Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

quinta-feira, 31 de março de 2016

To be, or not to be – Ser ou não ser, eis a questão.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
To be, or not to be – Ser ou não ser, eis a questão.

                     Adianta escrever sobre o que hoje é considerado escotismo moderno? Que escotismo é esse? Eu pergunto aos lideres escoteiros que são os donos das ideias e das normas quais foram os resultados? Sei que poucos como você que hoje luta em uma sessão escoteira vai ler este artigo até o fim. Aqueles que possuem status escoteiros irão fechar a pagina por não concordarem com o que escrevi. Tem hora que me sinto tolhido por resultados tão pequenos alcançados até hoje. A maioria dos novos que chegaram ou estão chegando estão fechados em uma redoma escoteira satisfeitos com seu escotismo feito como acreditam que devia ser feito. Eles pouco acreditam em uma só palavra do que escrevo. Preferem meus contos, meus sonhos, minhas histórias, pois delas podem tirar exemplos na sua labuta semanal em uma sessão escoteira. Nossos lideres regionais e nacionais nem aqui aparecem. Para que? Para ler um Velho idiota a falar o que não deve? Eles estão lá onde sempre estiveram. Nas páginas do seu site da UEB e dali não arredam o pé.

                     Você conhece alguém do CAN, da DEN ou outro órgão importante da União dos escoteiros do Brasil que dão plantão nas páginas das redes sociais? Conhece algum que aqui postam visando dar mais visibilidade, mais aprendizado, tirando dúvidas pesquisando idéias ouvindo sugestões, sentindo pelas palavras dos mais humildes como está difícil fazer escotismo hoje no Brasil? Sei de alguns que tem páginas aqui. Escrevem esporadicamente. Os membros da equipe de formação, os mais graduados nem pensam em escrever ou discordar de alguém que postou algum de bom ao escotismo. Eles estão em um patamar mais elevado tem maiores conhecimentos Escoteiro e nunca virão aqui ouvir quem sabe o que não querem ouvir. Vez ou outra um novo membro da liderança regional vem aqui publicar seus programas, suas ideias, atividades que ele preparou. Pergunte a ele se consultou alguém, se discutiu com alguém, se fez uma pesquisa com os jovens o que eles acham disto.

                      Estamos vivendo uma época onde existe uma pequena parcela que se encontraram no escotismo, acham que tem ideias novas, acreditam que podem mudar e fazem de tudo para ter o status que muitos já têm. Pertencer a Casta da Liderança é um sonho de muitos. Não hesitam em humilhar, em desfazer, em se mostrar prepotentes na sua ânsia de poder. Eles estão em todos os lugares. Julgam-se os melhores, são daqueles que dizem ou está comigo ou contra mim. A arrogância é tão grande que sempre achei que a UEB é quem deveria servir aos seus associados. Mas não, ela fez questão de colocar no final da promessa do Chefe “Servir a União dos Escoteiros do Brasil”. Isto é correto? Uma vez li um livro do Pensador e Escritor Aldous Huxler que me chamou a atenção. Dizia ele:

“Uma organização não é consciente nem viva”. Seu valor é instrumental e derivado. Não é boa em si; É boa apenas na medida em que promoveu o bem dos indivíduos que são partes do todo. Dar primazia às organizações sobre as pessoas é subordinar os fins aos meios. Tudo estaria a salvo se toda a população fosse capaz de ler e se permitisse que toda espécie de opiniões fosse dirigida aos homens, pela palavra ou pela escrita, e se pelo voto, os homens pudessem eleger um legislativo que representasse às opiniões que tivessem adotado!

                      Mas não é isto que nossos lideres pensam. Eles não consultam, não perguntam, não são transparentes, nunca fizeram pesquisas sérias nas unidades Escoteiras. Acham que não precisam disto. Arvoram-se em donos da verdade. Sem perceber tomam atitudes que podem levar nosso nome ao esquecimento. Nosso proselitismo nosso marketing praticamente acabou. Os órgãos de comunicação nada falam sobre nós. Se antes se dizia Sempre Alerta, Uma só palavra, Ser Escoteiro é ter honra hoje não. Estes nomes agora registrados no INPI assusta á quem um dia for usar se não sofrer um processo a qualquer tempo. Se no passado era comum falar do Escoteiro, da sua boa ação, de sua formação, da sua palavra e sorrisos ao dizer Sempre Alerta isto não existe mais. Todos aceitam sem reclamar. Pagam às taxas sabendo que não tem desconto, a maioria não participa de atividades regionais ou nacionais porque não podem pagar.

                       Os jovens nunca são consultados. É brincadeira quando dizem que os Jovens Lideres fazem isto. Jovens? 18 a 26 anos? Pode até ser chamado assim, mas quantos com esta idade estão trabalhando, se formando em faculdades, atuando como chefes e sendo responsável por si próprio? O Sênior, o Escoteiro ou mesmo o lobo passou a ser massa de manobra. Um Líder da União dos Escoteiros do Brasil colocou no POR que a camisa solta está dentro da norma. Todos passaram a usar. Não perguntaram ao público o que acham. Não sabem dos comentários ruins que fazem ao nosso respeito com este tipo de usar a vestimenta. Chefes se apresentam como querem. Não se igualam com seus jovens. São chapéus, são lenços, são escolhas cujo exemplo deixam a desejar. Porque pelo menos se mudaram não levaram a sério a apresentação pessoal? É moda? Quem faz assim? Qual associação que se preza age desta maneira? Conhecem alguma organização que se apresenta assim?

                          Já vi muitos dos mais ligados a Casta dos Nobres da UEB dizer que chega de Baden-Powell. Dizem eles que precisamos de sangue novo. (o deles é claro). Precisamos de novos rumos educacionais. Fazem questão de falar em nome dos jovens que os tempos agora são outros. Não deram oportunidades a eles de dar opinião e mostrar os dois lados da questão. Todos aceitam. Sorriem quando recebem informações de mudança. Sorriem quando lhes é jogado uma nova norma, um novo plano. Batem palmas nas eleições, mas ainda não se tocaram que as chapas eleitas são a continuidade dos que estão saindo. Temos aí uma nova eleição na Liderança Nacional, os candidatos são os mesmos que irão dar continuidade a um programa falido que não deixa crescer, não deixa mostrar que o escotismo é sim, uma organização de jovens sem similar.

                 Mesmo sabendo que muitos não se interessam mais pelas palavras de Baden-Powell eu não me canso em repetir o que disse: - “A maior ameaça a uma democracia é o homem que não quer pensar pôr si mesmo e não quer aprender a pensar logicamente em linha reta, tal como aprendeu a andar em linha reta”. A democracia pode salvar o mundo, porém jamais será salva enquanto os preguiçosos mentais não forem salvos de si mesmos. Eles não querem pensar, desejam apenas ir para frente, seguindo a ponta do nariz através da vida. E geralmente, estes, alguém os guia puxando-os pelo nariz!

- Saia da sua estreita rotina se quer alargar sua mente.

segunda-feira, 28 de março de 2016

O mundo virou de cabeça para baixo! Agora sou o novo Presidente do Brasil!


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O mundo virou de cabeça para baixo!
Agora sou o novo Presidente do Brasil!

                  Uma segunda feira calma levantei cedo, fui fazer minha caminhada de 800 metros e aproveitei para me exercitar um pouco nas pernas e nos ombros. Fazia isto diariamente. Sentia-me bem. Ao retornar eis que no inicio da minha rua vi um bloqueio. Tanques Leopardos, Blindados de todos os tipos armados com canhões antiaéreos centenas de fuzileiros navais em cada ponto da rua. Vi logo que não poderia ser a SABESP. Povinho que adora abrir um buraco e deixar aberto. Desci a rua calmamente. Surpreso vi em cada esquina mais PMs do Exercito. Brutamontes escolhidos a dedo. No céu helicópteros da Marinha dançavam no ar. Agora sabia que não era a Globo querendo filmar. E eis a surpresa final, na porta da minha humilde casinha dezenas de carros pretos de todos os tipos. Pelas barbas do Profeta! De novo? Fui devagar como se não quisesse nada. Afinal a Célia estava lá e se tivessem feito alguma coisa com ela eu ia ficar “invocado”. Mexeu com ela mexeu comigo. Dois generais se aproximaram. – Doutor Osvaldo? – Putz! Doutor eu um reles matuto do sertão? Melhor calar e ver o que queriam.

