Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Você sabe fazer previsão de tempo no acampamento?


Conversa ao Pé do Fogo.
Você sabe fazer previsão de tempo no acampamento?
Repeteco mas muitos ainda não leram.

                Dizem que é ultrapassado. Os homens e as mulheres do tempo na TV dão conta do recado. Mas meu amigo se assim for perdeu a graça. Era gostoso improvisar para saber se ia chover ou não, quanto tempo ia durar. Muitas frases nos ajudavam. Eu me lembro de algumas. Do livro do Chefe Floriano de Paula “Para ser Escoteiro” aprendi várias. Depois a UEB não vendeu mais. Apareceram outros. Descobri estas, e acho que ajuda muito para ver a previsão de tempo no acampamento. Afinal escoteiro que é Escoteiro não se aperta. Veja, leia e corrija se elas não ajudarem você no campo.

- Vermelho nascente que pronto descora, tempo de chuva que está prá demora.
- Vermelha alvorada vem mal-encarada.
- Vento contra a corrente levanta mar imediatamente
- Vento sudoeste mansinho e panga é de tremer dele, quando se zanga.
- Volta direita, vem satisfeita, volta de cão traz furacão.
- Sol nascente desfigurado, no Inverno, frio, no Verão, molhado.
- Sol que nasce em nuvens sentado, não vás ao mar fica deitado.
- Sol posto ledo, com claro ao norte, andar sem medo que estás com sorte.
- Se grandes, correm desmanteladas, mau tempo, velas rizadas.
- Se à tarde vem, é prá teu bem.
- Se um trovão seco no céu reboa, temporal violento nos apregoa.
- Se no vale a névoa baixar, vai para o mar, mas se pelos montes se atrasa, fica em casa.
- Se entra por terra a gaivota, é que o temporal a enxota.
- Se tens chuva e depois vento, põe-te em guarda e toma tento.
- Se tens vento e depois água, deixa andar que não faz mágoa.
- Sem nuvens no céu e estrelas sem brilho, verás que a tormenta te põe num sarilho.
- Se um dia Deus querer, até com norte pode chover.
- Céu pedrento, chuva ou vento, não tem assento.
- Chuva miudinha como farinha dá vento do norte, mas não muito forte.
- Com céu azul carregado, teremos o barco em vento afogado.
- Castelos de nuvens sem nuvens por cima são chuvadas certas mesmo sem rimas.
- Céu limpo e lua no horizonte, de lá virá o vento.
- Está a chover e fazer sol e a raposa a encher o fole.
- Depois de chuva, nevoeiro, tens bom tempo marinheiro.
- Lua à tardinha com seu anel, dá chuva à noite ou vento a granel.
- Lua com halo de grande aparato é molha certa prá gente de quarto.
- Lua com circo,  água traz no bico.
- Lua nova trovejada, trinta dias é molhada.
- Lua nova trovejada, oito dias é molhada. Se ainda continua, é molhada toda a lua.
- Lua empinada, maré repontada.
- Lua deitada marinheiro em pé.
- Limpo horizonte que relampeja em dia sereno, calma sobeja.
- Lua nova de Agosto carregou, lua nova de Outubro trovejou.
- Lua Nova, Lua Cheia preia Mar às duas e meia.
- Lua fora, lua posta  quarto de maré na costa.
- Nuvens aos pares, paradas, cor de cobre, é temporal que se descobre.
- Nuvem comprida que se desfia sinal de grande ventania.
- Nuvens finas, sem ligação, bom tempo, brisas de feição.
- Nuvens espessas e acumuladas, ventanias certas e continuadas.
- Nuvens pequenas, altas e escuras são chuvas certas e seguras.
- Nordeste molhado, não te dê cuidado.


                  E quem precisa ligar a TV para saber do tempo? Bah! Escoteiro não se aperta. Até mais e Sempre Alerta!

sábado, 28 de janeiro de 2017

Do caqui ao fardão e... Do meu uniforme não abro mão!


Do caqui ao fardão e...
Do meu uniforme não abro mão!

                    Isto mesmo fui convidado para a “Academia Escoteira de Letras”. Fernando Robleño e Giancarlo Valente me deram um certificado onde me consagram como um imortal. Diz no diploma que fui consagrado por força de sua expressão científico-literária, empossado como o primeiro imortal da Academia. O titulo é importante para meu ego, pois dou risadas mil ao pensar o que os nossos lideres nacionais pensam sobre isto. Robleño e Valente são apologista de um sistema mais democrático da UEB. Robleño tem a facilidade de ver nas entranhas da Associação suas traquinagens e peraltices e que escreve muito bem no seu Blog Café Mateiro. Valente um tradicional Escoteiro advindo da Itália e brasileiro de coração, conduz muito bem seu Blog Flor de Lis e uma lista na Google onde todos fazem suas apologias do escotismo de ontem de hoje e o que será no futuro.

                    Não existe a Academia Escoteira de Letras. Ela é só uma fantasia travestida de ficção neoliberal. Bem nem sei se é isto mesmo. Mas se existisse dificilmente estaria vestindo seu fardão, pois do meu caqui não abro mão. Dizem alguns seguidores dos meus alfarrábios que tenho antipatia com a maneira correta de escrever. Verdade. Não nego e me declaro um incompetente na linguagem portuguesa. Como disse o poeta, nada é porque é, tudo é porque algo fundamentou o fato de ser. Nunca posso pensar que serei um dia uma personalidade que marcou a literatura e a cultura brasileira para sonhar em ser um imortal.

