Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Os heróis não tem idade.


Conversa ao pé do fogo.
Os heróis não tem idade.

                        O que uma pessoa precisa para ser um herói? Coragem? Sabedoria? Alguém disse que o herói é tipicamente guiado por ideais nobres e altruístas. Possui a liberdade de decisão, fraternidade para com o próximo, sacrifício e coragem, sem faltar à justiça a moral e a paz. Ser herói não é ser egoísta e não ser motivado pela simples noção de que ele agiu baseado nos princípios de se mostrar como um. Suas motivações sempre serão moralmente justas ou eticamente aprováveis mesmo que ilícitas. Pensemos que ser herói e preciso observar que o heroísmo caracteriza-se principalmente por um ato moral. No escotismo a uma gama enorme deles. Não só aqueles que ajudam o próximo, os que salvam vidas, mas também aqueles que querem ajudar a formar homens de caráter e com sentimentos nobres. Nosso país tem se esquecido de muitos. Quem foram o que fizeram poucos se recordam. Só alguns alcançaram fama que por um motivo ou outro são ainda lembrados pelos seus feitos.

                      Dizem que os heróis surgem em tempos difíceis, em fatos e atos que merecem destaque. Alguns afirmam que os heróis não se fazem eles já nascem assim.  Caio Vianna Martins ajudou muitos, mas não salvou ninguém. Tornou-se um herói e se mudou a história escoteira foi com suas palavras que o fizeram um exemplo a ser seguidos por todos nós escoteiros ou não. Nunca esqueci o que o Chefe Tolon um dia me disse. Em um intervalo de um curso que dirigia, estava eu embaixo de uma castanheira saboreando uma gostosa sombra quando chegou o Chefe Tolon. Ele estava fazendo o curso e sentou ao meu lado. Ficamos conversando banalidades até que o assunto surgiu. – Olhe Chefe desde pequeno que sempre procurei ajudar o próximo. No escotismo o fiz em todas as sessões que participei. Mas quer saber? Nunca fui herói de nada. Tentei sim, mas o que fiz não pode ser chamado de um ato de heroísmo.

                        Pensei em suas palavras. E eu cheguei à conclusão que também nunca fui um herói no bom sentido. O Chefe Tolon me deu dois exemplos – Chefe, quando Sênior estávamos indo para uma atividade aventureira, de bicicleta quando vimos na beira da estrada um amontado de pessoas ajudando feridos e mortos em um ônibus que sofrera um acidente. Paramos e os patrulheiros correram para ajudar. Eu fiz o mesmo, mas confesso que não sabia o que fazer. Parei por uns instantes pensando o que podia fazer. Ouvi gritos e pedidos de socorro. Minha mente trabalhava para dizer quais as primeiras coisas que poderia ajudar ali naquele momento. Isto levou alguns minutos. Bem no final ajudei sim com os parcos conhecimentos de primeiro socorros que tenho. Mas Chefe eu demorei em tomar uma decisão. Dizem que os heróis agem por instinto e resolvem o que fazer em poucos segundos. Portanto não me considerei um herói.

                             Enquanto ele narrava sua saga de herói fiquei pensando em Joaquim José da Silva Xavier o Tiradentes. Pensei também em Alberto Santos Dumont. Não podia esquecer Heitor Villa-Lobos e Monteiro Lobato assim como o Visconde de Mauá e os irmãos Villas-Boas. Cada um deles foi herói ao seu modo. O Chefe Tolon não me deu chance de pensar melhor sobre o que ele fez e logo contou o segundo fato que aconteceu com ele – Chefe eu estava em uma sessão de cinema. Não estava cheio, quem sabe dois terços de sua capacidade total. Cometi um erro que um bom Escoteiro que sempre diz estar Sempre Alerta não comete. Não prestei atenção às saídas de emergências, extintores e portas contra fogo. O filme aqueles antigos de celuloide pegou fogo e se espalhou na cabine onde estava o projetor. A fumaça saia dos buraquinhos e logo uma chama apareceu. Alguém gritou fogo. Outro gritou mais alto que o cinema estava pegando fogo.

                                Eu levantei da poltrona e olhei aquela balburdia de todos querendo sair por uma só porta. Vi choro de crianças, senhoras gritando e claro os mais fortes empurrando os demais para sair primeiro. Eu estático. Minha mente trabalhava para me dizer o que deveria fazer. Enquanto isto crianças e mulheres eram pisoteadas e eu um herói fracassado sem tomar nenhuma atitude. Isto demorou alguns minutos e logo sai em disparada para ajudar os feridos. Sempre Assim, poderia ter evitado e não ajudar os feridos. Se tivesse sabido onde estavam às saídas de emergências e gritado calma para todos mostrando onde poderiam sair minha ajuda teria sido melhor. Graças a Deus que não morreu ninguém. Mas uma dezena deles foram parar no hospital. Bem aprendi a lição. Não entro mais em local fechado sem ver as saídas de emergências, se estão fechadas a chave ou cadeado, sem perguntar quem fica com as chaves e claro estar pronto para gritar se preciso e tomar a liderança em qualquer emergência que aparecer. 

                                 Ouvi o toque do Chifre do Kudu. O tempo livre para um lanche tinha terminado. O Chefe Tolon saiu correndo para formar. Olhei para ele. Quanta juventude, quantos sonhos quanta vontade de se sentir bem como um herói Escoteiro. Fui devagar à sala da chefia. Pensava comigo mesmo se eu também fui ou seria um herói no lugar dele. Eu sei que existem casos em que as pessoas sem vocação heroica protagonizam atitudes dignas de um herói. Sei também que tem aqueles outros que demonstram virtudes heroicas para realizar façanhas de natureza egoísta, motivados por vaidade, orgulho, ganancia ou mesmo ódio. Um dos assistentes do curso fazia um belo jogo com os cursantes. Adorava aquele campo escola. Era como se estivesse saído da cidade de pedra e entrasse em plena natureza que só os bons escoteiros sabem reconhecer.


