguatirica Amarela do Pântano do Demônio.

           A noite chegou mansa. A fumaça naquela clareira se misturava com o orvalho que soprava de leste para oeste. A pequena brisa da tarde ainda trazia em nossas faces o frescor da primavera. Gil tinha feito uma sopa de macarrão com batata nos “trinques”. Ao lado do fogão tripé, um bule negro de alumínio fazia nosso café noturno borbulhar. Estávamos em cinco. Éramos sete na nossa Patrulha os Tigres Brancos. Agora cinco, eu, Nuno, Gil, Denis, Tiago o Monitor. Maneco e Toninho não vieram. Estavam com caxumba. As duas barracas de meia lona já estavam armadas. Nossas tralhas preparadas para dormir. Estávamos na estrada há dois dias. Um acampamento volante de quatro dias. O Chefe Gustavo nos encarregou de visitar o sitio do Padre Totonho, que agora aposentado da igreja vivia ali seus últimos dias. O convite partiu dele. Quase quinze quilômetros de jornada. Se achássemos um bom lugar, devíamos fazer um relatório e um croqui. Fácil. A Patrulha tiraria de letra. Para chegar lá Denis ficou encarregado do Percurso de Giwell.

             Nuno logo tirou sua gaita cromática da mochila. Ele tocava maravilhosamente. Dominava bem todas as musicas escoteiras e tocava divinamente a Canção ada Despedida. Enquanto ele tocava meus pensamentos viajavam nas dezenas de conversas ao pé do fogo que participei. Algum tempo depois, jogando conversa fora Gil me pediu que contasse de novo a viagem com meu pai no Pântano do Demônio. – Mas já contei duas vezes, falei! – Mais uma, insistiu. Acho que Nuno e Tiago ainda não ouviram. Era uma história real. Aconteceu quando fiz onze anos. Ou seja, há três anos. Não sei se me traziam boas lembranças, Como insistiram contei novamente. Eu sempre gostei de contar histórias. Estávamos sentados em um tronco seco, que já estava ali. Nosso fogão Tripé chamuscava com suas fagulhas as árvores em volta; Sabíamos que lá pelas doze do dia seguinte chegaríamos. Ouvi o canto de uma coruja que “sustava” a nos olhar com seus olhos negros reluzentes Eu sempre amei os animais pássaros e plantas. Nunca fiz maldade com nenhum. Só quando precisávamos matar a fome. Diferente do meu pai. Eu gostava muito dele, mas ele adorava caçar. Nunca me deu chance de dizer para ele que era errado. Um dia li em algum lugar que nós seres humanos estamos na natureza pra auxiliar o progresso dos animais, na mesma proporção que os anjos estão para nos auxiliar. Portanto quem chuta ou maltrata um animal é alguém que não aprendeu a amar.

              Meu pai tinha uma sala separada da casa aonde guardava seus troféus de caça. Na parede ele tinha cabeças empalhadas de Tamanduá Bandeira, Queixada, Jacarés, Ariranha, Cachorro do mato lobo Cinzento, Veado-galheiro e outras dezenas. Eu gostava de olhar a Arara Azul, linda. Não concordava com ele pois sempre gostei de ver as aves voando e os animais soltos nas campinas ou florestas. Lembro-me do Pintassilgo na Mata do Riacho Grande que eu chamava de Doce de Coco, e sempre voava até meu ombro. Eu podia correr cantar, armar barraca, fazer pioneirias e lá estava o Doce de Coco no meu ombro. Todos ficavam abismados. Ele não ia ao ombro de ninguém. Na minha mochila sempre tinha um pouco de alpiste e ele adorava. Não só ele como dois Tico-ticos amarelos que vinham comer em minha mão. Ajeitei-me melhor no tronco, peguei minha caneca e tomei um cafezinho. Gil serviu alguns biscoitos em um prato. Respirei fundo e comecei a contar minha história. Uma das minhas preferidas: - Vocês conhecem meu pai, comecei. Eu o amo muito, mas ele gosta de caçar. Sempre se achou um grande caçador. Soube que quando jovem fez um Safari na África. Ele sabe do meu amor pelos bichos. Não me condena. Sei que gosta muito de mim e quase não me conta suas histórias, suas jornadas, suas aventuras de caçada nas selvas brasileiras. Uma vez me contou que esteve no Alto Amazonas. Não conseguiram caçar nada. Ele, seus amigos Zé Barrica e Zoroaldo o Barbeiro foram aprisionados pelos Kalapálos. Não entrou em detalhes. Só contou que uma unidade de selva do exercito brasileiro os soltaram. Um dia meu pai me chamou até a sala de Troféus. Foi então que me fez o convite.

