Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Guia do Lobinho.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Guia do Lobinho.

 - “Aos Pais, Akelás, Baloos e Bagheeras, a todos que lidam com Lobinhos, esperando que saibam adaptar as ideias deste Manual (e nenhuma delas é inovação) a vida do menino na Alcateia ou fora dela”.- Chefe Carlos Gusmão.

                     Epa! Calma, não é um novo manual de Lobinhos, nada disso, estou apenas abrindo as páginas do Guia do Lobinho do Chefe Carlos Gusmão de Oliveira Lima. Foi o primeiro que tive a oportunidade de conhecer e ler lá pelos idos de 1958. Simples, apenas 90 (noventa) páginas, mas aprendi muito com ele.

                     Parecia pequeno, mas meus amigos da Alcateia tinha coisa do arco da velha. Tinha a História de Mowgly, formaturas, provas de pata tenra, lei e promessa, bastão totem, máximas da Jângal, lema, saudação, grande uivo , uniforme e religião.  Falava na fraternidade mundial, a Matilha, o conselho de primos, as provas de uma e duas estrelas, bandeira, hino nacional, nós, destreza, higiene, relógio, transito, especialidades... Gente quanta coisa!

                    E as especialidades que ensinava? Muitas. Gostava de Primeiros Socorros, ginásticas, habilidade Manual e Economia. Ensinava o Hino a Bandeira e Nacional. E a passagem? Sentia firmeza quando lia sobre ela. Pequeno o manual, pequeno mesmo, mas me deleitava com a parte de Excursões, Torneios, Visitas e Acantonamentos. Chefe Gusmão dizia que o Campo ou a Floresta eram os melhores locais para divertidas atividades de Lobinhos. 

                   Era no campo que se realizavam os jogos, cantos, provas e muitas vezes um bom banho de cachoeira ou um regato raso. Ele recomendava que se fosse para o campo não esquecesse o calção e toalha. Era bom demais. E as frutas silvestres? Recomendava que não se esquecesse de pedir permissão para excursionar nas terras desconhecidas. Como os escoteiros ele insistia que todos devem deixar o local ainda mais limpo do que encontrou.

                  Falava muito dos torneios de jogos, representações e provas entre os lobinhos. Insistia que o importante é que tudo deve ser bem divertido e perder ou ganhar não deve modificar a alegria dos moradores de Seeonee. Recomendava sempre a fraternidade e para isto nada melhor que visitas a outras alcateias, pois ali se poderia fazer bons amigos para quando passassem para a cidade dos homens eles se reencontrassem novamente mostrando que os Badenianos são irmãos de sangue para sempre.

                 E no final do Manual ele escreveu:

- Quando você já tiver nove anos e seis meses de idade, Akela convidará você para fazer um acantonamento. Voce irá com os chefes e os lobinhos maiores passar três ou cinco dias fora de casa, dormindo no chão, em uma barraca, ajudando na cozinha, fazendo atividades nos campos e vivendo a vida de Mowgly como ele gostava. E finalizava: - “É quase um acampamento de Escoteiros”!

- “Guia do Lobinho, de Carlos Gusmão de Oliveira Lima. Um manual que nunca esqueci”!

Nota – Anos se passaram, Guias e Manuais de Lobinhos deixaram para trás os escritos por Baden-Powell e o Chefe Carlos Gusmão. Muita coisa mudou. Penso que deve ter sido para melhor, mas o Guia do Lobinho do Fundador e do Chefe Gusmão deixaram saudades para quem os leu e teve a oportunidade de aplicar o que ali estava escrito e ensinado. Melhor Possível.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

A natureza do jovem no escotismo ou fora dele. Por Baden-Powell.



A natureza do jovem no escotismo ou fora dele.
Por Baden-Powell.

- À medida que entramos na nossa carrancuda velhice, temos tendência a esquecermo-nos de que em tempos fomos jovens. A primeira coisa a fazer é, pois, estudar o próprio rapaz; descobrir os seus gostos e antipatias, as suas qualidades e defeitos, e orientar por estes a sua educação. Os rapazes querem variedade. Não fiques surpreendido quando eles se cansam de uma coisa. Mantém-te alerta, tem já pronta a seguinte. Uma criança não pode estar quieta durante dez minutos quanto mais horas inteiras, como por vezes se lhes exige na escola.

