Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Qual disciplina deseja quem reclama da indisciplina?



Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Qual disciplina deseja quem reclama da indisciplina?

                    Um tema que está tornando-se moda em educação é a indisciplina. Ao afirmarmos isso, não desejamos dizer que não ocorra no escotismo e que os protestos dos chefes e pais não tenham sido sem razão. A questão da indisciplina é sempre assunto que preocupa e, nos dias de hoje, ainda mais, pois assume a perfídia em situações inesperadas ou avança para registros policiais quando não evolui para a violência. Há alguns anos atrás recebi a visita do "Chefe" Escoteiro Marcelo. – Chefe dizia ele, eu tomei algumas decisões na tropa e não sei se agi corretamente. Tenho um Monitor de Patrulha que tem trazido alguns transtornos. Já conversamos em particular, fui a sua casa varias vezes e até mesmo seus pais reclamam da sua maneira de agir. Vi depois de algumas conversas que ele sempre foi perdoado em todos os erros que cometeu. Sempre foi compreendido e nunca repreendido como devia. Resolvi agir de forma diferente.

                   No último acampamento chamei a Patrulha e disse – Todos vocês foram devidamente preparados. Cada Patrulha é livre para tomar decisões que interessam a todos. Nos últimos acampamentos vocês não se saíram bem e espero que neste possam pelo menos conseguir o totem de eficiência de campo. Conto com vocês. No entanto a noite uma chuvinha fria pegou todos de surpresa. Chamei os monitores e disse que ficariam suspensas as atividades da noite e que eles fizessem uma conversa ao pé do fogo em seus toldos com suas respectivas mesas onde estariam abrigados da chuva. Todos fizeram isso, vi inclusive de longe muitas patrulhas se preparando para a noite e inclusive colocando a lenha em local próprio para o dia seguinte. Na Patrulha do Marcinho não. Lá eram risadas, piadas e vi que a Patrulha não podia continuar assim.

               No dia seguinte com o toque da alvorada com meu chifre do Kudu, a fumaça correu nos campos de patrulhas menos na do Marcinho. Dito e feito. Hora da inspeção todos formados. A do Marcinho não. Não conseguiram acender o fogo e não tiveram café e nem leite quente. Desculpa? Lenha molhada. Era norma não deixarem lanchar sem a bebida quente. Ficaram sem o café da manhã e o almoço deles só saiu às três da tarde. Não participaram do programa de jogos na Lagoa do Jacaré.

                      A Corte de Honra resolveu puni-los. Marcinho reclamou. Se o tirassem do cargo ele sairia dos escoteiros. Uma ameaça ou uma chantagem? – Não tinha certeza. Nunca aceitei este tipo de coisa. Disse que iria pensar na punição e daria uma resposta na próxima reunião. Chamei a Patrulha e expliquei que a corte ia suspender o Marcinho. Todos sorriram. Sinal que não gostavam dele. Coloquei o tema em discussão entre eles. Resolveram fazer nova eleição. Foi escolhido o menor Escoteiro da tropa. O Pedrinho. Pequeno, raquítico. Fala mansa. Engano. Pedrinho colocou Marcinho na linha. Em pouco tempo a Patrulha se transformou. Chefe Marcelo disse-me também que no sábado anterior mandou de volta dois jovens que chegaram a sede uniformizados e ainda não tinham feito promessa. A norma na tropa era de vestir o uniforme só no dia que fizessem sua promessa. Isto sempre foi feito e o garbo e a boa ordem sempre foi orgulho da tropa. Um deles me perguntou se tirassem o uniforme podiam voltar. Não. Não podem. Só na próxima.

                    O "Chefe" Escoteiro Marcelo ficou ali me contando diversas outras passagens interessantes em sua tropa. Fiquei pensando dos meus dias de "Chefe" Escoteiro e os meninos de outrora. Uma disciplina diferente. Nunca tive esse problema. Hoje isso não acontece. Vejo jovens que pecam pela indisciplina e alguns acham que ela inexiste. Poucos sentem que o castigo ou a penitencia não deve ser utilizada por nós. Castigo e penitencia no bom sentido. Nada de violência. Alguns dizem que deveríamos ter um conceito mais amável, como por exemplo, utilizar a relação de afeto e respeito, uma ação onde haja reciprocidade aceitando que alguns erros são próprios da juventude.