                   - Venha conosco precisamos conversar.  Levaram-me para minha sala. Achei gozado, fui convidado a entrar na minha casa e minha sala. Só mesmo as Forças Armadas para fazer isto. Célia já estava lá conversando com duas Almirantes de esquadra. Sorriu para mim. – Boas notícias marido. Contaram-me que levaram o Lula para a Ilha das Cobras. Lá tem mais de 2.000 Jararacas e ele ficará bem melhor que no Tríplex ou no Sitio daquele amigo do peito. – Pensei com meus botões, que diabos queriam comigo? – O General Mascarenhas me olhou de cima em baixo. – Doutor, temos ordens de leva-lo a Brasília. Olhei para ele. – Para que excelência? – Excelência é o senhor. Foi nomeado Presidente da Republica Federativa do Brasil. – Olhei para ele. Onde estava a câmara escondida? O Silvio Santos pagou uma nota para aquela pegadinha. – Ele sério continuou: - A Presidenta Dilma renunciou. Vai passar uns dias no Hotel Papuda de Brasília!

                        O caminho está livre doutor Chefe Osvaldo. O Vice Temer preferiu ficar com sua linda princesa e foram morar em Paris. Quem sabe lá pode explodir uma bomba qualquer. Cara ruim este general. Deve ter sido da turma do DOPS. Rarará! O Eduardo Cunha está sendo levado pelo Japonês da Federal para se apresentar ao Juiz Moro em Curitiba. O Renan vai no mesmo avião. Uns meses vendo o sol nascer quadrado não mata ninguém. Perguntem ao Marcelo, ao Dirceu e ao Vaccari. O Ministro Ricardo Lewandowski do Supremo e os três generais das forças armadas estão reunidos no Palácio do Planalto a sua espera. Destituíram o Ministro das Forças Armadas o Aldo Rabelo e o mandaram para Moscou. Durante duas horas prenderam todos os deputados e senadores no Congresso Nacional que foram obrigados a fazer uma nova lei constitucional dando poderes em todo o território nacional ao Senhor. Agora é nosso Presidente! “Balaco baco!” Onde amarrei minha égua? O que fiz para merecer isto? – Olhei para Célia. Ela não gostava da ideia de ser a primeira dama. – Moço General eu disse. Porque eu? Simples, procuramos uma organização que pudéssemos confiar. Lemos sobre Baden-Powell e um dos nossos Generais está no Facebook e participa de uma das suas páginas!

                          - “Pelas barbas de Maomé”. Nem li o Alcorão e nada sei de leis a não ser um pouco do POR que agora está todo modificado em nome dos novos tempos. – Generalíssimo Mascarenhas, porque não alguém da Direção Nacional? Alguém da DEN ou do CAN? – Nem pensar Presidente Chefe Osvaldo. Eles não são confiáveis. Bem nesta parte concordei com eles. Rarará! A Advocacia Geral da União tem um novo ministro. Ele vasculhou junto ao SNI toda a cúpula escoteira do Brasil. Amanhã levarão um relatório completo para o senhor. - Dei um sorriso maroto. Agora sim irei ver quem está sendo julgado na Comissão de Ética Nacional. Vou mandar cancelar tudo e abrirei uma nova Comissão no Palácio. Convocarei meus bons amigos escoteiros do Facebook para me ajudar. – Doutor Generalíssimo Mascarenhas, e o Congresso Nacional como fica? Dom mesmo jeito. Mandamos embora a tal comissão parlamentar escoteira, não serviam para nada! Que eles aguardem a tal lista dos 300 da Odebrecht. Tem deputado chiando desde agora.



                        - Vamos ter novas eleições parlamentares. O Senhor será Presidente por vinte anos! Putz Grila pensei! Eu? Nem pensar! Afinal nunca serei o Evo Morales e nem o Nicolás Maduro e nem alguns dirigentes da UEB que não arredam o pé. Já basta amigos do Face querendo que eu viva para sempre. Desconjuro e peço a Deus que não me deixe só! Lembrei-me do Collor. E ele General? - Está fugindo em uma Ferrari vermelha na BR-040, mas logo a Policia Rodoviária Federal pega o bicho! Bem a ideia me alimentava. Eu já me via com a faixa presidencial no Palácio do Catete, Ops, catete não, Palácio da Alvorada. Iria reescrever a história do Brasil, antes o passado hoje eu, um novo Chefe Escoteiro para salvar o Brasil. – Osvaldo! Osvaldo! Acorda! Seu Mané da venda está aí cobrando sua divida do ano passado. Não vai pagar? Deus meu, um sonho lindo e ser acordado pelo seu Mané por causa de vinte mil reis? Pague mulher ainda tenho uns trocados. Os últimos minguados! E vá dormir com um barulho destes! Kkkkkkkk. 

quinta-feira, 24 de março de 2016

Fatos versões e verdades do escotismo moderno.


Conversa ao pé do fogo.
Fatos versões e verdades do escotismo moderno.

“Ele entrou para o escotismo pensando que iria encontrar aventuras, atividades aventureiras, acampamentos inóspitos, iria aventurar em matas, subir montanhas, atravessar rios em jangadas, aprender a viver com a natureza, vida em equipe onde o lema seria um por todos, todos por um. Ele queria sorrir deixar o vento levar seu espírito a lugares que nunca antes tinha ido. Mas não foi isto que aconteceu”.

                     A vida escoteira me ensinou muito. Errei muito e hoje vejo que caminhos que escolhi poderiam ter sido melhores. Levei meu espírito para longe do mundo civilizado, andei por grotões e vales inóspitos e hoje sei que nem sempre podemos ter tais aventuras como no passado. Mas estamos cometendo um erro enorme. Estamos tirando o desejo da aventura e da descoberta do jovem. Estamos dando a ele o que ele tem na escola, em casa e junto aos seus amigos de bairro. A cantilena de ouvir o jovem para saber o que pensa não existe mais. Chefes de várias matizes afirmam saber o que eles querem. Dizem saber como fazer os melhores métodos e programas afirmando que é assim que eles pensam. Verdade? Então dê uma vara para pescar ao um noviço e diga para ele pescar. Se ele nunca pescou se ele nunca viu alguém pegar um peixe dificilmente vai ficar ali sentado esperando fisgar um belo peixe.

                      Se vamos agora ter programas chamados de pedagógicos tirados da imaginação de grandes educadores que sabem o que a juventude quer, que se denomine outro termo que não escotismo. Pode até que dê resultados, mas sabemos que o escotismo de Baden-Powell sempre foi cheio de sucesso. Então porque mudar? Aquela preocupação de técnicas Escoteiras, aventureiras, acampamentos de Gilwell, aventuras inesquecíveis, sistemas de conquistas hoje foram substituídas por provas modernas que nada tem a ver com o se pensava antes em ser escoteiro. Onde estão àqueles meninos lobos, que um dia chegaram a uma idade para colaborar em sessões Escoteiras? Se antes eles existiam hoje somente uma pequena parcela chega lá. Os pais e digo isto com alegria, pois sem eles estaríamos pior, estão assumindo suas posições. Um programa de atividades voltados para a técnica escoteira não existe. Quando muito uma improvisação aqui e ali. Só se discute a tal pedagogia moderna de ensino. Sei que o mundo de hoje se transformou, mas o desejo da aventura, da descoberta, de ser um herói ainda permanece entre os jovens e isto eu garanto.

