Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O Anjo da Voçoroca.


Lendas Escoteiras.
O Anjo da Voçoroca.

(Um conto do Chefe  Kleber Svidzinski)

               Apavorados. Gago, Leco e Pietro estavam apavorados. Tinham certeza que conheciam o caminho de volta; já tinham feito aquele percurso três vezes durante o dia. Caramba, será que a escuridão fazia tanta diferença assim? Agora parecia que as trilhas eram todas idênticas e as árvores exatamente iguais... Gago sabia que aquele lance de ir buscar água na mina durante o período de ronda não ia dar certo, mas preferiu não dizer nada senão os outros dois diriam que tinham medo. É claro que o medo era realmente o principal motivo, mas também não confiava muito no sentido de orientação deles - se pelo menos estivessem com o Guí, ele se sentiria mais seguro; afinal, o monitor passava muito mais segurança em suas decisões.

                        O mais incrível é que chegar até a mina pareceu muito simples, mas por que a volta tinha que se complicar tanto? E, o pior, por que deixaram a lanterna no campo? Agora tinham duas preocupações: encontrar o caminho certo e torcer para o Chefe Laerte não perceber que tinham “abandonado” o posto durante o período de ronda. Deveriam pelo menos ter pegado o apito que ficara pendurado no porta-bastões - afinal se era para ser utilizado em caso de emergência, eles acreditavam que agora se encontravam em uma.

                          Leco sentia-se incomodado em seguir ao final da fila. Por várias vezes olhava para trás, não gostava daquela incômoda situação e, por vezes, tinha a sensação de escutar passos as suas costas. Pietro procurava manter a calma, falava pouco, sabia ter sido ele o culpado daquela situação. Depois de feito o convite, achava que os outros dois iriam se recusar a ir até a mina e ele se sentiria o mais corajoso dos três. Agora se preocupava mais a cada rumo que a trilha tomava e não visualizava nada que sinalizasse que estivessem na direção certa. Fazia meia hora que tinham deixado o acampamento, em 15 minutos terminaria o período de ronda deles. Como todos estavam dormindo, provavelmente a ausência seria notada somente pela manhã.

                            De repente, um pequeno clarão começou a aparecer entre algumas folhagens no que parecia ser uma curva à frente deles. Todos começaram a sorrir com um forte sentimento de alívio. Ao percorrerem o curto trajeto até onde a trilha fazia a curva que levava ao pequeno clarão ficaram um pouco perplexos. Não era o local do acampamento. No local havia um descampado enorme, todo gramado e, sob um pé de jatobá enorme, uma pequena fogueira, tímida, junto a ela uma senhorinha sentada num cupinzeiro, com uma manta xadrez bastante surrada sobre os ombros, olhava para as chamas, expressão tranquila, serena. Num primeiro momento os três se sentiram apavorados, chegaram a pensar em sair correndo. Olharam como se perguntando o que significaria aquilo. Porém, a figura daquela senhora lhes trazia certa tranquilidade, sua fragilidade não aparentava nenhum tipo de perigo. Ficaram alguns segundos em silêncio. Sem olhar para eles, ela fez um gesto para se aproximarem. Eles não se mexeram. Estavam totalmente atônitos. Ela repetiu o gesto, desta vez olhando para os três com um leve sorriso no rosto. Pietro olhou para Leco com uma pergunta silenciosa nos olhos, este simplesmente deu de ombros. Gago com uma das mãos sobre os ombros de Leco, também sinalizou positivamente com a cabeça. Pietro então virou-se e timidamente começou a caminhar na direção da senhora.

                           - Sentem-se, meninos. Pelo que vejo parecem perdidos – disse com uma vez baixa, tranquila, novamente sem fitar os jovens. - Não... Quer dizer, sim... Na verdade, acho que estamos sim – começou a balbuciar Pietro – somos escoteiros, estamos acampados aqui perto, só não sei exatamente onde; saímos para buscar água e não conseguimos encontrar o caminho de volta. A velha senhora ficou em silêncio por alguns instantes, os meninos não tiravam os olhos daquela figura franzina, indefesa. Ela pegou um pequeno galhinho fino no chão, mexeu as brasas da pequena fogueira. Pequenas faíscas coloridas ganharam o céu, a fogueira aumentou um pouco suas chamas, o clarão iluminou melhor aquela estranha figura.