                      São conceitos que hoje me sinto em dificuldade, ou melhor, sem sintonia para agir como agia no passado. No entanto acredito que devemos a todo custo manter a disciplina nas sessões, baseadas no respeito mútuo. Quando me dizem que ordem unida não faz parte mais do escotismo fico pensando o porquê alguns insistem em misturar ordem unida com militarismo. Os jovens na tropa ou na Alcateia têm de ter respeito nas formaturas. Tem de saber se formar e o melhor é ensinar as bases primordiais em uma apresentação que pode até parecer militar, mas na minha modesta opinião faz parte inicial da disciplina que se pretende dar a uma sessão Escoteira.

                          Quando os chefes de uma sessão sentam-se com seus jovens e desconstroem e sabem reconstruir com uma boa discussão e fazendo ver a plenitude do significado e dos tipos de disciplina, não apenas a reunião corre mais facilmente e a aprendizagem se concretiza de maneira mais saborosa como escoteiros/lobinhos e os chefes descobrem que, reconhecendo a disciplina como ferramenta essencial às relações interpessoais, aprendem autonomia, exercitam a firmeza e conseguem, com mais dignidade, construir o caráter.


                        A simples ação de um Escoteiro ao pegar um papel de bala jogado no pátio ou na rua, já demonstra que no Grupo Escoteiro de origem se pratica uma disciplina Escoteira que merece o meu e todo nosso aplauso. Continuarei o tema em um próximo artigo. 

domingo, 21 de agosto de 2016

O caminho da felicidade é o salário do Chefe Escoteiro.


Conversa ao pé do fogo.
O caminho da felicidade é o salário do Chefe Escoteiro.

O céu estremece. A terra balança.
E num sorriso de criança; Ainda existe a esperança
de sermos felizes!


                       Terminou a reunião. Alguém vai procurar você. – Chefe, por favor, assine aqui. Assinou sem ler? - Eram os seus proventos. Você está sendo regiamente pago. Um ótimo salário. Poucos te invejam, entretanto. Eles não sabem o valor do seu salário. Sua assinatura foi feita com as pupilas dos seus olhos. Não tem canetas, lápis, nada. Ali estavam espalhados pelo pátio, centenas de milhões de reais, ou melhor, centenas de milhões de felicidade. Este é o nome dos seus proventos. Seu holerite tinha forma de estrela brilhante com poucas coisas escritas. Ali estava os olhinhos do Lobo Feliz, da Lobinha que pensava primeiro nos outros. Ah! Lá está também a face faceira do Escoteiro. Da Escoteira cortês. Sem falar no Sênior que aprendeu o que é honra. Da Guia que se orgulha em ser leal. Chiii! Eram muitos os escritos nos seus proventos, no seu holerite.

                       Um dia convidaram você. Seja um voluntário escoteiro. Quanto pagam? - Você perguntou. Muito! Vais ter o maior salário do mundo. Sem muito esforço pessoal. Apenas dedicar parte do seu tempo para complementar sua renda familiar. Coisa pouca. Coisa de milhões! Terás aborrecimento sim, terás tristezas também. Poderá até ficar doente pelas intempéries do tempo. Mas quando receber e ler o que ganhou no seu holerite Escoteiro vai ficar orgulhoso. Nenhum astro, nenhum cantor, nenhum alto membro da comunidade científica, nenhum político terão a oportunidade de receber o tanto do que irás receber. Eles nunca farão o que você faz. Eles nunca poderão julgar sua vitória para ter direito a este enorme salário. Eles não sabem o que é isto.

                    Vais ter sim que ser um deles para justificar sua paga. Vais ser sem dúvida um professor. Ensinar muito. Quem sabe um astro também, pois terás de jogar com eles em todos os momentos. Claro vais ser um religioso. Terás de entender a espiritualidade de cada um e ajudar na vida pessoal de todos. Terás que mostrar o valor de Deus, da natureza, das florestas, dos rios e oceanos. Irá com eles inventar coisas maravilhosas que poderão deixar para trás os maiores cientistas da humanidade. Irás cantar como nunca cantou em sua vida. Vais ter que saber politica para resolver os problemas que irão aparecer. E serão muitos. E claro, irás ser um Chefe, um líder, um sargento ou até um general, mas diferente. Usarás como arma o seu coração.