                    Fico pensando quanto heróis escoteiros já tivemos. Acredito que muitos. A maioria na clandestinidade. Quase ninguém saberá quem foi. Não temos um programa para formar e fazer heróis. Ainda bem. Eu sei que o heroísmo é um fato profundamente arraigado no imaginário e na moralidade popular. Feitos de coragem e superação inspiram modelos em diversas situações. A atitude heroica surge muitas vezes a partir da problemática imposta por um ambiente ou situação adversa, cuja solução exige um feito grandioso ou um esforço extraordinário. Fico feliz em ver que temos muitos lideres sejam homens ou meninos, mulheres ou jovens participando do escotismo que de uma maneira ou de outra tem fibra de herói e fazem o que podem pelo escotismo. “O Escoteiro caminha com suas próprias pernas” ficou na história. Compete a nós chefes dar uma volta no passado ou na história e trazer para o presente o valor dos nossos heróis e mostrar a nossa escoteirada que também temos exemplos a dar.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Dicas que podem ajudar você!


Conversa ao pé do fogo.
Dicas que podem ajudar você!

          A tralha individual

           Houve um tempo que um escoteiro sempre se esforçava para conseguir toda sua tralha individual mesmo que demorasse anos. Essa tralha era composta de seu uniforme completo, inclusive o chapéu de abas largas, calçado preto e só usado quando estivesse em atividade escoteira. Não iria faltar o canivete escoteiro, a faca escoteira (com talco para proteger das ferrugens), o cabo trançado pronto para ser usado e colocado do lado direito do uniforme preso ao cinto. O apito era seguro por um trançado de couro marrom e preso no pescoço em cima do lenço. O cantil à esquerda. A machadinha pequena (com capa) dentro da mochila. Muitos ainda possuíam sua própria bússola. Eu sempre carregava minha velha Silva de guerra. A mochila era escolhida a dedo. Alguns com ajuda dos pais faziam a sua própria. Sempre limpa, uma ou duas vezes por semana era aquecida por algumas horas ao sol para evitar mofo. (não se esquecia de fazer o mesmo com o saco de dormir) Sempre levávamos bem enrolado, uns 30 metros de sisal. Como ajudava. Havia ainda alguns que gostavam do bornal. Eu nunca me privei de um. Resolvia muito minhas necessidades urgentes nas atividades aventureiras.

     Hoje temos as jovens participando. Acredito que elas também podem e devem ter seu material de campo completo. Alguns já compram tudo logo que iniciam as atividades isto se as condições financeiras dos pais assim o permitem. Eu engraxei muito sapato para ter tudo que sonhei. Acredito que o esforço individual, a economia, (o escoteiro é econômico e respeita o bem alheio) o trabalho voluntario sempre deve ser incentivado. Nada de só receber. Valorizamos o que adquirimos com trabalho e suor de meses e meses de luta. O desleixo, a falta de cuidado não é próprio de bons escoteiros.

    Afinal, o que são atividades aventureiras?
     
       Só o nome diz o que significa. Aventura! Descobertas! Experiências que nunca foram feitas. Viajar para outras localidades, sempre com o principio de ser um e não mais um herói dos seus sonhos. Vejamos algumas atividades aventureiras interessantes. Marchas de longa duração com a tropa - acampamentos volantes – bivaques – jornadas - excursões diurnas ou noturnas – escaladas – Aventura ciclística (neste incluímos as jornadas e bivaques usando este tipo de transporte). Sem esquecer é claro do bom e agradável acampamento escoteiro. Existem outras. Mas fico com essas para melhor explicitar o raciocínio. Em todas elas deve haver o principio de crescimento técnico. O chefe deve saber a potencialidade de cada participante.

             Partir para estas atividades deve-se lembrar da máxima ao sair para o mar. Se vai avie-se em terra. Assim ter a tralha individual completa ou quase, podemos partir para varias atividades aventureiras agradáveis e inesquecíveis que irão marcar em muito nosso crescimento Escoteiro. Isto feito estamos dando possibilidade de uma formação sem similar na educação escoteira, preconizada por Baden Powell. Atividades ao ar livre. Acredito que uma boa sessão escoteira, incluindo aí os seniores e guias não deve permanecer em suas sedes por mais de quatro reuniões consecutivas. Se isso acontece, é preciso repensar o programa.

   Antes de explicar algumas atividades (sei que a maioria dos grupos já fazem normalmente) comentaremos algumas dicas para que essas se tornem mais agradáveis. Lembro que essas atividades devem ser bem programadas, se possível com a participação do Conselho de Patrulha e devidamente aprovada pela Corte de Honra e dos chefes da tropa. A chefia sempre entra com boa dose de experiência e quem sabe uma ou outra atividade surpresa. Sem as opiniões dos jovens nada poderá ter o sucesso esperado. Afinal ela está sendo feita para eles.

     A “matutagem” de cada um - Ração individual e coletiva.

      Matutagem e ração individual e a alimentação imprescindível para a atividade aventureira. Ela tem um papel importante em qualquer atividade escoteira. Estamos pensando que esta atividade poderia ser feita a pé, de bicicleta, ou utilizando meios de transportes municipais e estaduais (ônibus ou trens). Um veículo ir acompanhando está fora de cogitação, salvo em acampamentos prolongados. Deve ser fácil de preparar e para isso a patrulha já estará bem treinada. Um cozinheiro experiente, vasilhame mínimo e embutido na mochila ou bornal próprio. No passado chamávamos de ração A, B e C. Cada jovem tem sua lista, distribuída pela patrulha anualmente. Vejamos:

   - Ração A – Exclusiva para pequenas atividades de um só dia. Consiste em lanche individual reforçado acompanhado de um chá ou café quente. Não pode faltar. Um fogão mateiro simples vale um acampamento. Nada de suco. Uma patrulha é composta de cinco a oito membros. Calcula-se quanto de café, açúcar (não esquecer material de limpeza) ou similar e dividir entre todos. Será levado bem acondicionados em sacos plásticos no bornal ou na mochila. Um intendente ou cozinheiro da patrulha é responsável para recolher quando for feita uma refeição.

   - Ração B – Para atividades de dois ou mais dias. Prepara-se um cardápio simples. Fácil de transportar e que não estrague dentro das mochilas e bornais. Lembramos que deve ser suficiente para alimentação de cada um. Se for dois dias terão dois almoços, um jantar, dois cafés e um lanche noturno. O que levar fica a critério. Não leve além do necessário e com um cardápio extenso. Nada de cardápio complicado. Será distribuído por todos exatamente conforme a Ração A. Tudo bem acondicionado, em sacos plásticos, e colocado na mochila ou bornal. Não esquecer que aí se incluem óleo, sal, material de limpeza. Cuidado com a falta de fósforos ou isqueiro. Se não tem um bom mateiro para fazer fogo sem fósforos é melhor se prevenir. Não é fácil fazer fogo. Sem treino só na TV e no Cinema tudo dá certo. Sem técnica e experiência, usar pedras ou pauzinhos é dor de cabeça.