                           - Sabem que este caminho é muito perigoso? – indagou após o gesto – Se seguissem por mais alguns metros, encontrariam um grande precipício, perigoso, uma voçoroca enorme que já causou alguns acidentes. – N. não, quer dizer, o Chefe Laerte nos avisou sim, que não poderíamos nos deslocar na direção do Morro da Seriema, disse que no sopé dele havia risco. Mas não temos a menor condição de saber onde estamos neste momento – disse rapidamente Leco.

                    - Hummm, perigoso, muito perigoso... Meninos não deveriam andar sozinhos, muito menos durante a noite – continuava a fitar a pequena fogueira. Por vezes a revirava com o pequeno graveto, ora puxando um carvãozinho, ora empurrando uma brasa. Os meninos se entreolhavam constantemente. Apesar de não aparentar nenhum tipo de perigo, eles estavam totalmente perplexos com a cena, com aquela situação. - A-a se-senhora, mo- mora por a-aqui? – gaguejou ainda mais que de costume Gago. - O que faz neste local, numa hora destas? – balbuciou Leco, quase cortando Gago.

                     A pequena senhora sorriu, ainda sem fitar os jovens. Jogou o pequeno galho para o lado, olhou para o alto. A escuridão não permitia aos jovens visualizar direito os olhos, nem definir muito bem seu rosto, aparentava talvez uns 60 anos, por baixo da velha manta, usava uma blusinha azul de flanela, simples. Não estava frio, o clima estava gostoso, suave, o céu estrelado, lindo. - Moro aqui perto – disse depois de uns segundos que pareceram um século – gosto de caminhar por aqui à noite, olhar o céu, sentir o perfume das damas-da-noite... Sim, após o comentário eles puderam sentir o perfume intenso no ar. Talvez a situação até o momento não permitisse a eles prestar atenção neste detalhe. O perfume intenso da flor deu para aquela situação um ar ainda mais estranho, mais misterioso. Gago apertou ainda mais fortemente o ombro do amigo, que acusou o aperto dando uma pequena abaixada no corpo.

                  - Vo-você não tem me-medo de andar po-por aí à noite? – questionou Gago. - Medo? – voltou a fitar a fogueira, seu sorriso aumentou – Não, claro que não, nunca tive. Hoje conheço cada palmo desta região, cada morador, cada planta deste lugar. - Mesmo? Então pode nos ajudar, poderia nos mostrar o caminho de volta para nosso campo? Disse apressadamente Pietro, com uma forte expectativa na voz.

                 - Voltar ao campo... Hummm... De onde não deveriam ter saído para se aventurar por lugares que não conhecem. Sabem que este tipo de atitude poderia ter lhes custado a vida. -  disse a senhora, desta vez voltando-se para os jovens, que por causa da escuridão não conseguiam fitar seus olhos – Pessoas já perderam suas vidas por causa deste tipo de erro.

                  Os jovens se entreolharam novamente. Agora eles começaram a perceber o risco que haviam corrido. Permaneceram em silêncio, como se concordassem com a senhora. - Sigam margeando este descampado nesta direção – apontou com o braço – uns 50 passos à frente chegarão a uma árvore torta, na beira deste caminho mesmo. Ao passarem por ela encontrarão uma trilha estreita a direita, sigam por ela, não tem desvios, sigam sempre por ela, não saiam dela, chegarão ao lugar que desejam. - Uau, fácil assim? Nossa, nem sabemos como agradecer – disse Leco, bastante empolgado – como é o nome da senhora mesmo?

                - Lola – respondeu com um sorriso bonito – não precisam agradecer... Não a mim, agradeçam a Deus, ele torna tudo possível... Cuidem para não repetir o mesmo erro novamente. - Muito obrigado por nos ajudar – disse Pietro já puxando Leco com Gago a tiracolo, caminhando na direção indicada. Caminharam apressadamente margeando o descampado. Conforme dito pela senhora, encontraram a árvore logo após a trilha. Ficaram eufóricos. Olharam para trás na direção de onde estaria a velha senhora e não conseguiram avistar a claridade da fogueira.

