Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

domingo, 25 de setembro de 2016

Hora de dormir, ficar em paz para que o amanhã seja melhor que hoje. Somos todos irmãos.


Hora de dormir, ficar em paz para que o amanhã seja melhor que hoje.
Somos todos irmãos.

          Acordei hoje sentindo uma paz no meu coração. Uma paz tranquila como se o mundo fosse feito de flores e eu e a Celia perdidos em sonhos em nossa varanda, vendo as pessoas passarem sorrindo como se tudo fosse paz e alegria. Uma tarde sem sol que se escondeu nas nuvens que perduraram por todo o dia. Mesmo com o frio cortante uma brisa suave e gostosa soprava no vento sul. A brisa chegou antes da madrugada, mais fresca que a de ontem. Quando estou em minha varanda encantada, muitas vezes não tenho sonhos como acontece sempre. Meus pensamentos voam e me trazem lembranças boas de momentos de felizes e isto é bom, é saudável. Feliz no amor e feliz com a vida, sem arrependimentos sem tristezas que poderiam trazer lembranças que queremos esquecer. Muitas pessoas acham difícil serem felizes e imagino que é porque estão sempre a julgar o passado melhor do realmente foi, o presente pior do que é e o futuro melhor que será.

                   Fecho meus olhos para o mundo. Meus pensamentos vão longe como se eu tivesse a visão fantástica de alcançar o passado, o presente e o futuro. Eu sei que não é preciso estar no pico da montanha para sentir o ar puro da manhã. Ele está presente na janela que se abre para um novo dia toda vez que o coração transpira pela ansiedade na sinfonia infinita dos sonhos. Não sei se é isto mesmo que eu quero. Quero apenas sentir que há uma razão para viver quando acordo a cada manhã. Digo a mim mesmo que devo amar a vida, pois na vida há sempre alguém que ama você. Agora a noite vai chegando, a Célia está com os olhos cemi-cerrados. Acredito que ambos estão com o mesmo pensamento. Ela e eu sabemos que não viemos a este mundo competir com ninguém. Quem quer competir conosco perde seu tempo. Ambos sabemos que neste mundo viemos para competir somente entre nos. Queremos ultrapassar nossos limites. Vencer nossos medos, lutar contra nossos defeitos. Superar dificuldades e correr em busca dos nossos objetivos, que já nos ocupam há muito tempo desde encarnações passadas!

                  Já no ocaso da tarde, volto meu pensamento a Deus e com os olhos fechados, faço minha oração para poder viver feliz em mais um dia que virá: - Como é lindo, Senhor, poder enxergar com estes olhos que me destes, poder sentir a natureza entrando pelos meus poros, me envolvendo e dizer: “Deus existe, olhai e vede a lua cheia ou minguante, o sol forte ou fraco, às árvores, com suas folhas embaladas pelo vento, vento esse que nos refresca e embeleza ainda mais as coisas que movimenta”. E as águas? Ah! As águas, tão frescas, tão poderosas e tão necessárias à vida. Vida, resumo da natureza! Olhai e bendizei a natureza, pois ela, irmãos, é muito mais importante do que tudo que estais acostumados a admirar e comprar...

                  Vou dormir tranquilo. Pensando que poderia transmitir a todos meus irmãos escoteiros, seja onde estiverem que a vida nos reserva surpresas, quando pensamos que tudo passou, recomeça uma nova história. Quando pensamos não querer mais, surge algo melhor que nos faz mudar... “Fácil é dizer que somos irmãos escoteiros, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz”. Uma semana especial cheia de paz amor e fraternidade!

Boa noite a todos os amigos e amigas perto ou longe. Durmam com Deus. 

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Quando Deus criou o Chefe Escoteiro.


Lendas escoteiras.
Quando Deus criou o Chefe Escoteiro.

                     Vez ou outra me deparo em meus blogs com este artigo que publiquei há algum tempo. Um dos mais lidos e comentados. Porque não publicá-lo novamente aqui? Sei que muitos já leram mas outros não. Ele foi adaptado do conto quando Deus criou o Policial de autor desconhecido. Vale a pena ler:

Deus estava no sexto dia de horas extraordinárias, quando aparece um Anjo e lhe diz: -
- Estás levando muito tempo nessa criação Senhor! O que tem de tão especial esse homem?