                    Este certificado me foi presenteado há vários anos. O encontrei em meus arquivos que mantenho de fotos do passado. Divirto-me com ele. Somando outros chefes que sempre se lembram de me dar um presente, seja por um lenço, seja por algum distintivo e agora por um certificado, me sinto plenamente realizado. Não posso copiar o poeta que disse que era feliz plenamente feliz porque tinha muita vida pela frente. Não tenho, mas me agarro a cada segundo para manter a vida correndo ao lado do meu destino. A todos estes que me fizeram sorrir um pouco mais o meu muito obrigado, o meu Sempre Alerta e na esteira do vento amigo o abraço fraterno que mando através dele.
 

Para os Grupos que já voltaram as suas atividades, bem vindos, uma ótima reunião e porque não dizer o velho chavão? “Hoje tem reunião alegria de montão”!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Cada um escolhe o seu caminho.


Cada um escolhe o seu caminho.

              Se você está lendo esta pequena crônica é porque já leu outras que escrevi. Dei-me ao luxo de em todas elas dizer o que penso, de escrever a favor ou contra, pois dizem que os velhos escoteiros tem este direito e que ninguém pode tirar. Verdade ou não aproveitei a deixa e falo de tudo. Dentro da minha ética não desmereço ninguém. Muitas vezes fico magoado, mas na maioria das vezes a alegria é maior e isto me dá forças para continuar. Adotei o escotismo como filosofia de vida há tempos. Quem sabe desde aquele sábado que minha mãe me apresentou ao Chefe João Soldado lá pelos idos de 1947. Para dizer a verdade errei muito, mas nunca me arrependi do que fiz. Sigo aquele ditado que é melhor arrepender-se do que não fez pelas coisas que fez. Passei por situações difíceis no meio Escoteiro. Enfrentei e nunca desisti.

            Tenho a consciência tranquila, pois não guardei mágoas de ninguém. Desde pequeno que aprendi que o escotismo é fraternidade e amor. Se fui um dia sisudo foi para desafiar outros que tentaram modificar os princípios que sempre acreditei. Não tive inimigos e se existem eu desconheço. Nos meus alfarrábios conto histórias, crio na imaginação meus sonhos, mostro o caminho que acredito e tento a minha maneira simplória colaborar com quem quer aprender. Me meti em tudo no escotismo. Li demais. Participei demais. Se tivesse forças seria candidato a modificar o que estão fazendo hoje. Desmanchar este nó górdio que fizeram.  Sempre acreditei em um escotismo irmão, sem imposições onde todos pudessem ter o direito de se expressar, de votar e ser votado apesar de que tentam nos enganar dizendo que hoje é assim.

             Costumo dizer que houve muitas invenções. Criaram situações copiadas ou da sua imaginação ou colando fatos de outros países que se julgaram moderno. Não me prendi as nuances e nem na crença dos que estão ai dirigindo os destinos escoteiros no Brasil. Meu tempo e meu passado já viu muitos como eles, saltando valores e criando outros a bel prazer como se estivessem escrevendo a história escoteira. Qualquer um em sã consciência pode ver que nos últimos quarenta anos os resultados não aconteceram. Nunca fomos tão esquecidos pela sociedade Brasileira. Se hoje entre os pares da mesma crença se fala muito se apegue muito a sua nova filosofia, fico pensando daqui a quantos anos eles ainda estarão aqui com os mesmos princípios e os mesmos ideais.

              Criamos uma raça de sonhadores. Muitos com seus valores a dizerem que agora tudo vai mudar. Discute-se nas paginas das redes sociais certezas que nunca foram testadas. Outros afirmam que o caminho deveria ser outro. Aprenderam agora e já são suprassumos na filosofia de Baden-Powell. Aqueles que poderiam mesmo ajudar foram colocados à margem da historia. Uma pequena plêiade de homens se julgaram possuídos dos mais altos conhecimentos para tudo mudar. Não perguntaram a ninguém se este era o caminho a seguir. Nunca em tempo algum pesquisaram consultaram para saber o que deu e o que não deu certo. Se a Sociedade mudou não foi porque foi informada. A pequenez do marketing ficou por conta de uns poucos que ainda acreditam que este movimento tem um valor sem igual.

              Costumo contar histórias de meninos e meninas sonhadores, criadores de novas filosofias e concepções de vida. Nos meus contos nem tudo tem um final feliz, pois ainda não chegamos na perfeição desejada do ser humano. Não me meti em outras plagas, se o fiz foi brincando de fazer, seja com políticos, sobre a sociedade, sobre os destinos da humanidade tudo sem eira e nem beira, pois mesmo me considerando  um inculto, um inepto das letras sempre voltei ao que amo e que sempre amei nas asas de imaginação de um Escoteiro. Meu tempo vai passando. As engrenagens mesmos sendo lubrificadas não podem mais ser trocadas. Olho a minha ampulheta do tempo e vejo que não estarei presente em um final feliz ou não. Queria aplaudir a ideia de um homem criou e lutou para mostrar que podemos fazer um mundo melhor.

               Não irei interromper nunca minha escolha pessoal que fiz ao me dedicar sem ofender um escotismo que acredito. Sempre irei dizer que alguns homens probos na lide escoteira se esqueceram que uma associação sem memória é uma associação sem futuro. Ainda tenho muito a aprender. Não sou um Lider nato, não sou um Velho Lobo e nem um chefão. Não tenho cargos, e nem sou um líder nacional. Aprendi a não me privar da lealdade, da sinceridade, da ética e da palavra. Meu escotismo sempre foi simples, espontâneo, aberto a criatividade procurando ver que o mundo tem suas alegrias, seus coloridos e suas surpresas. Nunca deixei que me amarrassem a normas que pudessem me prender a caminhos que não escolhi. Sou livre, sou Escoteiro do mundo, não estou preso a nenhuma sociedade ou associação que desconhece o livro arbítrio e não deixa que cada um possa dizer o que quer e fazer mesmo assumindo suas responsabilidades.