                          - Ué? Cadê a Dona Lola? Desta distância daria para enxergar a fogueira – balbuciou Leco; - Talvez tenha sido encoberta por algum arbusto. Vamos, vamos logo, nosso turno de ronda está se esgotando, precisamos acordar os próximos – disse Pietro já se virando e caminhando apressadamente pela trilha estreita. “Não tinha nenhum arbusto entre nós e a mulher”, pensou Gago com um arrepio subindo pelo corpo. Mas esqueceu-se rapidamente disso e saiu andando apressado atrás dos amigos. Conforme tinha sido dito, pouco mais a frente avistaram o campo. Foram invadidos por uma alegria, uma enorme emoção, parecia tudo normal, nada diferente teria acontecido. Consultaram o relógio, estava na hora de virar o turno de ronda, estavam aliviados, mas também muito cansados e com sono. Depois de chamarem por Carlinhos, Pikachu e Tom em suas barracas, se dirigiram em silêncio para a barraca. Ninguém mais tocou no assunto. A tensão já havia sido suficiente. Por um triz não tinham entrado numa enrascada maior ainda. E pensando em abismos, trilhas, fogueiras e na velha senhora, pegaram no sono.

                   Manhã seguinte, depois da alvorada e dos primeiros afazeres matinais, educação física, higienização e café da manhã, saíram os três novamente com uma bacia grande e as louças do jantar – o Chefe não permitia que saíssem à noite para lavar louça na beira do córrego – e do café da manhã. Pietro carregava o balde onde enxaguavam as louças para que a água com gordura não contaminasse o pequeno riacho e Gago e Leco com a bacia enorme com as louças.

                  Ainda não tinham feito nenhum comentário sobre a noite anterior. Fizeram o pequeno trajeto até o córrego rapidamente, em silêncio, o gramado molhado pelo orvalho encharcava os meiões do uniforme e os calçados deixando os pés mais frios. Ao chegarem à beira do barranquinho que levava ao córrego, viram um vaqueiro segurando as rédeas de um cavalo enquanto este bebia água. Estava de cócoras, fumando um pequeno toco de cigarro de palha que quase lhe queimava os dedos. Olhou de soslaio para os meninos, deu um sorriso, dentes meio amarelados pelo fumo, apagou a bituca com os dedos e apesar de estar com um tamanho mínimo, retirou um saco plástico, destes de açúcar, onde havia palha, fumo, uma caixa de fósforos e vário pedaços de pequenas bitucas e jogou aquele pedaço dentro.

                  - Dia, meninos – saudou, sem se levantar – acordaram cedo pro trabaio... Animados heim? - Bom dia – responderam todos quase ao mesmo tempo. - É, temos que dar um jeito nesta louça antes da inspeção de campo – respondeu Pietro. - Pelo jeito tão bastante animados, nunca tinha visto um bando deste de gurizada fazer este tipo de coisa – disse levantando-se e se espreguiçando rapidamente, esticando os braços – um trem meio maluco, um monte de turminha gritando e com umas roupas esquisitas...

                    - Somos escoteiros, viemos fazer um acampamento de tropa – disse Gago –o senhor é daqui mesmo da região? - Sô sim, moro ali dispois daquele monte ali, vim ver se num tinha gado perdido aqui pro lado da voçoroca. Por estas bandas tem um pastinho bão e o gado as veiz dá uns perdido prestas bandas – puxou um pouco a rédea e passou a mão pela crina do cavalo – a voçoroca é meio perigosa, de veiz em quando some um gado por lá... Cês tem que tomar cuidado, lá é meio perigoso, até adulto já caiu lá. Evitem andar por aquelas banda. - É mesmo? – indagou Leco, pensando no perigo que haviam corrido – já caiu gente lá?