                      Irás viajar com eles por longas terras, irás fazer longas jornadas e sabe, vai se maravilhar quando os ver sorrir pela primeira vez. Ai começa o seus proventos. Vais lembrar-se daquele poeta que dizia: - Da bravura dos grandes nasce à glória. Do sorriso das crianças a felicidade. Do olhar dos inocentes a certeza da esperança. De suas mãos a construção do futuro e assim você pode continuar a sonhar... Com os pés no chão. Lembre-se da lei do retorno, pois não haverá consideração com seus erros. Mas lembre-se que saber perdoar é importante para que outros perdoem você também. Irás tirar do próprio bolso para ajudar, suas horas de lazer e alegria serão outras. Muito mais difíceis, mas muito superior a tudo que fizeste. Não é só diversão. Agora tem um propósito.

                     A sua volta muitos o olharão com desconfiança até que irá chegar o dia do seu salário. A cada ano irás receber seu décimo terceiro salário. Isto quando um deles estampar em suas fardas as conquistas que você ajudou-os a receber. Dizem que a cada década você terá um prêmio extra. Um dia vai vê-los entrando na sociedade, homens feitos alegres, com altivez não exagerada, mas que olharão para você e o verão como um dos responsáveis pela formação de suas vidas. A cada aperto de mão, a cada Melhor Possível ou Sempre Alerta seus bolsos ficaram mais avolumados com os aumentos dos proventos que virão. A cada volta de um acantonamento ou acampamento verás pilhas de sorrisos financeiros aos seus pés.


                     Não será fácil seu trabalho. Irás enfrentar relâmpago e tempestades. Pais insatisfeitos, amigos de farda com críticas, trabalho extra e adicional noturno acrescido de alta periculosidade pelas intempéries da vida, e até quem sabe com pagamentos atrasados. Foram sorrisos tardios. Mas no fim, seus proventos serão enormes. Horas sem dormir. Horas de correria. Atender a todos sem olhar a quem. E quando chegar ao final da jornada, na hora de receber, vai dizer – Valeu a pena. Valeu sim. Olhar a volta e ver sorrisos em profusão. Sorrisos de crianças. Os mais lindos sorrisos que existem na face da terra. E eles, os sorrisos serão sim, o maior valor dos seus proventos. Enormes, e a cada um mais você ficará mais rico. Uma grande soma no Banco da Felicidade. E pode sacar quando quiser. Com cheque ou não. Ele está lá armazenado. Um bilhão de felicidade.  Para você. Pois foi você quem o fez por merecer o sorriso de uma criança. E não foi ele, o seu chefão quem disse que a verdadeira felicidade é fazer a felicidade dos outros?       

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Escotismo é só para ricos?


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Escotismo é só para ricos?
                                                                                   
                              Não. Escotismo é para todos. Seja rico, remediado ou pobre. O método Escoteiro que BP nos deixou não diz que somente ricos podem ser escoteiros. Por outro lado estamos vendo  que os mais humildes e sem condições financeiras não podem mais fazer escotismo. Quando BP assentou as bases do movimento escoteiro, ele nasceu entre meninos pobres e, se economicamente os rapazes melhoraram desde então, ainda existem rapazes tão pobres como naquela época que precisam do Escotismo. Pensando em termos atuais os gastos com atividades distritais, regionais ou nacionais, uniformes, sede Escoteira, material de Patrulha, pagamento de taxas e mensalidades não podem ser absorvido por esta grande massa que quer fazer escotismo bom e saudável. É quase impossível jovens de famílias humildes estarem presentes nestas atividades. Tem taxa para tudo. No grupo, na Região e na UEB. Sei que a Direção nacional isenta alguns que não podem pagar. Para isto tem de provar que é pobre. TEM DE PROVAR! A palavra do Escoteiro aqui não tem valor.

                      Eu tive a oportunidade de participar de diversos grupos escoteiros, onde as condições financeiras eram de jovens remediados e pobres. Eu sei que é possivel fazer um bom escotismo nas classes menos favorecidas. Para isto deve-se esquecer a existência dos órgãos regionais e nacionais. Mas isto é possivel? Acho que não. Podemos até ter uma sessão autônoma sem vínculos com as associações, mas penso que se não houver um cordão umbilical teremos grandes dificuldades em prosseguir. Não importa qual associação se pertença o que importa é se o trabalho que fazem facilita  participação dos mais humildes. A maioria dos Grupos por erros de fundação não tem a colaboração dos pais e da comunidade. Muitos quando recebem os jovens não tiveram a orientação adequada para fazer dos pais os verdadeiros responsáveis pelo Grupo Escoteiro. Muitas vezes sonharam em ser grandes antes do tempo, e viram que depois nem as autoridades locais e nem os pais deram o retorno esperado.