                        Porque muitos dizem tanto sobre consultar o jovens e na realidade não consultam? Não tenho dados, mas acredito que a maioria dos jovens praticantes do escotismo hoje são advindos de comunidades classe media a jovens de classe menor. Nossa liderança faz belos planos, montam cursos extraordinários, existe uma preocupação constante com a formação intelectual, com a proteção até demasiada com o jovem, e note-se que hoje promessas e promessas de planos de expansão são feitos, mas o resultados são pífios. Uma pesquisa abrangente do que os jovens pensam nunca foi feita. Já disse o que penso sobre os Jovens Lideres. Eles para mim não representam a juventude escoteira. Afinal 18 a 26 anos ou são pioneiros ou chefes. Suas vivências se concentram em faculdades, emprego e alguma diversão que o escotismo pode oferecer. O lobo, o escoteiro e o Sênior pensa diferente.

                         O jovem ou a jovem escoteira de hoje são manobrados a bel prazer pelos dirigentes e porque não dizer também por sua chefia. Neste ultimo caso há exceções. Nunca foi apresentado um plano de expansão onde eles tiveram oportunidade de opinar. Nunca lhes foi perguntado se o programa atual comparativamente com outros é do seu agrado. Os programas internos dos grupos são feitos conforme determinados pelos chefes. Cria-se trabalho comunitários, visitas, passeios a centro educacionais, boas ações coletivas que simplesmente são apresentados aos jovens e nunca perguntaram se era isto que eles queriam fazer. Não desmereço tais programas. Nunca. Mas sem intercalar atividades aventureiras, bons acampamentos, ótimas excursões, exemplos de vida através de atividades ao ar livre ninguém em sã consciência vai gostar de ser uma espécie de apresentação pessoal para deleite dos dirigentes inclusive dos Grupos Escoteiros.

                           O que adianta tais programas sociais onde meia dúzia de meninos ou meninas estão presentes? Porque nossa liderança nacional ainda não se preocupou com um estudo sério, ouvindo as bases, desde o lobo até o adulto no grupo de origem sobre vários temas que poderiam dar subsídios para um grande programa de expansão? Difícil? Não é. Em épocas de eleições os candidatos apresentam seus programas. Estão prontos, falam e exaltam o que virá pela frente. Um escotismo de mares nunca antes navegados. O tempo passa e como sempre não se vê nada de novo no front. A nova fronteira de chefes só conhecem uma estrada que os atuais mandatários mostram para eles. Batem palmas a esmo sem saber onde estão indo. Para eles justifica dizer que o importante é a formação do jovem. Eu pergunto qual formação? Se antes acreditávamos que para que o jovem ou a jovem tivessem uma formação escoteira exemplar precisaríamos mantê-los pelo menos dez anos em atividade o que dizer hoje?

                          Alguém já fez uma pesquisa em sua unidade escoteira para saber quantos entraram e quantos saíram nos últimos dez anos? Alguém estudou profundamente o porquê muitos saíram e o tema foi discutido a exaustão? Porque muitos não guardam boas recordações do seu tempo de Escoteiro? Onde estão aqueles que hoje em suas comunidades estão a fazer proselitismo do movimento Escoteiro junto a vizinhos e amigos? Sei que alguns dirão que conhecem muitos que ocupam posições na comunidade e respeitam o movimento Escoteiro. Mas são poucos.  Não temos mais um marketing agressivo para um bom programa de expansão. Os meios de comunicação nem se preocupam com o escotismo há não ser em casos excepcionais que prefiro não destacá-los. Não temos dados, não temos transparência apesar de que muitos eleitos se jactam em ser transparentes. Muda-se por mudar ou por copiar o que outros países de primeiro mundo estão fazendo é fazer a mesmice da falta de imaginação.


                         Enfim sabemos onde o escotismo é realizado nos moldes aventureiros ele está dando certo. Existem grupos cuja preocupação é real na motivação do jovem em seu seio. Sem menosprezar eu não ficaria onde as atividades ao ar livre são escassas. Onde não tenho liberdade de me expressar e dizer se gosto ou não. Onde o aprendizado não passa de uma cópia professoral do que se vê diariamente na escola. Onde se procura um amigo um irmão mais Velho e o que se encontra é um Chefe mandão, dono da verdade que não ouve ninguém. Ofendi você? Desculpe. Não era minha intenção. “Sei que o que escrevi para muitos é como aquela historia: - Entrou por um ouvido e saiu pelo outro”. Afinal daqui a vinte anos mais de noventa e nove por cento não estarão mais aqui para ver! 

domingo, 20 de março de 2016

O repouso do Guerreiro.


Lendas escoteiras.
O repouso do Guerreiro.

           Ele sabia que não podia medir o tempo. Seus antepassados não lhe ensinaram. Mas ele sabia que muitas luas haviam se passado e seu fim estava próximo. Ele não foi o único, seus pais já tinham partido para as Terras Bravias do Sol Nascente. Agora seria sua vez. Seus dias estavam próximos a terminar. Não tinha herança, não trouxe ao mundo nenhum bravo da sua estirpe. Aplanã não deixou que Amanara lhe dessem filhos. Na tribo somente as lendas dos guerreiros passavam de pais para filho. Ele era uma lenda? Não era. Nunca foi. Era que era um simples índio que conhecia as histórias dos seus ancestrais; Conseguiu sobreviver de muitas guerras com os Tapuias, os Caraíbas e tantas outras tribos que sempre tentaram raptar suas mulheres e tirarem o que era deles. Foi o único que sabia conversar em Macro-Jê, Tupi e Arauak. Aprendeu nas guerras e nas inúmeras vezes que fora aprisionado. Acostumou-se a sentar embaixo da Aroeira que dizem os espíritos foi plantada por Aplanã, um valente guerreiro, que correu pelos céus como um raio flamejante a mil luas atrás. Seus olhos miúdos percorriam as inúmeras Tabas de sua aldeia. Quanto tempo! Nada é mais como antes. O homem branco não trouxe nada de bom.

           O Grande Espirito já o tinha avisado que sua morte seria breve. Não tinha medo nunca teve. Já a enfrentara inúmeras vezes. Afinal fora um guerreiro cujo nome se espalhou por toda a Floresta de Akanã. Amanara sua mulher o olhava com carinho. Porque nunca tiveram filhos? Ele daria tudo para ter um herdeiro que levasse seu nome através da história. Que pudesse narrar seus feitos. Sabia que quando fosse para as Terras Bravias nada sobraria de sua vida na terra. Seus pensamentos velejavam através das nuvens brancas espalhadas pelo céu. Teria milhares de coisas para recordar. Viveu uma época que hoje seus descendentes não irão viver. O homem branco agora mandava. Eles não passavam de meninos obedecendo ordens o que fazer e que comer. Muitos da sua tribo se tornaram homens sem valor. Bebiam, faziam arruaça, viajavam e diziam representar a tribo. Nunca seriam nossos representantes. Eram sim de si próprios em busca de facilidades que um verdadeiro guerreiro desprezaria.  

           O viu chegando em uma jangada de piteira atravessando o Rio Morcego. Sempre fora assim desde a primeira vez. A cada vinte ou trinta luas ele aparecia. Lembrou quando o viu jovem ainda, sempre com cabelos brancos soltos ao vento, olhos pequenos azuis, um chapéu esquisito, um lenço amarrado no pescoço, um calção da cor da camisa parecida com a folha de bananeira desbotada. Uma meia que ia até os joelhos e uma botina preta. Desceu de sua jangada e fez o sinal de paz. Não disse mais nada. Ele não falava muito. Aproximou-se de mim e levou sua mão esquerda ao meu coração. Como ele sabia? Nos velhos tempos só os fortes entre os mais fortes se saudavam assim. Fiz o mesmo que ele e um sinal a Ibaretama um amigo aquele que veio do céu para que não o matasse com sua lança. Um homem branco nunca fora bem recebido na Aldeia. Uma época que os Bororós eram temidos. Cabelos da Neve sentou embaixo da Aroeira. Cruzou as pernas como se fosse um de nós, tirou de seu bornal um cachimbo pequeno e o fumou por horas. Não disse nada. Chegou calado e calado ficou. Lembro que Amanara levou-lhe uma cuia com cuscuz cozido e ele comeu com gosto.