                      - Bão, já escuitei vários causos, pelo menos uma pessoa eu tenho certeza, uma senhorinha que morava ali detraiz, subindo o carriadô de boi – disse apontando para uma estradinha no alto do morrinho um pouco mais à frente do local onde estavam acampados – coitada, veio catá goiaba pra fazer um doce, ninguém sabe direito como aconteceu, uns dizem que ela escorregou outros dizem que ele deve ter passado mal, enfim, foram achar ela uns par de dia dispois. Eu inté evito de andar muito perto de lá, enterraram a coitada lá perto mesmo, num descampadinho que fica na beira da voçoroca.

                    Os meninos se olharam arrepiados com a história, olhos arregalados, Gago soltou a borda da bacia que estava segurando e as louças rolaram pelo chão, assustando o cavalo. Por sorte, o vaqueiro mantinha as rédeas fortemente presas à mão. Leco e Gago se agacharam e rapidamente começaram a juntar as louças esparramadas pela areia do córrego, jogando-as atabalhoadamente de volta à bacia sem tirar os olhos do vaqueiro.

Um pensamento veio na cabeça de Pietro e uma frase começou a martelar a mente – “agradeçam a Deus, ele torna tudo possível” - não, com certeza era uma simples coincidência, não poderia ser o que os três, com certeza, estavam pensando.


- Co-como e-ela se se se chama- chamava? – quase cuspiu as palavras, gaguejando além do normal, um apavorado Gago, como se não quisesse ouvir a resposta. - Dona Lola, que Deus a tenha – disse levantando brevemente a aba do chapéu, num gesto de respeito.


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Passamos a fase da Torre de Babel?


O ontem é história, o amanhã é um mistério. Hoje é um dom que é por isso que chamamos
que o presente!

Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Passamos a fase da Torre de Babel?

                              A Torre de Babel, segundo a narrativa bíblica no Gênesis, foi uma torre construída por um povo com o objetivo que o cume chegasse ao céu, para tornarem o nome do homem célebre. Isto era uma afronta dos homens para Deus, pois eles queriam se igualar a Ele. Deus então parou o projeto, depois castigou os homens de maneira que estes falassem varias línguas para que os homens não se entendessem e não pudessem voltar a construir uma torre com esse propósito. Esta história é usada para explicar a existência de muitas línguas e etnias diferentes. Não serve de comparação para uma grande participação entre irmãos escoteiros concordando e discordando de artigos e temas que publiquei.

                              Isto não é uma luta pessoal. Acredito mesmo que possa estar errado em muito do que comento e escrevo. Até justifico muitas vezes as colocações que fazem aqui no grupo e em minha página. É ruim ser o dono da verdade.  A UEB vem realizando uma serie de mudanças desde a década de setenta. Nos estatutos, no uniforme, no programa, em tradições simples que não precisavam ser mudadas. Nunca disse e nem direi que não devemos nos atualizar. Afinal o mundo todo se atualiza a cada momento. Mas existe a maneira correta. Não essa que promoveram e ainda estão promovendo. Nota-se que sempre tem aqui muitos defensores das colocações feitas pelos dirigentes. Nenhum deles, os dirigentes, no entanto manifestou. Dei boas risadas em ler um comentário de um Escotista a dizer que eles estão nos monitorando.  Isto lembra o que? Claro, eles só estão lendo e tirando suas conclusões. Monitorar? Suas atas para quem as lê, não passam de temas já votados por eles e aprovados, e outras tantas nas mãos de um ou outro para tomada de decisões futuras. Assim parece que vão levando as mudanças que até hoje não deram certo. E por favor, não estou desmerecendo ninguém. Sei do esforço voluntário de cada um. Mas quem se candidatou e foi eleito, tem a obrigação de dar muito mais que outros escotistas em suas sessões.