        É muito comum dirigentes de grupos ficarem reclamando das dificuldades que passam e não tem a noção de como resolver tal situação. Não sei se temos cursos gratuitos para ensinar aos lideres de grupo como fazer e como realizar atividades visando conseguir meios financeiros para a manutenção do Grupo Escoteiro. Cada Grupo se torna uma entidade autônoma e o auxílio que precisa de bons profissionais fornecidos pelas regiões ou pela própria nacional não existe. O marketing que todos sabem ser o melhor meio para a subsistência também é nulo.

         Vemos com tristeza que os grupos novos que surgem não tem orientação adequada e quando o futuro não é venturoso não sabem como resolver. Um bom distrito poderia resolver, mas quantos bons distritos temos no país? O distrito hoje é uma falácia, pois também precisa de uma estrutura financeira e não a possui. Cobrar dos Grupos? Ora se a região e nacional cobra é dificultar mais ainda a sobrevida dos Grupos Escoteiros. A própria vestimenta é sempre aconselhada em detrimento do uniforme mais barato e é vendida por um preço que nem sempre todos podem pagar. Qualquer um sabe que a confecção do uniforme é menos da metade do preço de uma vestimenta. Mas que aconselha? Muitos grupos são extintos porque a maneira de mantê-los é por demais onerosa. Afinal o Movimento Escoteiro é a única organização onde os voluntários pagam para ajudar. Afinal o que significa o termo voluntário?

           As taxas para participação em Jamborees, em Aventuras Escoteiras que muitas regiões fazem ou mesmo em pequenos acampamentos distritais nem sempre estão a favor dos meninos e meninas mais humildes. Calculem as taxas de cursos para aprimorar seus conhecimentos. Calcule quanto custa ter uma boa biblioteca escoteira individual. Não se esqueçam das atividades internas do grupo Escoteiro. Pensem quanto custa o material necessário que uma Alcatéia, tropas Escoteiras e seniores e os Clãs pioneiros devem ter. Sem considerar a manutenção também dos chefes e dirigentes do Grupo Escoteiro. Se no passado fazíamos um escotismo mais autêntico e mais modesto, hoje não. A estrutura de um evento nacional é enorme. Se antes os dirigentes trabalhavam visando cobrar a menor taxa e muitas vezes até gratuita hoje tudo mudou.

            Se observarem bem, nestas atividades poucos são os grupos que comparecem com todo seu efetivo. A maioria não vai por falta de condições financeiras. Seria este um bom exemplo para dizermos que somos uma grande fraternidade? Seria possivel dizer que temos o Velho lema de um por todos, todos por um? Qual o trabalho que está sendo desenvolvido pelos nossos lideres nacionais para facilitar a presença de todos nas atividades programadas? Nota-se que os dirigentes regionais e nacionais primam em fazer planos, cumprir metas e nunca em ajudar a quem realmente precisa. Suas lojas sempre abarrotadas de materiais com preços não acessíveis para a maioria dos participantes do escotismo tem toda a parafernália para pagamentos. Uma vez por ingenuidade procurei saber quanto foi o lucro dos dois últimos Jamborees nacionais e de algumas Aventuras Seniores entre outras atividades realizadas. Os defensores pipocaram, mas ninguém me mostrou o balancete da atividade. Existe até uma sobretaxa para quem vai a alguma atividade internacional e paga em dólares. Hoje o que importa é o lucro. Se até mesmo o Chefe que vai a uma atividades destas para ser staff paga para trabalhar dizer mais o que?

               Qualquer um sabe que temos uma grande maioria de Grupos Escoteiros com mensalidade de dez ou vinte reais por mês e poucos pagam. Não vou comentar os mais estruturados que tem uma boa organização financeira. Eles são minoria. Os que nada tem lutam com dificuldade para conseguir uma barraca, uma panela, um facão e outros materiais necessários para um simples acampamento e sempre doadas por familiares dos escoteiros. Sei de muitos que guardam em suas casas o pouco que tem para não serem roubados ou vítimas de acidentes temporais. Se nos primórdios o escotismo foi feito para ajudar os mais pobres no seu desenvolvimento intelectual, moral e espiritual hoje isto não mais acontece. Criticas nem sempre são bem recebidas. Paciência. Se fiz escotismo sem ser rico, sempre acreditei que todos podem fazer. Isto compete aos nossos dirigentes. São eles que podem aprimorar suas arrecadações em prol de um bom escotismo e não ostentar uma riqueza que não é benéfica.