Nada mais a dizer.

Chefe Osvaldo.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Vale a pena estar em primeiro lugar?


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Vale a pena estar em primeiro lugar?

            Desde pequeno que venho acompanhando a eterna busca de ser o melhor, estar em evidência e em primeiro lugar são sonhos de muitos. Hoje em dia a competição está mais arraigada em toda nossa vida privada e profissional. As pessoas estão sempre competindo entre si, ter a melhor casa, a melhor roupa o melhor carro e para isto não se mede sacrifícios. Aprendemos pelos nossos professores e até muitos pais que devemos ser melhores que os outros. Crescemos com essa crença de que nunca haverá lugar para perdedores. No escotismo há sempre o frenesi de ser o melhor. O melhor grupo, a melhor Tropa, a melhor patrulha ou matilha. Muitos jogos são uma eterna disputa pelo primeiro lugar. Seria este o melhor caminho para que possamos atingir os objetivos propostos?

           Uma vez aprendi que ser melhor é competir consigo mesmo. Aprender as coisas boas que o mundo oferece e tentar nos enquadrarmos no todo e não somente na figura de um só. Costumava nos jogos aplicados quando Escotista não dar preferência a jogos onde só um sobressai. Quando fazíamos uma programação de conquistas, seja padrão eficiência, seja outra qualquer, haveria sempre a possibilidade de todas as patrulhas ou matilhas poderem alcançar o mesmo padrão. Sei que a competição costuma criar o egoísmo. Sempre com o velho chavão de que devemos ser melhores que os outros e não melhor que o outro. Alguns superam seus limites para conseguir esta façanha.

           Quando vejo um ou outro voluntário Escoteiro lutando para que sua sessão seja a melhor e para isto faz questão de alardear que conseguiram fico pensando se entre os jovens o pensamento é o mesmo. Já vi monitores gritando, empurrando, se matando em atividades só para que sua patrulha seja a primeira. Já vi monitores chorando, reclamando e maldizendo porque não conseguiram ficar em destaque ou em primeiro lugar. Seria o Chefe o responsável por esta situação? Pode ser que sim e afirmo que Isto não é escotismo. Não seria esta a formula ideal para fazer do jovem o que esperamos de sua vida futura. Eu sei que a espaço para todos nestas luta diária de ser o melhor. Se conseguirmos capacitar o desempenho em equipe com o jovem já demos um passo para alcançar nossos ideais da formação escoteira.

          Nos dias de hoje sei que há uma luta enorme para demonstrar que estamos sempre na frente na luta pela vida. Será que nós voluntários devemos levar nosso espirito competitivo para nossas tarefas não só em casa como também no escotismo? Fico feliz quando vejo todos sorrindo, todos participando e mostrando que ali o exemplo cabe bem naquela frase: Você pode ser a diferença que deseja para o mundo. Precisamos superar nossos limites desde que dentro de padrões razoáveis de civilidade. Não digas que é o melhor e que você venceu, procure dizer que todos são melhores e que todos venceram. As glorias não pertencem a um só e sim a todos que lutaram pelo seu ideal de vencer.

         A fraternidade está baseada em princípios morais que demonstram nossos valores. Se você é melhor que os outros se só você é sempre o vencedor, aqueles que te cercam ou estão ao seu lado não fazem parte de sua vitória. Isto não é fraternidade. Seus jovens sejam lobinhos ou escoteiros merecem o respeito de uma vitória ou uma derrota. Um abraço um toque sutil em demonstrar que o hoje não foi bom, mas o amanhã vai ser melhor vale muito mais que demonstrar para os outros que sua sessão é melhor que as outras. No escotismo devemos ajudar mais a individualidade do que o todo. Insista com aquele mais calado, mais humilde: - Escoteiro você não chegou lá, mas está mais perto do que ontem.

          Cuidado ao tentar fazer de alguns somente uma raça de qualidade em detrimento dos outros que também são seus irmãos. É preferível lutar e persistir ou até mesmo perder por uma causa nobre do que vencer batalhas inglórias de causas poucos nobres. Não seria ético alardear que você pertence ao melhor grupo e que só ali se faz o verdadeiro escotismo.


          No escotismo somos todos irmãos e para isto nossa luta é para ajudar na formação daquele mais arredio, daquele menos favorecido e assim podemos nos orgulhar que nossa luta foi feita de vencedores. Não sou o melhor, somos todos melhores. Um ótimo sábado e um final de semana cheio de vitórias e conquistas para um mundo melhor. Não seu, mas de todos nós!            

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Aconteceu novamente. Fazer o que? A morte da Barata.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Aconteceu novamente. Fazer o que?
A morte da Barata.

             Esta madrugada eu me levantei lá pelas três da manhã. Destino? O banheiro da minha morada. Nem bem acendo a luz e lá está ela. Quieta. Parada, finge-se de morta. Ela parece  John Wayne naquele filme que ele fazia papel de caolho. Fingiu-se de morto na guerra e conseguiu escapar dos sulistas. Voltemos à história: - Eu a olho e penso: - Mato? Sou um matador? Pistoleiro não sou. Quem sabe posso tirar uma de lutador de UFC? Sei não, esta turma só entra pelo cano. Dizem que todos nós temos na veia sangue de lutador, assassino e matador ao avistar uma barata. Coitada, é totalmente indefesa. Não tem forças para morder e nos botar a nocaute. Tem algumas que correm e escapam tem outras que se fingem de morta. A coitada quando cai de barriga para cima é uma piada. Quem vê acha que morreu, mas a danada está vivinha da silva. Tenho pena dela quando está assim, tenta e tenta e não consegue se virar. Dizem que é um truque Velho já conhecido pelos famosos matadores de barata.