                            Interessante que em nenhuma destas atas publicadas está escrito que deveriam fazer uma pesquisa abrangente, saber as opiniões dos nossos escotistas e quem sabe uma consulta direta as bases ou cada um dos membros da associação. Repito, não sou contra a mudança, sou contra da maneira com que ela é imposta como se só eles tivessem o dom do saber, a última palavra, e pensar que sabem o que precisamos para nos desenvolvermos mais no escotismo. De uns tempos para cá muito se tem falado sobre a os atos do CAN e da DEN. Isto era “tabu” em um passado não tão distante. Já é ruim ficar sabendo de mudanças que não agradam, pior ainda é ficar sabendo por terceiros que determinado tema vai ser alterado. Francamente nas atas que leio não vejo quase nada sobre aprovações e pedidos de estudo de temas discutidos em Assembleias Regionais e Nacionais.

                            Em uma ata um membro da diretoria do CAN simplesmente pediu que se desse uma explicação, ou melhor, abrangência em algumas mudanças, pois ele sentia que estava sendo muito solicitado nas redes sociais. Se lerem bem a ata verão que foi uma ou duas frases perdidas ali no emaranhado das mais de seis paginas da ata. Interessante que todos pisam e repisam que o escotismo é para os jovens. Nesta ata no final foi feito um adendo de desculpas aos jovens presentes (com direito a participar e sem direito a voto) por não terem sido convidados a usar da palavra o que seria feito na próxima reunião do CAN. Ouvir os jovens?

                            São mais de quarenta anos. Os membros da nova Equipe Nacional de Gestão de Adultos, (antiga Equipe Nacional de Adestramento) no início da década de setenta resolveram que ela não mais teria assento nas Assembleias com direito a voto. Centenas de justificativas. Achei interessante, pois queiram ou não eles os membros se consideram uma elite dentro da estrutura Escoteira e como tal não deveriam ser ouvidos? Claro, muitos deles são membros, mas eleitos por direito ou não de outras formas. Lembro bem que não sou contra as modificações sou contra a forma como são feitas. Um ou dois falam pelos outros, apresentam suas ideias são discutidas em clube fechado, votado e aprovadas. Chegam ao cúmulo de decidir o que os jovens querem sem um consulta direita a eles.

                           Dizer que qualquer um de nós (menos eu, não fiz o registro e não farei para evitar dissabores de ter de enfrentar uma Comissão de Ética) podermos ser eleitos é uma falácia. Comparo isto à eleição do Senhor Lula a presidência da republica. Somos milhares e citar um ou dois que conseguiram não serve como exemplo. Muitos aqui insistem na transparência. Ela até hoje não existe. Enquanto um Supremo Tribunal Federal é transparente nas suas ações, nós os membros do escotismo nacional não somos informados de nada. Dos processos que se fazem com outras organizações, baseados em qual motivo. Processos que frequentemente estados estão julgando membros por conduta não previsível na visão deles, e assim só vamos tomando conhecimento por terceiros ou quando surge em uma Ata de tempos em tempos. O Informativo Sempre Alerta é um amontoado de Marketing da própria organização.

                             Não tenho como comentar todos que aqui deram vasão nas suas ideias. Impossível. Mas mesmos os que discordam e outros que concordam e também aqueles que sugerem, em fico contente. Aqui no Facebook é histórico. De uns tempos para cá surgiram diversos grupos que escotistas de todo o país que agora sentem a liberdade de opinar. Isto não é válido? Não seria melhor abrir um canal mais próximo com a UEB? E por favor, não me venham dizer que as mudanças e tudo que colocamos estão sendo feitas. São quarenta anos. Tempo demais. Fica, portanto meu agradecimento àqueles que resolveram se manifestar. Isto é importante. Uma voz a mais. Que seja em concordância com as diretrizes que a UEB vem realizando ou não. Para mim importa agora é que existem vozes no Brasil inteiro que querem se manifestar. Quer falar, quer cobrar o seu direito de ouvir e ser ouvido e claro votar e ser votado.
Obrigado.


Uma pessoa que faz uma pergunta é um tolo por cinco minutos. Uma pessoa que não faz
É um tolo para sempre.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A perseverança – Onde anda ela nos Escoteiros?


Conversa ao pé do fogo.
A perseverança – Onde anda ela nos Escoteiros?