Deus respondeu:
- Um Chefe de Escoteiro, ele terá que providenciar local para acampamento, transporte, preparar as crianças e jovens para as atividades, realizar caminhadas nas matas, pular cercas, entrar em rios e lagoas para ver se tem algum perigo. Tem que estar sempre em boa forma física, para poder acompanhar o ritmo dos escoteiros. Tem que fazer tudo isso seguindo as normas de segurança. E no acampamento a noite terá que contas história mesmo estando cansado. Também tem que possuir quatro braços, para poder ajudar a armar as barracas, fazer o fogo, levantar a tampa da panela para verificar se a comida está pronta e ainda passar a mão na cabeça do escoteiro que estiver desanimado como forma de incentivo.

O anjo olha par Deus e diz: - Quatro braços? Impossível!

Deus responde:
- Não são os quatro braços que me dão problemas e sim três pares de olhos que necessita. - Isto também lhe pedem neste modelo? – pergunta o Anjo.

- Sim, necessita de um par com raios-X, para saber se o local tem algum perigo; Necessita de um par ao lado da cabeça para que possa cuidar dos escoteiros e outro para conseguir olhar se alguém está pode se ferir durante uma atividade.

Neste momento, o Anjo diz: - Descansa e poderás trabalhar amanhã.

- Não posso – responde Deus – Eu fiz um Chefe de Escoteiro que é capaz de ensinar um jovem o caminho do sucesso, e depois do jovem alcançar o sucesso pessoal quando for adulto nunca mais irá aparecer no grupo. Ele se esquecerá do chefe, mas mesmo assim o chefe ficará feliz em saber que o jovem está no caminho certo e hoje e um pai ou mãe de família para nação. A, ao mesmo tempo, manter uma família de cinco pessoas com seu pequeno salário do seu trabalho fora do escotismo. Ele estará sempre pronto para colocar dinheiro do seu salário para realizar atividades com os jovens por ser um voluntário.

Espantado, o Anjo pergunta a Deus:
- Mas Senhor, não é muita coisa para colocar em um só modelo?
Deus rapidamente responde: - Não. Não irei só acrescentar coisas, mas também irei tirar. Irei tirar seu orgulho, pois infelizmente para ser reconhecido e homenageado ele terá que estar morto. Ele também não irá precisar de compaixão: pois ao sair do velório de outro chefe, ele terá que voltar para sua missão e preparar a próxima reunião normalmente.

- Então ele será uma pessoa fria e cruel? – pergunta o Anjo.

- Claro que não responde Deus. Mesmo sendo um Chefe ele é para os jovens um irmão mais velho, ele não comanda, mas guiará pelo seu exemplo pessoal. Brincará através dos jogos ao ar livre. Simplesmente esquecerá os problemas quando estiver em atividades com os jovens será como um profissional do riso tem que esquecer os problemas e focar na sua missão que é ensinar a promessa e lei escoteira visando alcançar a cidadania, o companheirismo e o gosto pela natureza.

O anjo olha para o modelo e pergunta: - Além de tudo isso, ele poderá pensar?

- Claro que sim! – Responde Deus. Poderá no mesmo dia da instrução para crianças, adolescentes, adultos e explicar sobre a importância do escotismo para formação dos jovens e adultos.

Por fim, o Anjo olha o modelo, lhe passa os dedos pelas pálpebras, e fala para Deus: - Tem uma cicatriz, e sai água. Eu disse que estavas pondo muito nesse modelo!

- Não é água, são lágrimas… Responde Deus.
- E por que lágrimas? – Perguntou o Anjo.

Deus responde:
- Por todas as emoções que carrega dentro de si… Por um jovem que não conseguiu seguir o caminho certo da cidadania e entrou no caminho das drogas e da violência… Pelo apoio que muitas das vezes não conseguiu das autoridades para realizar atividades para os jovens!
- És um gênio! – responde-lhe o Anjo.
- Deus o olha, todo sério, e diz: - Não fui eu quem lhe pus lágrimas… Ele chora porque é simplesmente um humano! Um simples Chefe Escoteiro!

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Um fato do acontecido. Se existem sonhos, a vida continua.


Um fato do acontecido.
Se existem sonhos, a vida continua.

