Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Boas ações dignificam o caráter.


Conversa ao pé do fogo.
Boas ações dignificam o caráter.

                     Somos um movimento de formação de caráter. Desde os primórdios que Baden-Powell nos deixou este legado e seu método mantem-se incólume até hoje. BP fez questão de deixar escrito em seu livro Escotismo para Rapazes, nossa bíblia Escoteira que o desenvolvimento do jovem, se faz por meio de um sistema de valores que prioriza a honra, baseado na Promessa e na Lei escoteira. Através da prática do trabalho em equipe e da vida ao ar livre, fazemos com que o jovem assuma seu próprio crescimento, tornar-se um exemplo de fraternidade, lealdade, altruísmo, responsabilidade, respeito e disciplina. Ele BP foi enfático quando escreveu a promessa Escoteira (aqui no seu original) -  "Pela minha honra, eu prometo que farei o meu melhor para cumprir meu dever para com Deus e o Rei, ajudar os outros em todas as ocasiões e obedecer à Lei Escoteira.". Tudo que ele dizia fazia questão de dizer que sem ajuda ao proximo o escotismo não iria atingir os objetivos que se pretendia. Os conceitos inerentes a Lei Escoteira se firmava pela honra, integridade, lealdade, presteza, amizade, cortesia, respeito e proteção da natureza, responsabilidade, disciplina, coragem, ânimo, bom-senso, respeito pela propriedade e autoconfiança.

                       Boas ações são sempre lembradas por quem já foi ou mesmo por aqueles que nunca foram Escoteiros. Muitos nunca esqueceram o menino ajudando um idoso a atravessar a rua. Está na mente dos escritores, poetas, pensadores e claro nos humoristas com suas piadas infalíveis de boas ações principalmente aquela do menino que forçava a velhinha a atravessar a rua de todo jeito. O escotismo tem uma gama enorme para prender o jovem em suas fileiras. O uniforme, a disciplina, a amizade, a fraternidade mundial, um código de honra, uma promessa e a patrulha ou matilha.  No Sistema de Patrulhas ele tem melhor conhecimento do método através do qual se pratica o escotismo. O sistema de patrulhas visa promover o constante desenvolvimento dos escoteiros trabalhando sempre em pequenos grupos (patrulhas) liderados por um jovem (monitor). Entretanto posso garantir que sem um perfeito conhecimento, assimilação e ação sem boas ações estamos longe de alcançar o objetivo que nos propomos.

                       A boa ação é parte importante na formação do jovem ou da jovem. Dizem que o prêmio da boa ação é tê-la praticado. Quando lembrada, exigida e aplaudida ela se torna um hábito de comportamento por toda a vida. No passado havia a moeda da boa ação. Ela existe até hoje, mas desconhecida por muitos. Uma moeda com duas faces, muitas de um lado Baden-Powell como a cobrar o feito e do outro lado, parabenizando pelo feito praticado. Era usada no bolso esquerdo. Seja com ou sem uniforme. Praticada a boa ação era levada ao bolso direito. Muitos Escoteiros, no entanto não se satisfaziam com uma só e voltavam-na novamente para o bolso esquerdo. A promessa para ele dizia que devia fazer todos os dias uma boa ação e ele queria mais, pelo menos três. Havia no passado também o nó no lenço. Numa pontinha se fazia o nó. Seja com o lenço junto ao uniforme em movimento ou mesmo ele lá em sua casa guardado. Enquanto o nó existia ele o Escoteiro sabia que não estava em dia com sua boa ação.

                     Os chefes sempre motivavam os jovens e acredito que até hoje ainda é feito assim. Em todas as reuniões sempre se tirava alguns minutos para comentar a Lei Escoteira, a Promessa e a boa ação. Conheci tropas que faziam questão de incluir as boas ações durante a inspeção quando da abertura das reuniões. Outros tinham prêmios que não mais era que um troféu eficiência de couro, tipo o totem de patrulha, preso por tiras de madeira no bastão do Monitor e entregue sempre ao fim das reuniões, com solenidades para isto. Confiava-se no jovem ou na jovem quando ele contava sua boa ação diária. Claro o primeiro artigo diz que o Escoteiro tem uma só palavra e se nós os adultos não acreditamos é porque não confiamos. E se não confiamos à lei deixa de existir. Era comum e deve ser ainda nas reuniões dar exemplos, dizer que suas boas ações podem passar da porta de sua casa, mas suas más ações repercutirão até a lua. Faz parte do programa de reunião os comentários, as sugestões e a cobrança de boas ações. Nunca se deve duvidar do que o jovem ou a jovem em tudo que diz e comenta o que fez durante a semana.