    - Ração C – Para acampamentos de dois ou mais dias. O cardápio deve ser um pouco mais detalhado. Feito a lista de materiais as quantidades serão conforme os participantes. Uma mãe experiente poderá dar excelentes sugestões e quantidades. Se for uma atividade no sistema de patrulhas, a chefia em seu campo terá uma barraca de intendência para acondicionar tudo que foi levado. Sempre é bom esquecer-se de veículos de apoio. Afinal não é uma atividade aventureira?
Nota – Qualquer acampamento deve produzir na imaginação do jovem, que ele esta em um local distante, inexplorado e que está aprendendo a viver a vida de forma diferente. Para isso é importante que não haja residências por perto ou a vista, veículos, postes de luz, nada que possa dar a idéia que ele esta próximo da civilização.

Breve outras dicas. Obrigado.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O antigo penacho usado no chapéu escoteiro.


Conversa ao pé do fogo.
O antigo penacho usado no chapéu escoteiro.

               No passado os escoteiros tiveram muitos símbolos que usavam e foram aos poucos desaparecendo. Um modernismo feroz os condenou ao ostracismo ou a falta de interesse de continuidade. Eu prefiro dizer que quando se relega ao segundo plano ou se extingue algum que se considerava tradição, estamos perdendo parte de nós mesmos. Nenhum dirigente teria o direito de se arvorar em dono da verdade. Qualquer mudança sem uma ampla consulta, sem ouvir opiniões da maioria dos associados nunca poderia existir. A memória escoteira não pode ser apagada assim por um ou dois que se acham dono da verdade. Ao apagar o passado é apagar o presente passamos a ser um povo sem tradição é povo sem tradição é um povo sem memória.

                São poucos ainda que tentam resgatar o passado pelo menos para conhecimento e lembrar que tivemos bons momentos, boas recordações que se tivessem permanecido quem sabe nosso movimento seria mais lembrado e respeitado como um formador da juventude. Sei que é Impossível hoje a volta de alguns desses símbolos ou distintivos. Eu mesmo já escrevi de muitos que não existem mais. A jarreteira hoje só usada em Portugal. O distintivo de lapela ainda formal, mas pouco usado. A moeda da boa ação e mesmo o chapéu de abas largas vão aos poucos sendo extinto. As estrelas de metal foram substituídas pela de pano. Motivo? Disseram que muitos se arranhavam e poderia haver acidentes de grandes proporções. Como diz um articulista da Folha de São Paulo estes são os “çabios” do escotismo. Afinal usei por mais de quarenta anos e nunca vi ninguém se acidentar.

                O penacho identificava os ramos e modalidades. Amarelo para lobos, verde para escoteiros, marrom ou grená para os seniores, vermelho para os pioneiros e os chefes de ramo usavam uma metade do penacho das cores de suas sessões e a outra metade azul. Já me perdi nas cores e nem me lembro bem quais as cores eram usadas pelos chefes de grupo hoje Diretores Técnicos, Adestradores, Comissários e assistentes. Mas o que era o penacho? No Google diz que é um conjunto de penas em ramo para se ornar chapéus capacetes etc. Diz também que simboliza o amor, a alma a felicidade quando utilizado acima da cabeça, claro por um chapéu. Pelo que me consta BP usava e suas cores ainda não sei qual eram. Quando extinguiram o penacho houve uma grita de muitos chefes que se sentiram desnudos em sua identificação. Em todos os encontros regionais e nacionais no passado sempre alguém cobrava uma distintivo para identificar o Chefe.

                  O penacho no chapéu trazia esta identificação. Junto com as estrelas de metal de atividade, elas com suas cores recortadas em feltros davam um toque especial ao membro Escoteiro que usava. Era bom ver um de nós com as estrelas de atividade, três anos de lobo, quatro de Escoteiro, três de Sênior e tantos de pioneiros sem contar o tempo de chefia. Junto com o penacho trazia uma mística própria que foi aos poucos desaparecendo com o tempo. Usei o penacho por anos, deste menino. Gostava dele, mas o que aconteceu com sua extinção foi o que acontece hoje em muitos casos. Não se encontra para comprar. O POR supriu o paragrafo que autorizava. Se alguém quiser ter um para recordação quem sabe no exterior. Soube que na Inglaterra se encontra fácil nas lojas Escoteiras. Bom mesmo os ingleses. Ainda mantem muitos distintivos do passado e o chapéu de abas largas ainda apreciado por muitos tem lá um estoque fenomenal. Lá ainda se encontra quase tudo que o passado se orgulhou em ter.

                    Hoje as tradições não são mais comentadas. Não existe interesse da UEB. Poucos ainda sabem que elas existem. Nossa liderança escoteira estingue sem perguntar, sem ao menos explicar os motivos que a levaram a fazer assim. Nossa disciplina é tanta que nos acostumamos a aceitar tudo sem reclamar. Sempre com um sorriso nos lábios e nem mesmo discordar ou reclamar. Chegamos a tal ponto que não se vê ninguém da UEB dizendo os motivos, e isto quando acontece são chefes defensores os quais eu os chamo de politicamente corretos. Sempre correm a defender a nossa liderança. Bem, nem mesmo vou dizer que os que foram para o Jamboree no Japão estão com o uniforme oficial da UEB. Qual? A vestimenta é claro. Pensei que não, mas fotos de alguns com o caqui. Artigo de luxo como o chapéu, o penacho, o distintivo de lapela, as estrelas de metal, as jarreteiras e tantos outros que aos poucos desapareceram nem sinal nos novos escotistas viajantes.

                    Eu ainda me pergunto se vale a pena ainda manter as Tradições. Todas as vezes que escrevo um artigo sobre tradições ou outros símbolos ou mesmo distintivos parece que da um arrepio nos chefes que participam da rede do poder. Sempre com a mesma dicotomia que os tempos são outros. Não entendem ou não querem entender o que significa tradições. Os politicamente corretos então correm para responder sobre o escotismo moderno. Meu Deus! Será que eles não entendem nada? Enfim, foi uma época boa. Hoje nem sei o que ficará no tempo para se lembrar no futuro. A vestimenta e os distintivos podem ser alterados quando um novo líder surgir discordando. O passado se foi o presente também se vai um dia. E o futuro? Quem sabe voltam as jarreteiras, os famosos distintivos de classe, as estrelas de metal, o penacho, o chapéu Escoteiro e tantos outros.