                 - Juliano, mês que vem eu o Zoroaldo e O Zé Barrica, iremos fazer uma caçada no Pantanal do Mato Grosso. Zoroaldo vai levar seu filho Dondinho. Ele já fez dezoito, mas pensei em convidar você. Sei que não gosta de caçada, mas vai amar o lugar. E olhe meu filho será minha última caçada. Você não precisa matar nenhum bicho. Prometo que vai gostar do lugar. É lindo. Iremos comer pela manhã um Sarrabulho, um prato delicioso, vai beber o Tereré, servida em cuia, e farei para você um caldo de piranha pantaneiro que você nunca mais vai esquecer. Dê-me este prazer meu filho. Adoraria sua companhia. Iremos de avião até Corumbá, fica a margem esquerda do Rio Paraguai. Faz fronteira entre o Paraguai e a Bolívia. De lá iremos de Chalana, subiremos o Rio Paraguai até a Serra de Albuquerque. É lá que iremos encontrar a Jaguatirica, um gato do mato, considerado um dos maiores felinos do brasil.

                    Fiquei pensando naquele convite. Dizer o que? Um pedido do meu pai? Nunca ele me pediu nada. Nunca pensei em vê-lo atirando em um animal qualquer. Mas negar? Afinal seria uma viagem maravilhosa. Eu Escoteiro de Primeira Classe teria oportunidade de aprender muitas coisas. Disse sim ao meu pai. Nunca tinha viajado de avião. Foi fantástico. Fiquei na janelinha. Que coisa maravilhosa meu Deus! Chegamos pela manhã em Corumbá. Ficamos em uma pensão que meu pai já conhecia as margens do Rio Paraguai. À tardinha meu pai e seus amigos compraram tudo que precisavam. Iriamos ficar cinco dias na Serra do Albuquerque. Acamparíamos as margens do Pântano do Demônio. A viagem na Chalana do Capitão Traíra foi de tirar o folego. À tardinha desembarcamos próximo a Serra de Albuquerque. Não demorou duas horas e chegamos ao Pântano do Demônio. Armamos as barracas fiz um fogão tropeiro meu conhecido de longa data. Achei uns troncos finos e entrelaçados deram bons bancos para nós quatro sentarmos. Fui dormir tarde. Eu não sabia das qualidades do meu pai em conhecer a natureza, ao belo por do sol, e principalmente da esfera celeste.

                  Levantamos cedo. Meu pai me disse que ficasse no campo. Ele o os outros iam atrás da Jaguatirica. Na beira da lagoa acharam suas pegadas. Ele disse que era questão de horas. Não foi preciso muito. Viram uma picada a sul do acampamento e eis que uma bela Jaguatirica apareceu. Imponente. Enorme. Toda rajada de amarelo. Não era uma, mas duas. Um casal. Vi que a fêmea estava prenha e o perigo era grande. Meu pai estava com sua Winchester 44 sem balas e os outros também. Não esperavam que elas aparecessem assim. Meu pai assustado gritou para mim – Corra Juliano, corra muito! Vai ser uma carnificina a quem ela pegar primeiro! Olhe, era um belo animal. Olhos grandes, um felino que devia pesar uns sessenta quilos ou mais. Só o pulo dela daria para jogar no chão cinco homens adultos. Não corri. Não era meu feitio. Nunca tinha visto nada igual, mas caminhei em direção a elas calmamente. Meu pai gritou. Zoroaldo, Zé Barrica e Dondinho sumiram no meio do mato.