“Nada no mundo se compara à persistência. Nem o talento; não há nada mais comum do que homens malsucedidos e com talento. Nem a genialidade; a existência de gênios não recompensados é quase um provérbio. Nem a educação; o mundo está cheio de negligenciados educados. A persistência e determinação são, por si sós, onipotentes. O slogan "não desista" já salvou e sempre salvará os problemas da raça humana.”

              Hoje levantei com pensamentos abstratos, tristes, tentei usar meus truques para sorrir. Mudei o fundo musical e não adiantou. Pensei comigo se havia alguma razão para isto. Afinal sou um homem que tem outros ideais e na maioria das vezes sou persistente. Persistente? Pensei com meus botões, quão difícil é ser persistente. Rebusquei no passado até o presente onde eles estão. Eles? Isto mesmo, sempre o escotismo em primeiro lugar. Eles são aqueles que se foram e sempre me pergunto quantos irão ainda? Porque e qual o motivo eles se foram? Os jovens Escoteiros, os valentes e durões seniores, os pioneiros que tentaram explorar as adversidades da vida, os chefes que sorriram nas suas lides Escoteiras, mas que um dia partiram para o ostracismo. Foram tantos e tantos! Quantos cursos eu dei para esta plêiade de chefes? Mil? Dois ou cinco mil? Quantos eu apertei a mão e quantos estão hoje na labuta Escoteira?

             Dou uma busca na floresta encantada do Facebook. Eles diziam que amavam o escotismo, o escotismo estava no sangue e tantas cositas mais. Quantos estiveram comigo desde que aqui comecei? Onde estão? Quando penso muito me lembro do poema de Ana Jácomo que dizia: Jogo a minha rede no mar da vida e às vezes, quando a recolho, descubro que ela retorna vazia. Não há como não me entristecer e não há como desistir. Deixo a lágrima correr, vinda das ondas que me renovam, por dentro, em silêncio: dor que não verte, envenena. O coração marejado, me arrumo como posso, os meus sentimentos. Passo a limpo os meus sonhos. Ajeito, da melhor forma que sei, a força que me move. Guardo a minha rede e deixo o dia dormir.
Com toda a tristeza pelas redes que voltam vazias, sou corajosa o bastante para não me acostumar com essa ideia. Se gente não fosse feita pra ser feliz, Deus não teria caprichado tanto nos detalhes. Perseverança não é somente acreditar na própria rede. Perseverança é não deixar de crer na capacidade de renovação das águas.
Hoje, o dia pode não ter sido bom, mas amanhã será outro mar”. E eu estarei lá na beira da praia de novo”.

               Gosto deste poema, me lembra do Antonio, o Pedro, O Jacob, o Jessé e o Marcos, do Neném, do Luiz, do Geraldo, Do Romildo, do Aranha, da Martinha, da Neusa, poxa vida, quantos foram? E olhe nunca esqueci o João e a Lourdinha. Nomes que fincaram pé no meu coração e hoje não sei onde estão. Lembro-me dos seus sorrisos nas tropas Escoteiras e nas alcateias da vida. Como se fosse hoje os vejo de bandeira solta ao vento subindo montanhas em busca das aventuras sem fim. Desistiram? Cansaram? Será que a perseverança não os atingiram fundo no antes e no depois da lua cheia? Paciência e perseverança tem o efeito mágico de fazer as dificuldades desaparecerem e os obstáculos sumirem. Poetas. Ah! Poetas. Sempre a dizer que a persistência é o caminho do êxito. Mas porque se foram? Todos nós sabemos que o sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Não dizem que chama perseverança quando é por uma boa causa e obstinação quando é por uma coisa ruim?

           Dizer que nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas em levantarmos sempre depois de cada queda todos dizem. Mas isto é fato? Quão difícil é perseverar, insistir, permanecer e persistir nas sendas Escoteiras. Se voltar meus olhos ao passado e vejo quanto jovens se foram me entristeço. Posso culpá-los? Os motivos que os levaram a outros caminhos não tem significado para mim? Quem sabe eles tem a razão que eu desconheço. Dez anos, quinze, vinte e quarenta. E depois quantos continuam? Uns minguados como eu? Eu sei que dizem que boas atividades grandes jornadas e belos acampamentos amarram nossa vida a esta bela coisa que se chama escotismo. Mas quantos dizem isto e quantos conseguem fazer por anos a fio? – Não é fácil. É difícil mesmo que “mormente” façamos cursos e cursos, que aumentemos nossa biblioteca Escoteira, que nossos amigos fiquem do nosso lado nos incentivando.