                        Vou terminando por aqui. Hoje tirei o dia para escrever sobre os penachos. Boas lembranças que se tornaram histórias do passado. Vai chegar a hora do uniforme, me dizem estar no POR, mas até quando? Quem faz o POR? Você? Claro que não. Não se preocupe se vocês ainda encontram a vestimenta, os novos distintivos e tem até chapéu de pano tipo australiano. Este não falta nunca nas lojas Escoteiras. Será que ele está no POR? Nada como o modernismo para fazer o escotismo ser reconhecido e respeitado em todo Brasil. 

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O tesouro do condor – Um jogo inesquecível.


Conversa ao pé do fogo.
A Carta Prego em ação.
O tesouro do condor – Um jogo inesquecível.

(- Carta prego são instruções dadas a uma patrulha com determinações e programas a cumprir. Tem hora certa para começar e terminar. Os patrulheiros não sabem do que se trata e nenhum deles sabem o que vão encontrar. Jogo gostoso, sempre com uma pitada de quero mais).

                      Faltava pouco menos de meia hora para o encerramento da reunião de tropa. A patrulha, a pedido do conselho de monitores se reunia, para discutir, sugerir e ver como deveria ser o Grande Jogo cujo programa anual marcava a sua execução para o próximo mês de outubro. Era uma tradição e nunca deixaram de realizar. Olhos de Peixe havia sido transferido para a patrulha há menos de cinco meses, ele tinha vindo de um grupo da capital do estado, e se incorporara como se fosse o mais antigo. Enquanto discutiam ele deu uma sugestão que acharam excelente. Toda a patrulha votou a favor. Na reunião da Corte de Honra ficaram sabendo que ela havia aprovado e foi uma alegria geral. A patrulha tinha uma ideia do jogo, e sabiam que o Chefe Polenta iria melhorar, e claro, dar uma grande “pitada” de aventura. Uma semana antes da atividade, receberam duas cartas pregos, uma para ser aberta no dia do jogo, as 06 as da manhã e a outra no campo, após o inicio do jogo, que seria sinalizado por grandes rolos de fumaça que avistariam na base central.

                      Todos sabiam que era ponto de honra só abrir as Cartas Pregos no dia e horário determinado. Isto não tinha discussão e nem era discutido! Receberam também quatro bandeirolas amarelas e a lista de materiais: – lanche para um dia, cantil, um par de bandeirolas de semáforas, uma bússola silva, quatro bastão, uma machadinha, um facão com bainha, uma faca mateira. No roda pé pedia que não levassem celulares. Solicitava também não se esquecer de levar três lenços sobressalentes (lenços do grupo), estojo de primeiros socorros, uma lona para chuva, meias reservas, dinheiro para passagens de ônibus ida e volta. O bastão era obrigatório. Todos deveriam estar preparados para uma atividade movimentada e deveriam estar calçados fortes e macios. Disseram-me que muitos patrulheiros passaram a semana sonhando a espera deste grande jogo, que seria o primeiro de muitos na patrulha. Dormiam e acordavam
pensando no grande dia. Às seis horas da manhã em ponto, a patrulha estava a postos, na praça próximo ao ponto de ônibus e abriram a primeira carta prego.

                   A Patrulha Águia era composta de sete escoteiros, Zé bolinha, Pinga Fogo, Zé Colmeia o monitor, Fu Manchu, Olhos de Peixe, Picolé o sub e Pé de Bode (só apelidos para preservar os nomes). Todos primeiras e segundas classes, ou seja, uma patrulha bem “escolada”.

Dizia: (a Carta Prego)
1)     – Tomar o ônibus de Cariri, que irá passar as 06h25min, descer no ponto final. Pegar a Rua das Flores, ir ao seu final. Lá encontrarão uma estrada carroçável, segui-la por 2 km (deve ser marcado com o passo duplo). Após orientar pela bússola e tomar o rumo ENE, mais ou menos 67,5 graus, percorrer mais 800 metros, atravessar um pequeno córrego com águas límpidas e boa para beber.
2)     Segui-lo no sentido nascente por 200 metros e montar o campo assim especificado: - Em forma de pontos cardeais (um x) com mais ou menos 15 metros de uma ponta a outra e vice versa. Colocar em cada ponto um bastão com uma bandeirola amarela, (o bastão deverá ser fincado no máximo com um palmo de fundo). No meio do x, ficará o totem de patrulha, colocado na mesma maneira. Devem fazer um pequeno cercado de 2 x 2 metros usando madeira do campo e cipó. Mais tarde saberão para que.
3)     – Ao inicio do jogo, as demais patrulhas também estarão como vocês, como o campo armado e idêntico em algum lugar próximo. Fora da vista.
4)     – Aguardem o inicio do jogo, que pode demorar de uma a duas horas. Fiquei em posição de alerta e mantenha um escoteiro de vigia.
5) - Nada mais dizia. Sabiam que as outras patrulhas estavam nesta hora fazendo o mesmo. Aguardaram uns bons setenta minutos e eis que viram de um morro próximo, rolos de fumaça, com o sinais de “O jogo já começou – guerra”. Abriram imediatamente a segunda carta prego e ela dizia:

1)     - Vocês devem colocar os lenços presos pelo cinto, (proibido amarrar) somente dois palmos para dentro da calça, e defenderem como puderem as quatro bandeirolas em volta (amarelas) e principalmente o totem que se for tomado todos serão considerados prisioneiros perdendo o jogo.
2)     – Se defendam das outras patrulhas para não perderem o lenço, os que perderem devem receber ordens do “matador” que irá conduzi-lo para o campo de prisioneiros.
3)     – Cada patrulha tem um campo próprio e cercado que fica no centro próximo do bastão totem, para no caso de fazerem prisioneiros.
4)     – O objetivo do jogo é defender as bandeirolas e principalmente o totem e ao mesmo tempo ir aos demais campos de patrulha e fazerem o que eles vem fazer com vocês.
5)     – A patrulha que conseguir mais vidas (tirar os lenços), tomar as bandeirolas ou ter o maior numero de bastão totem, é a ganhadora.
6)     É proibido: Lutas, brigas, palavrões (olhem a lei escoteira) e discussões inúteis;
7)     É aceito: Qualquer tipo de truque, força (sem denegrir imagem), ou qualquer situação a ser criada para ganhar o jogo.
8)     O jogo terá a duração de seis (seis) horas, a contar do sinal de o Jogo já começou – guerra. O sinal de fumaça “O jogo já terminou – paz” determina a paralisação imediata do jogo.
9)     Lembrem-se, vocês devem proteger o seu campo e também atacar os demais. Como fazer e o que fazer fica para o conselho de patrulha resolver.
10)  Estaremos toda a chefia em local privilegiado, vendo vocês através de potentes binóculos. Onde veremos qual a patrulha mais esperta e a mais não tão honesta!
12 - Boa sorte Patrulhas da Tropa Mafeking!