 

              A barata é o terror das mulheres. Claro para alguns homens também. Se você gritar alto – Uma barata! É um Deus nos acuda. É gente correndo para todo lado. Parece Brasília quando gritam pega ladrão! A Polícia Federal está chegando! Já vi homens fortes, aqueles que se dizem durões, frequentadores de academia, musculoso gemer e subir em uma cadeira e ficar tremendo gritando: - Barata! Barata! Mata! Mata! E veja a pobre coitada. Pequena, indefesa, não morde e não sabe dar “porrada”. Ela é noctívaga. Só a noite dá as caras, pois espera que os humanos estejam dormindo. Afinal elas não estão no topo da cadeia alimentar e tem de se virar com seus velhos baratos e filhos baratinha. Tem aquelas que resolvem passear durante o dia, umas idiotas, pois sem saber estão cometendo haraquiri. Não adianta as donas de casa varrerem passarem pano de chão ou mesmo um novo inseticida famoso. Não adianta comprar mil e uma utilidades mostradas na TV. Você mata cem hoje e amanhã aparece duzentas!

 

               Elas as perseguidas se escondem nos canos de esgoto ou no próprio esgoto. Deus do céu! Que destino é esse? Morar no esgoto e sair para ser morta? Dizem que elas adoram uma cozinha. Restos de alimentos ou açúcar e quase não bebem água. Os estudiosos separam as famílias de barata como a americana. (nunca vi, deve ser riquíssima, renda per capita acima da média e com filhos Boy Scout e depois Marines). Existem a cascuda e a voadora. Esta é demais. De vez em quando estou com a janela do meu pequeno escritório aberta e surge uma voando. Levo o maior susto. Deve ser a americana da Air Force tipo Força Delta que saltou de paraquedas pensando ser a Síria ou o Afeganistão e veio parar aqui.  Falam ainda na barata Alemã e na australiana. Não tem a brasileira? Acho que não. Se tivesse estariam dando risadas nas cozinhas das plataformas continentais da Petrobrás, aguardando sua vez de ganhar um dinheirinho no pré-sal que de sal só tem dólares para dar aos sabidos. E dizem que o Petróleo é nosso. Otários! Quem sabe muitas estão em Brasília, nas modestas casas a beira do lago ou mesmo na mansão do palácio presidencial.

 

                  Sei que em Curitiba algumas tentaram algumas sobras no prédio da Policia Federal, mas o Doutor Juiz mandou prender e matar todas. Este juiz não é mole. Prende mata e arrebenta! O cara devia era ser um Escoteiro Chefe, aí sim o escotismo ia mudar. Mas voltemos a nossa mente assassina. Assassina? Era apenas uma barata. Pequena coitada. Tentando se esconder e você atrás com uma metralhadora israelense ou um fuzil AR-15, uma bazuca e não leva um canhão porque é pesado demais. Bem para não alongar a história da barata Escoteira... Calma não era Escoteira. Não existe uma barata usando a vestimenta. Já pensou? Barata com camisa solta, aqueles bolsos enormes que cabem mil baratas e sem meia? Kkkkkkk. Elas são contra totalmente contra este tipo de uniforme. Uma me disse que se fosse o caqui de calças curtas ainda vá lá, mas preferem morrer de vassourada ou pé de chumbo (minha mulher mata de chineladas!).

 

                    Mas voltemos à barata no banheiro. Paro na porta, ela para perto do vaso. Eu olho para ela com os olhos injetados. Ela finge-se de morta. O que devo fazer? Dizem que nós Escoteiros somos bons para os animais e as plantas, mas a barata não é animal, não é pássaro e nem peixe. Dizem que é um inseto perigosíssimo. Penso, analiso, somo dois mais dois, faço uma raiz quadrada de 0,0,3285860. Ainda na dúvida se a mando para a terra dos seus ancestrais onde vivem os baratos e baratas. Fecho os olhos. Uma pena enorme. Meu coração bate! Meu sangue ferve! Não tenho pinta de campeão, mas preciso matar esta barata. Se contar para a Célia que a deixei viver vou ouvir o que não quero. Levanto o pé calçado com um chinelo, o levo em cima da barata. Ela imóvel não sabe que vai ser assassinada. Abaixo o pé sem dó e sem piedade. Um barulho de “trak” se fez. A barata morreu!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Místicas e tradições. Uma Corte de Honra.


Místicas e tradições.
Uma Corte de Honra.

                Não era grande, quem sabe pequena, mas era linda. Devia ter uns quatro metros por seis. Para uma sala de Corte de Honra até que era grande demais. Exceto os monitores e os chefes da Tropa ninguém mais tinha permissão para entrar a não ser se convidado. No armário com chave ficavam os livros de atas. Todos confidenciais. Está devidamente anotado que a primeira patrulha de Monitores do Grupo Escoteiro Mar da Galileia construiu a sala com os braços dos seus primeiros monitores. Nenhum adulto colocou a mão. Construíram a mesa, as cadeiras, o armário e fizeram questão de pintar por dentro e por fora com uma linda cor verde garrafa, cor que se mantem até hoje. Todo ano, nas férias lá estão os monitores dando uma nova mão de tinta. Havia um sonho de muito para entrarem lá, mas era proibido.

                  Havia todo um ritual quando um novo Monitor assumia e até esta mística ninguém sabia como era. Comentavam que havia uma espada, uma bandeira da Corte de Honra e até um cálice onde se brindava com vinho a chegada do novo Monitor. Verdade ou não se tornou uma lenda que ninguém até hoje soube a verdade. Contam também que quando começaram a se reunir ali o Chefe da Tropa entrava primeiro com uma manta azul escorado em um Cajado de pedras preciosas. O que bebiam? Ninguém sabia. Verdade ou não por mais amizade que um Escoteiro tivesse com um dos monitores não conseguia arrancar uma silaba de como era por dentro, o que faziam lá, quem era o Presidente e o escriba. Judá foi o primeiro Monitor. Até hoje todos sabiam que Judá se tornou uma lenda na tropa e quando se pensava nele imaginava-se um jovem forte, alto, sorridente com uma aureola na cabeça.