                       Não adianta ter um bom programa, com bons jogos, com boas bases técnicas, lindas canções sem que se tenha uma palavra amiga a todas as patrulhas da Lei e da Promessa. Ser enfático no tema é uma arte não um meio de discursar para os Escoteiros. Uma boa história, curta, com princípios voltados para o que se quer ensinar ou mesmo um jogo bem bolado, vale mais que um discurso bem feito e bem postado. Afinal não dizem que a cada boa ação você semeia uma semente, mesmo que não veja a colheita? Muitos afirmam que suas sessões sempre fazem boas ações. Vão juntos a uma praça plantar árvores, limpar a grama ou mesmo fazer um mutirão de alimentos e levar a quem merece. Eu considero isto uma ótima maneira de ensinar o trabalho comunitário. Mas afirmo que a boa ação não deve ser só pensada coletivamente. Tais ações se feitas muito frequente faz com muitos jovens se afastem. A experiência de muitos deve saber que em tais ocasiões nem sempre a presença é boa.

                      Incentive, motive seus jovens com boas ações, faça com que as patrulhas comentem sobre elas, quem sabe escolher as melhores e dar como exemplo para todos? E o mais importante, elogie, o elogio é contagioso. Freud dizia que contra os ataques é possível nos defendermos: contra o elogio não se pode fazer nada. E afinal quem não gosta de um elogio? Ele é amor transmitido em forma de palavras e melhor que uma critica que machuca e deixa marcas para sempre. Chico também dizia que desejar o bem a alguém é como as boas ações, não precisamos divulgar e nem ter méritos por isto, basta que esteja em nosso coração. Isso é ser "o próximo". Não esqueça se ainda não o faz coloque em seus programas tudo que possa dizer e comentar sobre boas ações e claro sobre os artigos da lei. Se um dia isto se tornar um hábito de comportamento melhor. Assim como aquela pequena vela lança os seus raios, uma boa ação brilha num mundo maldoso.


E lembre-se, BOAS AÇÕES DIGNIFICAM O CARÁTER! E claro SEM CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O inesquecível Chefe Gafanhoto. (história baseada em fatos reais)


O inesquecível Chefe Gafanhoto.
(história baseada em fatos reais)

               Gente boa. Educado. Sabia ouvir, sabia cantar, era um grande mateiro, sempre sorrindo e com uma tropa Escoteira maravilhosa. Tinha um sonho. Um sonho maluco – Chefe Osvaldo, se Deus quiser um dia eu vou me alistar na Legião Estrangeira. – Você sabe o que é isto? Perguntei. - Claro, sei que quando se alista são cinco anos sem poder sair. Bem cada um com seus sonhos.  Eu o conheci em um curso Escoteiro. Foram oitos dias na mesma Patrulha. Chefe gafanhoto praticamente liderou a patrulha. Surpresa foi quando me disse que morava em Barra das Vertentes. Menos de cento e cinquenta quilômetros de onde eu morava. Em Luz do Amanhã. Tinha sido promovido a Chefe da Tropa há poucos meses. O curso me deu um novo caminho a seguir.

               Chefe! Que tal acamparmos juntos? Minha tropa e a sua. – Grande ideia Chefe Gafanhoto. Quando? Vamos aproveitar janeiro do próximo ano. Falta menos de seis meses. Ficamos combinados. O local ainda iriamos decidir. Em fins de outubro recebi uma carta dele. – Chefe, o Senhor Molixto, pai de um Escoteiro tem uma fazenda próxima a Três Estrelas. Metade do caminho para mim e você. Acho que uns noventa quilômetros de sua cidade. Você passa Três Estrelas e marca mais cinco quilômetros. Verás uma bifurcação. Ali será o ponto de encontro. Até a fazenda são mais oito. Senhor Molixto me garantiu que lá tem um excelente local, próximo de uma cascata para banho e muitos bambus. Ele irá nos ceder dois carros de bois para transporte do material do entroncamento até o local. Garantiu também que será por conta dele a carne de porco, de boi, gordura, arroz, feijão, batata e verduras e frutas. Ele tem isto na fazenda!

                  Beleza! Mandei outra carta confirmando o horário de encontro. A tropa vibrou quando contei do acampamento. Consegui na prefeitura um caminhão lonado, Chefe João o Chefe do Grupo conseguiu o que precisávamos de alimentos no Armazém do seu Amadeus. Iriamos com quatro patrulhas. Fizemos dois Conselhos de Patrulha e duas Cortes de Honra. Metade do programa nosso e a outra do Chefe Gafanhoto. Seriam seis dias acampados. Partimos em uma manhã chuvosa. O veiculo dançava nos buracos da Rio Bahia, estrada de terra ainda sem asfalto. Noventa quilômetros. Chegamos às nove e meia da manhã. Corre daqui, corre dali, tralha nas costas, chuvinha intermitente e pegamos a bifurcação. Vimos à tropa do chefe Gafanhoto do outro lado do riacho O córrego cheio. Imenso. O pontilhão fora levado pela cheia. Não dava para atravessar. Um barulhão tremendo das corredeiras. 