Começaram o jogo. Seu desenrolar foi o esperado. Muitas surpresas, muitas alegrias e até um pouco de confraternização.
COMPLEMENTO
Foi um jogo de carta prego idealizado para patrulhas escoteiras. Divertiram-se, correram e lutaram e muitos têm boas histórias para contar um dia em Fogo de Conselho.

Soube que fizeram um para a Tropa Sênior, bem diferente. Apenas sugestões:
1)     – O jogo foi aplicado em dois dias. Cada patrulha ficou acampada junto a sua base, portanto o material levado foi acrescido de 3 refeições e barracas. Levado pelos seniores em mochila e saco próprio.
2)     – Foi preparado um mapa do tesouro com sua localização e cada patrulha recebeu uma cópia. O mapa foi picotado em tantas partes quanto forem os bastão com bandeirolas e colocado em sacola própria amarrado a estes.
3)     – Para se localizar o tesouro, era necessário pelo menos que 3 bandeirolas fossem tomadas. Assim pode-se ver onde está escondido. Só a chefia sabia onde estava. Estiveram lá antes do jogo.
4)     – No primeiro dia, a tomada de bandeirolas durou até as 18 hs. A partir deste horário até 08 horas da manhã seguinte, o jogo foi interrompido para o tempo livre de cada patrulha. Tudo foi conduzido à noite por Morse e ao dia por semáforas ou sinal de fumaça.
5)     – O segundo dia foi reservado para a busca do tesouro. Só para as patrulhas que conseguiram o mapa ou parte deste. As que não conseguiram ficaram em seu campo até o final do jogo. Uma programação especial foi preparada com antecedência pela chefia. Não ouve ociosidade no campo.
Bom mesmo é quando todos ou quase todos conseguem parte do mapa. O tesouro sempre é uma surpresa. Quem sabe canivetes suíços para cada um e para o segundo lugar um belo corte de picanha e um lombo de porco para um churrasco. Uma Tropa Sênior que uma patrulha abocanhou o segundo lugar fizeram um belo e delicioso churrasco o que atrasou em mais de 3 horas o retorno à sede, mas com grande confraternização.

Se ainda não fez, faça. Vale a pena e o sucesso é garantido.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Sorria e ouça um gostoso Grito de Patrulha.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Sorria e ouça um gostoso Grito de Patrulha.

                   Vez ou outra nos passa despercebido à união, a força e a vontade de ser mais um na patrulha quando ouvimos o Grito de Patrulha. Eu sempre parei e sorria quando via uma turminha em volta do bastão, com ele elevado no ar, um grito gostoso para ouvir e olhe nunca me importei se a letra era assim ou assado. Não afirmo, mas posso dizer que para mim o Grito de Patrulha é uma das maiores místicas e tradições no escotismo. Tem um simbolismo que encanta. Tenho receio que amanhã ele seja extinto. Muitos dos nossos simbolismos, místicas e tradições estão sendo engolidas pela modernidade. Cada Grito tem um estilo, uma maneira, uma sonora entoação que dá uma marca própria à patrulha. Aqueles que ali estiveram nunca mais irão esquecer. Onde a patrulha esteve aquele sonoro som cantante ficará para sempre na história. Conheço patrulhas que deu seu grito em altas montanhas, picos enormes, florestas inóspitas e me empolguei com uma que resolveu dar o grito dentro de uma jangada caindo em uma bela cascata de águas cristalinas e enfumaçadas.

                      Outro dia li aqui que um jovem queria idéia de um Grito de Patrulha. Assustei. Não pode pensei. O Grito não é dele é de todos na patrulha. E afinal era uma patrulha nova? Se não o antigo devia por tradição permanecer. Quem hoje na sua idade avançada não se lembra do seu grito? Já pensou retornar a velha casa escoteira e ver tudo mudado? Outro grito? Que tristeza! Eu já vi homens e mulheres voltando e pedindo para segurar o bastão e ali junto aos novos dar o grito que no passado marcou suas vidas para sempre. Não existe o melhor grito, isto não. Melhor grito é o da minha patrulha, da sua e assim dirão os milhares que um dia passaram por lá e sempre irão lembrar-se dos seus irmãos de patrulha e do seu grito. Outro dia um disse para mim: - Chefe eu dei um grito de patrulha naquele acampamento regional! Bacana – Bacana mesmo. Hoje não, os encontros nacionais e regionais na maioria das vezes são participantes individuais, patrulhas não vão mais unidas, não há grito a não ser se alguns se reúnem e resolvem fazer o seu.

                        - Sabe Chefe aquele Jamboree na Inglaterra realizado no Olympia? Aquele bem no coração de Londres? Eramos mais de 8.000 escoteiros de 34 países. Nossa patrulha deu um grito bem no centro da Arena. Fomos ovacionados. Quer saber como era nosso grito? – Arrankakuenca lelenca. Lita Talita Rá rá... Raposa! Danado de grito pensei comigo quando meu amigo Chefe Jovelino me contou. Mas ele se orgulhava. Afinal foi o primeiro jamboree mundial e Baden-Powell estava presente! Isto é bom demais. Dar um grito e não esquecer são coisas de escoteiros que vão guardando tudo no coração. Coração! Como cabe lembranças e coisas gostosas que acontecem com a gente. Eu conheci milhares de patrulhas. Adorava vê-las dar o grito, adorava ver o sorriso e sabia que o melhor sorriso era do novato, do noviço ou pata-tenra. Ele quando começa se sente mais um da turma. Ele acredita que seus sonhos de aventureiro estão prestes a começar.