Portanto meus amigos fazer escotismo no Brasil hoje queira ou não é só para ricos. Quem sabe no próximo artigo possa fazer uma resenha de como fazer escotismo para pobres! Será que teria apoio das Regiões e da Nacional?

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Um tributo a Walter Dohme, um Chefe inesquecível.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Quando a realidade supera a lenda.
Um tributo a Walter Dohme, um Chefe inesquecível.

               Quando foi mesmo? Década de oitenta? Isto mesmo. Recém-chegado a São Paulo, não muito bem recebido pelos adestradores antigos. Mineiro metido a “besta” lá estava eu insistindo para participar da Equipe. Não foi fácil abrir caminho entre os donos do poder. Escrevi diretamente ao Diretor Nacional de Adestramento solicitando autorização para um CAB. A região na época não me deu bola. Alegria, alegria. Um mês depois recebi a autorização pelo correio. Foi meu primeiro curso em São Paulo no Campo Escola do Jaraguá. Quantos? Menos de vinte alunos. O caminho tinha sido aberto. Logo depois um novo regional assume, me convida para Assistente de Adestramento Regional. Um susto nos antigos. Convite foi feito aos “montões” aos adestradores paulistas para entrosarmos, falar o que melhorar aumentar os cursos no estado.
                 
                 Quantos aceitaram? Uns gatos pingados. Lá estava o Elmer e o Walter Dohme. Com eles e alguns outros a bandeira subiu não sei quantas vezes no Campo Escola do Jaraguá. Elmer está aí até hoje mostrando sua raça, seu estilo de Escoteiro seguidor da Lei, e em tempo algum deixou de colaborar. Walter Dohme um baluarte. Juntos atuamos em dezenas de cursos. Não tinha hora e nem lugar para negar fogo. Cedo de pé a preparar sua unidade didática, e isto ia até a noite na hora de recolher. Comecei a admirar aquele Chefe Escoteiro pelo seu porte, pela sua fidalguia, pela sua apresentação com seu uniforme, pois a qualquer hora lá estava ele de calças curtas, mostrando seu orgulho em ser um Escoteiro para que os outros pudessem ver que não havia hora e nem lugar para estar devidamente uniformizado.

                 Alguns anos se passaram. Ele e eu nos tornamos amigos. Se precisasse era só telefonar e ele não negava fogo. Um conhecimento Escoteiro incrível. Aqueles que um dia foram meninos escoteiros sabem o seu caminho a seguir. Não precisamos mostrar o caminho a evitar. Sabem escolher a água boa e o saltem o obstáculo. Um belo dia me dispensaram de membro da equipe. Parei de atuar no Estado de São Paulo. Uma decepção e ainda dizem que somos um movimento fraterno e irmãos escoteiros para sempre. Interessante que recebi de um conterrâneo mineiro uma cartinha pedindo para devolver meu certificado de Membro da Equipe, meu lenço e coisa e tal. Fingi de morto para não ser mal educado. O tempo passou vez ou outra chamado a colaborar com a região sendo a que me deu maior trabalho foi ser Interventor no Grupo Escoteiro São Paulo um dos mais antigos do Brasil.

                    São memorias que quero esquecer e só lembrar para me servir de exemplo em algum futuro se isto aconteça novamente. Eis que vez ou outra topava com Walter Dohme. Guardava dele as melhores recordações. E foi aqui no Orkut e no Facebook que trocávamos figurinhas quase todos os dias. Admirava seu trabalho sua força suas esperanças através dos seus desenhos e charges e da principal personagem que criou o “Alertino”. Ficou para a história. Daqui a cem duzentos mil anos “Alertino” sempre será lembrado. Adorava quando ele postava com aquele seu estilo próprio, onde dava vida ao “Alertino” e suas tiradas magnificas para a posteridade escoteira.

                     Walter Dohme se foi. Hoje mora em alguma estrela brilhante no universo. Não fui ao seu passamento. Foi um dia atípico das minhas crises pulmonares. Nem mesmo escrevi em sua página nenhuma lembrança da dor que senti ao saber de sua viagem, ou melhor, ao retorno de seu destino. Acordei hoje com sua imagem em meu pensamento. Parecia ouvir sua voz, seu sorriso gostoso, e a dizer: - E aí chefinho, quando sai outro curso para darmos juntos? Sei que teve outros escotistas que privaram mais da sua amizade pessoal e eu não fui um deles. Preferi ficar calado e não dizer nada. Estamos vendo muitos partindo para cumprir suas metas traçadas no alvorecer de um tempo que nem sabemos medir. Amanhã irão outros e claro eu também.