               Suas reuniões aconteciam sempre no terceiro sábado de cada mês. A Tropa gostava de ver o cerimonial dos monitores entrando na sala da Corte de Honra. Era só o que podiam ver. Há um jardim em volta da sala e até hoje cada Monitor escolhe uma flor planta e fica responsável até passar para o próximo quando se aproximava sua época da Rota Sênior. A pequena sede da Corte de Honra de longe era linda. A cor verde garrafa, as telhas pintadas de marrom e as flores em volta davam a ela um aspecto juvenil, alegre e parecia que lá dentro se encontraria a felicidade. Ao término do Cerimonial de bandeira as patrulhas ainda ficavam reunidas por quinze minutos. O Monitor passava o comando ao sub dentro dos padrões existentes e se despedia dos patrulheiros com um Sempre Alerta firme e partia rumo à sala da Corte de Honra.

                   Não havia disse me disse, o que se falava lá ficava a não ser quando decidiam as atividades e decisões que afetavam o programa ou a honra da tropa, entrega de condecorações, distintivos, cordões de eficiência e ortoga do Distintivo “Lis de Ouro”. Costumes ficam quando vem de tradições e nisto a Tropa Rio Jordão fazia questão de manter. Trinta e cinco anos de existência e tudo funcionavam a contento. A Corte de Honra nunca abusou de sua posição e ninguém seria julgado sem direito de defesa ou mesmo sem a presença dos pais. Nos fogos de Conselho sempre ao terminar um Monitor se aproximava da fogueira, levantava seu braço direito, saudava com um grito de guerra a Tropa Rio Jordão e repetia para todos os presentes às tradições que nunca foram colocadas em duvida e passadas de gerações em gerações.

             - Era uma cerimonia simples. Em pé cada um em seu lugar previamente marcado aguardavam a ordem do presidente da Corte, sempre o monitor mais antigo. O Chefe era o primeiro a entrar. Ele convidava o presidente que convidava os demais. O presidente da Corte de Honra tomou a palavra – Todos deram as mãos e fizeram um silêncio de um minuto. Era dedicado a todos os monitores que um dia participaram da Tropa Escoteira Rio Jordão. Logo em seguida se viravam para o pavilhão Nacional, composto por uma Bandeira do Brasil regiamente colocada em um bastão com tripé no canto da sala – A bandeira em saudação! Firme e descansar. O próprio Monitor fez a oração de abertura – Senhor meu grande Monitor, dá-me a bravura dos Bandeirantes, a Coragem dos Guerreiros. Dai-me Senhor a humildade dos monges, a lealdade dos cavaleiros, a honradez dos justos, a força dos animais, a limpidez das águas e um coração que saiba ouvir, entender, e amar aqueles que me cercam. Assim seja!

                  A sala da Corte de Honra não diferia de tantas outras. O Pavilhão Nacional, um pequeno armário de parede, uma foto de Baden Powell e outra de Jesus, uma banqueta que servia para manter a bilha de água, copos de papel, uma mesa com seis cadeiras. Na mesa forrada com uma costura de arremate simples de cipós entrelaçados e devidamente lixados, dois livros, Escotismo para Rapazes e uma Bíblia. O Presidente convidou o Monitor da Patrulha Camelo e investido com o Escriba a ler a ata anterior. Feita a leitura foi assinada sem discussões pelos presentes. Um tema era esperado por todos. Afinal todos os anos a tropa fazia um grande acampamento e o último durou dez dias. Este ano não seria diferente. A cada ano mais e mais o acampamento se transformava. Grandes Jogos, grandes excursões, jornadas épicas foram feitas com sucesso absoluto na Tropa Rio Jordão.


                   A reunião da Corte de Honra nunca ultrapassava hora e meia. O Chefe dava os avisos e o presidente pedia ao escriba que lesse a ata. Ela só seria assinada na próxima reunião da Corte de Honra. Nada mais havendo ele agradecia a Deus pela oportunidade, dava a volta à mesa apertando a mão esquerda de cada um. O intendente servia um café quente que ele mesmo trazia de sua casa. No armário sempre havia uma pequena lata onde biscoitos doces e salgados eram armazenados. Todos se serviam e uns olhando para os outros sempre pensando na próxima reunião da Corte de Honra.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Eu tive um sonho!


Conversa ao pé do fogo.
Eu tive um sonho!

             Eu tive um sonho. Um lindo sonho. Fiquei exultante, toda a minha tristeza desapareceu. Sonhei algum parecido com o que disse Martin Luther King Jr, que dizia que mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma nova vida. Eu sonhei algum análogo, equivalente, onde vi um Escotismo grande, forte e tão intenso, que fiquei mesmo exultante acreditando que enfim, seriamos muito mais no nosso querido Brasil. Cantei aleluia, um júbilo enorme tomou conta de mim. Vi em cada escola, em cada igreja, em cada templo, fabricas e em tantos outros lugares, milhares de Grupos Escoteiros, com moças e rapazes praticando um escotismo autêntico, cheio de aventuras.