       Foi em uma manhã como as outras. O sol brilhando. Hora de partir. Seria uma simples caminhada como fazia todos os dias. Sentia-me bem e enquanto caminhava dava tempo de pensar no passado e no futuro. O presente eu o estava vivendo e o achava radiante. Eu sorria feliz. Caminhava com prazer e alegria e em passos trôpegos, pois a idade e os prêmios que ela a idade me trouxe não me deixavam ir mais rápido. Era uma trilha. Uma linda trilha. Eu a descobri por acaso. Havia marcas a cada cem metros. A trilha não tinha mais de um quilômetro. Para mim o suficiente. Sabia que meu corpo de Velho trôpego não ia aguentar mais.

      Tinha percorrido não mais que quatrocentos metros. Ainda faltava seiscentos para o final. Eu ia aguentar sem sombra de dúvida. Não dizem que devagar se vai ao longe? Os dois jovens se emparelharam ao meu lado. Dois frutos da mocidade. Ele com seus dezessete ou dezoitos anos, alto, forte, camiseta para mostrar seu tórax e seus músculos fortes. Ela seus quinze ou dezesseis anos. Magrinha e pequena, e linda. Sorridente ao lado do seu amado. – Ouvi seu vozeirão dirigido a mim - Velho levante o corpo, aprume os ombros, ande feito homem! – Olhei para ele. Sorri. Não tinha o que dizer. – Ele continuou – Conheço muitos velhos como você que andam feito homem! – Será que eu era homem mesmo? Não disse nada e sorri.

     A caminhada era uma delicia. Devagar, sem pressa. Seiscentos metros percorridos. Eles ao meu lado. Quando cheguei passaram por mim correndo. Deram uma volta enquanto em andava em passos de tartaruga. – Velho ele continuou – Esqueça suas dores, suas doenças, vamos Velho levante os ombros, dê uma passada mais larga. Ande feita gente grande! Quantos iguais a você percorrem caminhos mais longos? Quantos iguais a você ainda fazem questão de correr a São Silvestre? – Olhei de novo para ele. Minha respiração começou a acelerar. Era hora de diminuir o galope trôpego que estava dando. Sabia que meu ar tinha de ser dosado. Ele faltava de vez em quando. De novo olhei para ele e sorri. Não disse nada. Estava cansado. Muito. Para que responder a ele?

      A jovenzinha o pegou pelo braço. - Vamos meu querido. Ainda temos mais de vinte voltas a percorrer. Deixe o Velho em paz! Olhei para ela e vi uma alma boa. A gente nesta idade sabe onde mora a beleza no coração. – Ele rispidamente respondeu a ela que sabia a hora de correr. Que ela ficasse na sua! Ela abaixou a cabeça e não disse mais nada. Era submissa. Será que seria uma boa esposa? Não sei. Prefiro não comentar o futuro dos dois. Ele olhou para mim sorrindo – Velho, vais morrer logo. Parece como o meu pai. Sempre se entregando ao corpo. Eu nunca serei assim, sempre serei forte e a velhice nunca vai existir como existe em você. E o jovem partiu correndo. Sua cara metade correu atrás.

     Eles viraram a direita na trilha que se escondia ao longe do pequeno bosque. Eu continuava calado, sorria, sabia o que eu era e o que sou e quem sabe o que serei. Desejei a ambos que a felicidade morasse para sempre em seus corações. Eu sei que sou Velho. Um dia fui moço, corri mundo com meu chapéu de abas largas, com minha mochila escoteira, arvorei bandeiras aqui e ali por este mundo de Deus. Nunca me julguei imune à velhice. Mas ninguém escapa ao seu destino. Que ele e ela tivessem uma velhice tranquila. Senti uma brisa leve e intermitente no rosto. Eu gostava. As brisas das manhãs sempre me faziam lembrar-me do meu passado, das grandes caminhadas. Das grandes aventuras que se foram.


      Cansado consegui chegar ao final. Tartaruga ambulante eu me apelidei. Sorri para mim mesmo ao pensar assim. Amanhã estarei de volta nesta gostosa trilha dos amores, de sonhos e sentir que a vida continua. Não sei se os verei novamente. Não importa. Se isto acontecer irei sorrir para eles. Enquanto puder darei minhas voltas já marcadas. Não mais. Não adianta tentar andar mais que isto. Minha respiração não é boa. Queria um dia dizer a eles que tentava empinar os ombros, andar ereto. Fazia isto sempre no inicio das caminhadas. Mas estava enganando a mim mesmo. Meu corpo se esvai aos poucos. Se não fosse estas pequenas caminhadas eu sei que estaria prostrado em uma cama qualquer de um pronto socorro da vida. Sei que minhas caminhadas me fazem viver. Sorrirei para quantos jovens encontrar. Lembrei-me do lindo versinho de Maria Cláudia – “Antes de correr, aprenda a andar. Tudo na vida tem sua hora, seu lugar. Tartarugas também chegam La!”. E meus amigos, sonhos existem e sabemos que a “vida continua”!