- Temos de nos lembrar de que está atacada mental e fisicamente, do «frenesim do crescimento». O melhor remédio para isto é mudar de assunto, deixá-lo sair para uma corrida, ou para uma dança guerreira. Há cinco por cento de bem até no pior dos carácteres. O que é interessante é descobri-lo, e depois desenvolvê-lo até atingir uns 80 ou 90 por cento. O rapaz tem em geral absoluta confiança nas próprias forças. Por isso não gosta de ser tratado como criança nem que o mandem fazer coisas ou lhe digam como hão-de fazê-las.

- O rapaz é geralmente fino como uma agulha. O rapaz não é capaz de se apegar a um trabalho durante mais de um ou dois meses porque precisa de mudança. Quando encontra alguém que se interessa por ele, o rapaz corresponde e vai para onde o levam. Os rapazes são ordinariamente amigos leais entre si, e a amizade é quase um sentimento natural neles. Gosto de comparar o homem que procura levar os rapazes a estarem sob boa influência a um pescador que pretende apanhar peixe. Se o pescador iscar o anzol com a comida de que ele próprio gosta, é provável que não apanhe muitos peixes. Usa, portanto, como isca, o alimento de que os peixes gostam.

- O mesmo se dá com os rapazes, se tentarmos pregar-lhes aquilo que consideramos coisas elevadas, não os apanharemos. A única maneira é estender-lhes alguma coisa que realmente atraia e os interesse. Porque é que a psicologia do rapaz se pode comparar a uma corda de violino? Porque precisa ser afinada no tom exato, e pode então emitir música a valer. Em grande parte, o rapaz adquire a correção do espírito através de ações corretas, na medida em que a ação do homem é inspirada pelo seu espírito.

- É por isso que encorajamos no Lobinho a seguir no Escoteiro, o hábito de praticar boas ações, e é assim que através das ações se desenvolve nele o espírito de ser útil; e por último, como Escoteiro e como homem, é o espírito que o inspira a servir e a sacrificar-se. Se um homem não consegue entender-se em dez minutos com rapazes que não esperam por outra coisa, devia ser fuzilado!

Lord Baden-Powell of Gilwell, do seu livro: - Rastros do fundador!

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Luz! Câmara! Ação!



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Luz! Câmara! Ação!

                         Estava pensando em fazer uma transmissão ao vivo no Facebook.  Falar de escotismo... Novidade? - Tem assunto melhor? Estarei vestido a caráter, pose de Baden-Powell com sua linda bengala presente de M’hlala Panzi um Chefe Zulu que o apelidou de “O Lobo que nunca dorme”! Vestirei o meu caqui querido, calça curta sim senhor! Colocarei as poucas medalhas que me deram e depois quiseram tomar. Meus certificados de Agradecimento e de Mérito não vão aparecer. Impossível colocá-los na parede para dar um ar importante neste vídeo da minha imaginação.

                        Tão falado nos meus contos, não posso deixar de lado o meu bastão com ponteira de aço, duas e meia polegada, construído com um belo tronco de uma Jataipeba, escolhida entre as melhores tais como o Pau-Santo, a Abiurana, o Angelim-vermelho e tantas outras. Zé Venâncio foi quem deu o acabamento na ponteira de puro aço inox de Molibdênio vanádio e que por anos manteve intacta a ponta fina que escolhi.

                       Deslumbrado com meu plano, nem prestei atenção à campainha. Sempre tem um chato para não me deixar sonhar. Sou educado, insatisfeito com a interrupção do meu plano fui até lá. Dois caras de terno e gravata azul com o emblema da Rede Globo. – Gritaram: O Doutor José Bonifácio de Oliveira, vulgo Boninho quer o senhor fazendo um vídeo de uniforme para saudar o futuro Presidente, General Bolsonaro. General? Só rindo. Não voto nele nem morto!

                      Nem sei por que me procuram. Até o Boachat me quer no seu programa e recusei. Sabia que dia menos dias o Silvio Santos ia telefonar! O que estava havendo? Meu plano era falar de “escoteiro” num vídeo mixuruca do Youtube. Afinal minha voz parece taquara rachada, não aguento mais do que três minutos e essa turma me quer para ser poste do Brasil? Foi só falar e a rua encheu de carro preto último tipo. Lá estava o Michel Vampiro, o Alkmin Picolé de Xuxu, o Gilmar aquele “soltudo” dizendo que era meu fã. Luciano na calçada gritou: Vado Escoteiro! Dá-me seu apoio e levo seu pálio 2003 batido prú Lata Velha!