                       Eu tive um sonho. Onde nele se dizia que o amor é a única força capaz de transformar um inimigo num amigo. Meu sonho foi real. Eu vi com meus próprios olhos, todos os membros dirigentes dos nossos órgãos escoteiros em nosso país, sorrindo, abraçando, sem “turmas importantes”, sem se considerarem divos, nem mestres e esculápio, falando e ouvindo a todos que ali estavam participando e votando nas decisões. Incrível! Eles uniam os arredios, procurando os desiludidos, abraçando-os e chamando de volta os que se foram. Não era uma utopia era uma realidade. Neste sonho, a altivez, a autoestima, o orgulho, a presunção, a soberba, a ufania não faziam parte de nós chefes escoteiros. A fleuma da importância se transformava em calor humano, fazendo um magnífico conceito de si próprio e olhando a todos como verdadeiros irmãos, ajudando sem receber, sem pensar em granjear fama em ser o chefão, pensando e agindo somente na sua missão de servir.

                 Sonhei sim, onde num mundo fantástico do escotismo eu via todos escotistas participando das decisões juntos com os dirigentes. Todos sem exceção sendo consultados, indagados, inquiridos, dando sugestões, procurando o melhor caminho sem empáfias. Neste sonho tínhamos novas normas, novos estatutos, com todos eles tendo direito a voz e voto do Oiapoque ao Chuí, procurando o melhor caminho para o nosso crescimento. Que lindo sonho. Onde a busca da perfeição através da Insígnia da Madeira era uma constante, e que cada adulto visava única e exclusivamente aprender mais para ser o melhor amigo dos jovens, sem pensar em ascensão, em influência, em posição, evidência. Lá estavam milhares de chefes nas suas sessões fazendo um escotismo autêntico, de valor era um fato consumado.

                    Nos meus sonhos impossíveis, como dizia o poeta, o que é a vida sem um sonho? Sonhei que nossos órgãos regionais e nacionais, cobravam taxas irrisórias, onde todos seriam aceitos sem precisar explicar ou provar que são pobres para ficar isentos. Onde a palavra honra bastaria para dizer como eram, onde não haveria riqueza e todos os jovens seriam considerados iguais tendo as mesmas regalias daqueles que podem pagar. Vi ainda em meus sonhos todos os jovens, rapazes ou moças que atingissem o Lis de Ouro ou o Escoteiro da Pátria, teriam suas despesas pagas no próximo Jamboree Mundial após a sua ortoga. Não havia taxas em cursos, nos encontros nacionais e regionais elas eram acessíveis e do mais rico ao mais humilde podiam ali se abraçar.

              Nos meus sonhos teríamos uma ONG (Organização não Governamental que independente da ideologia, recebe todos os anos subvenções) onde teríamos o direito também de receber subvenções governamentais, estaduais e municipais. Meu sonho dizia que elas as ONG poderiam ser a redenção do escotismo brasileiro. Que sonho! Do mais humilde Grupo Escoteiro, ninguém seria jogado ao ostracismo. Neste meu sonho vi que não teríamos mais a preocupação de pagar taxas de cursos de formação, de encontros nacionais e regionais. Tudo agora seria remunerado pelos órgãos regionais e nacionais, facilitado pelas subvenções que estávamos recebendo anualmente. Neste meu sonho, centenas de Profissionais Escoteiros bem formados, estavam dirigindo, colaborando ajudando o nosso movimento de maneira ética e honrada conforme preceitua a nossa Promessa e nossa Lei Escoteira.

             Nos meus sonhos eu via não um, mas milhares de Grupos Escoteiros em todas as cidades brasileiras. Desde Boa Vista onde tenho orgulho de ter um leitor até Uruguaiana e Pelotas onde também sou lido pelos amigos e irmãos escoteiros. Todos estes Grupos estavam contentes, felizes, pois tinham sua sede, com uma sala ou mais, almoxarifado onde todo material seria guardado para suas atividades de sede e de campo. Neste meu sonho, as lideranças regionais e nacionais não deixavam nenhum grupo à deriva, sem uma resposta, sem uma visita, sem uma palavra de carinho. Toda a comunidade, a sociedade brasileira, nossos políticos, nossa classe dirigente, desde o presidente ou a presidente, até o mais simples vereador, conheciam e davam o valor devido ao Movimento Escoteiro. Eram eles que se lembravam de nós e não o contrário. Neste meu sonho eu vi adultos importantes no seu setor profissional, oriundos do movimento escoteiro, eleitos por nós para nos representar e fazendo um grande merchandising do que somos e por que existimos.

              Que sonho meu Deus! Que sonho. Nele eu via toda a sociedade brasileira aprovando e apoiando o Movimento Escoteiro. Ela sabia do nosso valor através de grandes campanhas de marketing, ela, esta sociedade não iria esquecer, pois a maioria em sua juventude vivenciaram nosso método e puderam abancar e passar pelas trilhas do mais lindo caminho percorrido de nosso programa, que tão bem foi explicitado por Baden Powell. Como é bom sonhar. Sonhar que todos os jovens podem ter uma vida cheia de alegrias, nas sendas do escotismo. Podem viver e respirar o ar puro da floresta e da montanha. Podem andar pelas campinas, ver o nascer e o por do sol do alto de uma colina. Podem explorar as serras distantes. Podem ver os rios caudalosos, os pequenos regatos de águas cintilantes, as cascatas, as cachoeiras cobertas da bruma do orvalho da manhã. Podem parar para ver os arroios, os córregos onde os peixes pulam como a saudar aqueles que ali estão. Podem descansar depois de uma longa jornada debaixo de uma árvore frondosa, colocar seus pés descalços na água límpida da pequena nascente, que de mansinho vai levando a pequena pétala que se soltou de uma rosa e é conduzida para o mar.


             Este seria um sonho lindo. Um sonho de todos nós Escoteiros. Mas isto só será possível quando tivermos a certeza que ao despertar, estaremos unidos dando as mãos e partir para o trabalho que as gerações futuras irão se orgulhar. Vamos dar as mãos, fazer deste sonho realidade. Não vamos deixar que o vento leve este sonho. Agarre-os com toda força! Acredite neles! Quando estamos sós não somos nada, mas unidos somos uma força colossal. Lute pelos seus ideais! Lute pelos seus sonhos!

