Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Acampar é viver com a natureza.


Conversa ao pé do fogo.
Acampar é viver com a natureza.

                        Se você é Escoteiro já deve ter acampado. Isto mesmo e eu sei que foram muitas vezes. Já escrevi aqui a diferença de Camping com Acampamentos Escoteiros. Eu já fiz camping por boa parte deste Brasil. É divertido. Temos conforto, uma barraca que dá para ficar em pé, levamos rádio, TV, o fogareiro a gás tem duas ou três bocas, as mesinhas são fáceis de armar, os bancos ou cadeiras de praias estão ali para nosso deleite. Enfim, um conforto enorme e sem esquecer que temos luz elétrica e próximo chuveiros quentes. Uma delicia. E em um Trailer? Impossível imaginar a “gostosura”. Bom demais. Tive um Diamante e me esbaldava com ele. Que conforto meu Deus! Mas isto não é escotismo. Nunca foi. Vejo fotos de barracas inteligentes, suspensas, algumas em árvores como se fosse à casa do Tarzan. A turma se delicia com estas fotos e com estes confortos. Mas pergunto novamente isto é acampamento? Isto é escotismo?

               Claro que não. Eu lembro quase tudo dos meus acampamentos Escoteiros, mas pouco me lembro dos meus campings e do meu trailer. Não desmereço os primeiros acampamentos, as barracas novas, cheirando a pano de loja. Isto é norma para pata tenras. Mas se sua turma já é escolada, ela acampa com ou sem barraca e que venha a chuva! Quer saber? Nunca usei um Sleeping ou saco de dormir. Nunca usei um colchonete. Mas sei que hoje os tempos são outros e a meninada precisa primeiro aprender a ser um bom mateiro. Por isto vá cortando de acampamento em acampamento. Quando eles souberem fazer um abrigo e tiver somente uma lona em cima o caminho começa a dar frutos.

              Um Chefe outro dia comentou que ele já dispensa os veículos dos pais ou ônibus fretado, e aprenderam a usar as pernas como transporte. Carregam tudo que precisam na mochila, pegam ônibus, trens e vão aonde muitos nem sequer imaginaram. Mas isto eu sei é para uma tropa mateira. E olhe ele disse que mora em cidade grande. Estupendo! Um artigo meu fazendo gosação comentou sobre o que ensinou um Chefe Escoteiro sobre o material a levar para o campo. Incrível eu pensei. Isto é material para os escoteirinhos pata-tenras, onde a Mamãe a vovó e a titia ficam ali insistindo com ele para levar. Coitado. Vai aprender a carregar peso sem a necessidade e pobre das suas costas. E quando ele entrar em um ônibus? Bate aqui, bate ali e todo mundo olhando para ele espantado ou resmungando. No caminho ele fica para trás. Um bom Chefe divide com os demais a tralha dele com os outros, eu não, eu deixo ele se matar para aprender. Não é fazendo que se aprenda?

                Lá no acampamento é uma beleza. Os bons chefes vão lá ajudar a escoteirada a armar a tenda, a preparar um fogo, a fazer a cozinhar e etc. e tal. Eu não. O que eles foram fazer ali? Um jogo de olhar o Chefe? Eles que se virem. Afinal para que serviu o acampamento de monitores, o acampamento experimental de um fim de semana? Não ajudo mesmo. Que fiquem com fome que durmam no relento. Quando a fome apertar eles farão o fogo, quando o fogo estiver pronto eles aprendem a cozinhar. Se botarem açúcar no arroz paciência. Que comam arroz doce. Se o bife torrou danou-se, mas que mordam o queimado. Se for para pegar na mão do Escoteiro não conte comigo. Olhe que já acampei com tropas e tropas neste mundão de Deus. Quantos mateiros Escoteiros e escoteiras eu vi crescer? Centenas. Gente boa, gente que aprendeu a fazer fazendo e que quando adulto saberão se virar e ter iniciativa. Isto sem a mamãe e o chefinho Professor.

                Quantas vezes dormimos ao relento? Quantas chuvas enfrentamos? Quantos dias frios tiramos de letra com um bom Fogo Espelho? Conheci meninos Escoteiros que uma parada de uma hora em uma jornada era suficiente para uma fazer uma sopa e prosseguir. Turma da pesada! E quantas vezes dormimos sobre pedras, nas subidas das montanhas, molhados com a chuva e nos viramos com uma árvore copada? Pergunte aos que fizeram isto e verão um brilho em seus olhos, uma lembrança gostosa, um sabor diferente no aprender para a vida. Sei que hoje os pais não são como antigamente, mas se fosse eu diria: - Senhor, o escotismo vai ser assim. Se quiser que seu filho seja um homem no sentido da palavra ele vai aprender a fazer fazendo. Se o senhor acha que não dá, melhor que ele não fique conosco! Deixa o jovem chorar e reclamar com o pai. Ou ele o deixa ir conosco e aprender ou então que o leve para casa.

                 Acampar à Escoteira! Bom demais. Sozinho, enfrentando tudo. Medo? Putz! De que por acaso? Fantasmas? Eu dou risadas. Curei meu medo nos acampamentos onde uma árvore á noite era cópia do demônio. Onde uma casa de cupim nos montes nos fazia tremer nas madrugadas. Cobras? Escorpiões? Animais selvagens? Não sei se isto existe mais. Dormi amarrado por horas em um pé de pequi olhando para baixo e vendo uma jaguatirica deitada me esperando. Hoje isto não mais existe, mas ainda dá para fazer atividades aventureiras. Ora se dá. Agora se você é daqueles que levam pais para ajudar na cozinha, se você é daqueles que montam barracas e pioneirias explicando como se faz com a escoteirada em volta, paciência. Você não é o tipo de Chefe que acredito. Muito mais se é você quem estica a corda que é o primeiro a fazer o comando Crown e a escoteirada olhando, que adora fazer um caminho de barro e deixar que eles se lambuzem para uma boa foto, vá lá. Faça assim. Não é o que faria.

                    Muitas vezes não culpo você por isto. Você não teve a felicidade de acampar como os Escoteiros acampam. Hoje você tenta ao seu modo, pois aprendeu assim. Os cursos não lhe deram um começo de pista. Mas quer saber? Errar é humano e persistir no erro é uma tremenda burrice. Saia da sua rotina de sempre se quer fazer bons escoteiros. Acampe, vá onde ninguém foi com eles, mas deixe que eles tomem a frente. Você não é o Borba Gato, um Raposo Tavares ou um Fernão Dias Paes. Se divirta com o que eles fazem. Sinta-se realizado em estar ali ajudando de longe e claro você sabe disto. Eles precisam de você, mas não como o papai e a mamãe, mas como um herói que eles querem ser. Lembre-se não seja enganado como o foi Fernão Dias Paes que sempre acreditou ter encontrado esmeraldas, mas nunca ficou sabendo da riqueza que encontrou. As famosas turmalinas de Minas Gerais.


                   Barracas suspensas com um simples toque? Luz elétrica no campo? Enormes sacos de dormir acolchoados esticados nas barracas? Unguento para mosquitos? Bah! Não é o escotismo que penso. Faça acampamento meu amigo, acampamento de Gilwell como deve ser e não Camping. E por favor, não me convide para isto, mesmo Velho Escoteiro como sou ainda acho que dormirei bem em um galho de arvore sem necessidade da Jaguatirica a me olhar. Ufa! Acho que foi isto que me fez Escoteiro até hoje! 

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