                     Deus do céu! O que estava havendo? O Lula gritando com um Cohiba Behike soltando fumaça e na outra uma 51 que bebia no gargalo sorria para mim. A Marina desceu sem graça, num vestidinho de chita só para mostrar que era lá do Sertão Amazonense. E não foi só ela. Uma enorme fila se formou no portão da minha barraquinha bangalô onde não cabe quase ninguém. O primeiro da fila era claro o Bolsonaro, o prendo e arrebento. Em seguida o Álvaro Dias, depois o Arthur Virgílio, O Ciro Gomes, o Cristovam Buarque o Eyamel cantando que é um “democrata cristão”, a Manuela D’Ávila o Enrique Meirelles e o Rodrigo Maia.

                      Vi ao Longe o Collor, o homem do saco roxo, e o Temer com sua capa de Drácula rindo feito um danado pensando que também podia chegar lá. Assustei! Fiquei “inté” com medo de tanta gente fardada. Ainda bem que o Moro e o Bretas não deram as caras.  Gente o que este povo achava que eu sou? Escrevo contos, faço pilheria e gozação com a turma do CAN e da DEN, mas eles merecem! São chatos de galocha! Não vou convencer ninguém para presidente. Façam-me favor, desta turma que está aí se juntar todo mundo não vale um sorriso de um lobinho pata tenra entrando na Alcateia e dando o grande uivo pela primeira vez!

                  Pensei comigo, vou matar esta turma de raiva. Fui lá dentro, coloquei meu lindo uniforme caqui (adoro pacas!) e meu chapéu de abas largas, peguei meu bastão ponteira de aço inox, do lado à faca tipo Stallone, meti três doses do meu uísque Ballantines e duas pedras no bucho e fazendo pose de Baden-Powell retirei meu cachimbo um autêntico Dunhill que não usava a mais de trinta anos, olhei aquela cambada na minha porta e dei o grito Zulu de guerra!

                   Minha pose era do velho Stallone, adoro sua pose de machão mal amado. Gosto de sua voz, firme, forte como se fosse derrotar o mundo. Lembrei-me do que disse ao fazer o Rambo XXIII: - Se o meu maldito corpão aguentar vai ser muito bom. Caso contrario, não vai ser Rambo Lutando, vai ser meu fã numero um o Arnold Schwarzenegger. Não vou gritar com a boca aberta, Banguelo não tem vez. Tentarei ao máximo não tossir, pois caso contrario eu sei que vou cair! Esta turma vai conhecer o Vado Escoteiro, que pegou uma onça pelo rabo e a jogou para Shery Kaan matar a fome!

                  Se o Daiello, o Joesley o Cabral e o Geddel chegar, levo eles para Curitiba. O CAN e o DEN que se vire para registrá-los no PAXTU! Ora bolas, queria fazer um vídeo, um simples vídeo nas páginas do Facebook. Para dizer a verdade, seria sem altivez... Eu nem sabia o que diria. Quem sabe na hora H cantaria o rataplã? E agora esta turma quer meu apoio para desgraçar a nação? Nem morto, nem morto Senhor Presidente da UEB!

                Ops! Acordei! Era a Célia me abraçando. Eita querida mulher, hoje seu aniversário, vou beijá-la, abraçá-la e vou esvaziar minha garrafa de Royal Salute 62 Gun 1000 ml, precinho camarada, só três mil dólares! E depois nas horas dos comes e bebes duro como estou vou oferecer um bom café mateiro, sob um céu estrelado, numa Jangál de mata fechada, a fogueira subindo aos céus e ficarei pensando: Este ano não voto nesta cambada! Nem que O Presidente da Região Escoteira de São Paulo vire bodoque! Upalalá!

Nota – Vez ou outra dá na telha escrever besteira, sem eira nem beira só para divertir. Se você é um autêntico puxa saco desta cambada que quer ser presidente, ou se é um perfeito candidato a formador e diretor da UEB, não vale a pena ler. É com eles que me divirto! Kkkkkk.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. As coisas não são como a gente quer.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
As coisas não são como a gente quer.