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Ao meu amigo Chefe João Soldado!


Conversa ao pé do fogo.

Ao meu amigo
Chefe João Soldado!

              - Quanto tempo eim chefe? Tempo demais. Quase sessenta anos. Voltei algumas vezes a minha cidade e o meu grupo e depois nunca mais. Lembro que eu tinha uns 19 anos quando o vi pela última vez. Estava de mudança para a capital com o coração partido por ter que abandonar minhas raízes. Mas sabe Chefe, foi bom demais. Lembro-me quando o vi pela primeira vez quando mamãe foi conversar com o senhor para entrar no Lobinho. Piscou um olho para mim e deu um belo sorriso. Sabia que ia gostar de ficar ali nos escoteiros. Foi uma vivência que nunca mais esqueci. Mesmo sendo um Sargento da Policia militar, sabia sorrir, dar um tapinha nas costas para animar, e deixar que a gente fosse escoteirar, pois sempre nos disse que era assim que o Fundador do escotismo queria. O Chefe Jessé sua cria e O Munir Boca de Ouro, sem esquecer o Josias eram também assim. Pois é...

             Olha Chefe, não sei se aí em cima consegue ver o escotismo de hoje. Se conseguir saiba que tem muita gente boa querendo praticar um escotismo autêntico que alguns insistem em chamar de tradicional. De raiz ou não eu bato palmas para eles. Sei que não iria gostar de ver a uniformização de hoje. O Senhor sempre foi exigente na postura e no garbo. Chefe é uma liberdade que assusta. Uns colocam o bibico de pato com a aba voltada para trás, outros usam chapéus canadenses e tem aqueles que nem se incomodam em mostrar que a aparência e tudo. Tem aqueles que penduram o lenço no pescoço e se acham os tais. Nem vou falar da tal camisa fora da calça. Agora é moda.

              Sabe Chefe, não esqueço quando fui acampar pela primeira vez o senhor na inspeção me pediu minha escova de dente, pente, sabão para lavar o uniforme e espelho pequeno para ver se meu rosto estava limpo e bem asseado. Lembra-se do que me disse? - Escoteiro você vai para o mato, mas não é bicho. Se apresente sempre asseado e bem apresentado! E quando o Totonho e o Lampreia chegaram à sede sem o lenço, com a camisa escoteira de qualquer jeito, sem meião e o senhor os mandou de volta para casa! Eles reclamaram, mas lembro de que o senhor educadamente disse para eles que o Escoteiro ou está bem uniformizado ou não. Eles sabiam que só podiam vestir o uniforme depois da promessa. Bom isto né Chefe!  

                Dizem Chefe João Soldado que fazemos um escotismo moderno. Que a meninada escoteira quer assim. Lembra quando sentávamos em baixo da Mangueira enorme do pátio atrás da igreja? O senhor fazia o jogo da boa apresentação e garbo, o jogo da Verdade, o Jogo da Lei e o Lequinho da Elefante fingindo ser um Escoteiro indisciplinado? Chefe eu ria a mais não poder. Chefe eu aprendi muito com o senhor. Era nosso exemplo. Acho que por ser um militar fazia questão de ter tudo muito bem apresentado. O senhor sempre foi impecável no seu uniforme. Nas suas estrelas brilhando, na sua fivela do cinto escoteiro incrivelmente limpo, no seu chapéu de abas largas e retas, do seu meião com frisos retos do seu sapato preto sempre engraxado. Fazia questão de ter em nossa tralha escoteira, escova de sapato e graxa preta!

               Pois é Chefe, tudo está mudado. Tento me adaptar, mas é difícil. Pelo menos ainda visto o meu uniforme com orgulho. Nada de inventar coisas que não existem só para parecer que sou um herói de um filme e o pior Chefe é o danado do exemplo. Como se diz mesmo? Tal pai tal filho, ou tal Chefe tal Escoteiro? A gente Chefe João Soldado fica na espreita olhando aqueles que dizem tanto e não fazem tanto. São poucos que põe a mão na consciência para ver se estão educando para a vida ou para a liberdade de fazer o que bem entende. Enfim Chefe são as mudanças que o mundo fez ao rodar em volta de si mesmo. Não sei se o Senhor iria adaptar a realidade destes anos modernos. Mas Chefe eu ainda vou enfrentando por que tem muita gente boa escoteirando.

               Vou terminando mandando lembranças ao Nonô, ao Tãozinho, ao Carlos, ao Chiquinho, ao Pedregulho, ao Nonato e o Israel. Não me esqueço do Munir e se vir o Romildo diga a ele que não esqueço quando botamos o exército brasileiro para correr nas cavernas do Rio Doce bem acima de São Raimundo. Quase deu bode e eu passei o maior aperto. Diga a todos que tenho saudades da carretinha, da tralha da patrulha, das subidas e descidas dos acampamentos que fizemos quando juntos viramos as florestas de cabeça para baixo nas belas jornadas que fizemos. Não vou demorar em encontrar vocês. Mas não fiquem torcendo para eu ir logo, nada disto, deixa aquele lá do céu ordenar quando chegar a hora.

              Para o Senhor um grande e forte abraço. Eu fui feliz em ser um Escoteiro do Chefe João Soldado. Espero que ainda tenha aquele belo sorriso. Um sorriso honesto de gente que gosta da gente sem pedir nada em troca.
Sempre Alerta Chefe sem o tal SAPS coisa da modernidade que não gosto.
Abraços fraternos a todos e um até breve,

Do Vado Escoteiro da Lobo, hoje conhecido como Chefe Osvaldo.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Um Lampião Vermelho a querosene.


Um conto quase real!
Um Lampião Vermelho a querosene.