                      Não sei se nos encontraremos novamente quando chegar minha hora de partir. Nem sei se lá onde ele está recebe visitas de pseudo escritores que pouco escreveu sobre ele. Passamos muitas noites juntos no Campo Escola e fora de lá quase nunca. Não existe maneira de fugir do nosso destino. Hoje aqui, amanhã lá e a volta pode acontecer sempre que Ele achar que vai haver retorno. Tem amizades que fazemos que não nos deram a oportunidade de uma aproximação maior. Dizer da dor de seus familiares é impossível descrever. Ser solidário depois de tanto tempo nem sei se vai adiantar. São tantos “causos” agora no ocaso de uma vida que se foi que até é difícil contar. Saudades sim, e isto todos aqueles que tiveram a honra de usufruir de sua amizade também têm.


                         Não há historias que não ficam para sempre presas em nosso coração. Não há registro a fazer para aqueles que se foram pelas mãos do criador. Mas nunca esqueci o seu sorriso, a sua chegada ao campo escola, a sua vontade em ajudar e isto me marcou para sempre. Nada mais a dizer. Ainda sou um pária, ou melhor, um esquecido de amizades que não poderia perder. Ainda vou voltar aqui na terra muitas vezes. Aprender a ser mais solidário, aprender a abraçar mais amiúde. É... Eu tenho ainda muito que aprender e pelo menos Walter Dohme me deixou um legado, aquele que honrou seu sexto artigo da lei, pois o Escoteiro é amigo de todos e dos demais escoteiros!

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Oba! Oba! Aconteceu... Chefe Osvaldo foi ao Jamboree do Brasil.


Oba! Oba! Aconteceu...
Chefe Osvaldo foi ao Jamboree do Brasil.

        Beleza! Avistei do alto do morro a entrada do Jamboree. Sorri de orelha a orelha. Quanto tempo eim? Pensei. É, fazia tempo que não ia em uma atividade assim. Já estava “aperreado” de tanto ficar em casa. Precisava escoteirar, andar por aí, abraçar alguém dizer Sempre Alerta, Melhor Possivel ou Servir. Sempre recebi muitos convites, mas sempre num cantinho estava escrito: - Taxa 20 paus. Pagando com antecedência 15 paus. Como um Velho duro e aposentado como eu podia ir? De graça? E o Chefe na portaria me cobrando? – Pendure meu amigo. O Chefe tá duro! Valha-me Deus. Estava mesmo difícil fazer escotismo hoje em dia. Sem tostão sua vida escoteira não vale um vintém. Mas vamos voltar a minha chegada ao Jamboree. Eu sabia que seria fantástico. Impossível imaginar quanta gente presente. Quem sabe encontraria amigos meus que fiz e nunca vi pessoalmente? Garbosamente marchei na trilha que me levava à entrada do campo. – Cantarolava uma velha canção do passado: ♫♫♫Onde vais tu, oh Escoteiro, com teu bastão lesto a marchar! Candência certa passo certeiro, aonde vais tu a acampar?

         Era ônibus, caminhão, automóveis e vi muitos helicópteros sobrevoando. Escoteiro rico é outra coisa. Nada como enricar, pensei. Duas patrulhas de jovens lindas da Suécia passou sorrindo. Deram-me um tchauzinho. Beleza! Escoteirada bonita, alegre cheia de espírito de B-P para acampar. No portão fui entrando seguindo a turma que chegava rumo ao local de campo. Meu caqui estava soberbo. Bem passado, botões abotoados. Lenço de Insígnia bem dobrado, nem Dom Casmurro na sua gravata soberba se comparava ao meu lenço bem colocado. Minha botina preta brilhava. Só de raiva coloquei minhas jarreteiras verde e amarela. Pensei em colocar meu distintivo de Primeira classe e meus cordões de eficiência. Não podia, Chefe não usa.  Não faltou meu penacho verde e amarelo de Chefe de grupo. Chefe de Grupo? Boa Vado escoteiro, isto não existe mais. Agora é Diretor Técnico. Puxa! Nome pomposo, garboso supimpa! – A minha mochila verde garrafa do exército Inglês ainda estava no ponto. Minha faca John Rambo à direita, minha machadinha Mundial fazia jus a sua fama. Meu cantil Guepardo Western da última guerra estava cheio. Não levei nele água, levei o puro uísque Chivas 18 anos. Afinal água se achava em qualquer lugar, uísque não.