                  Abri os braços e sorri para elas. Meu pai não estava entendendo nada. A fêmea se aproximou de mim. Lambeu minhas mãos. E depois deitou aos meus pés. O macho ainda desconfiado. Mas chegou mais perto e pude acariciar seu pelo liso e isto me trouxe uma enorme felicidade. Ambas deitaram aos meus pés. Sentei na grama. Fiquei ali acariciando e falando baixo. Meu pai não se aproximou. Acho que naquela hora acreditou que eu tinha pacto com o demônio. Só podia ser para fazer aquilo. Zé Barrica, Zoroaldo e Dondinho estavam estupefatos. Fiquei ali bons minutos com as duas Jaguatiricas. Depois elas se levantaram e foram embora calmamente. Não houve tiros. Meu pai desistiu. Disse para mim que nunca mais iria dar um tiro em um animal. Falei para ele baixinho o que tinha lido há tempos sobre matar os pobres dos animais – Pai, eu li que os animais selvagens nunca matam por divertimento. O homem é a única criatura para quem a tortura e a morte dos seus semelhantes são divertidas entre si.

                 Ficamos lá quatro dias. Maravilhoso. A mata era de tirar o folego. Olhe, sem mentiras, mas outras Jaguatiricas apareceram para brincar comigo. Voltamos pela mesma Chalana do Capitão Traíra. Foi um dos mais lindos passeios que realizei. Dali em diante eu e meu pai mantivemos uma amizade que nunca pensei em ter com ele. Parei de contar a história. Gil, Nuno, Denis e Tiago me olhavam com espanto e admiração. Sabia que um dia iriam pedir para eu contar novamente. As lembranças seriam eternas. Nunca iria esquecer a grande aventura que realizei com meu pai. Fomos dormir. Cedo levantamos e partimos. Muitos sonhos na mente e no coração. Eu gosto do escotismo. Amo tudo que faço. Adoro de coração acampar, viver ao ar livre. Sou mesmo amigo dos animais. Queria vê-los todos eles soltos, os pássaros no céu cantando alto. Quem sabe uma Jaguatirica para brincar comigo nos meus acampamentos da vida? Isto é escotismo. Sempre disse aos meus amigos e a todos que encontro. Escotismo? Sim, uma maneira de ser 

domingo, 15 de fevereiro de 2015

As canções que um dia cantei para mim


Conversa ao pé do fogo.
As canções que um dia cantei para mim.

¶ Põe tua mágoa bem no fundo do bornal e sorri, sorri, sorri!
O que importa é vencer o mal mantem sua alegria,
Não importa você se zangar, pois o mal há de acabar, e então?¶

                      Eu sempre gostei de cantar canções e hinos escoteiros. Já vi tropas, alcateias cantarem divinamente. Tive a sorte de ver sêniores em marcha de estrada sorrindo de peito aberto e cantando a plenos pulmões, mostrando seu orgulho escoteiro. Quantas e quantas canções ouvi nas centenas noites de Fogo de Conselho que participei, ou em volta de uma pequena fogueira acesa em uma trilha qualquer onde uma alguns gravetos ou pequenas achas alimentava o corpo e a mente da Patrulha. Cantei em montanhas e picos distantes, Vales, colinas verdejantes, embaixo de árvore frondosas, colinas enormes onde armei minha barraca. Emocionei-me muitas vezes a cantar as canções de Giwell com os irmãos Insígnias. Amo muito “Em meus sonhos volto sempre a Gilwell”. Todas as canções que cantei e ouvi cantar não tenho como dizer qual a mais linda, a mais simples, a mais complicada. Quantas e quantas vezes, cansado, voltando de um acampamento e empurrando a carrocinha as canções surgiam naturalmente em minha mente. “Viemos do norte, do sul e do leste”... É e terminar dizendo – “Lavando as panelas são todos irmãos”.

                     Aprendi algumas canções cantadas por este Brasil afora que milhares de chefes fizeram. Poucas eu guardei na mente. Eu mesmo fiz algumas e hoje esqueci. Das tradicionais eu tenho as minhas preferidas. Guin gan guli, o Cucu a lembrar da Noruega, Terra do Belo Olmeiro pensando nos grandiosos lagos do Canadá sem esquecer a Arvore da Montanha. Um clássico que ninguém esquece. Com sono cantávamos baixinho o Kumbayah. Eu tenho certo carinho pela Canção da Promessa. Guingaguli é demais e o espírito de BP? Linda. Melhor ainda o Adeus Montes e Vales, Avançam as Patrulhas, Stoldola (esta eu cantei uma vez fora do Brasil, marcou muito). A Canção do Clã é inesquecível. São tantas e tantas e olhe, tive a honra de conhecer chefes de outros países com canções divinas. Vi violeiros, gaiteiros, trompetistas, um Sênior que tocava maravilhosamente um saxofone, mas sabe, sempre chorei com algumas canções. Não dá para segurar. Falo da Canção da Despedida. Uma vez acampava em um país sul americano e me aparece uma Akelá tocando violino. Tocou de tal maneira que todos de mãos entrelaçadas ficaram calados, mudos só ouvindo. Lágrimas caindo. Lindo demais.