           Otinga o Pajé logo que a noite chegou começou uma pajelança pela cura de Oititaba, um jovem que caiu da Pedra Solta bem depois da curva do rio Morcego. O viu bebendo o tafiá e mesmo evocando os espíritos de seus ancestrais e muitos animais da floresta não houve cura de Oititaba. A tribo dançou com ele freneticamente e fez as mimicas conhecidas do animal que estava incorporado a Otinga. Oititaba morreu pela manhã. Cabelos da Neve recusou dormir em alguma Taba ou mesmo na sua. Dormiu ali embaixo da Aroeira sob o calor de um pequeno fogo que fez. Não o vi pela manhã. Ao raiar do dia tinha partido. Sua jangada não estava apoitada na areia branca do rio Morcego. Passaram mais de vinte luas quando ele voltou. Parecia mais velho assim como eu. De novo nos cumprimentamos e pouca conversa. Seu silêncio me agradava. Apontou a Montanha dos Abutres. Por sinal por a mão em meu peito e me convidou sem falar a subir até o topo.

          Não podia ir. Minhas pernas recusavam a obedecer. A tribo aprendeu a admirá-lo. Com seu chapéu cuia colocou sua mochila, atravessou seu bornal e partiu rumo à montanha. Uma semana depois voltou. Descansou por algumas horas e em sua Jangada sumiu nas águas tranquilas do Rio Morcego. Mais uma vez fiquei só. Ou melhor, sempre estava só, mas quando Cabelos da Neve aparecia havia no ar um encantamento que toda tribo sentia. O passado não perdoa o presente. Éramos milhares e hoje? Um punhado que vinte ou trinta tabas acomodavam todos. As nações indígenas foram dizimadas. Caçar, plantar, pescar já não era a maneira correta de sobrevivência. Um posto da FUNAI nos dava o que Comer. Parecíamos mendigos sem nome, sem honra a depender do homem branco a nossa sobrevivência. A nossa terra não era mais nossa. Nossas crenças desapareceram. As forças da natureza que nos impeliam aos nossos antepassados não existiam mais. Os espíritos dos ventos riam de nos. Deuses e espíritos fugiram das nossas cerimonias, dos rituais e festas. O Pajé era uma figura que ninguém mais dava valor.

           Na vigésima lua desde que ele se foi fiquei doente. Muito. A pajelança não adiantou. Era questão de dias para me encontrar com os espíritos dos meus pais e dos meus ancestrais. Já tinha passado o meu poder de Cacique ao Conselho da Tribo. Cabia a eles agora escolher quem devia conduzir a aldeia, as mudanças e as guerras se elas tivessem que existir. A mim me restava à lembrança do que fui e do que sou. Preferia não olhar o mundo ao meu redor. Quanta injustiça, quanto sofrimento e dor. Eu sabia que todo mundo temia a morte, mas o índio ria dela. Um guerreiro tem de saber enfrentar tudo a qualquer hora. Para ele o amor, a indiferença e a ambição não seria uma lança cortando o ar procurando seu coração. Mesmo nos meus últimos dias eu ainda me considerava um guerreiro. Vieram me dizer que ele chegou. Cabelos da Neve com seu chapéu esquisito cumprimentou-me a moda índia e a mão no meu coração. Na taba em que eu agonizava ele sentou com as pernas cruzadas. Tirou seu cachimbo e rolos de fumaça encheram o recinto.

           Deixaram-me a sós com ele. Ele me olhava e eu a ele. Tirou o chapéu e fez uma espécie de saudação. Com as mãos no peito começou a cantar baixinho uma canção. Dizia que não era mais que um até logo, não era mais que um breve adeus. Eu não o ouvia mais. Meu espirito abandonava meu corpo e me vi junto aos meus ancestrais. Eram centenas de amigos que agora estavam ali nas Terras Bravias do Sol Nascente. Voltei um dia depois como espírito. Meu funeral não teve nada diferente. Envolvido na rede dentro da minha maloca, fiquei por dois dias. Nivelaram a superfície da minha sepultura com barro socado. Quando me retiraram a maloca foi queimada. Seria abandonada para sempre. Todos os meus pertences estavam comigo. Em cima da minha sepultura Cabelos de Neve colocou uma placa de metal em formato de uma flor de lis. Todos já tinham ido e ele permanecia sentado de pernas cruzadas, fumando seu cachimbo e olhando para o céu. Eu o ouvia cantar a mesma canção: - Não devemos perder as esperanças de um dia tornar a nos ver.


           Uma semana depois ele se levantou. Deu um leve sorriso, fez o gesto de amizade colocando a mão esquerda no meu coração invisível. Fiz o mesmo com ele. Parece que ele sabia que eu estava ali, pois disse baixinho que breve, muito em breve tornaremos a nos ver. Entrou em sua jangada e partiu nas aguas calmas do Rio  Morcego. Conta-se que muitas luas depois os dois guerreiros se encontraram nas Terras Bravias do sol Nascente. Dizem que até hoje ficam sentados e sorrido na sombra da Aroeira que um dia pertenceu à tribo dos Bororós e que hoje não pertence a mais ninguém. 

sexta-feira, 18 de março de 2016

Em meus sonhos volto sempre a Gilwell.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Em meus sonhos volto sempre a Gilwell.

               É bom dar uma volta no tempo. Sabemos que muitas lembranças ficaram na história. É página virada no livro da vida. Uma utopia que como o vento vem e vai. Sonhos existem e até podemos realiza-los já que cada um tem uma maneira de sonhar. Tem aqueles que analisam tudo friamente, outros intelectualmente e eu com o coração. Não sei escrever sem por um pouco de fantasias e ilusões em minhas palavras. Ouve uma época que se esperava tudo de um Escotista portador da Insígnia de Madeira. Qualidades técnicas, conhecimentos, experiência, e o melhor, o exemplo. Você não ia ver um Escotista com Insígnia se portando de maneira inadequada. Nunca. Ele sempre tinha um porte altivo sem ser antipático ou constranger alguém pelas suas conquistas. Eu o via como destemido, ou melhor, um catedrático em escotismo. Afinal ele já era um docente que terminou a Faculdade e estava pronto para lecionar. Ele tinha que se portar como Insígnia de Madeira. Esquecer o abraço? O sorriso? O primeiro Sempre Alerta firme para mostrar que estava mais alerta que os demais? Nunca. Assim eram assim os Insígnias que eu conheci no passado. Sei que haviam outros, mas não é destes que gostaria de falar. Eles não foram exemplos de que nós escoteiros esperamos da formação de alguém que teve em Gilwell suas origens.

              Dava gosto ver seu porte, seu olhar, alguns se sentindo verdadeiros chefes irmãos e amigos de todos que participavam do escotismo. Sabiam que o aperfeiçoamento nunca terminava. Afinal quando se reunião sempre cantavam que um dia à volta a Giwell ia acontecer. “Volta a Giwell terra boa, um curso assim que eu possa eu vou tomar”. Ele podia ser um bom lobo, um maçarico, um marrom ou um vermelho. Podia não estar mais escoteirando ou lobeando, mas seus conhecimentos precisavam aumentar. Eles ou elas sabiam que suas sessões agora seriam exemplo, mais olhadas, mais vistas e mais cobradas. Eles sabiam que seus uniformes deviam ser impecáveis. Nada de invenções. Quando você via um ou uma, com seu porte altivo, seu lenço bem dobrado, seu anel bem colocado, colarinho abotoado, uniforme bem passado, seu cinto brilhando, o orgulho do sapato engraxado você sorria. Ali está mesmo um verdadeiro membro de Giwell.