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

O Tesouro de Cachorro Louco.


Lendas Escoteiras.
O Tesouro de Cachorro Louco.

                  - Orelhudo! Explique direito. Isto está parecendo uma invenção de Luar do Sertão. – Orelhudo não se fez de rogado – Gente! Eu estava esperando o Padre Goya para me confessar. Andei pecando um bocado esta semana e achei que precisava desanuviar minha cabeça de tanta besteira que fiz. A patrulha calada. Todos conheciam Orelhudo, um dos melhores intendentes que uma patrulha pode ter. Eu conhecia Luar do Sertão. Era sacristão na Igreja do Bom Pastor. Gente boa, meio afeminado, mas ninguém nunca provou nada contra ele. Soube inclusive que dez anos depois se tornou padre, mas esta é outra historia. – Ele abriu um mapa. Bem feito de couro de boi e prensado a fogo na brasa. Quem fez acreditava realmente no tesouro. Tesouro? Isto mesmo. Orelhudo disse que Luar do Sertão lhe garantiu que era um tesouro de Cachorro Louco. – Nossa! Já tinha ouvido falar nele.

                     Quando a estrada de ferro estava sendo construída ninguém queria trabalhar lá. Era mosquito, era malária, era os índios e ainda por cima centenas de bandidos a saquear qualquer um. Cachorro Louco era tão ruim que enterrou até o pescoço o Padre Gentil em plena Praça de Ipaba. Deixou só a cabeça para fora e ele morreu de inanição rogando pragas e assistido por centenas de moradores que nada puderam fazer. O bandido matou tantos que perdeu a conta. Foi encurralado na Ponte de Ferro de Derribadinha pela policia de captura do Capitão Raios que o Parta. Contam que deram nele mais de mil tiros outros contam que ele pulou no Rio Doce saiu do outro lado e hoje é Pagé em uma aldeia de Botocudos entre Crenaque e Conselheiro Pena. Orelhudo nos mostrou onde ele enterrou o tesouro. Não havia nomes só riscos e rabiscos. Ficamos duas semanas na sede tentando achar um caminho para saber onde estava o tesouro.

                        Foi Dente Cariado quem deu a luz. – Olha acho que é Ipaba. Veja quantos lagos e córregos, sabem o que é Ipaba? É Tupi, quer dizer IPA (água) e BA (muito) isto porque o arraial foi formado entre muitas nascentes rios e lagos. Dente Cariado não perdia a oportunidade de mostrar seus conhecimentos. A cidade hoje fica entre Cachoeira Escura e Ipatinga. Veja este desenho, é do Rio Piracicaba, ele passa na Mata do Parque e é lá que está escondido o tesouro. Uma injeção de ânimo aconteceu. Estávamos naquela condição de marasmo, sem ideias, vontade de acampar, mas sem saber onde. – A luz da aventura e de mais uma atividade aventureira surgiu entre os Lobos. Preparativos mil e marcou-se uma data nas férias de julho. Iriamos demorar para explorar toda área e tudo tinha de ser bem planejado. Um tesouro é coisa de doido. Descobrir e “enricar” é demais. Eu rico? Mamãe e Papai viajando para a Capital? Eu ria a mais não poder.

                       Partimos pela manhã no Expresso do meio dia. Duas horas depois chegamos. Identificamos a lagoa mostrada no mapa. Grande demais. Passamos toda a tarde fazendo uma boa jangada para explorar onde o rio marcado desaguava na lagoa. Ficou ótima. Bem amarrada com Cipó de Corda e ainda tinha muito Cipó de Cobra, Cipó Correlha, e não faltou o Cipó Titica que não quebra nunca. No dia seguinte começamos nossa exploração. As mochilas foram bem presas na jangada. Lá tinha barraca, material de sapa e claro nossa matutagem para refeições. Antes das duas achamos o rio. Apoitamos e passamos a noite em volta assando uma bela traíra que Dentinho pescou. Ficamos até altas horas da noite em volta de uma fogueira para espantar os mosquitos e os lobos que uivavam sem parar. Cedo partimos rio acima. A jangada ficou presa em um galho forte de uma aroeira. Foi fácil a subida. O mapa dizia 2+1. Achamos que seria léguas e uma légua são seis quilômetros.