                   Tive a honra de ver muitas alcateias e tropas cantarem divinamente. Ali estava presente o espírito de BP quando ele lembrava-se dos seus tempos na África e nas noites estreladas em volta de uma fogueira. Ali nunca faltou uma bela canção. É maravilhoso ver meninos cantando e vivendo o que cantam. Um violão, uma guitarra, uma harmônica, um saxofone ou mesmo uma flauta simples engradece qualquer canção escoteira. Quando a gente canta a canção entra em nossos corações, bate fundo lá dentro e vai para o cérebro ficar guardada em um chips escolhido para armazenar canções Escoteiras. Eu já disse, mas não deixo de repetir, nada é tão maravilhoso que um céu estrelado, uma clareira em uma floresta perdida, achas de lenha queimando, o calor adotando todos a sua volta e as fagulhas se espalhando no céu. Então alguém por um simples gesto canta uma canção. Demais! Nenhum espetáculo se sobrepõe aquele momento. É sublime e olhamos em volta com os olhos vermelhos de emoção a ver nossos amigos escoteiros sentindo o mesmo que nós.       

                   Comprei uma vez um violão e aprendi duas posições. Isto mesmo só duas e dava para acompanhar. Era delicioso sair do campo da chefia, ir a um campo de patrulha ao entardecer na luz brilhante de um lampião a gás ou a querosene; sentar em qualquer lugar, enquanto o cozinheiro com os olhos enfumaçados sorria a ver sua sopa fervendo, e ver a patrulha a cantar belas canções escoteiras. As outras que ouviam devagar iam se aproximando, sentando em volta e cantando também! Maravilhoso! Ali a gente sentia um calafrio, saber que somos todos irmãos, dizer que o escotismo marca que ele é incomparável. E quando se canta a Canção da Promessa às lembranças correm pelas matas, montanhas em busca de um acampamento que marcou. Minha Tia Dazinha quando tinha doze anos me deu uma gaita de fole. Em casa me proibiram de treinar. Diziam que o barulho era horrendo e ninguém queria sofrer. Risos. Eu saia para a beira do rio e ficava lá horas e horas treinando. Coitado dos peixinhos que pulavam na água para ver o tocador de gaitas que nunca tocou nada! Risos. Não fui o melhor, mas já abusei da gaita em acampamentos até no exterior. Aguas passadas. Isto não existe mais.


¶Boa noite Touros, boa noite Maçaricos, Boa noite Corvos e Boa noite Lobos, pois agora eu vou dormir – Bem alegre vamos indo, vamos indo vamos indo, bem alegre vamos indo para o mar azul¶. - ¶Vem depressa correndo Escoteiro, ajudar o cozinheiro a fazer o jantar!¶

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Jogando conversa fora. Mística&cerimônias.


Conversa ao pé do fogo. Parte I.
Jogando conversa fora. Mística&cerimônias.

                      - Nunca pensei deste modo. Para dizer a verdade, eu vou levando na base do feijão com arroz – Na Alcatéia nós temos. Ainda não como você expôs, mas a temos – Estou cansado. Vim aqui hoje para ficar calado e comer bons petiscos. Acho que só vou beber um chopinho e mais nada – Porque isto meu irmão? Não foi Benjamim Franklin quem disse que a cerveja é a prova viva de que Deus nos ama e nos quer ver felizes? Confia – Vamos tomar nossos quatro chopes e pronto. Ei Matheus! O de sempre – Ele já acostumou conosco (Matheus o garçom e proprietário da Pizzaria). – Então as cerimonias que fazem são sempre as rotineiras? – Bandeira, oração – Inspeção – Jogo e etc? – Mas existe maneira de mudar? Afinal as nossas cerimonias não são uma espécie de tradição?