                  A Patrulha Raposa montou rápido um posto de transmissão de semáforas. Entendemo-nos. Armamos barraca debaixo de chuva e combinamos esperar a enchente diminuir. As patrulhas improvisaram um toldo e um fogão tropeiro. Saiu uma sopa com pão fresco. À noite as patrulhas resolveram conversar por Morse. A turma do Chefe Gafanhoto era boa na sinalização. Dormimos cedo. De manhã sem chuva, mas cinzento o céu. A enchente diminuiu. Rogério Monitor me procurou. Chefe, as barracas estão cheias de escorpiões. Ensinei o que deveria ser feito para empacotar o material de campo e individual. Graças a Deus ninguém foi mordido. Resolvemos atravessar sem a ponte, pois se não iriamos perder alguns dias o que não estava no plano. Cada Patrulha fez uma pequena jangada. Uma festa. A outra tropa gritando e ajudando. Às onze da manhã estávamos do outro lado.

                   Abraços, saudações, apertos de mão, uma festa. Partimos. Os carros de boi lotados. Rangendo. Cantando como sempre. Adorava isso. Chefe Gafanhoto brincando com todos, animando, cantando com seu jeito especial. Oito quilômetros tirados de letra. Uma hora da tarde chegamos. Seu Molixto gente boa. Lambuzamos de goiabas e bananas. Ele tinha uma carne de porco frita. Mas iriamos fazer o almoço. Fomos para o campo. Lindo local. A cascata era linda. Tem nome? Perguntei. Não. Eu te batizo como Cascata da Fraternidade. E assim foi dito, e assim foi feito e assim lavrado em ata. Seis dias maravilhosos. Parecia que os sessenta jovens ali presentes se conheciam a longo tempo. Mais que irmãos. Seu Molixto um cavalheiro. Dois meninos filhos de um meeiro (mora nas terras da fazenda, planta e dá uma parte para o dono) se encantaram. Chefe Gafanhoto os colocou cada um em uma Patrulha.

                      Tiana filho do Seu Molixto uma bela morena dos seus dezessete anos não tirava os olhos de mim. Infelizmente estava noivo e comprometido. Fiquei triste quando partimos e ela chorou. Lagrimas e lagrimas em seus olhos. No acampamento teve de tudo. Bois que invadiram o campo à noite acordando todo mundo. Ricardinho pegou uma traíra de quatro quilos. Só vendo para acreditar. A luta do bastão no remanso da Cascata da Fraternidade valeu por um acampamento. A jornada na Caverna do Vento outro. Começava em um lado da montanha e saia do outro lado. Mais de dois quilômetros na escuridão. E os pistoleiros? Sempre escorados no tronco da macaxeira com um cigarro de palha a nos espiar. Seu Molixto dizia que eram de paz. Norbertinho em um jogo noturno caiu de uma árvore. Quebrou a perna. Foi levado em uma charrete a cidade e voltou para o acampamento enfaixado. Ele mesmo fez uma espécie de muleta para usar. Nunca chorou. Aproveitou tudo do acampamento.

                      A falsa baiana em cima do remanso a mais de quinze metros de altura deu o que falar. A ponte pênsil que a Patrulha do Morcego fez durou dois dias com um belo tombo do Japirim. O Ninho de Águia da Patrulha Coruja dizem está lá até hoje.  Risos. A “desandeira” que deu em todos por comerem muita goiaba deu para rir a beça. Sempre um correndo para o WC que logo encheu! Final de campo. Meninos da fazenda chorando. Seu Molixto emocionado fez o juramento escoteiro e recebeu os dois lenços um de cada grupo. Os dois pistoleiros vieram nos cumprimentar. Vi eu seus olhos a chama da esperança que nunca tiveram. Tiana me procurou dizendo que me amava e nunca mais ia me esquecer. Nunca mais a vi.  Retorno triste, Chefe Gafanhoto tentando animar. Partida chorosa, nosso caminhão lotado. Dando adeus. Edinho com sua bandeirola de semáfora dizendo e repetindo um até logo até o caminhão virar a curva da estrada. Meninos se acenando dizendo adeus. Promessas de um novo reencontro. Amizades que se formaram e duraram por uma eternidade. Janeiro de mil novecentos e cinquenta e nove que entrou para a história.