                         Eu sempre digo e repito. Grito de Patrulha é eterno, constante, imortal, imutável e infinito. Não se muda. Não é porque o novo monitor não gosta e ele acha que deve ter outro mais bonito. O Grito de Patrulha não é dele. É da patrulha, dos que passaram por ela e dos que um dia irão estar ali com orgulho de ter sido mais um. Conheço milhares de gritos. Cada um mais lindo que o outro. Já vi gritos que dei risadas, já vi gritos que meu sangue ferveu de emoção. Já vi gritos que atraíram multidões de escoteiros. Não importa o que diz importa o orgulho em dizer. A tradição de um Grito de Patrulha deve ser contada, anotada e descrita no livro da patrulha. Ali diz onde ela esteve quantos gritos deram o nome de cada um que passou por ela. Quem foi o primeiro? Já pensou ele vivo e visitar a patrulha e dizer? Demos o primeiro Grito na Montanha do lobo! Repetimos no Itatiaia. Outra vez no Pico da Neblina. Bem não vamos querer tanto, não importa onde, importa sim o grito dado com orgulho e sentimento no coração.

                          Hoje estão mudando muito. Lembro-me que no passado um novo grupo começa com oito jovens. Seriam os futuros monitores e Subs. Durante três ou quatro meses formavam a patrulha de monitores, aprendiam entre si e com seu Chefe, até que um dia seria liberado a participação de outros que já estavam inscritos. Estes esperavam ansiosos, vontade de estar com eles, vontade de ter um espírito Escoteiro, mochila ás costas caminheiros nas asas da imaginação. Aí sim, a nova patrulha se reunia. O monitor explicava o grito e cada um dava sugestão. Conheci uma Patrulha Urso que ficou dois meses discutindo seu grito. Sempre empate na hora de escolher. O que fazer? O Conselho de Patrulha achou que o desempate deveria ser do primeiro lobo que passasse para a Tropa. Demorou mais dois meses. Enfim foi escolhido o grito: – Qui que code com o Urso ninguém pode! Risos. Nossa quase três meses e foi este o escolhido? Olhe ele existe até hoje. Tem mais de quarenta anos de idade.

                         Um grito de guerra é uma palavra ou frase usada normalmente para incentivar e motivar um grupo de pessoas.  Os gritos surgiram há muitos séculos atrás. Dizem que o mais conhecido é do povo Maori que até hoje é copiado por equipes de todos os tipos de esporte. Me lembro um pouco dele: - Te Rauparaha Haka (trecho) Ka mate, ka mate! Ka ora, ka ora! Ka mate! ka mate! ka ora! ka ora! Tēnei te tangata pūhuruhuru Nāna nei i tiki mai whakawhiti te ra Ā, upane! ka upane! Ā, upane, ka upane, whiti te ra! Hi! - (É a morte! É a morte! É a vida! É a vida! É a morte! É a morte! É a vida! É a vida! Este é o homem cabeludo Que fez o sol brilhar de novo Juntos! Todos juntos para o topo! Juntos! Todos juntos para o topo, o sol brilha de novo! Sim!) Se é bonito não sei. Só sei que o grito mais bonito é o da minha patrulha, da sua ou a de todos nós! – Não vou comentar os gritos de Tropa, de Alcatéia de grupo ou mesmo o da União dos escoteiros do Brasil. Aqui estou a contar aos meus amigos do Grito de Patrulha. Ele sim um orgulho internacional Escoteiro.


                         Não sei se você ainda está em uma patrulha, tem um grito, a turma se junta toda vez que se encontram, quando o Chefe chama, no final de um jogo de uma canção ou apresentação no Fogo do Conselho. Eu digo sempre não importa o que está escrito, não importa se o grito é longo, curto, se é em português, latim, francês, inglês, ou mesmo em linguagem galáctica ou em tupi-guarani. Não importa mesmo. Mas sabem o que é mais importante? Nunca aceitar que troquem o grito. Ele é uma tradição e tradições se mantem firmes no coração de cada um. Não se esqueça de dar seu grito onde quer que estejam. Amo demais este movimento. Amo demais as patrulhas, e sempre repito: - Que as patrulhas gritem. Alto e em bom tom. Que mostrem a todos sua força, sua vontade seu orgulho em ser Escoteiro. Grito de Patrulha, quem já deu nunca mais vai esquecer!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Qual a diferença entre escoteiros e bandeirantes?


Conversa ao Pé do fogo.
Qual a diferença entre escoteiros e bandeirantes?
(Das páginas da internet).

                   Desde 1909 até hoje essa pergunta ainda existe, com o passar do tempo essa pergunta teve diversas respostas. Muitos sempre tentavam comparar os dois movimentos em quantidade de membros, como em ocupação no espaço terrestre, e quem sabe interplanetário, mas extensa e complexa ficava a resposta para uma simples pergunta. Já podemos considerar essa pergunta uma questão para decidir uma prova de vestibular ou concurso, pois nem mesmo quem participa desses movimentos sabe responder essa resposta de maneira exata, precisa e matemática. Existem diversas formas de responder essa pergunta, muitas delas nem sempre agradam a todos, por isso a complexidade, pois como tentaremos responder aqui essa pergunta, acreditamos que ainda haverá muitas controvérsias.

                 Para começar a responder essa pergunta e tentar ser o mais completo e exato possível, iremos utilizar, aqui, algumas versões que foram coletadas, mas para ficar claro principalmente aos leigos no assunto, vamos primeiro explicar do que se tratam em geral esses movimentos que além de toda a diferença que existe entre eles, ninguém negará que esses dois movimentos são irmãos de mesmo pai e de mesma mãe. Antes de 1909 o Movimento Bandeirante não existia, aliás, esse movimento só começará a existir em 1919, e somente no Brasil. Mas existia somente o Movimento Escoteiro que é oficialmente iniciado em 1907, lá em Londres, feito somente para meninos, aprenderem brincando e explorando o mundo a se tornarem homens de bem.