              Quando você convidava um para lhe ajudar em um curso qualquer, não corriam para aceitar. Primeiro sua Tropa, sua Alcatéia se sobrasse um tempinho nunca negava ajudar. Diferente de hoje. Olhe Chefe preciso ver. Posso dar uma resposta outro dia? Temos acampamento, ou temos excursão ou prometi aos jovens participar com eles Era assim. Não saiam correndo e aceitando e dizendo aos quatros ventos – Agora sou IM agora sou o tal! Nada disto. E quando você visitava suas sessões? Dava gosto de ver. A gente sabia que seu caderno não foi enfeite, copiado de outros. A gente sabia que os livros de Baden Powell não foram encadernados e guardados em um lugar qualquer. Não quero aqui criticar os insígnias de hoje. Conheço centenas deles que nada ficam a dever daqueles do passado. Eles quando se apresentam sabem que muitos sentem orgulho de suas sessões escoteiras. A eles, os de hoje meus parabéns.

              Entretanto tem alguns que não “pegaram” (termo de BP) o sentido da coisa. O que são suas responsabilidades. Muitos esqueceram suas origens do exemplo, da boa apresentação do garbo. Alguns adotaram as novas fases do escotismo moderno. Tem muitos que amarram o lenço de Giwell no pescoço saem por aí esquecendo que existe um uniforme para se apresentar ao público e aos jovens de sua sessão. Dizem alguns que a moda é assim. Até para um Insígnia? No passado quando se recebia o lenço se sentia o peso da responsabilidade. Olhar o certificado dava orgulho. O lenço então? Dava um frio na espinha, a gente tremia, e pensava que agora tudo mudou. Sabia-se que apesar do coração Escoteiro, do amor aos seus jovens a responsabilidade era outra.

               Infelizmente fico decepcionado com o que estou vendo hoje. Fico pensando no orgulho de muitos Insígnias que se foram. Não só os que foram para as estrelas como milhares que não estão mais na ativa. Exemplos que temos motivo para orgulhar. Com a falta que temos de mão de obra Escoteira qualificada é triste ver este abandono. Sei que os dirigentes não pensam assim. Não existe uma preocupação com a evasão. Sair se tornou rotina. Quem sabe pensam que cada um escolhe o seu caminho e se eles resolveram sair paciência. Uma vez pensei em termos uma pesquisa anual para saber o porquê desta evasão de adultos principalmente insígnias. Uma orientação para que as regiões fossem pesquisar o porquê saíram. Ouvir suas opiniões. Quem sabe mudar? Afinal quantas experiência perdemos com a saída de muitos deles. Seria difícil dizer a cada um verbalmente ou com uma cartinha: - Chefe nos conte o que ouve. Queremos melhorar. Precisamos de muitos com experiência para ajudar. Sei que isto é utópico, e difícil de acontecer? Existiria interesse? Poderíamos ser mais flexíveis, mais humildes, aprender de novo a ouvir? É difícil entender posições antagônicas.

                        Fico pensando e buscando no fundo de minhas memórias a fraternidade de outrora feita por homens e mulheres com espírito Escoteiro a lutar por um lugar ao sol em nosso Brasil. Um dia sonhei na maior reunião de Gilwell já feita. De todos que saíram e dos que ainda estão na ativa. Seriamos quantos? Milhares e milhares talvez. Quem sabe nesta reunião teríamos escotistas nos mais altos escalões pensando diferente, vendo novas ideias, entendendo novas ideologias, sempre em uníssemos com o mesmo ideal de melhorar conhecimentos, aprender uns com os outros, uma amizade sem igual. Quem sabe uma reunião de Gilwell em volta de uma fogueira, sentindo o calor do fogo e da fraternidade presente, as brasas aos poucos adormecendo, as fagulhas lânguidas e serenas subindo aos céus, e uma conversa franca pudesse surgir. Quem sabe pensar que ali teríamos B-P na mente, junto de nós e em nosso coração a nos guiar.

                     É bom sonhar mesmo sabendo que a realidade é outra. Nossos devaneios em amar uns aos outros, pensando de olhos abertos que nosso escotismo pode ser mais flexível, com mais amor, sem intuitos de grandeza, sem arrogâncias que não ajudam em nada. Isto não pode ser somente sonhos. Sonhos quando acreditamos se realizam. E assim encerro meus pensamentos com a mais bela canção de Gilwell que já cantei:

“Em meus sonhos volto sempre a Gilwell, onde alegre e feliz eu acampei
Vejo os fins de semana com meus velhos amigos e o campo em que eu treinei”

 “É mais verde a grama lá em Gilwell, onde o ar do Escotismo eu respirei
E sonhando assim vejo B-P, que sempre viverá ali”.

(Canção de Gilwell - Letra e Música: Ralph Reader).

quarta-feira, 16 de março de 2016

“O Poder”


Conversa ao pé do fogo.
“O Poder”

                  Poder é o direito de deliberar, agir, mandar e, dependendo do contexto, exercer sua autoridade, soberania, a posse de um domínio, da influência ou da força. Segundo a sociologia, poder é a habilidade de impor a sua vontade sobre os outros. Existem diversos tipos de poder: - O Poder social, o Poder econômico, o Poder militar, o Poder politico entre outros. O contrário são as necessidades de alguém que não precisa poder, são os chamados educadores. Para ser um é preciso muito mais que ter conhecimento. È preciso ser humano e jamais supervalorizar o intelecto e a razão em detrimento do amor e da emoção. É uma vontade de ajudar pessoas e dar a elas mais oportunidades no futuro.

Entre o Poder e o Educador.

- Chefe Idelfonso Lavosier. Dirige uma Tropa Escoteira de elite em um Grupo Escoteiro muito bem estruturado. Se sente bem. Tem apoio, não precisa se desdobrar para conseguir as necessidades da Tropa. É metódico, sabe onde pisa e conhece a maioria dos jovens de sua sessão. Sabe que seus pais são universitários, ótimo poder aquisitivo, dão uma proteção enorme aos seus filhos, exigem respeito para com eles, não toleram gritos e atividades que venham a prejudicar sua saúde. Ele sabe que qualquer erro seu será chamado à atenção. Já soube de alguns pais que revoltados com a ação de alguns chefes levaram os casos aos tribunais.

- Chefe Marcondes Lusiel. Terminou o segundo grau. Empregado em uma fábrica de parafusos. Não conseguiu ainda ser promovido a encarregado nem supervisor. Acredita que tem condições e seus chefes não reconhecem. Não acredita em tratamento educacional na base do amor e da educação. É constantemente humilhado pelos seus superiores na fábrica. Encontrou no escotismo uma espécie de desforra. Acha que formar caráter é preciso exigir muito mais que os jovens podem dar. Insiste em se mostrar como o dono das ideias. Finge que na Corte de Honra ouve seus monitores, mas no final é ele quem determina e diz o que fazer. Não aceita opiniões, costuma dar palestras por tempo indeterminado. Acredita que bons jogos são aqueles de força, de astúcia e se alguém se machucar é porque não serve para ser Escoteiro.

- Chefe Alessandro Benevides. Insígnia de Madeira. Dirige a Tropa pensando em ter um cargo maior. Sabe que merece. No grupo só ele possuem e mais ninguém. Já pensou em ir para outro grupo. Não foi por causa de sua filha que disse que se saísse nunca mais seria escoteira. É displicente nos programas. Vez ou outra faz algum curso, mas sente um peixe fora d’água com as sessões dadas pelos formadores. Acha que sabe tudo. Ele é quem devia estar ali dando palestras. Comparece em todas as reuniões do distrito e região. Faz amizades com todos, pois sabe que um dia terá que contar com cada um. Não valoriza muito seus monitores, sistema de patrulhas para ele é proforma, pois não acredita muito. Afinal em sua insígnia pouco se falou sobre isto.