            Não é fácil. Os jovens se vão com muita facilidade, os chefes os seguem com o passar dos anos. E porque não cantar e dizer que voltar a Gilwell de novo não seria uma motivação? Mas onde está Gilwell? De novo outro curso, ficar ouvindo alguém ensinar que nosso caminho nos leva ao sucesso. Mas quantas vezes ouvimos isto? Chega a hora de partir e não tem volta. Porque eu fiquei? Porque mesmo Velho e cansado sem poder me alimentar do ar das montanhas do aroma da terra molhada eu ainda continuo? Eu sei que canto a canção de Gilwell sempre: - Em meus sonhos, volto sempre a Gilwell. Onde alegre e feliz eu acampei Vejo os fins de semana com meus velhos amigos, e o campo em que eu treinei. É mais verde a grama lá em Gilwell, onde o ar do Escotismo eu respirei. E sonhando assim vejo B-P que sempre viverá ali.

                É acho que precisamos levar nossos amigos chefes Escoteiros a Gilwell. Uma boa dose de ar puro, só eles os chefes, sorrindo em suas patrulhas, cozinhando, construindo belas pioneiras, fazendo desafio às outras patrulhas de chefes, sem ter chefões por perto a fazer discursos, a jogar quando quiserem, a formar se acharem que devem, sem apitos loucos zunindo nos ouvidos da natureza. Sentir na pele o som maravilhoso dos pássaros, sem ter de dizer se podem colocar os pés na água fria do riacho. Olhar para o céu e tentar entender as nuvens brancas que se espalham, a sentir o vento no rosto, e quando a noite chegar, quando a fumaça da lenha do fogão dizer que a boia esta pronta, sorrir entre si e contar belos causos. Causos que se estenderam pela noite no Fogo de Conselho, na conversa ao pé do fogo, sentir a noite cantar e olhar um céu estrelado para poder melhor compreender a bela natureza ao seu redor.

              Se nos meus sonhos eu volto sempre a Gilwell, se eu era um bom lobo e não estou mais lobeando, preciso urgente de voltar a Gilwell. E aí quem sabe, eu e meus amigos motivados iremos continuar com os pés no chão, junto a esta escoteirada que dependem muito da gente. Mas penso com meus botões, existem ainda estes acampamentos? Podemos voltar a Giwell para viver o escotismo que sonhamos?


É mais verde a grama lá em Gilwell

Onde o ar do Escotismo eu respirei
E sonhando assim vejo B-P
Que sempre viverá ali.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O Tesouro do Condor – Um jogo inesquecível.


Grandes jogos Escoteiros.
O Tesouro do Condor – Um jogo inesquecível.

Faltava pouco menos de meia hora para o encerramento da reunião de tropa. Estávamos em reunião de patrulha a pedido do conselho de monitores, para discutirmos, sugerir e ver como deveria ser o Grande Jogo cujo programa anual marcava a sua execução para o próximo mês de outubro. Era uma tradição e nunca o deixamos de realizar. Olhos de Peixe havia sido transferido para nossa patrulha, a menos de cinco meses, ele tinha vindo de um grupo da capital do estado, mas se incorporara como se fosse o mais antigo. Enquanto discutíamos, ele deu uma sugestão que achamos excelente. Toda a patrulha votou a favor.

Na reunião do sábado seguinte, ficamos sabendo que a Corte de Honra havia aprovado e foi uma alegria geral. Nós tínhamos uma idéia do jogo, mas sabíamos que o Chefe Jessé iria melhorar, e claro, dar uma grande “pitada” de aventura. Uma semana antes da nossa atividade, recebemos duas cartas pregos, uma para serem aberta no dia do jogo, às seis da manhã do dia do jogo e a outra no campo, após o inicio do jogo, que seria sinalizado por grandes rolos de fumaça que avistaríamos de onde deveríamos estar localizados.