                   Então em 1909, essa brincadeira conquistou algumas meninas, que seriam as primeiras “scout girls”, mas num mundo masculino. Eis que o Movimento Escoteiro ganhou uma tia, titia Agnes, irmã do Fundador do Movimento Escoteiro Mundial Robert Baden Powell, que logo depois daria uma mãe ao movimento, sua esposa Lady Olave Baden Powell. A partir daí temos dois movimentos irmãos de mesmo pai e mesma mãe, Movimento dos Escoteiros (WOSM) e Movimento das Escoteiras e Guias (WAGGGS). Até aqui acredito que a resposta está simples e tranquila, porem o movimento desses movimentos começou a complicar. E como estamos no Brasil, e a nossa pergunta ainda não consta onde Movimento Bandeirante entra nessa história, vamos pular para 1919 onde enfim o Movimento Bandeirante aparece e começa a complicar essa resposta. 

                   Em 1919 o Movimento das Escoteiras e Guias chega ao Brasil através, como consta nos registro, das mulheres da elite carioca (e juramos isso não é coisa de novela), que simplesmente implantaram o movimento feminino aqui no Brasil, fazendo uma pequena alteração como uma tradução e homenagem, para o nome Bandeirante.
Ótimo então ficava simples, se um garoto pedisse ao seu pai, que gostaria de ser escoteiro, bastaria levá-lo a um grupo escoteiro, onde diversos meninos iriam brincar e aprender sob os princípios do escotismo a se tornar homens de bem de uma maneira bem masculina. E se fosse uma menina bastava levá-la a um núcleo bandeirante, onde várias meninas aprenderiam e brincariam também sobre os princípios do escotismo, ou como seriam chamadas de bandeirantismo, a se tornarem mulheres de respeito.

                  Não seria nada de mais se em 1919, ser menina e participar de um movimento feminino não fosse visto como algo um tanto revolucionário demais, e olha que não era, pois as meninas aprendiam muito bem a cuidar da casa, a cozinha, a ser prendada, a ser uma ótima esposa, mas sem querer elas aprendiam um pouco mais é claro, mas essa versão talvez seja somente uma hipótese, afinal como o passar do tempo esses movimentos foram vistos também como algo careta e sinônimo de pessoas bobas que usam uniformes e meião. Mas confessamos que mesmo amando nossos uniformes por causa de tudo que eles significam para nós, sabemos que é meio ridículo passear por aí impecavelmente uniformizados, e quanto mais impecáveis estavam os nossos uniformes mais orgulho temos deles, cada distintivo, cada broche, o meião, o cinto, um chapéu, nosso lenço, às vezes rimos daqueles que não entendem. 

             Com o passar do tempo outra hipótese seria que por serem movimentos irmãos, mas talvez também por isso um tanto concorrente e competitivo pela atenção, os movimentos começaram a se misturar, então meninas poderiam ser escoteiras e meninos poderiam ser bandeirantes. Hoje isso já é visto como algo comum, mas existem histórias de que as meninas no movimento escoteiras mesmo aceitas, só poderiam participar realizando tarefas consideradas exclusivamente “de mulher”, mas no movimento bandeirante por ser feminino, não existia tarefa só “de mulher” então os meninos aprendiam logo a dividir todas as tarefas, mas se sentiam umas menininhas e muitas vezes tinha vergonha de dizer que eram bandeirantes.

                Desta maneira o Movimento Escoteiro por toda sua origem e formação masculina ainda tem uma forte presença de aspectos masculinos em suas atividades, e aparência, o que atraí muito meninos e meninas que tem como interesse, atividades mais bruscas, mais agressivas, mais robustas, mais físicas, coisa de pai pra filho. E o Movimento Bandeirante por outro lado pela origem feminina, atraí mais meninos e meninas que gostam de atividades mais delicadas, mais detalhadas, mais floreadas, ou coisa de mãe pra filha. Mas aqui entra outro fato que pode confundir os interessados em ingressar em qualquer um dos movimentos, vale também considerar a característica do grupo escoteiro ou do núcleo bandeirante, pois pode haver núcleos bandeirantes que tem uma forte característica do movimento Escoteiro, como o contrário onde um grupo escoteiro com muitas características do movimento bandeirante. Afinal assim como conhecemos muitos escoteiros que se tornaram bandeirantes, como deve haver também muito bandeirante que se tornou escoteiro. 

                Aí surge uma pergunta por que ambos os movimentos que são tão parecidos não se tornam um só? Diríamos que isso é somente uma questão burocrática de briga de irmãos, que se divertem em sempre discordar que são parecidos.
Mas vamos à parte física das diferenças:

Escoteiro
Bandeirante
- símbolo flor de lis (três pétalas)
- símbolo trevo de três folhas
- associado ao WOSM (Mundial)
- associada à WAGGGS (Mundial)
- União dos Escoteiros do Brasil
- Federação de Bandeirantes do Brasil
- uniforme da cor do tipo de escotismo e/ou faixa etária
- uniforme azul marinho, e azul marinho e branco.
- lenço colorido conforme o grupo escoteiro
- 6 cores de lenço conforme faixa etária
- nomenclatura: lobinho, escoteiro, pioneiro, sênior, chefe.
- nomenclatura: abelha ou zangão, fada ou mago, B1, B2, guia, guia-auxiliar, coordenador (a).
- lei: o escoteiro é...
- lei: ser bandeirante é... (antes era: a bandeirante é...).


                  Está mais tranquila agora acha que está com sua pergunta respondida? Pois não fique não, pois a intenção aqui não é essa, e como dissemos antes esse blog é bandeirante e tem a missão de dizer que ser bandeirante é muito melhor que ser escoteiro, e ainda que for bandeirante do Núcleo Piratininga é muito melhor que ser bandeirante de qualquer outro núcleo, mas como “Ser Bandeirante é valorizar a estima e a amizade”, temos que falar muito bem de nosso irmão escoteiros e bandeirantes, mas como também “Ser Bandeirante é ser leal e respeitar a verdade”, confessamos sim que estamos puxando algumas sardinhas a mais para o nosso lado. 

sábado, 2 de janeiro de 2016

Ele sorriu e me disse que era Escoteiro.


Conversa ao pé do fogo.
Ele sorriu e me disse que era Escoteiro.