                      Cinco anos depois recebi uma carta do Chefe Gafanhoto – Chefe Osvaldo, estou partindo para a França. Vou me alistar na Legião Estrangeira. Nunca mais o vi. Acho que seu sonho de ser um legionário foi realizado. Ainda deve estar lutando e escoteirando nas montanhas ao norte da Argélia. Sonhos são sonhos. Cada um faz o seu. Belo acampamento. Grande amigo o Chefe Gafanhoto. Nunca mais o vi e nunca mais o esqueci. Ficou marcado para sempre em meu coração.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O bom e gostoso acampamento Escoteiro.


Crônicas de um Velho Escoteiro.
O bom e gostoso acampamento Escoteiro.

                 Nunca será substituído. Sempre lembrado e sempre marcado na vida de quem já participou. Ficar semanas de espera do dia, ver o corre, corre das patrulhas a preparar seus materiais, revisar barracas, contar os espeques, o varão, dobrar com aquele carinho que aprendeu. E o Saco de Patrulha? – Intendente, tudo nos trinques? Tem facão? Machadinha? Lima morsa? Tem martelinho? Serrotinho? E as panelas brilhando como sempre? Não esqueça o coador de café, chega de coar nas meias! Risos. E assim tudo vai sendo preparado, olhado e sonhado. Não nos esquecemos da ultima reunião de patrulha – O Monitor lembrou a cada um sua função no campo. – Espero de vocês muita alegria, muita vontade e que se divirtam e não esquecer que somos uma equipe. Alguns são Patas tenras mas a maioria já sabe como é. Aproveitemos pois esta oportunidade de viver a natureza, de sentir o vento, poder ver as estrelas e mostrar nossas qualidades de patrulheiros da Leão!

                  E chega o dia, horário de saída as oito, ônibus cheio, material já foi empacotado e colocado no bagaceiro, uns olham para os outros, cada um com um sorriso diferente. Os mateiros se ajeitam, os novatos tentam entender aquela algazarra gostosa e organizada. As canções começam, um dos chefes está lá na frente olhando. Ele sabe do valor de um acampamento Escoteiro. Os monitores tiram uma pequena soneca. Sabem o que virá quando chegar lá. Conhecem o local pois foram lá com o Chefe. Boa aguada, bambus à vontade, uma pequena floresta a sudeste, algum gado solto no campo, uma bela lagoa que todos tomarão cuidado na hora do banho. Eles têm conhecimento de parte do programa, do cardápio, dos horários. A Corte de Honra discutiu tudo. O Monitor da Leão sabe o que é um acampamento. Ele fez muitos. Nunca esqueceu o seu primeiro. Dias na cama, mãos sobre a nuca, a pensar no que iria acontecer.

                   A saída para um acampamento sempre é um espetáculo a parte. Mães, pais, avós, tias e vizinhos todos ali a olharem seu pequerrucho, saber que vai ser o seu primeiro dia fora de casa, uma preocupação do que vai acontecer. Ele sozinho e amigos no mato. No mato? E as cobras? E se ele cair em um buraco? E se ele se afogar? E se cortar com o facão. Mil coisas passam na mente destes super protetores. Esqueceram que um dia eles irão partir, criar uma família sentir também na pele o que aconteceu com ele, mas não vale a pena? Ele não tem que um dia ser dono de sí? Eles não tem que aprender a lutar pela vida, seu lugar ao sol, tomar decisões? Ainda bem que muitos dos pais sabem que esta é a hora. A hora que eles terão que decidir o que vão fazer e para onde ir. Tomadas de decisões, olhar seu próprio material, aprender a lavar, a cozinhar, a saber que ali eles não estão sós. São uma patrulha, quem sabe seis, sete oito jovens como ele a viver a vida de herói da selva. Um herói diferente, um herói que viveu na floresta, que sentiu na pele o vento da chuva, que sabe que não vai fraquejar.

                   E eis que chegam à sua nova morada. Pastos enormes, capins, arvores, sons de bichos, de pássaros, quem sabe o som do regato que corre para o mar. Hora de trabalho. Monitores escolhem seu campo. Levar o material, o sol a pino, alguns fraquejam mas são soberbamente lembrados de suas responsabilidades pelos monitores. Ele o Monitor sabe que o inicio não é fácil. Armar barracas, preparar o fogão suspenso feito de barro, Não esquecer os toldos por causa da chuva se vier. As pioneirias irão surgir, o mais novato sorri sem jeito, quer um facão para cortar uma árvore! Os novatos são assim, nem aprenderam ainda a usar o facão, mas haverá tempo para isto. Três apitos, sinal de reunir todos. A bandeira já está preparada. Os touros foram escolhidos para serem naquele dia a patrulha de serviço. Eles sabem o que fazer. São meninos profissionais Escoteiros. A bandeira farfalhando vai ao ar, o vento bate, ela reflete o orgulho dos que estão ali pelo seu país.