                   Não são mesmo. Já pensou você olhar uma pessoa e dizer o que pensa? Se for seu tipo tudo bem se não forem serão palavras mordazes que ninguém quer ouvir. Não isto não pode acontecer. Temos que refrear o pensamento nossos impulsos. Já pensou você em um curso escoteiro, cansado, vontade louca de dormir e um formador falando, e falando e falando... Será que ele gostaria de ouvir o que tinha a dizer? Seria seu fim como Chefe escoteiro.

                   Isto sem contar seu Chefe, seus amigos antipáticos e até mesmo quando reclama de Deus por não satisfazer seus desejos. Mas ele é diferente, ele ouve ele entende. Ainda bem! Mas hoje não vou falar dos que nos cercam, vou ficar no escotismo. Como faço dele uma filosofia de vida adoro expressar o que penso e o que não posso fazer. Ah! Escotismo. Pensando bem o que seria do amarelo se todos gostassem do azul?

                  Diz a poetiza se todos nós fossemos iguais, ninguém tendo de menos ou demais, quão monótona esta nossa vida seria quanto sossego, quanta calma... Que tédio que paz... Já pensou? Ô Chefe, deixa de ser malandro, bacana, seja um pouco de nós! E a Chefinha, bonitinha, conquistando o Chefe e quem sabe é seu marido? Coisa boa não vai acontecer!

                 E o Dondinho lobinho filhote da chefona, que quer a todo custo das especialidades e sem ter idade o Cruzeiro do Sul? – Putz! Que raiva! E a mamãe Zezé, a mamãe Lurdinha pegando no meu pé? Chefe e meu filho? Só tem trinta especialidades e o filho da Neném tem quarenta? Pô! O melhor é calar. Xarape! Não diga nada pode se magoar ou magoar alguém.

                Eu não sou fã de carnaval. Sempre achei que estes dias eram bons para acampar. Uma vez me oferecem cem reais para tocar meu clarim no Desfile do Ilusão Esporte Club. Famoso na minha cidade na época. Cem paus não eram de desprezar. Eram três dias e com trezentos paus eu iria comprar uma faca nova e um canivete suíço. Aceitei! Vestiram-me uma bata azul na frente do carro alegórico. O cara me beliscando; - Toca. Toca! Que vergonha! O som fanhoso!

               Um dos diretores encheu um lenço de lança-perfume. Enfiaram em minha cara, em questão de minutos toquei tanto que se houvesse ali algum Faraó ele me levaria para ser seu representante do povo... Tocando Clarim! Mas voltemos ao tema. Hoje como sempre recebi diversos pedindo para entrar em minhas páginas. Não nego. Nunca neguei. Mas preciso de nome, de foto de algum a identificar. Nem sempre colocam.

               Francamente não é fácil parabenizar alguém com nome de Periquita Bruxa Louca, Juvenal Xerife Escoteiro ou Maria fulana dos Campos do Arrebol. E as fotos? É educado e gostoso olhar o perfil de alguém. Principalmente uniformizado. Adoro. Mas lá vem os sem camisa, os tatuados (?) os cheios de brinco (Putz!), os fazendo caretas, os caras de gato ou cachorro e aqueles que fazem apologia aos seus candidatos.

              Pensando bem é melhor não abrir mão de falar e dizer o que quiser. Iremos ofender muita gente. Um sorriso nos lábios e um palavrão na mente. E olhe chega de Chefe feroz, dizendo que vai fazer isto e aquilo. E aqueles que não perdoam? E os que se comprazem a ficar discutindo pontos de vista na postagem de alguém? Brucutu! Vou ficando mais doce, deixando o azedo no ar. Bom demais ser velho. Muitos aceitam mesmo não querendo aceitar.

              Vou me demitindo e partindo, indo prús raio que o parta! Abraços fraternos, um aperto de mão, mas como vou abraçar e apertar a mão do fantasma sem foto, a cara do gato, do cachorro ou do papagaio? Gente mil desculpas. Cada um tem livre arbítrio para ser o que quiser! Excelente carnaval. No lugar dele eu preferia um bom e ótimo acampamento escoteiro. Este sim iria me fazer vibrar!

Nota – Meu comentário de hoje é que se você tem no seu perfil a cara do seu gato, do seu cachorro ou do seu papagaio, não leia esta crônica não vale a pena. E se não tiver foto no seu perfil cuidado, pode um dia virar fantasma e sair por aí!