                         Enfrentamos uma subida de uma cachoeira, umas hordas de mosquitos Gigantes que não mordem mais zumbem demais. Achamos a entrada do penhasco que Dente Cariado disse ser o local do tesouro. De novo escureceu. Uma chuva leve e intermitente durou a noite toda. Armamos só um toldo e ali ficamos até o amanhecer. Um café quente, um biscoito de polvilho e pé na taboa. Entramos na lateral do penhasco. Não mais que dois quilômetros e vimos doze arvores plantadas em linha milimetricamente. Coisa de homens que plantaram calculamos. Elas tampavam uma encosta e claro seria a entrada da gruta onde se guardava o tesouro. Difícil passar por elas. Coladas entre si e deitadas no barranco não dava para ver nada. Com muito custo que nos levou mais de um dia com uma machadinha e dois facões abrimos um buraco entre elas. Gente a visão era demais. Uma pequena gruta que não cabia mais que oito escoteiros em pé, mas no canto um Couro enorme de Boi Guzerá tampava o tesouro de Cachorro Louco.

                Milhares e milhares de notas. A gente pulava, sorria, gritava de alegria. E os planos? Uma sede nova, material de patrulha dos melhores para todo mundo. Uma parte para cada uma das famílias dos escoteiros. O Hospital da Zulmira (uma senhora humilde que em um galpão improvisado ajuda a tudo e a todos). Cada um pegou seu saco de dormir que não era mais que um saco de estopa preparado para colocar capim e virar um colchão. Enchemos até a boca com as notas maiores. Tivemos que fazer duas macas trançadas com cipó para colocar os sacos de dinheiro. Um dia e meio para chegar a Ipaba. Gritos e mais gritos quando chegamos à nossa cidade. O Grupo Escoteiro cheio de gente. A Alcatéia, a Tropa os seniores e os pioneiros rindo a valer. O Grupo São Jorge Enricou! Vamos levar todos para o Jamboree Mundial. Já pensou? Eu lá apertando a mão dos escoteiros da estranja?


                  Doutor Ludovico pai de Pé de Chulé gerente do Banco da cidade foi ver as notas que trouxemos. – Sorriu! O grupo calado esperando saber quando daria aquilo em dinheiro de hoje. Alguns já pensavam em comprar uma jardineira para levar a turma acampar. Uma não, umas três. Ele olhou para um lado, para o outro nos deixando em um suspense desesperador. – Escoteiros! Falou como se Fosse o Prefeito Porco do Mato. Escoteiros! Repetiu, sinto muito são notas de mil reis. Não tem nenhum valor hoje. As notas só servem para ascender fogo e mais nada! Hoje eu me lembro de tudo com saudade. Quando leio o que disse o poeta ainda dou risadas: - O dinheiro pode nos dar conforto e segurança, mas ele não compra uma vida feliz. O dinheiro compra a cama, mas não o descanso. Compra bajuladores, mas não amigos. Compra presentes para uma mulher, mas não o seu amor. Compra o bilhete da festa, mas não a alegria. Paga a mensalidade da escola, mas não produz a arte de pensar. Você precisa conquistar aquilo que o dinheiro não compra. Caso contrário, será um miserável, ainda que seja um milionário. E a patrulha continuou como sempre foi. Pobre mas feliz!

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Código de Giwell Por John Thurman. Gilwell Chefe de Campo.


Código de Giwell
Por John Thurman.
Gilwell Chefe de Campo.

Nota: John Thurman estava entre os primeiros chefes de campo do Centro Internacional de Formação em Gilwell Park, 1943-1969. Isto é, estas palavras não são do tempo de hoje, mas o seu significado tem um efeito enorme agora. Vale para todos nós chefes que adotamos a filosofia escoteira. Essas linhas se referem, principalmente, à relação que deve existir entre formadores e participantes do curso. Os pontos não são em ordem de importância, são todos importantes e têm valor em si:

1 - Oferecer uma "amizade" genuína a todos os chefes que vêm para aprender. Nós vamos dar-lhes a experiência que temos acumulado durante nossa vida Escoteira. A amizade e também a confiança, é acreditá-los tão capaz quanto nós mesmos. Aqui vamos encontrar muitas pessoas que são mais capazes do que nós. Qualquer ensino - aprendizagem é mais fácil quando existe um clima de amizade.