                     Um jogo, um tempo livre para um lanche pois neste dia haverá só um lanche à tarde, o jantar e uma bebida quente na hora de recolher. Poxa! Tem um comendo biscoitos? Não pode. Ali é um por todos e todos por um. O que um come é direito dos demais comer também. O Monitor sorrindo explica, ele entende, não fará mais isto. Vem à tarde, o cansaço do primeiro dia começa a aparecer. Eles sabem que os chefes estão lá no seu campo. Não virão aqui, só se convidados. Cada um tem sua casa e seu direito de receber quem quiser. Vem à noite, fumaça no fogão, olhinhos fixo na frigideira que frita linguiças. Uma fome enorme! Ninguém mexe, só quando o cozinheiro chamar todos, agradecerem a Deus pela refeição e se regalarem com aquela refeição dos deuses. A noite chega firme. As estrelas no céu brilham. Um jogo noturno, um medo enorme dos novatos, mas no final sorriso em profusões. Hora de dormir, um toque longo do Chifre do Kudu avisando que o amanhã vem aí. Boa noite!   

                   O primeiro dia se foi, o segundo também o terceiro é o penúltimo. Todos cansados mas alegres. Cada patrulha fez o máximo para transformar seu campo na extensão de sua casa. Tem mesa, cadeiras, bancos, um cercado para lenha lonado, uma casa de bambu pequena para abrigar o material de sapa. Construíram um belo WC contra o vento bem lá atrás do acampamento! Fossas de líquido, de detritos fossas de todo jeito. Hoje tem Fogo de Conselho. A espera é longa, as patrulhas se preparam, cada uma vai se apresentar no palco do mundo. As estrelas irão assistir, um cometa irá passar saudando a todos. Mais um fogo para lhes dar o calor e lembranças que ficarão gravadas na mente por toda a vida. Um final maravilhoso! Mãos entrelaçadas, olhos húmidos a cantar que não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus. Uma palma Escoteira, hora de dormir, monitores fazem sua última corte de hora e rememoram o que ali aconteceu. Todos sorriem, hora de dormir também.

                   A chegada, no caminho quase todos dormindo, o corpo cansado mas a mente preparada para o próximo. Aprenderam a viver na selva, aprenderam a fazer fazendo, agora sabem que não são mais pata tenra, são Escoteiros e escoteiras de primeira classe. A chegada, mães, pais, tios, primas, avós todo mundo ali a esperar preocupados. Mal sabem eles que tem filhos e filhas agora preparados para enfrentar a vida. O escotismo nestes quatro  dias de campo lhes deu anos de aprendizado na cidade. Este acampamento vai deixar saudades, vai deixar marcas profundas, lembranças de um tempo que ficará na história no livro da vida de cada um. Ah escotismo! Que poder você tem? O que faz para construir tantos sorrisos, valentes jovens a aprender o bem e o mal? Prometo pela minha honra! E ele chega a casa, conta tudo, pais, mães, tias, avós primas, vizinhos em volta a ouvir. – Eu não tive medo! Eu enfrentei a escuridão, eu enfrentei a chuva, aprendi a amar meus irmãos e...

Acampar! A maior aventura que um Escoteiro ou uma Escoteira pode viver!       

sábado, 10 de janeiro de 2015

Você vai ao Jamboree?


Crônicas de um Velho Escoteiro
Você vai ao Jamboree?

                  Há alegria no ar. Comentários do norte ao sul. Estou embarcando! Natal me espere! Sorrisos mil. Alguns já estão lá se refrescando nas maravilhosas praias do Rio Grande do Norte – Fotos de jovens e adultos, ops, a maioria adultos sorrindo em ônibus, aviões, automóveis e até motos. Soube de uns que estão indo a pé. Desta turma eu gosto. Escotismo é assim, ou vai ou racha. Alguns me escreveram comentando o trabalho que deu para conseguir os meios financeiros para a viagens. Quermesses, rifas, fila de espera para falar com autoridades sem contar as eternas ”vaquinhas” entre chefes. Como se diz por aí, Escoteiro se vira, ele não é quadrado nem redondo. Para ele a palavra impossível não existe. Outros um dia me disseram que quem quer anda e não manda. Cada um tendo na ponta da língua sua explicação para tudo. Um deles me garantiu que vai com toda a tropa e olhe Chefe disse ele – A maioria classe média sem dinheiro sobrando. Eu acredito. Afinal são chefes Escoteiros do mais alto gabarito.