            - Ontem a tarde faltou luz em minha morada. Ao procurar umas velas olhei na sala e lá estava pendurado o meu novo amigo um Lampião Vermelho a querosene. Foi-me presenteado por um amigo Escoteiro das Minas Gerais. Ele leu uma historia que publiquei sobre um Lampião Vermelho e fez questão de me presentear com um. Fiquei muito feliz quando o recebi. Tenho amigos que sempre estão a me surpreender com presente inimagináveis. Eu já tinha abaulado seu pavio, pouca querosene e devidamente testado. A sala na penumbra se assustou com a luz bruxuleante do meu novo amigo que muitas lembranças me trazia do meu passado. Eu era Escoteiro da Raposa e ganhei um de presente da minha Avó lá de Tapimirim onde sempre ia passar as férias.

                 No dia do retorno para minha cidade ela sorrindo me disse: - “O lampião cum corosene só serve pra infeitá os comudu da casa”. Era assim que ela falava. Linda a minha avó. – Meu neto, este lampião vermelho é seu. Cuide dele, o mantenha limpo e sempre preparado para usar. No campo o leve vazio com um pequeno frasco bem arrolhado de querosene. Sempre quando voltava no ano seguinte ela não esquecia de me perguntar: - Tem tomado cuidado com o Lampião Vermelho? – Eu ria e dizia, - Sim Vó! – Sabia que ele fala, chora e rí? Não liguei muito para o que ela disse. Um lampião não fala, não ri e não chora. Ele ficava sempre dependurado no meu quarto, inerte e nunca o vi falar e sorrir.

             – No acampamento de Julho, quando arrumava minha mochila ouvi uma voz fanhosa e rouca: - Não vai me levar? Olhei com cuidado e assustado vi que era o Lampião Vermelho quem falava. – Pensei com meus botões, devo estar “tantan” e mesmo não tendo certeza o peguei e o amarrei na alça direita de minha mochila. Nesta época ainda não havia os tais Lampiões a Gás. Pipoca o cozinheiro usava uma lamparina que dava a luz que precisava para preparar nossas refeições. Havia outra na Mesa do Campo, mas qualquer vento a deixava apagada. O Lampião Vermelho se sentiu o rei junto aquelas duas dengosas Lamparinas. Não foi brusco e posso garantir que foi um perfeito cavalheiro, daqueles que só no escotismo são fabricados. Nos cinco primeiros dias tudo correu a contendo.

               À noitinha o Chefe Reuniu as quatro patrulhas para um jogo noturno. – Deixem tudo preparado. Vamos demorar, só vamos retornar lá pelas duas da manhã. Não se preocupem, a Alvorada será esticada em três horas! – Nada de novo, os nossos jogos noturnos duravam pelo menos cinco horas. Outro dia comento sobre o jogo, mas só adianto que morri antes da meia noite. Esperei na Curva do Peão a patrulha retornar. A norma era a patrulha entrar no campo com todos seus patrulheiros. Qual não foi nossa surpresa ao encontrar o Lampião como vidro quebrado e a querosene toda esparramada pelo chão. – O que ouve? Perguntei a ele.

              Escoteiro, dois ladrões passaram por aqui. Falei baixinho para as lamparinas apagarem o pavio. No escuro seria melhor para nos defender. Mesmo assim um deles tentou me acender e eu valente como sou levantei muito o pavio e a chama alta pegou em sua camisa que pegou fogo. O outro veio correndo e me chutou. Cai e quebrei o vidro. – E as lamparinas? Correram pela mata. Não as vi mais! – Preocupado solicitei ao monitor que fossemos todos em busca das Lamparinas. Encontramos uma em um buraco de Tatu, como uma enorme cascavel enroscada e a outra bem próximo ao Ninho da Águia na Gruta do Morcego. Elas se jogaram em meu colo e voltamos para o acampamento.

              Fizemos muitos acampamentos, muitas excursões, muitas atividades aventureiras, mas me diverti com o Lampião Vermelho no Bivaque de novembro, aproveitando o dia de finados. Zé do Boi disse que conhecia bem o trecho. Sabia aonde poderíamos parar para dormir. Sabia onde tinha boa aguada e lenha para as fogueiras. Sei que na terceira noite, já percorridos mais de setenta quilômetros, paramos para dormir e no dia seguinte vimos que estávamos em um cemitério abandonado. Cadê o Lampião Vermelho? Demoramos mais de cinco horas para descobrir seu paradeiro, em cima de um Jequitibá-Rosa tremendo igual vara verde. – Jurou que não ia mais acampar conosco.

              Quando fui morar na capital para enfrentar a faculdade, ele chorou com minha partida. Ficou calado e mudo. Quando o apresentei ao Zequinha que fora Lobinho e agora estava na patrulha ele sorriu. – Lampião Vermelho, o Zequinha vai cuidar de você. – Ele falante logo perguntou: - Explicou para ele como eu sou? Faço a luz, mas quero amor, quero amizade e sempre ele tem por obrigação de me dar um abraço! – Eita Lampião danado. Mas eu sabia que Zequinha não iria faltar no cuidado que ele merecia.

                Histórias são histórias, Contos são contos, Lendas são lendas. A luz voltou. O meu novo amigo o Lampião Vermelho que ganhei de presente ainda continuou aceso por muito tempo na sala. Meus pensamentos corriam céleres por um passado que resistia em esquecer. O apaguei. Fiz questão de lavar o vidro e secar com uma folha de jornal. Este não falava, mas eu agradeci. Meu amigo Lampião Vermelho, ficaremos juntos para sempre. Pode contar com este Escoteiro que mesmo velho sabe respeitar aqueles que nos iluminaram pelos caminhos da vida que o Senhor nos reservou com tanto amor!