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Lendas para fogo de conselho. A ardilosa Acará do riacho Vermelho.


Lendas para fogo de conselho.
A ardilosa Acará do riacho Vermelho.

                      Podem dizer que é invenção. Podem dizer o que quiserem. Não me importo, juro pela alma do Cavalo Baio do Seu Chico das Mercês que é verdade. Afinal tenho mais três testemunhas (infelizmente todas já se foram para ao grande acampamento). Seis experientes escoteiros sendo enganados por um peixe? Fiquei deveras preocupado com o acontecido. Isto nunca aconteceu antes. Como uma simples pescaria um peixinho “mixuruca” deu um baile em quatro primeiras classes? E sem me gabar, me considerava um grande pescador.

                        No Rio Doce pesquei todo tipo de peixe. Era “bamba” na pesca do Timburé. O peixe que não era para qualquer um pescar. Um dia até peguei um com as mãos quando mergulhava num remanso lá pelos lados de Derribadinha.

                  Mas vamos contar o que aconteceu. Acredite quem quiser. Nosso Chefe era muito amigo do Seu Chico das Mercês. Ele tinha um sitiozinho lá pelos lados de Malacacheta. Um sitiozinho, mas querem saber? A cavalo precisava de três semanas ou mais para percorrer a divisa com outras fazendas. Gostávamos de acampar lá. Não era longe e ele era um amigo do peito dos escoteiros. Uma floresta fechada linda a sumir de vista. Cinco córregos e ainda o Rio Vertente cruzava de norte a sul em suas terras. Um local perfeito.

                  Nada que menos de duas horas de bicicletas não resolvesse a viagem (parece que eram duas léguas de distancia, mais ou menos doze quilômetros). Em janeiro de 1954 nas férias fomos acampar lá. Só a minha Patrulha Lobo. Grupo fechado em férias, a nossa Patrulha Lobo reclamava de não fazer nada. Porque não acampar? Melhor ainda, vamos levar só sal e óleo e lá nos viramos? Desafio era conosco. Éramos quatro primeiras classes. Experiência era o que não nos faltavam.

                      Primeiro dia, montamos uma cabana para substituir as barracas. Cabia mais de oito escoteiros. Chegamos às três da tarde. Seu Chico sempre rindo. Era uma festa para ele nossa chegada. – Jantem comigo hoje, disse. Obrigado Seu Chico, mas sabe como é. Pretendemos acampar próximo ao Córrego Vermelho e não é perto. - Entendo ele disse. Mas cuidado. Não contem com as acarás de lá. São danadas de espertas. Todos riram. Peixe esperto? Só mesmo o seu Chico para dizer isto.

                     Eram quatro horas da tarde e achei um local com muita minhoca “puladeira”. Perfeito. Era a melhor para a ocasião. Cortamos eu e o Fumanchu duas varas de bambuzinho Chinês e em minutos tínhamos tudo preparado. Romildo e Israel, Tonhão e Alaor ficaram no campo fazendo uma mesa e um fogão suspenso.  Achamos um belo remanso. Água cristalina. Lá no fundo uma bela de uma Acará nadava se mostrando ser a maior e melhor. Enorme. Rabo vermelho. Um jantar perfeito.

                     Joguei a linhada e aproximei o anzol de sua boca. Ela deu uma nadou para trás. Fui mais próximo e ela escondeu em uma galhada. Perdi meu anzol. Fumanchu tentou e nada. Tinha reservas. De novo ela andando de ré. Subia até a superfície pulava e sumia. Aparecia em outro remanso bem abaixo. Corríamos até lá e nada. A maldita sumia e aparecia em outro remanso. Já ia escurecer e não tínhamos pegado nada. Caramba! E as traíras? E os lambaris? Só aquela maldita Acará?

                  Não podíamos desistir. A fome ia chegar e comer capim? Programa de índio. Foi então que resolvemos fingir que íamos embora. Voltamos rastejando pé ante pé e vimos o inusitado. Não era uma, eram mais de vinte Acarás. Elas fingiam ser uma só. Impossível? Já disse, juro pela alma do Cavalo Baio do Seu Chico. Combinei com Fumanchu. Você joga a linha mais no meio e eu no inicio do remanso. Vamos nos encontrar bem devagar. Pelo menos uma vaia morder.