              - Chefe! Qualquer um pode ir! Dizem-me por aí. Verdade. Qualquer um, mas precisamos ensinar os demais que não vão. Afinal somos quase 85.000 membros da UEB. Ela não admite a presença das outras associações – Ela é daquelas que dizem façam o que eu mando e não o que faço – Sexto artigo da lei? Dizem que o mundo é assim, quem pode, pode que não pode se sacode. Verdade? Eu já escrevi muitas histórias de meninos e meninas que sonhavam em participar de um e nunca puderam ir a um Jamboree. – Chefe! Disse-me um deles. A UEB não poderia facilitar mais? Ajudar aqueles que se esforçaram para ser um Lis de Ouro, uma Escoteira da Pátria? – Não sei digo a eles. Cada um com seus “pobremas”! Sempre me bati em defesa de quem não tem. Afinal não aceito que fazer escotismo é só para ricos. Quando escrevo artigos assim dezenas de chefes se sentem magoados. Acham que me dirijo a eles. Never! Eu sempre pensei assim, fui de outra época, fui ao Rio em um Ajuri de bicicleta. Quase 800 quilômetros de distancia e cheguei lá duro sem “Money”.

                  Eu sei que não existe almoço grátis. Tem um Chefe que sempre fica me dizendo isto. Ele tem razão. Grátis só mesmo rezar na igreja e pedir a Deus uma passagem e o dinheiro da taxa.  Mas cuidado quando pedirem a você o dízimo do dia. Como não entendo da estrutura, dos gastos, do corre, corre para se montar um “bicho” destes, melhor é me calar. Eu precisava saber quanto deu de lucro, isto se deu e claro. Mas e o marketing? Dos refrigerantes, dos picolés, das lembranças, das fotos de empresas A e B. Se a UEB pode gastar com processos aqui e ali contra os que de lança em punho se erguem em seus cavalos brancos contra ela, este rico dinheirinho não podia ser canalizado para isto? Quando terminou o Jamboree do Rio de Janeiro me martelei a procura da prestação de contas. Nunca vi. Uns dizem que deu um rio de dinheiro e outros que deu prejuízos. Prejuízos? Interessante, depois deste jamboree cada estado queria tirar sua casquinha. Cada um fez o que pode para seu Jamborizinho. Contaram-me e não posso provar que o caixa aumentou e muito em todos eles.  

                  O duro mesmo é ver alguns grupos aonde uns poucos da tropa vão e os demais não. Explicações? Sei não, podem me dar milhares, mas para mim é difícil entender. Sou meio “burro” para isto. Hoje temos muitos colaboradores voluntários que tem condições para ir a qualquer ponto do Brasil. Tem até aqueles que vão para o Jamboree Mundial. Um sonho para o escoteirinho de Brejo Seco? “Pobrema” dele irmão, dirão. Mas caramba, ele não acreditou um dia que somos todos irmãos? Ai aparece aquele sabido a dizer – Irmãos sim, mas quem mandou ele ser pobre? Não vou dizer que estão derramando lágrimas porque não estarão em Natal. Natal? Onde Jesus nasceu? Nada disto meu amigo, é aonde vai se realizar o Jamboree. Lá dos 5.000 teremos quase 2.300 só de adultos. Muitos vão para ser “Staff” pagam uma pequena parcela para ajudar. Espírito Escoteiro é assim. Afinal os chefes sempre pagam nos grupos. Mensalidades, taxas de curso, taxas mensais e tem aqueles que esquecem suas famílias e estão sempre a ajudar um escoteirinho ou uma escoteirinha mais pobre.

                 O sonho de todo Escoteiro e Escoteira é estar em um Jamboree. Sonhos de uma noite de verão? Mas convenhamos, já pensou Dona Dilma dizendo: - Que a Força aérea leve todo mundo para natal. – Ela complementa: Doutor Joaquim Levy, separe uma verba para todos os jovens Escoteiros do Brasil ir participar. Será que o Congresso Nacional não iria pedir para ir também? Uma boquinha desta ninguém despreza, ainda mais alguns deles que não perdem uma na Petrobrás. “Moço o petróleo é nosso”! Kkkkk. Melhor rir. Mas cá prá nós, temos estrutura e know-how para fazer um Jamboree com 55.000 mil Escoteiros? E se por um acaso sem acaso os “home” da UEB resolvessem convidar as demais associações Escoteiras do Brasil? Afinal nem as bandeirantes são convidadas, ou são? Mas isto são estrelas brilhantes. Só dá para ver e não pisar em estrelas espalhadas pelo céu nesta fantástica via láctea.