                     - Não sei, andei pensando. Li sobre isto ano passado – Os jovens gostam de cerimonias místicas – Gostam mesmo? – Acho que sim. Só não confundir misticismo com fenômenos sobrenaturais. Eu sei que existem tradições místicas que os que fazem se orgulham de sua junção ao pensamento racional. Quem sabe as ligadas à filosofia de uma tradição – Não estou entendo nada – Expliquem-se – Depois. Agora vamos saborear, pois a cerveja me faz sentir da forma que gostaria de me sentir sem cerveja – risos. Matheus caprichou nos chopes. E acompanhado por ótimas empadas de camarão. Este Matheus é demais – Me disseram que existe uma tropa Sênior que criou tradições em várias cerimonias escoteiras. Mesmo com a Rota Sênior é preciso fazer uma serie de provas para ser aceito – Fáceis? – Dizem que sim. Depois o recruta participa de uma cerimonia mística onde é recebido pelos Monitores encapuzados, e em local de difícil acesso. Dizem que tem bandeira, espada e comes e bebes. As fazem em Vales, picos, montanhas etc – E isto é bom?

                      - Sei que muitos que assim o fazem juram segredo. Não contam para ninguém – Veja os heróis do passado – Mantem segredo de muitas organizações e as ordens carismáticas que participaram. Eles criaram um conjunto de regras e etiquetas para que os noviços possam fazer corretamente. – Eu também já ouvi falar nisto. Criaram costumes, tradições, lendas, danças que se tornaram um mito na vida da tropa – Sei de uma que as promessas só podem ser feitas em fogo de conselho. E só lá podem fazer o juramento – Dizem que a bandeira vem através de um cabo, já desfraldada, iluminada pela chama do fogo, e o Chefe grita alto – Quem vem lá? Um patrulheiro que deseja ser um valente Escoteiro! E assim começa a promessa terminando com um anrê gritado enquanto ele salta na fogueira de um lado a outro por três vezes – Parece interessante. Matheus! Outra rodada! E não se esqueça da empadinha. Está deliciosa.

                      - Pode até ser que nas tropas funcione, mas na Alcatéia não sei. – Mas e a mística da Jângal? Ela é tão extensa para ficar presa a uma pedra do conselho, um grande uivo, um totem, danças e uma Roca. – Pode até ser. Os lobos têm mais sonhos que os escoteiros. Quando contamos para eles o que aconteceu na Jângal prestam a maior atenção. – Mas não sei como fugir do cerimonial inicial e final das reuniões e até não sei se é válido – Eu faria uma experiência. Pelo menos uma vez a cada quatro reuniões – Já pensou a surpresa? Começar uma reunião sem o cerimonial? E na tropa? – Acho que vale  a pena pensar. Pensar firme, pois dizem que toda mudança deve ser feita paulatinamente. - O que fazemos hoje virou um hábito de comportamento – Pois é. Mas não sei não, toda rotina cansa.

                        - Matheus! A saideira! - Já? – Onze horas meu amigo. E hoje não sei se eu aproveitei bem do álcool ou se foi ele quem se aproveitou de mim. – todos riram – Vamos com calma, se Deus soubesse que nós beberíamos cerveja, nos teria dado dois estômagos – Risos e risos. – Mas encerrando, acho que vou pensar sobre isto. Precisamos criar raízes em tropas e alcateias. Raízes com tradição, com cerimonias interessantes que marcam. – Acho que eu também vou pensar – Eu soube que uma tropa fez do livro de Atas da Corte de Honra a mais secreta de todas – Mandou fazer uma proteção com vidro, onde o Livro de Ata fica guardado e fechado a cadeado. Fica exposto na parede da sala. Quem entra vê o livro e não pode ler - Segredo! Segredo! As Cortes de Honra são secretas. Quantos meninos sonham em ser Monitor só para descobrir aquele segredo?


                           Boa noite Matheus. Não esqueça, você é nosso convidado. – Quem sabe? Quem sabe? – Gosto de ver vocês aqui todo sábado à noite – Gosto de ver vocês tomarem os chopes, calmos, sem gritos, alegres sem serem espalhafatosos. Vocês sempre serão bem vindos aqui – Olhe Matheus, sem duvida a maior invenção da história da humanidade foi à cerveja – Eu admito que a roda também foi, mas a roda não desce tão bem como uma cerveja e uma Pizza! – todos riram e se foram – Três deles racharam um taxi a Akelá foi de ônibus. Hoje mais alegre, nos disse que agora estava assim por ter terminado com o noivo – Amor! Estranho amor! -  Durma-se com um barulho desses!