Chefe Maria Eugênia Soares. Entrou por causa do filho. Ia todos os dias levá-lo e resolveu ser um deles. Inteligente aprendeu em pouco tempo a mística da jângal, seu desenvolvimento suas normas e crescimento conforme os projetos da UEB. Sabe bem sobre a mística. De assistente foi para Akelá onde atua. Não entende porque a Alcatéia não tem um numero considerável, pois sempre está com oito a doze lobos. A evasão não é grande, mas a procura é quase nenhuma. Participa das reuniões das chefes de lobinhos no distrito, mas as discussões nunca deram a ela as respostas que precisava. É bem vista entre os chefes. Educada nunca eleva sua voz. Sabe tratar a todos com educação e considera-se uma pessoa responsável com boa formação para educar jovens.

Chefe Portland Neto. Formação secundária. Não se considera bonito, mas sabe que seu sorriso destrói qualquer forma de superioridade por parte de outros. Tem uma ótima Tropa com quase vinte e oito jovens. Tem uma evasão menor que dois por cento ao ano. Trabalha com monitores. Deixa boa parte do programa nas mãos deles. Ensina como formar com um sorriso nos lábios, dá a eles seu chifre do Kudu e poder de formar para jogos, palestras, cerimonias e bandeiras. Sempre após a inspeção pede que um dos monitores faça nele uma inspeção também. Não anda abraçado, mas sabe dar um abraço e um sempre alerta que motiva a quem o recebe. Os pais são seus amigos. Sempre o convidam para um almoço, um lanche ou um passeio qualquer. Nunca foi humilde demais, sempre respeitou seus superiores sem badalar, lisonjear ou mesmo adular para ter seus favores.

                                Quem manda aqui? Quem tem o poder? Porque as pessoas buscam o poder? Dizem que o dinheiro não é tudo, no deserto, por exemplo, não serve para nada. Será porque muitos tem o sonho de mandar, de realizar, de comandar e receber elogios, promoções em forma de poder? Isto leva a valorizar mais as amizades, o lado social, os desafios de liderança, ascensão social? Ao contrário quais as vantagens de ser um educador? Somos felizes com nossas atividades de formação de jovens? Quando a semente que plantamos cai em solo fértil é motivo de orgulho? Será que como educadores nos transformamos ao mesmo tempo em fonte de conhecimento? Será que sem perceber nos transformamos ao mesmo temo em ponte e fonte do conhecimento para dar a ele uma razão de viver e ter um futuro melhor? Será que ajudamos o jovem ou a jovem a pensar e com despertamos sua consciência crítica do futuro cidadão para saber cumprir e exigir seus direitos? Fica o sentimento do amor fraternal e a certeza que em muitos corações seremos sempre lembrados.

                               Ter poder ou ser um educador? Grandes homens da história foram humildes sem ter a intenção de mandar. Mandela dizia que para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar. O educador nada mais é que alguém que ensina a fazer o bem, a mostrar o caminho do sucesso aos seus escoteiros e lobos. Nosso fundador Lord Baden-Powell deixou escrito o que achava sobre um Chefe Escoteiro: - “A tarefa do Chefe Escoteiro (que verdadeiramente é interessante) consiste em explorar o íntimo de cada jovem, descobrir a sua personalidade para então encontrar e desenvolver o que é bom, deixando o ruim de lado.” Baden-Powell.


Fim.

sábado, 12 de março de 2016

O belo do escotismo está em sua simplicidade.


Conversa ao pé do fogo.
O belo do escotismo está em sua simplicidade.

                     Façamos escotismo simples sem complicar. Pense comigo quanto tempo nós escotistas ficamos com nossos jovens? – Duas horas por semana? Três? Se somarmos as atividades ao ar livre, outras sociais ou prestação de serviços veremos que o tempo é muito pequeno para complicarmos demais nas atividades Escoteiras. É bom quando vemos a moçada sorrindo em uma atividade qualquer. Ian Hislops no seu vídeo sobre escotismo para rapazes no You Tube mostra o que precisamos para ver que a como o escotismo daquela época ainda tem seu lugar na época de hoje.  A descoberta da vida ao ar livre e de aventuras é a razão de ser das atividades escoteiras. Estamos hoje com uma preocupação pedagógica, planos bombásticos, cada um querendo descobrir o ovo de Colombo esquecendo que Baden-Powell já tinha descoberto e dado o caminho a seguir para o sucesso. Bastava uma pequena adaptação e não mudar tudo como fizeram.

                   Antes o feijão com arroz dava certo, mas aos poucos tivemos que modificar. Desenvolveu-se uma parafernália de cursos, visando aprimorar e qualificar o adulto voluntário. São centenas de novas ideias novas pedagógicas e planos miraculosos. Mas eu me pergunto. Será isso o essencial? Tantas informações, técnicas, pedagógicas, psicológicas para apenas duas ou três horas por semana. É necessário mesmo? Fico me perguntando se os três livros básicos de Baden-Powell não nos dá o verdadeiro sentido do escotismo e seu sucesso. Nos primórdios do escotismo BP sentiu que não poderia deixar os jovens ao “Deus dará”, sem ter pessoal qualificado para ajudá-los no seu novo sonho aventureiro. Nos bosques, matas via-se meninos a correrem como se estivessem fazendo tudo àquilo que leram nos fascículos que ele escrevia. Ansiavam aventuras. Viver na natureza. Fazer o que ele descreveu tão bem nos seus fascículos “Scout for Boys”, ou melhor, Escotismo para rapazes.

                           Para testar as habilidades e conhecimentos BP fez acontecer o primeiro acampamento Escoteiro em Browsea. As bases para deixá-los fazer fazendo foram assentadas. O tempo foi passando. Até alguns anos atrás tínhamos três cursos básicos para que o adulto pudesse adquirir conhecimentos técnicos até chegar a Insígnia de Madeira. Nestes cursos ele vivenciava a vida ao ar livre, os acampamentos, vida em equipe, e com isto o método e o programa foram mantidos na formula que BP acreditava. Aconteceu que muitos jovens começaram a abandonar o escotismo devido a sua nova apresentação que muitos adultos que desconheciam estas atividades passaram a utilizar para atraí-los. Não havia mais uma continuidade nas tropas de chefes advindo da própria tropa. Começou-se a criar uma estrutura burocrática que sem perceber dominou todo o movimento escoteiro. Os cursos foram alterados. Experiências e experiências foram feitas. Muitas sem esperar os resultados e implantadas como fato consumado.

                            Criou-se sem perceber uma oligarquia que decide em nome dos jovens. Acreditam que sabem o que o jovem quer. Criaram os “Jovens Lideres” cuja idade não corresponde as reais necessidades dos lobos escoteiros e seniores, o baluarte principal da formação escoteira. Estes sequer são ouvidos ou perguntados. Alienaram o jovem na sua vivência escoteira. É comum escotistas exaltarem seus feitos dizendo que a atividade foi linda! Que isto foi ótimo, que “meus” escoteiros adoraram. Esqueceram-se de perguntar aos interessados e muitas vezes até perguntaram, no entanto a maneira usada na pesquisa não deixa dúvida que o jovem vai dizer que gostou. A evasão chegou avassaladora. Para dar uma motivação criaram um novo uniforme, deixaram para trás a descoberta a aventura que era a principal motivação do escotismo. Tudo ficou difícil devido à burocracia que chegou para ficar.

                          São duas ou três horas por semana. Só. O que precisamos? Simples. Motivar a participação dos jovens espontaneamente, deixando que eles façam um escotismo de raiz, pois é isto que eles querem. Se temos jovens com outras escolhas eles são minoria. A grande maioria sonha em viver seu sonho aventureiro. Pensemos que em seu bairro ele tem sua turma, fazem seu próprio programa e vivem em harmonia por anos e anos. Porque complicamos então nas reuniões e nas atividades Escoteiras? O jovem na sede quer ver e sentir um escotismo que acreditou. Participar para lembrar-se de sua casa, de sua escola do professor que só fala que só ele sabe sem nunca perguntar se é isto que está valendo a pena é melhor não ficar e sair. Ninguem quer ficar em forma por mais de quinze minutos com alguém falando para ele, com alguém pegando em sua mão para ensinar, com Monitores brigões, com exigências descabidas, com ameaças gerais que costumam acontecer.