2 – Temos a obrigação de "entender" seus problemas e necessidades e suas deficiências e limitações. Devemos sempre lembrar que, se você vir a um curso é porque quer aprender, “não sei tudo, mas quero saber”. Nossos líderes são uma amostra do que a nossa sociedade. Deve haver em muitos o sucesso em suas carreiras e outros têm demonstrado sua capacidade em vários campos, especialmente dirigindo outros. Haverá chefes que não têm formação, mas fizeram o seu caminho na vida por causa de seu esforço e a sua tenacidade. Outros ainda são pessoas que não conseguiram na maioria nas empresas que trabalham se comprometer. Eles podem ser ricos ou pobres, profissionais ou artesãos, empresários, trabalhadores, etc. Nós vamos treinar as pessoas (e cada um é diferente dos outros) e nosso trabalho é fazê-los crescer e se desenvolver dentro sua própria personalidade individual, de modo que eles possam servir os meninos.
Não tente cortar como uma tesoura o que vai dizer. Cada um é diferente. Se eu tiver nozes eu não espero que vá ter maçãs após o curso, não, mas vou tentar polir o máximo possível para ter as nozes no final.

3 - O "exemplo" é muito importante, e temos de mostrar o que somos aos outros. Se acreditarmos no Escotismo, ele vai continuar não só com palavras, mas com ações, atitudes, como agir, etc. Em outras palavras, dar o exemplo. As palavras se vão com o vento. Querer que a promessa estivesse viva, viva-a primeiro; se queremos que a fraternidade Escoteira seja uma prática, primeiro vamos aos fatos, falar sozinhos é uma coisa e agir de outra.
 
4 - devemos ser "eficiente", isso não significa que somos um "sabe-tudo", mas o que nós poderemos fazer corretamente. É melhor dizer "não sei" do que afirmar, falar ou pensar sobre o que não sabemos, e que os participantes possam sair do curso sem equívocos.

5 - Nós temos que ser "atualizados" em nossos conhecimentos. O Escotismo é um movimento e um movimento está sempre em mudança, temos que saber finalmente, se ele deixou de Programar, se fez ajustes no último quadro, etc.; ver não é o que é melhor: e sim o poderíamos manter como ponto de partida e isto só nos atualizando através de leituras, discussões, comentários sobre os cursos chegaremos lá. Não só estamos dispostos a dar, mas para receber.

6 - Os participantes do curso são "adultos" e temos que tratá-los como Adultos sempre. Podemos ter de perguntar algo e exemplificar com se eles fossem escoteiros, mas mesmo assim considerar que são adultos agindo como escoteiros.

7 - Devemos ser "positivo" no que dissermos. Em um curso, não devemos questionar o que já foi aprovado, um curso não é uma conferência que vale a pena olhar para atualizar o existente. Critérios devem ser deixados bem centrados.

8 – Devemos ser "entusiasta". Pelo entusiasmo de muitos líderes se expandiu Escotismo. Tudo pode ser compreendido ou perdoado num formador (adestrador), mas a falta de entusiasmo podem transmitir pessimismo e muitos valores contrários.

9 - Devemos ser "leal".  Leal a todos quem trabalham e colaboram. Leais ao nosso movimento, leais a política a ser seguida e em um momento, qualquer palavra contra a lealdade é um escândalo para os participantes verdadeiros em nossos cursos. O adestrador (formador) em seus cursos ou outros eventos de formação não é quem deve questionar a política, administração, a organização ou pessoas. Nosso trabalho como treinadores (formadores) é apoiar, ajudar, ajudar, etc.

10 - Ter "senso de humor". O treinamento para ser eficaz, deve ser bom, mas se perdem em forças rejeitar o que não gosta, portanto, um adestrador que não consegue superar os momentos da vida difícil fica amargo. Um senso de humor vai fazer-nos rir de nós mesmos, dificuldades, etc. E nós vamos apresentar o treinamento com uma atmosfera amigável.

11 - "Esforço" é uma palavra que devemos ter em mente. Esforço para melhorar a nós mesmos todos os dias, e todos os esforços para dar efetivamente o que esperamos conhecer cada participante e treiná-los de uma forma que atenda a sua formação suas necessidades, esforços para tentar ser o melhor e não se contentar com pouco, esforço para atingir o cume e, não ficar contente em permanecer no vale.