                  Putz grila! Que tema danado de espinhoso. Alegria para uns tristezas para outros. O duro é ver um ou outro aparecendo aqui e ali e dizendo: Amanhã eu vou! Amanhã? Não Chefe, no próximo! – Boa viagem. Isto me faz lembrar um pássaro que quando eu era pequeno a gente acampado na mata o ouvia cantar – “Amanhã eu vou”. E não parava de dizer “Amanhã eu vou”. Tentei me lembrar do nome mas me disseram ser o Curiango quem canta assim. Zé Ramalho escreveu uma musiquinha com o título - Amanhã eu vou.  Para ele o pássaro era uma Carimbamba. Como não sou um expert nisto, melhor é dizer que meu Jamboree é meu sonho de ver dezenas de milhares, bandeiras ao vento, de Chapelão ou bolsões na camisa solta, chegando para o acampamento dos Escoteiros do Brasil é um eterno Amanhã eu Vou! Puxa! Seria batuta de lá estivesse a AEBP, a FET, as Bandeirantes, Os tradicionais, os Florestais e porque não os Desbravadores? – Chefe! Calma! O senhor está querendo muito! Fique na sua. Lembre-se sonhar é bom mas por favor, mantenha os pés no chão! E não encha a paciência, ora pois, pois!
             

 Amanhã eu Vou - Zé Ramalho

Era uma certa vez um lago mal assombrado, a noite sempre se ouvia a carimbamba cantando assim: Amanhã eu vou, amanhã eu vou, amanhã eu vou, amanhã eu vou.
A carimbamba, ave da noite cantava triste lá na lagoa amanhã eu vou, amanhã eu vou


E Rosabela, linda donzela ouviu seu canto e foi pra lagoa a taboa laçou a donzela, caboclo d'água ela levou, A carimbamba vive cantando Mas Rosabela nunca mais voltou. Amanhã eu vou amanhã eu vou Amanhã eu vou, amanhã eu vou

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Era uma vez... Uma onça pintada guia de um Escoteiro cego.


Lendas escoteiras.
Era uma vez... Uma onça pintada guia de um Escoteiro cego.

            Quando eu batia palmas no portão de sua casa para entregar alguma correspondência eu ouvia o barulho da bengala de Joel Fantin. Não sei, mas acho que tínhamos a mesma idade. Eu sabia que ele agora trabalhava nos correios e quando conseguiu o emprego se transformou em outro homem. Eu também trabalhava lá como carteiro. Conhecia um mundão de gente, mas Joel Fantin era único. Era cego, ou seja, um deficiente visual. Perdera a visão há oito anos atrás. O que me contaram eu entendi que foi uma fatalidade. Joel era Escoteiro. Entrou como lobo com oito anos. Quando passou para a tropa resolveu subir em uma árvore. Natural todo menino sobe em árvore, mas com Joel foi diferente. O galho seco não lhe deu sustentação e ele caiu de costas batendo a cabeça em um tronco. Levado ao hospital os médicos viram que ele perdera a visão. Cidade pequena sem recursos, Joel vivia com seu pai um carroceiro que fazia entrega de areia retirada do Rio Pombo.

              A mãe de Joel morrera quando ele nasceu. Um parto mal feito. O pai de Joel não sabia o que fazer. Um filho de onze anos cego? Como cuidar dele? Interessante que em tempo algum Joel perdeu a esperança. Mesmo sem enxergar tinha um sorriso nos lábios. Sua Patrulha a Onça Parda lhe deu todo apoio. Em conselho de patrulha ficou determinado que pela manhã, à tarde e a noite sempre um da patrulha iria a sua casa ajudar nas tarefas e conversar com Joel. As outras patrulhas também fizeram o mesmo. Era comum chegar a sua casa e encontrar quatro ou oito Escoteiros a brincarem e conversarem. O Senhor Juventino seu pai quando chegava e encontrava tudo arrumado, jantar pronto, e vários Escoteiros ele se emocionava. Nunca pensou que eles por muito tempo dessem o apoio que sempre deram. Aos sábados alguém o levava a reunião. Quando ele quis ir aos acampamentos a chefia ficou em polvorosa. Ninguém sabia como agir ou fazer. Joel foi, esticaram um sisal por onde ele precisaria andar no campo de patrulha. Da cozinha a barraca, da barraca a mesa de refeições e até o WC atrás do campo de patrulha. No segundo dia dispensou o sisal.