                         Esta parafernália de curso hoje não nos trouxe o sucesso esperado. Muitos deles com pequenas apostilas seriam o suficiente. Cursos vivenciando o Sistema de Patrulha, Técnicas Escoteiras, aprender a fazer fazendo, ouvindo, aprendendo a ser mais amigos dos seus jovens garanto que darão melhores resultados. Escotismo não tem segredo. Qualquer um que entenda os objetivos do método e do programa, do fazer fazendo, do Sistema de Patrulha vai sem nenhum problema atingir o sucesso esperado. Como disse um antigo Chefe de Campo de Gilwell Park John Thurman, existem fatores adversos que não nos dão a correta aplicação do método. O Escotismo é algo sério, contudo, uma das grandes coisas é a alegria de participar dele, isso serve tanto para os dirigentes como para os rapazes. Estamos a pensar somente em termos educacionais ou psicológicos e, enquanto fazemos isso, perdemos muito da nossa condição de "amadores". E sabemos que como amadores somos bons, mas como profissionais somos péssimos. Somos uma parte complementar na vida do rapaz; complementar na escola, dos pais, da igreja, e, mais tarde, do trabalho.

Sem dúvida, Baden-Powell tocou o dedo em algumas das mais formidáveis ideias e práticas que levam os rapazes a segui-las com entusiasmo, e nos métodos, e modo de manejar e guiar os rapazes. É por isso que devemos nos manter o mais possível dentro da simplicidade, da alegria e do entusiasmo que ele inspirou. – Os únicos capazes e possíveis de pôr o escotismo a perder são os próprios chefes e dirigentes. Se nos tornarmos arrogantes, complacentes e a nos fazermos passar por demasiado auto-suficientes, então - e apenas com essas coisas - poderemos arruinar o Movimento.


                      Precisamos repensar nossa maneira e nossas atitudes na aplicação do método Escoteiro. Sabemos que o mundo está mudando e podemos adaptar sem modificar o básico. O que está sendo realizado não está dando certo. Só não vê quem não quer. Muitos rapazes e moças estão saindo. Reclamam das atividades. Alguns se calam pelo autoritarismo do seu Chefe. O escotismo é dos jovens para os jovens. Quando acreditarmos que podemos ter sucesso no caminho a seguir, então o escotismo vai conseguir atingir o que dele todos nós esperamos. Bons cidadãos conscientes de suas responsabilidades na comunidade onde vivem.

quarta-feira, 9 de março de 2016

O palavrão.


Conversa ao pé do fogo.
O palavrão.

                      Não gosto. Não gosto mesmo. Se tiver quem goste fique a vontade para praguejar, mas longe de mim. Não critico. Na minha época de menino diziam que estávamos com a boca suja. Na minha família dificilmente alguém dizia um palavrão. E se por acaso dissessem podia esperar uma chamada de atenção e um pedido de desculpas. Lembro uma das minhas irmãs sobre um ex-namorado dela falou um palavrão. Foi um Deus nos acuda. Uma semana depois quando estávamos jantando ela pediu desculpas a todos. Quando Escoteiro era questão de honra na patrulha e na tropa não falar palavrão. Se fosse seguir a lei escoteira aí que palavrão seria proibido em qualquer lugar. Lembro que em um acampamento distrital de patrulhas uma delas não tinha papas na língua. Quando um chamava o outro logo vinha um palavrão. O cozinheiro coitado era xingando a torto e a direito. Dizem que nós adultos somos responsáveis pelos jovens falarem palavrão. Concordo. O jovem sem a gente perceber copia tudo que o adulto faz. Afinal somos exemplo no modo de agir e falar.

              Comentam que nos acampamentos nacionais, regionais e distritais, sejam os de aventuras ou Jamborees os palavrões andam soltos. Chefes rindo e dizendo os mais cabeludos palavrões. Não posso afirmar, pois não tenho participado deles. Dizem que hoje em dia entre os jovens isto é comum. Comum? Bem só se for para eles, pois para mim não. Assim como dou o respeito exijo ser respeitado. Outro dia um Escotista me disse que isto hoje é natural, pois todo mundo diz e fala. Para mim repito isto é falta de respeito e educação. Não sou obrigado a ouvir o que não quero. Isto é descumprir a lei escoteira em vários artigos. Para dizer a verdade nem piadas com palavrões eu gosto. Quando alguém começa a contar e vem um palavrão eu fecho a cara. Podem chamar-me de quadradão, Velho chato o escambal. Como pensar em um jovem ou uma jovem adquirir o “Espírito Escoteiro” falando palavrão? Afinal dizer por dizer que o Escoteiro é limpo de corpo e alma é fácil, mas ser limpo realmente é outra coisa.

              Dizem que um grande escritor já escreveu o dicionário do palavrão brasileiro. Teve até noite de autógrafos. Um herói para muitos. Para mim não. Herói é outra coisa. Herói é o que fala e escreve sobre o amor, do respeito, da ética, do caráter, do aperto de mão sincero, do sorriso verdadeiro e saber que ele tem honra e ética. Não me venham dizer que o palavrão é normal, pois não é. Já me disseram tantas coisas da modernidade que eu fico pensando se vale a pena ser moderno. Uma vez, há muitos anos visitei amigos que participavam de um grupo Escoteiro. Cheguei lá como sempre chego. Meu caqui querido, meu chapelão, barbeado, banho tomado, lenço bem dobrado, meião nos “trinques”, sapato engraxado e unhas aparadas. Queria mostrar meus respeitos com os jovens que ali estavam. Jogavam futebol. Meu Deus! Quanto palavrão! O Chefe ria a vontade. Olhei para ele sério – Você acha graça? Isto é escotismo para você? Futebol? Palavrões? Dizer o que? Primeiro futebol qualquer Escoteiro joga a semana toda em sua escola, na rua em qualquer lugar. Nas reuniões de tropa é falta de programa é falta de conhecimento de bons jogos, e os palavrões? Caramba! Que mau exemplo.

             Esta semana vi um artigo de uma jovem mãe cujo nome não me lembro. Adorei o que ela escreveu. Fez-me ver que não estou sozinho nesta cruzada. Disse ela:
- Outro dia li uma nota em uma coluna e contava que a quadra de tênis de um condomínio na Barra tinha sido interditada não por problemas de estrutura, obras nem nada, mas pela falta de educação dos frequentadores. De tão desbocados, eles – crianças, adolescente, jovens – começaram a incomodar tanto os vizinhos à quadra que o jeito foi fechá-la. Já tem um tempo que venho observando isso e me impressionado. Gente é meu ouvido que está ficando velho e chato ou as crianças andam desbocadas demais? Vejo crianças de sete, oito, dez anos falando palavrões que eu só fui falar na vida adulta e ainda assim me arrependo de ter adquirido esse hábito pouco fino. Tenho amigos que falam palavrões com os filhos normalmente e isso me faz lembrar-se do quão desbocado era meu pai. Só que meu pai nunca dirigiu um palavrão a mim ou a minha irmã e jamais admitiu que falássemos. Às vezes me sinto incomodada em locais públicos, como a praia ou o saguão de um cinema, em que adultos falam palavrões aos berros, sem a menor cerimônia, como se não houvesse crianças em volta. 

               - Continua ela: - Aí outro dia ouvi uma psicóloga que tem coluna numa rádio de notícias dizer que isso tem a ver com o código de cada família e que os pais podem conversar com os filhos e estabelecer as próprias regras, tipo esse palavrão pode, esse não pode. Sei lá, achei isso meio complicado e, considerando que uma hora não se tem mais controle sobre o vocabulário dos filhos mesmo, acho mais prático proibir enquanto crianças e adolescentes e estabelecer o limite do tolerável quando jovens e adultos. Mas que não quero ver minha filha na pracinha ou no play xingando os amigos ou berrando palavrões a esmo, ah, não quero mesmo.