                   Eu o vi com o uniforme caqui. Estava perfeito. Lenço bem dobrado, meião com listas retas, sapato brilhando. Parei. Hoje em dia é difícil ver alguém assim. Quando passou por mim fiquei em posição de sentido olhei para ele dizendo: - Sempre Alerta Chefe! Ele me olhou sorrindo e disse: - Somos do mesmo sangue tu e eu. Nós dois somos de uma estirpe que restam poucos no mundo. Encantei-me com sua voz. Seu estilo era inconfundível, o chapéu de abas largas retas e aprumado na sua cabeça diziam tudo sobre ele. – Olhe meu amigo ele me disse - Muitos não entendem escolhas que fazemos na vida. Muitos me perguntam se eu sou um herói da juventude. Não sou. Sou um herói de mim mesmo. Não duvide nunca. Eu posso ser muito melhor sendo Escoteiro do que pode pensar. Acredito que se você quer ser o que sonhou, porque não correr atrás dos seus sonhos? Quem não vai atrás do que  gosta, não gosta de verdade. Orgulho tem limite, mas quer mesmo saber? O meu não tem. Não abro mão do que amo por receio de ir atrás ou errar na escolha que fiz. É uma questão de princípios, e alguns dizem que é uma questão filosófica.

                 E ele continuou: - Não sou filósofo e é difícil para mim explicar. Comecei sem saber onde pisava. Pivete entrei neste movimento que amo. Foi amor à primeira vista. Amor de menino sardento, marrento, aprendendo a ler e nem escreve sabia.                    O tempo passou. Fui crescendo. Vivendo cada dia como se fosse um novo dia. Vi coisas extraordinárias. Descobri minha paixão por aventuras, descobertas, das andanças por trilhas desconhecidas, estradas sem começo e fim, florestas encantadas que ficaram encravadas dentro de mim para sempre. Descobri o valor das fogueiras, em dias e noites que me ajudaram para melhor. Elas queimavam-me para me aquecer e queimava meu interior com um amor sem igual. Dormir sob as estrelas todos já dormiram, mas dormir e sonhar em ir até elas é diferente. Voei morro abaixo a procura de vales para acampar. Andei de canoa e jangadas em rios e lagos e profundos. Tive índios amigos, sertanejos que me ensinaram ser um mateiro e me fizeram feliz.

                       Estava espantado. Eu era assim também, mas deixei-o continuar: - Esculpi em minha memoria um sol que não conhecia um sol diferente ao nascer ou ao se por no horizonte infinito. Fiz do meu escotismo uma maneira de aumentar amigos e com eles buscar minha felicidade. Não ouve montanhas com quem não conversei. Não ouve pássaros com que aprendi seu cantar. Fui grande amigo de uma Coruja que me disse um dia: - Chefe, o espírito da coruja mora neste acampamento!                      Dizem que sábio é o ser humano que reconhece até onde pode ir e que tem mais a aprender, do que a ensinar. E como eu aprendi nas minhas aventuras Escoteiras. Não fui herói não, por favor, nada disto, mas aprendi com a floresta, com os ventos, com as trilhas ligeiras de pedras no caminho e normas incríveis para seguir. Aprendi com o ribombar do trovão, da cascata que vem do céu, com a chuva incessante da primavera. Aprendi com as estrelas no céu, com o arco íris que nunca me mostrou seu pote de ouro. Rodei céus e terras para descobrir se pisava em terras virgens, conversei com magos, santos e homens da lei querendo aprender e saber se o mundo escoteiro era este mesmo que eu fazia.

                      O tempo passa, eu tinha que seguir em frente, mas aquele Chefe Escoteiro me encantou. Não arredei pé, queria ouvir mais e mais - Sei que muitas vezes procuramos a verdadeira felicidade fora de nós sem saber que possuímos a sua fonte presa no coração. Em nenhum momento duvidei do meu amor Escoteiro. Meu uniforme era minha estrela, me mostrando que ser belo não precisa somente de um nome. Precisa ter amor e respeito. Encontrei adversidades por onde passei. Nos seres humanos foi mais real. Sei que problemas grandes ou pequenos nos apresentam durante a nossa existência. Posso estar contente, posso ser inteligente e embora estejamos em algum momento tristonho, é difícil ver que a vida corre célere para a solução e esta sempre depende de nos mesmos. Inesperadamente somos confrontados com problemas, lutas, desafios e milhões de dificuldades. È como se o escotismo nos tivesse posto a provas para ver de qual fibra somos feitos. Atravessamos tudo isto como o vento atravessa entre arvores enormes e altos picos encontrados no caminho. Cada pessoa sabe como enfrentar, como pular a maré alta do mar verde azul. O escotismo nos diz que aceitar é uma estratégia até ter as armas de volta para partir e nos reestruturarmos seguindo em frente para vencer.

                  E ele continuou – Desculpe se não me fiz entender. Não existe segredos para o verdadeiro Escoteiro. Eu nunca abri mão do meu amor ao escotismo esteja onde estiver. Seja no passado e no presente, ou mesmo no futuro incerto e não sabido. Eu não abro mão do meu orgulho em me chamar Escoteiro. Sou mesmo com muito orgulho e honra! Não abro mão do meu uniforme. Não abro mão da minha lei. A promessa que um dia fiz eu prometi ao Senhor meu Deus que um dia que seria feliz. Foi ele quem me indicou o caminho a seguir.  Não abro mão das minhas crenças, não abro mão dos meus sonhos e não abro mão do que acredito. Fiz do escotismo uma maneira de viver.  Se pudesse eu diria ao mundo inteiro: - Sempre amei e sempre vou amar este movimento que mora e residirá em meu coração para sempre. Eu acredito que se temos uma lei, um artigo que diz que somos irmãos e amigos de todos não pode haver fronteira que nos impeça de nos darmos à mão.

                          Saiba que canto aleluia a canção de B-P. Pois ele eu o trago sempre na mente, junto de mim e no meu coração. Não falo só por palavras, as uso para dizer o que sou e penso. Sou amante da natureza, sou amante das noites de luar, sou amante das chuvas no deserto do frio ou calor. Existe meu amigo filosofia mais linda que esta? Sou e serei Escoteiro de coração e nele tenho certeza que encontrei o meu destino e quando for o levarei para viver comigo sempre no céu, pois lá eu sou imortal!

                          Ele me olhou sorrindo. Saiu devagar e voltou para apertar minha mão esquerda. Ficou em posição de sentido e disse um sempre alerta gostoso, daqueles que a gente gosta de ouvir. Ele virou a esquina e eu estupefato esqueci aonde ia e o que iria fazer. Pensei comigo que a suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que você é não tem nada igual. Comecei a cantar baixinho:


£ - De B-P trago o espirito, sempre na mente, junto de mim e no meu coração estará!