12 - "Tradição" é um bom termo a ser considerado e um bom professor reconhece seu valor. Formação é a guardiã das tradições, mas devemos fazê-los conhecer o Escotismo e não seus freios. Tradição é o passado que nos impulsiona a servir melhor, para que possam se atualizar. “A tradição não deve frear“, porque se antes eles fizeram isso, a plataforma para agir no espírito de ontem ou de hoje é quem nos ajudará sempre. Hoje, amanhã e sempre.


 Todos os itens não são assim tão importantes, mas apenas uma reflexão sobre alguns pontos que podem nos ajudar a melhorar, a nós mesmos como formadores. Claro se tivermos em mente todos os dias e, especialmente, quando agimos como formadores.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A bravura de um herói.


Lendas Escoteiras.
A bravura de um herói.

(Esta é uma historia contada aos pedaços da vida de Caio Vianna Martins. Parte dela é fruto da imaginação do autor. O desastre e outros detalhes são reais – em 1973 em um acampamento regional Escoteiro em Matozinhos foi entregue a seu irmão uma medalha de Valor Ouro post mortem a Caio Vianna Martins. – Eu estava lá!). 

                Apenas um menino, nada de diferente dos demais. Nasceu em Matozinhos MG e foi batizado como Caio Vianna Martins. No Grupo Escolar seu professor Senhor Jamilson contou muitas passagens de sua vida. Ninguém ainda imagina que ali estava um menino que mostrou ser um herói para toda nação. Dizem que os heróis não se fazem, já nascem assim. Professor Jamilson nunca observou Caio por este prisma. Hoje sabendo de seu passado glorioso ele se sente orgulhoso de um dia ter conhecido Caio Martins. Dizia ele que se lembrava do dia que adentrou na sala de aula, e pomposamente fazendo uma mesura o chamou de Senhor Professor. Sabe Moço, dizia o professor. Eu Lecionava na Escola Visconde do Rio das Velhas e o conheci em 1930. Ele tinha seis anos na época e nem sabia o que eram os escoteiros. Alguns anos mais tarde seus pais foram para Belo Horizonte e ele se matriculou na Escola Barão do Rio Branco.

             Caio um jovem simples nunca pensou em ser lenda, herói ou um Escoteiro padrão. Sua vida escoteira teve início em um sábado quando ele com um amigo foram assistir ao treino de um time futebol e viu pela primeira vez os escoteiros. Ficou fascinado e não deu sossego ao seu pai enquanto não o levasse para matricular. Ele já estava em Belo Horizonte passou por dois colégios até que se transferiu para o Afonso Arinos onde começou sua vida escoteira. Entregou-se de corpo e alma a sua nova filosofia. Ele mesmo fez seu bastão, sua mãe o uniforme e numa bela tarde de maio ele fez sua promessa Escoteira. Sua vida mudou. Tinha verdadeira adoração pelo seu Chefe Clairmon Orlando Gomes e o Chefe Rubens Amador.

                  Ele amava o escotismo e sua mãe e seu pai tinha orgulho dele. Ficou amigo de Gerson Issa Satuf por quem tinha um carinho todo especial. Na patrulha Lobo era considerado um sábio pelos seus conhecimentos de história e geografia. Nunca teve muito contato com a Alcatéia de Lobos e nem sabia que mais tarde ele Gerson e Hélio Marcus de Oliveira Santos o lobinho fariam uma tríade a ser lembrada para sempre na memória escoteira. A história de Hélio com seus noves anos nunca foi contada. Sorria pouco e quase não falava. Era sim um Lobinho entusiasta sempre o primeiro a chegar e o último a sair. Uma vez em um jogo de Kim com 24 objetos se lembrou de 22. Uma surpresa para sua Akelá. Foi em um acampamento em Contagem em um sitio de um amigo do Chefe Francisco Floriano de Paula (grande mestre Escoteiro e reitor do colégio onde estudava foi um marco no escotismo mineiro). Caio, Hélio e Gerson se cruzaram muitas vezes.  O acampamento marcou a vida de Caio Martins para sempre. A vida passava muito rápido e logo ficou sabendo da atividade em São Paulo. Convenceu seus pais a deixa-lo ir afinal era bom estudante e bom filho.