                      Bem pensado bem falado e bem escrito. Continuo não aceitando palavrões principalmente no escotismo. Bolas, que escotismo é esse que está cheio de palavrões? Bah! Quer falta de respeito. Não me convidem para nada onde eu possa ouvir um palavrão. Quer saber? Participei de centenas de Fogo do Conselho. Se um esquete ou algum participante falava um palavrão, esperava acabar e o chamava em particular. – Mas chefe! Não viu como eles riram? Diziam. Pode ser. Mas eu não ri. E se você considera que é um Escoteiro puro nos seus pensamentos nas suas palavras e nas suas ações, tenho certeza que nunca mais irá falar um palavrão!

domingo, 6 de março de 2016

Mitos, lendas verdades e inverdades do Uniforme Escoteiro.


Conversa ao pé do fogo.
Mitos, lendas verdades e inverdades do Uniforme Escoteiro.

           Convenhamos que eu não seja um estudioso das tradições do uniforme Escoteiro brasileiro. Sei apenas o que vi e vivi com ele nestes últimos 67 anos de escotismo. Não vou dar um testemunho como foi em todo Brasil, para mim impossível, mas posso falar mais na minha área de atuação. Não é aqui que vou discordar das escolhas de cada um. Sei que nosso uniforme ainda levanta duvidas e hoje muitos que fazem parte da nova geração acreditam que o presente nada tem a ver com o passado. Tenho dito em todos os lugares aonde vou e mesmo em meus parcos escritos que é difícil analisar uma era sem ter nela pisado com seus pés e sentido o calor do chão de terra. Os novos eruditos que se arvoraram em donos da verdade, muitos deles sequer conheceu o passado a não ser por escritos fazem hoje de suas belas palavras uma verdade que acreditam ser intocável. Não sei. Não quero polemizar. Já me disseram que isto não leva a nada. Meus comentários ficarão restritos ao uniforme básico. Os do mar e do ar quase não sofreram mutação e até hoje se mantem no tradicional quando foram criados.

           Uma vez em um curso da Insígnia de Madeira que participava O Chefe meu amigo e antigo mineiro já falecido, Doutor Francisco Floriano de Paula contou como foi à uniformização em Minas Gerais durante os primórdios do escotismo. Disse que no inicio do escotismo o uniforme foi o mesmo usado na Inglaterra. Uma espécie de caqui cinza com meiões pretos. Com o passar do tempo surgiu à calça azul com camisa caqui e assim permaneceu por muitos anos. Parece que a partir do final da década de 40, o caqui começou a se expandir por vários estados. Entre a década de quarenta e cinquenta o governo mineiro querendo uma expansão rápida do escotismo nomeou sargentos cabos e soldados para organizarem Grupos Escoteiros em todas as cidades mineiras. A falta de adestramento e literatura além de acompanhamento profissional fez do escotismo um pseudo militarismo. Os uniformes surgiram a bel prazer. Se no sul e no norte não foi assim fica o dito pelo não dito. Quando entrei para o movimento em 1947 os lobos usavam o azulão com o boné conhecido, mas feito à mão pelas mães dos lobos. Os Escoteiros já usavam o caqui curto, chapéu de abas largas e nunca se via adultos trajando calça comprida. Era uma tradição, pois BP nunca usou o uniforme com calça comprida. Sei que em vários estados ou cidades alguns grupos fizeram adaptações que não eram normativas. Assim apareceu o verde e cores parecidas com o caqui.

             O caqui, portanto era considerado o uniforme oficial dos Escoteiros da modalidade básica no Brasil. Em 1969 muitos adultos já forçavam o uso da calça comprida. Discutiam que em cada estado devia haver uma abertura e varias ideias começaram a ser discutidas. Cada um defendendo sua posição, o estilo de vida na comunidade e a temperatura ambiente. A busca de um novo uniforme levou a aprovação do Uniforme Social que depois foi chamado de traje. A explicação era que precisávamos de um uniforme mais palatável quando em atividades sociais e burguesas. Assim em 1975 formalizou-se o uniforme Social. O Chefe Darcy Malta Escoteiro Chefe na época, explicou em linhas gerais como ele deveria ser visto e apresentado.

             Para que os adultos levassem a sério o novo Uniforme Social, vamos chamá-lo de traje, a UEB enviou a todos os Grupos Escoteiros do Brasil um ofício via correio explicando como ele seria confeccionado, quais as ocasiões para o uso e juntou-se um desenho e pasmem-se: - um pedaço do pano tanto da camisa como da calça comprida. A confecção seria por conta de cada um. Havia a preocupação da uniformização sem mudanças ou alterações. O Tergal ou linho era regra geral. Para maior formalidade foi dado à possibilidade do uso do paletó e gravata. Que eu saiba uma minoria adotou este último que logo foi esquecido. No POR se sacramentou as normas e uso. Era função do dirigente de uma atividade determinar qual uniforme a ser usado. O POR em um dos seus artigos dizia: - Nas atividades escoteiras os chefes deviam usar o tradicional, ou seja, o caqui. Eu mesmo dirigi vários cursos onde se exigia ou o traje ou o caqui. Em vários avançados da Insígnia da Madeira que fui o diretor pedia sempre os dois uniformes. Cada dia usávamos um ou outro. O intuito era não só formalizar, mas mostrar que a uniformização deveria ser ponto de honra para nós Escoteiros. A aparência e a igualdade não poderia perder o garbo. Interessante que sem a tecnologia de hoje, a disciplina era irreversível. Poucos destoavam e obedeciam sem discutir.

          A partir do meio da década de oitenta muitos adultos e seniores passaram a usar o azul mescla com calças jeans desvirtuando o sentido da aprovação do traje no passado. Não esquecer que por volta de 1984/85 foi formalizado o escotismo feminino no Brasil e um novo uniforme foi acrescentado para elas. Isto depois foi esquecido e cada sessão feminina decidia pelo traje ou o caqui. A UEB nas diversas épocas subsequentes sempre alterava um ou outro item. Isto se banalizou completamente o sentido do uniforme SOCIAL. Cada grupo podia escolher o que seus participantes gostariam de usar. O próprio chapéu foi escamoteado abrindo a possiblidade do uso de bonés e outras coberturas. Lembramos que a própria UEB em sua loja vende um tipo de cobertura feita de brim ou similar e esta se espalhou por vários Grupos Escoteiros como uma chama. É comum ver o Chefe com ele e os jovens sem nenhum. Finalmente no final da década de noventa bastava portar o lenço com uma camiseta e se considerava uniformizado. A própria UEB foi quem criou esta Torre de Babel com o traje Escoteiro. Hoje se arvoram em dono da verdade e impuseram um novo uniforme a quem chamam de vestimenta.

          Com a participação em jamborees e atividades internacionais copiou-se o lenço preso nas pontas dando uma nova conotação da liberdade individual e apresentação moderna. Na nova vestimenta ficou a critério de cada um escolher como vestir e esqueceram-se da uniformidade. Nosso marketing deixou a desejar. Hoje cada um escolhe se quer a camisa solta ou não. Meiões ou não. Calça curta ou comprida. Lenço bem colocado no pescoço ou solto. Se isto vai dar nova visibilidade ao escotismo brasileiro vamos aguardar. Comparar o ontem com o hoje não é fácil. Era uma época que tínhamos o maior respeito com nosso uniforme. Nenhum novato poderia colocar peças antes da promessa. Todos faziam questão de estarem bem uniformizados e bem apresentados. Era uma questão de honra. Ninguém saia de casa sem ele. Impossível pensar em vestir na sede, pois o orgulho fazia parte de qualquer Escoteiro.


               Não sou partidário destas escolhas e muito menos da maneira de apresentação de muitos com a nova vestimenta. Sou um saudosista criticado por ser exigente na apresentação. Errado ou não havia um certo orgulho quando saímos em desfile ou se apresentando em atividades sociais. Se o hoje for considerado moderno, não tenho contra argumentos a não ser cobrar os resultados destas modificações. Só o futuro dirá.