               O tempo foi passando e Joel quando fez dezessete anos seu pai faleceu vitima de uma dengue hemorrágica. Só souberam que era dengue depois de morto. Desta vez Joel chorou. Agora não sabia o que fazer. Cego e sozinho mesmo com ajudas dos seus irmãos Escoteiros seria uma “barra” para enfrentar. Uma semana duas e mesmo com a presença dos Escoteiros em sua casa ele nada dizia. Seus olhos que não viam nada ainda tinham lágrimas que caiam sem cessar. Joel pensou em tirar sua vida e quem sabe ir morar com sua mãe e seu pai no céu. Tirou logo da cabeça este pensamento. Se até hoje ele enfrentou a vida e nunca desistiu porque desistir agora? Joel sorria quando os Escoteiros chegavam. Mas ele sabia que cada um deles tinha sua família e não iriam ficar com ele para sempre. Ninguém nunca me contou os detalhes, mas fiquei sabendo que Joel Fantin foi a um acampamento na Serra do Falcão. Para ele não havia dia ou noite, pois vivia em completa escuridão.

            Nos acampamentos não demorava muito para Joel Fantin decorar cada passo e onde podia ir. Era no campo que ele se completava. Gostava de sentir o orvalho na pele, do vento soprando sobre ele, do som que ouvia da passarada e do canto da cotovia. Ele tinha ideia de como eram as estrelas no céu, de como era uma lua cheia, mas estas visões aos poucos estavam sendo esquecidas. Em contra partida seus sentidos de audição e olfato se transformaram. Qualquer som ele sabia o que era o cheiro da terra, o cheiro do lago, das árvores e da sopa de Marcelinho um cozinheiro que fazia estalar a língua nas refeições. Tudo aconteceu na ultima noite após o Fogo de Conselho em que ele participou de um esquete com a patrulha. Não se sabe como eles se esconderam atrás de uma árvore para serem chamados pelo Monitor e cada um iria apresentar uma piada para quando todos tivessem terminados rolassem no chão de tanto rir. As piadas eram sem graça, mas quando rolavam no chão a tropa também rolava de rir com eles.

            Quando Joel Fantin foi chamado ele não veio. Não é possivel pensou o Monitor, ele estava sentado atrás do castanheiro e tão perto da ferradura que não tinha como se perder. Nesta hora todos abandonaram o fogo e partiram a procurar seu patrulheiro naquela noite escura e sem luar. Duas horas depois ouviram um apito e todos acorreram para lá. Um susto tremendo, nunca viram tal coisa – Joel Fantin estava sentado acariciando uma enorme onça pintada. Grande, mais de 160 quilos, robusta e eles sabiam que a potencia de sua mordida era considerada como a maior entre os felinos de todo o mundo. A onça balançava a cauda como se estivesse gostando das carícias de Joel Fantin. Ninguém disse nada, assustar a onça podia haver uma alteração de amizade com a crueldade com que ela estava a agir no momento. Joel Fantin ouviu os sons de seus amigos e os chamou – Podem aproximar, ela me disse que não fará mal a ninguém.

        A maioria não foi, mas sua patrulha a Onça Parda sabia que devia considerar o nome que escolheram e foram até lá. Dizem que os sorrisos as alegrias e o ronronar da onça foi de perder o folego. O Chefe estava lá e não acreditava baixinho chamou todos para retornar ao acampamento. A onça pintada foi atrás. Uma amizade incrível aconteceu entre ela e Joel Fantin. E quando me contaram o desfecho da história eu não acreditei. Sei que o Escoteiro tem uma só palavra, mas aquela história era inverossímil demais para mim. Eles levaram no ônibus a onça pintada, ela foi morar com Joel Fantin e agora era sua guia por toda a cidade. O próprio Chefe que era carteiro e me contou disse que Joel Fantin morrera com mais de 90 anos e a onça viveu com ele até o seu ultimo dia na terra. Eu sabia que uma onça tem no máximo 25 a 35 anos de vida e isto reforçava minha incredulidade na história. Foi então que o Chefe ligou sua TV e colocou em um aparelho um DVD onde mostrava tudo que um dia aconteceu entre Joel Fantin e sua amiga a Onça Pintada.


        Histórias são histórias, alguns acreditam outros não. Eu conheço centenas de historias algumas vi com meus próprios olhos que a terra há de comer, outras foram causos contados nos acampamentos e nas clareiras de uma floresta qualquer. Para dizer a verdade não queria contar esta, pois todos vão duvidar e eu não posso provar. Portanto só posso dizer antes de terminar que “boi não é vaca, feijão não é arroz e quem quiser acreditar que conte dois”!