           Marchando soberbamente na entrada do campo eu ia junto a uma patrulha escocesa, todos tinindo de uniformização com seus saiotes Kilt coloridos. Lembravam-me o famoso tartan do Clã dos Maclaren. Eu estava adorando. Finalmente ia acampar. Na cancela alguém gritou: - Ei velhote! Aonde vai? Respondi cantando: ♫Prá longe eu vou, a pátria ordena, sigo contente meu monitor... Ele fechou a cara. Não tinha jeito para cumprir o oitavo artigo. Moço Chefe! Eu disse. Vou acampar, será só uma noite, pois logo devo partir. Vim aqui matar as saudades de um tempo que não volta mais! – Ele me olhou enviesado: - Fez a inscrição? – Eu? Eu não moço Escoteiro. Pensei que ficar só um dia não precisava. Precisa sim. Sem ela não entra nem com suas medalhas fajutas. Poxa! Fajuta minhas medalhas? Ganhei há tanto tempo e nunca mais me deram outra. – Moço Escoteiro, me deixa ficar algumas horas somente. Logo vou embora! – Nem pensar, sem pagar a taxa aqui não entra, nem se fosse Baden-Powell não entraria de graça! – Coitado do velhinho até hoje é amaldiçoado pelos grandões que não dão o mínimo valor de seus métodos.

            Olhei para ele. Merecia uma bastonada na cuca. Tentei ser Cortez. Afinal sou educado prá xuxú. – Ele gritou com seu companheiro: - Leandro Staff vá chamar vinte chefes do Staff e os donos do poder. Este velhote precisa de uma lição. Não demorou e logo chegou uma turma de chefes de fazer inveja. Cada um mais horroroso que o outro. Os donos do poder chegaram logo. Eu já os conhecia de nome. Eram quatro. Alguns estupendamente bem uniformizados, outros daquele jeito que todos conhecemos. Camisa solta, sandália, lenço amarrado nas pontas, cabeludo e barbudo. Bem cada um veste como quer quem sou eu para condenar! Kkkkkk. – Então é você? Um gritou. – Eu? Eu sou um pobre Velho Chefe Escoteiro, que não tem onde cair morto excelência. Melhor mostrar respeito. Afinal eram os donos da EB e eu não podia abusar. – Ele continuou: Aqui não entra, nem pagando. – Nem pagando doutor? Tem fiado? Tem caderneta para pagar no fim do mês? – Necas, aqui gente da tua espécie não acampa! – Mas Eminência, que espécie sou eu? – Outro respondeu: - Espécie naftalina. Só vive no passado e acha que seu tempo era melhor que o nosso!

         Ah! Ah! – Então era assim? Escorraçado do Jamboree só porque sou um Chefe naftalina? Desta vez não ia deixar de barato. Chega de ser marido da barata. Agora era usar minha força de Ulisses, do tronco de Stallone, do sorriso brejeiro de Schwarzenegger. Fiz a velha pose de Shaolin. Lembrei de Jackie Chan, Bruce Lee e Jet li. Afinal não fui campeão de Briga de Galo quando era um raquítico Escoteiro? Não entrei na caverna do Morcego e enfrentei a morcegada só de cueca? Essa turma do CAN e do DEN iam ver quem era eu. – Um deles apitou. Sempre o danado do apito. Gostam demais dele. Vieram correndo dezenas de chefes armados até os dentes. – Agora você vai enfrentar o Staff da UEB. Só chefes sem curso, sem Tropa, sem Alcatéia e verdadeiros carniceiros escoteiros. Puxa vida! Ia falar um palavrão, mas não sou disto.


       Que seja! Não posso entrar? Tudo bem, mas vocês vão conhecer a força de um Velho Chefe Escoteiro, conhecido como Vado Escoteiro, que foi o III Escoteiro escriba da Patrulha Lobo. – Lembrei da pose de Daniel San, o famoso lutador de Karaté. Que “Pat” Morita, o Senhor Miyagi me socorra. A luta foi “braba” peguei um membro do CAN pelo “cangote”. Notei que a sua camisa era verde. Turma danada gostam de mudar. Antes era preta depois azul escuro agora é verde. O que mais que vão inventar? Levei um sopapo na testa outro na “zoreia” e tudo começou a rodopiar. O chão era pequeno demais para mim. Acordei caindo da cama e a Célia como sempre correndo para me socorrer. – Mulher! Gemi. Apanhei prá xuxú. Esta turma do CAN não é mole. Agarram no cargo e não querem sair e nem me deixaram entrar no Jamboree! – Ela sorriu. Sabia que eu estava ficando senil. Pois é mulher, seu marido não está com nada. Ela deu uma gargalhada. – Porque não vai para a varanda ver o sol se por atrás das montanhas? Montanhas? Hummm! Ela também estava como eu. Ali não tinha mais montanhas. Sumiram na modernidade da vida!

