Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Lendas para fogo de conselho. A ardilosa Acará do riacho Vermelho.


Lendas para fogo de conselho.
A ardilosa Acará do riacho Vermelho.

                      Podem dizer que é invenção. Podem dizer o que quiserem. Não me importo, juro pela alma do Cavalo Baio do Seu Chico das Mercês que é verdade. Afinal tenho mais três testemunhas (infelizmente todas já se foram para ao grande acampamento). Seis experientes escoteiros sendo enganados por um peixe? Fiquei deveras preocupado com o acontecido. Isto nunca aconteceu antes. Como uma simples pescaria um peixinho “mixuruca” deu um baile em quatro primeiras classes? E sem me gabar, me considerava um grande pescador.

                        No Rio Doce pesquei todo tipo de peixe. Era “bamba” na pesca do Timburé. O peixe que não era para qualquer um pescar. Um dia até peguei um com as mãos quando mergulhava num remanso lá pelos lados de Derribadinha.

                  Mas vamos contar o que aconteceu. Acredite quem quiser. Nosso Chefe era muito amigo do Seu Chico das Mercês. Ele tinha um sitiozinho lá pelos lados de Malacacheta. Um sitiozinho, mas querem saber? A cavalo precisava de três semanas ou mais para percorrer a divisa com outras fazendas. Gostávamos de acampar lá. Não era longe e ele era um amigo do peito dos escoteiros. Uma floresta fechada linda a sumir de vista. Cinco córregos e ainda o Rio Vertente cruzava de norte a sul em suas terras. Um local perfeito.

                  Nada que menos de duas horas de bicicletas não resolvesse a viagem (parece que eram duas léguas de distancia, mais ou menos doze quilômetros). Em janeiro de 1954 nas férias fomos acampar lá. Só a minha Patrulha Lobo. Grupo fechado em férias, a nossa Patrulha Lobo reclamava de não fazer nada. Porque não acampar? Melhor ainda, vamos levar só sal e óleo e lá nos viramos? Desafio era conosco. Éramos quatro primeiras classes. Experiência era o que não nos faltavam.

                      Primeiro dia, montamos uma cabana para substituir as barracas. Cabia mais de oito escoteiros. Chegamos às três da tarde. Seu Chico sempre rindo. Era uma festa para ele nossa chegada. – Jantem comigo hoje, disse. Obrigado Seu Chico, mas sabe como é. Pretendemos acampar próximo ao Córrego Vermelho e não é perto. - Entendo ele disse. Mas cuidado. Não contem com as acarás de lá. São danadas de espertas. Todos riram. Peixe esperto? Só mesmo o seu Chico para dizer isto.

                     Eram quatro horas da tarde e achei um local com muita minhoca “puladeira”. Perfeito. Era a melhor para a ocasião. Cortamos eu e o Fumanchu duas varas de bambuzinho Chinês e em minutos tínhamos tudo preparado. Romildo e Israel, Tonhão e Alaor ficaram no campo fazendo uma mesa e um fogão suspenso.  Achamos um belo remanso. Água cristalina. Lá no fundo uma bela de uma Acará nadava se mostrando ser a maior e melhor. Enorme. Rabo vermelho. Um jantar perfeito.

                     Joguei a linhada e aproximei o anzol de sua boca. Ela deu uma nadou para trás. Fui mais próximo e ela escondeu em uma galhada. Perdi meu anzol. Fumanchu tentou e nada. Tinha reservas. De novo ela andando de ré. Subia até a superfície pulava e sumia. Aparecia em outro remanso bem abaixo. Corríamos até lá e nada. A maldita sumia e aparecia em outro remanso. Já ia escurecer e não tínhamos pegado nada. Caramba! E as traíras? E os lambaris? Só aquela maldita Acará?

                  Não podíamos desistir. A fome ia chegar e comer capim? Programa de índio. Foi então que resolvemos fingir que íamos embora. Voltamos rastejando pé ante pé e vimos o inusitado. Não era uma, eram mais de vinte Acarás. Elas fingiam ser uma só. Impossível? Já disse, juro pela alma do Cavalo Baio do Seu Chico. Combinei com Fumanchu. Você joga a linha mais no meio e eu no inicio do remanso. Vamos nos encontrar bem devagar. Pelo menos uma vaia morder.

                    Sabem o que elas fizeram? Uma fila indiana como se estivessem a escrever a palavra “otários” no fundo do remanso. Não acreditei. E elas então ficaram juntas e vieram até a borda da água e fizeram biquinhos como estar dando risadas. Voltamos sem nada. Uma noite sem comer não mata ninguém. Na volta achei um pé de banana maçã. Quebrou o galho. Nossa pescaria mudou de rumo. Agora íamos até o rio Vertente. Lá não teve problemas. Uma pescaria das boas com piaus e corvinas.

                   De vez em quando ia até o remanso e ficávamos olhando as Acarás. Elas sempre vinham à tona e abriam sua boquinha como a dizer: - Otários! Acho que esta foi minha melhor história de menino escoteiro. Sei que ninguém vai acreditar, mas fazer o que? Contei isto à vida inteira em Fogo do Conselho e ninguém acreditou. s escoteiros. Os seniores gostaram tanto da piada (assim disseram) que foram acampar lá e também foram tapeados pelas Acarás.

                   Na tropa e nos Seniores não houve quem não tentasse. Pela primeira vez, a Patrulha Lobo foi enganada por um bando de Acarás. Um peixinho que todos dizem ser mansos e agora eu mudei de opinião.

                E quem quiser acreditar tudo bem, quem não quiser paciência.  Mas não se esqueçam de dizer a todos que eu juro que é verdade. Pela alma do Cavalo Baio do Seu Chico das Mercês. Nota – O Cavalo Baio nunca existiu. Era uma lenda que Seu Chico contava e ninguém acreditava!

Quem quiser que conte outra, pois entrou por uma porta e saiu por outra!

Nota - Poderia contar outra história. Tenho várias prontas para postar. Mas me lembrei desta pescaria. Foi demais. Um peixe chamado Acará que deu um verdadeiro banho na Patrulha Lobo. Não acreditam? Eu juro pela alma do Cavalo Baio do Seu Chico das Mercês. Não sei se ainda está vivo, mas ele me contou que foi ele mesmo quem adestrou a peixarada par enganar os escoteiros. Risos.


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