                  Caio sem esperar foi eleito monitor de patrulha. Na época os monitores eram escolhidos olhando mais sua idade e desenvoltura. Baden-Powell em seu livro Escotismo para Rapazes dizia que os mais velhos são mais respeitados pelos mais novos. Foi uma festa quando partiram no trem noturno para São Paulo.  Eram seis lobinhos, doze escoteiros, três pioneiros o Chefe Clairmont e Rubens além de mais dois membros da Comissão Executiva. Uma delegação de 25 participantes. Embarcaram na Estação Ferroviária em Belo Horizonte. Foi nela que o primeiro relógio publico de Belo Horizonte foi instalado. No vagão dos escoteiros era só cantoria e alegria. O condutor o Velho Gabriel com seus bigodes imensos sorria com aquela meninada divertida e alegre. Seria uma longa viagem até São Paulo. Vinte horas num trem sacolejante e fumacento. Naquele vagão onde dormiam os escoteiros ninguém imaginava o que estava para acontecer. A História do herói começou a ser escrita.

               Ninguém soube explicar porque o Chefe da estação João Aires não parou o trem de carga que descia a Serra da Mantiqueira. No Noturno todos dormiam sorrindo em pensar o que fariam ao chegar ao seu destino. Nas páginas do livro da vida uma nova etapa tinha inicio marcado. Para Mario Montes o maquinista do cargueiro, mais de vinte anos fazendo o mesmo trajeto nem imaginava o que ia acontecer. Jonas o Coruja maquinista do Noturno nem percebeu o trem cargueiro em sentido contrário se aproximando a toda velocidade. Tarde demais! O desastre era eminente! Os freios rangeram, os apitos soaram, e a batida veio forte. Estrondos se fizeram ouvir. Vagões foram expulsos da linha e jogados em uma ribanceira. Duas e cinco da madrugada fatídica. Um engavetamento monstro se formou. O ano de 1938 entrou para a história. O vagão onde eles estavam saltou do trilho e se espatifou em um barranco. Gritos, pedidos de socorro, tudo escuro e nada se via. O Chefe Clairmont e Rubens se puseram na ativa. Chefes são sempre assim. Poucos reconheceram o heroísmo de que eles eram possuídos. Só havia preocupação em ajudar os feridos.

                   Reuniram todos os membros do grupo e deram falta de Hélio Marcos e Gérson Satuf. Foram encontrados mortos embaixo dos escombros. Era uma carnificina. Os que ainda estavam de pé corriam para ajudar. Os pioneiros fizeram uma grande fogueira, a escuridão não ajudava nos primeiros socorros. Caio cambaleante ajudava como podia. Ele havia recebido uma pancada na região lombar e não contou a ninguém. Clairmont e Rubens estavam esgotados. Só às sete da manhã os primeiros socorros vindo de Barbacena começaram a chegar. Viram Caio claudicando sentindo dores terríveis. Tentaram levá-lo na maca e ele não aceitou. – Tem feridos piores disse. A história é cheia de fatos heróicos. Foi assim com Caio Vianna Martins. Ao Chegar a Barbacena, uma golfada de sangue e com os lábios tremendo recusou novamente a maca dizendo as mais belas frases que o mundo conheceu: 

– “Há muitos feridos aí. Deixe-me que irei só. Ajudem os outros, eu sou um Escoteiro e o Escoteiro caminha com suas próprias pernas”! – Saiu caminhando e desfaleceu morrendo alguns dias depois no hospital em Barbacena. Tudo seria esquecido se não fosse dois grandes homens públicos mineiros Alcides Lins e Otávio Negrão de Lima que presentes viram tudo e contaram para o Brasil e para o mundo o que disse o herói Escoteiro. O gesto de Caio Vianna Martins ficou gravado na história escoteira. Ele foi escolhido como o símbolo Escoteiro do Brasil. O Grupo de Caio hoje não existe mais no colégio Afonso Arinos. Ali somente uma placa de bronze foi colocada sobre os feitos de Caio Martins.

                      Em memória a Caio Vianna Martins, Gerson Issa Satuf e Hélio Marcos de Oliveira Santos, saudemos no panteão da glória e dos heróis nacionais com o nosso: SEMPRE ALERTA! E tiramos o chapéu com o Grito de guerra da União dos Escoteiros do Brasil – Anrê – Anrê – Anrê! – Pró Brasil? Maracatu! 


“Há muitos feridos aí. Deixe-me que irei só. Ajudem os outros, Eu sou um Escoteiro e o Escoteiro caminha com suas próprias pernas”!