                    Sabem o que elas fizeram? Uma fila indiana como se estivessem a escrever a palavra “otários” no fundo do remanso. Não acreditei. E elas então ficaram juntas e vieram até a borda da água e fizeram biquinhos como estar dando risadas. Voltamos sem nada. Uma noite sem comer não mata ninguém. Na volta achei um pé de banana maçã. Quebrou o galho. Nossa pescaria mudou de rumo. Agora íamos até o rio Vertente. Lá não teve problemas. Uma pescaria das boas com piaus e corvinas.

                   De vez em quando ia até o remanso e ficávamos olhando as Acarás. Elas sempre vinham à tona e abriam sua boquinha como a dizer: - Otários! Acho que esta foi minha melhor história de menino escoteiro. Sei que ninguém vai acreditar, mas fazer o que? Contei isto à vida inteira em Fogo do Conselho e ninguém acreditou. s escoteiros. Os seniores gostaram tanto da piada (assim disseram) que foram acampar lá e também foram tapeados pelas Acarás.

                   Na tropa e nos Seniores não houve quem não tentasse. Pela primeira vez, a Patrulha Lobo foi enganada por um bando de Acarás. Um peixinho que todos dizem ser mansos e agora eu mudei de opinião.

                E quem quiser acreditar tudo bem, quem não quiser paciência.  Mas não se esqueçam de dizer a todos que eu juro que é verdade. Pela alma do Cavalo Baio do Seu Chico das Mercês. Nota – O Cavalo Baio nunca existiu. Era uma lenda que Seu Chico contava e ninguém acreditava!

Quem quiser que conte outra, pois entrou por uma porta e saiu por outra!

Nota - Poderia contar outra história. Tenho várias prontas para postar. Mas me lembrei desta pescaria. Foi demais. Um peixe chamado Acará que deu um verdadeiro banho na Patrulha Lobo. Não acreditam? Eu juro pela alma do Cavalo Baio do Seu Chico das Mercês. Não sei se ainda está vivo, mas ele me contou que foi ele mesmo quem adestrou a peixarada par enganar os escoteiros. Risos.


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Leis, normas princípios, regras e o escambal!


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Leis, normas princípios, regras e o escambal!

                 Eu tive uma época que fazia muita continência para os mais velhos, os chefes, os monitores e quando via um dirigente ficava durinho quem nem pau de sebo nas noites de São João. Mas sempre tive liberdade para escoteirar. Meu livro da vida tem páginas e paginas escoteirando, em uma época de mamãe e papai legal. Mãe! Vô acampar! Posso pegar a ração B? – Vem cá que te ajudo filho! E lá ia eu com a Patrulha, pegando uma estradinha, uma trilha, uma serra montanhosa ou até mesmo um vale florido locais que amava acampar e cantar meu Rataplã.

                 Dizem-me que hoje tudo mudou. A modernidade, a esperteza de “enricar” cobrando para acampar, as diretrizes impostas cerceando a liberdade de ir e vir, o ECA feito pelos homens sem perguntar aos meninos se isto é bom, e os sabidões escoteiros a dizerem para onde o menino sonhador deve ir. Nossa! Eu nunca poderia ser escoteiro hoje. Sêneca bom sujeito dizia que se vives de acordo com as leis da natureza, nunca serás pobre. Se vives de acordo com as opiniões alheias, nunca serás rico. Danado de Sêneca inteligente!

                 Não quero tirar a liberdade de pensamentos de ninguém ou a forma de curtir e expressar o escotismo como gosta de fazer. São tantos a dizerem que o escotismo mudou sua vida, que agora é outro eu prefiro não comentar. Prefiro deixar o tempo passar e ver se daqui a dez, trinta sessenta anos o pensamento é o mesmo. Eu cá no meu canto do mundo, vejo muitos me procurando para ser meu amigo e quando escrevo o que não gostam, se mandam sem nada dizer. Quá! Ancê só ficô um muncadinho chefão? Num gostô? Se manca entonse!