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Morte no Grupo Escoteiro.


Reflexões de um Velho Lobo.
Morte no Grupo Escoteiro.

Artigo publicado pelo Chefe Elmer S. Pessoa que está em convalescência. Desejo a ele breve restabelecimento. Velhos Lobos como nós não podem andar sozinho pelas estrelas. Eu preciso dele e ele de mim. Afinal não dizem que somos à sombra de Impisa o lobo que nunca dorme como B-P? Velha Guarda que ainda tem no escotismo um amor infinito. Somos poucos. Cada dia um se despede e a vida na terra vai ficando vazia de Velhos Lobos, Velhos Escoteiros e tantos que ao cair tarde sabem que o amanhã pode não existir neste mundo. Quantas vozes ainda se levantam para mostrar o escotismo como quis B-P? Deus sabe o que faz. De uma coisa eu sei, o escotismo nos deu a máxima para levar depois da vida. Fazer o bem sem olhar a quem.

Bem vejamos o teor do artigo é importante para vermos ate quando podemos ser útil ao nosso Grupo Escoteiro e valorizar aos que trabalham conosco.

Certa vez, um Grupo Escoteiro estava em uma situação muito difícil. As reuniões não iam bem, os Escotistas desmotivados, as atividades externas não aconteciam há bastante tempo... Alguns já falavam até em fechar o Grupo... Faltavam recursos humanos e financeiros. Era preciso fazer algo para reverter o caos, mais ninguém queria assumir nada. Havia algumas ideias, mas sempre para outros fazerem e, o pior, é que ninguém tinha tempo... Pelo contrário, o pessoal apenas reclamava que as coisas andavam ruins no Grupo e que não havia perspectivas de progresso. Eles achavam que alguém devia tomar a iniciativa de reverter àquela situação.

Um dia, quando os Escotistas e Dirigentes chegaram para a reunião do Grupo, encontraram na porta da sede, um cartaz enorme no qual estava escrito: “– Faleceu ontem a pessoa que impedia o seu crescimento e também o crescimento do Grupo Escoteiro. Você está convidado para o velório, na sala principal da sede”. No início, todos se entristeceram com a morte de alguém, mas depois, ficaram curiosos para saber quem estava bloqueando o progresso do Grupo Escoteiro e até o dele próprio. A agitação no velório tornou-se tão grande que foi preciso formar uma fila para ver o corpo. Conforme as pessoas iam se aproximando do caixão, a excitação aumentava e alguns chegaram até a comentar já com um pouco raiva:

“- Quem será que estava atrapalhando o meu progresso? Ainda bem que este infeliz morreu!” Um a um, os membros do Grupo, agitados, aproximavam-se do caixão, olhavam  e engoliam a seco. Ficavam no mais absoluto silêncio, como se tivessem sido atingidos no fundo da alma e saiam cabisbaixos. Certamente vocês já adivinharam: o caixão estava vazio e no visor da tampa, havia por baixo, um espelho comum. Só existe uma pessoa capaz de limitar seu crescimento: você mesmo! É muito fácil culpar os outros pelos problemas, mas você já parou para pensar se você mesmo poderia ter feito algo para mudar a situação? Será que realmente você fez o seu melhor possível ou apenas dava idéias para os outros fazerem?

Você é o único responsável por sua vida e pode fazer a diferença na comunidade em que vive, capacitando-se para exercer sua função com eficiência, empenhando-se no seu próprio desenvolvimento  e, como conseqüência,  no crescimento do Grupo Escoteiro.

Não nos propusermos a deixar o mundo melhor do que o encontramos? Não temos o compromisso de deixarmos cidadãos melhores para habitar esse mundo melhor?
Portanto, vamos todos ressuscitar e reviver nossos ideais!
Vamos fazer a diferença! 


Elmer S. Pessoa – DCIM (conto adaptado de autor desconhecido)