                Pois é, hoje tô mais prá lá do que prá cá! Não preciso mais prestar continência a ninguém. Não me registro em nenhum lugar. Sou um passarinho que gosta de voar sem rumo e direção. Se me querem bem saio de braço dado, como dois irmãos que se querem bem. Ao contrário, se se acham importantes demais, se tem uma visão firme do bom escotismo que deve ser feito, eu digo: - Asta lá vista, Baby! O Barão de Montesquieu era mestre em dizer que liberdade é o direito de fazer tudo que as leis permitem. Mas quá! Que liberdade é essa?

               Eu fui em minha vida escoteira muitas vezes desafiado, amado, desprezado e chacoalhado no meu ego de menino homem sonhador. Dei belas gargalhadas nas minhas andanças escoteiras. Vibrei com a natureza em flor. Em uma jangada de piteira no Rio Paraopeba, dormi o sono do Beija Flor e acordei molhado ao cair da Cachoeira dos Macacos. Bati palmas para o nascimento de um pintassilgo que caiu do seu ninho e eu o voltei para o lugar. Eram “coisas” descobertas que valiam uma vida escoteira e não tudo programado para ser como os homens dirigentes hoje querem.

               Danadamente cresci. Matuto do interior fui jogado como Chefe de um campo sênior. Vibrei! Gritei! Amei cada dia vivendo com aquela rapaziada de um passado que nunca esqueci. Fizeram-me importante. Chamaram-me Comissário e Adestrador. Quatro tacos chefão! Disse o Diretor geral. Logo eu um matuto que só sabia escoteirar. Foi então que comecei a entender Mahatma Gandhi ao dizer que quando alguém compreende que é contrário à sua dignidade de homem obedecer a leis injustas, nenhum tirania pode escravizá-lo.

              O menino mineiro escoteiro virou homem. Não mais saia para lobear. Sua bicicleta pneu balão deixou de existir, a carretinha que cantava musicas eternas no óleo das rodas de madeira se calaram. Agora era ver homens se digladiando. Cada um tentando ser mais importante. Sempre a dizer que na sua vida escoteira se dizia o meu menino, o meu Monitor, a minha Patrulha a minha tropa e o meu grupo. Tudo meu. Quanto pagou? Ser Insígnia, diretor, presidente, mostrar que tem mil idéias para fazer o escotismo melhor. Melhor? Como o meu ou o seu?

                Eu naquela luta de “criolo doido” recorria quando podia a um emérito pensador: - Apague Chefe as minhas interrogações. Porque estamos tão perto e tão longe? Faça o favor me ajude a acabar com as leis da física, mesmo sendo escoteiro será que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar? Mineirinho “Turrão” fui empurrando minhas ideias até ver que nem tudo que reluz é ouro.
   
               Hoje vivo de histórias. Chamam-me de contador de histórias. Uma honra! Mas saibam que fiz escotismo. Escotismo dos “bão”. Melosamente digo que entendo pacas. Já não posso mais correr mundo. Botar uma mochila nas costas, escolher o vento sul e o vento norte para achar o meu caminho. Vejo valentes dirigentes até hoje usurpando o poder que Baden-Powell não deu. Não sabem abraçar, dizer desculpe, eu não queria ofender! Não sabem ou desconfiam que a Lei do Criador do Escotismo têm tudo para atender o que ele pretendeu dar aos homens e mulheres de boa vontade.

              Um dia vou “bater as botas” ainda não decidi se vou a escoteira ou natural. Lá no buraco fundo não me olharei no espelho, ele não vai dizer que sou feio, ele não vai dizer nada. Tudo vai se decompor. Se for prú céu eu não sei. Mas de uma coisa eu sei, levo comigo a paz, a fraternidade e o amor. E termino com Allan Kardec: - Todas as leis da natureza são leis divinas, pois que Deus é seu autor. Abrangem tanto as leis físicas como as leis morais.

               Um grande e fraterno abraço. Quem sabe um dia todos irão entender que não tem o melhor, não existe o chefão! Afinal somos ou não somos todos irmãos?


Nota - Quanto escrevo o que não gostam uns ficam outros se vão. Mas eu ainda me dou o direito de discordar, de achar que o caminho da estrada não é o que percorremos. Se tivéssemos um pouquinho de boa vontade, de ouvir o outro que quer falar seria bom demais. Todos são peças importantes no trabalho em equipe, cada um representa uma pequena parcela do resultado final, quando um falha, todos devem se unir, para sua reconstrução. Motivação, parceria, trabalho em equipe, o segredo do sucesso. Nada mais a dizer.