Sabíamos e era ponto de honra, só abrir as Cartas Prego no dia e horário determinado. Isto não tinha discussão e nem era discutido! Recebemos também quatro bandeirolas amarelas, e a lista de materiais a ser levado: – lanche para um dia, cantil, um par de bandeirolas de semáforas, uma bússola silva, quatro bastão, uma machadinha, um facão com bainha, uma faca mateira. Não olvidar de levar três lenços sobressalentes (lenços do grupo), estojo de primeiros socorros, uma lona para chuva, meias reservas, reserva financeira para duas passagens de ônibus. Como cada um de nós tinha o seu bastão foi alertado para não nos esquecermos de levar.

Todos deveriam estar preparados para uma atividade movimentada e para isto levar um calçado adequado. Claro, não direi o que passei na semana anterior, na espera deste grande jogo, que seria o meu primeiro na patrulha. Dormia e acordava pensando no grande dia. Às seis horas da manhã em ponto, a patrulha já estava a postos, na praça próximo ao ponto de ônibus e abrimos a primeira carta prego.
Gostaria de esclarecer que a Patrulha Águia, era composta de sete escoteiros, eu (Zé bolinha ), Pinga Fogo, Zé Colméia o monitor, Fu Manchu, Olhos de Peixe, Picolé o sub e  Pé de Bode (só apelidos para preservar os nomes). Todos primeiras e segundas classes, ou seja, uma patrulha bem “escolada”.

Dizia: (a Carta Prego)
1)     – Vocês devem tomar o ônibus de Carirí, que irá passar as 06h25min, descer no ponto final. Ali pegar a Rua das Flores, ir ao seu final. Lá encontrarão uma estrada carroçável, segui-la por 2 km (deve ser marcado com o passo duplo). Após se orientarem pela bússola tomar o rumo ENE, mais ou menos 67,5 graus, percorrer mais 800 metros, atravessar um pequeno córrego com águas límpidas e boa para beber.
2)     Segui-lo no sentido nascente por 200 metros e montar o campo assim especificado: - em forma de pontos cardeais (um x) com mais ou menos 15 metros de uma ponta a outra e vice versa. Colocar em cada ponto um bastão com uma bandeirola amarela, (o bastão deverá ser fincado no máximo com um palmo de fundo). No meio do x, ficará o totem de patrulha, colocado na mesma maneira. Devem fazer um pequeno cercado de 2 x 2 metros usando madeira do campo e cipó. Mais tarde saberão para que.
3)     – Ao inicio do jogo, as demais patrulhas também estarão como vocês (eram quatro), como o campo armado e idêntico em algum lugar próximo. Fora da vista.
4)     – Aguardem o inicio do jogo, que pode demorar de uma a duas horas. Fiquei em posição de alerta e mantenha um escoteiro de vigia.

Nada mais dizia. Sabíamos que as outras patrulhas estavam nesta hora fazendo o mesmo. Aguardamos uns bons setenta minutos e eis que avistamos em um morro próximo, rolos de fumaça, com o sinais de “O jogo já começou – guerra”. Abrimos imediatamente a segunda carta prego e ela dizia:

1)     - Vocês devem colocar os lenços presos pelo cinto, (proibido amarrar) somente dois palmos para dentro da calça, e defenderem como puderem as quatro bandeirolas em volta (amarelas) e principalmente o totem Se ele for tomado vocês todos morrem perdendo o jogo. Neste caso aguardar novo contato.
2)     – Se defendam das outras patrulhas para não perderem o lenço, pois assim serão considerados mortos e devem receber ordens do “matador” que irá conduzi-lo para o campo de prisioneiros próximo a chefia.
3)     – Cada patrulha deverá ter um campo próprio e cercado que fica no centro próximo do bastão totem, para no caso de fazerem prisioneiros.
4)     – O objetivo do jogo é defender as bandeirolas e principalmente o totem e ao mesmo tempo ir aos demais campos de patrulha e tentar tomar o totem deles.
5)     – A patrulha que conseguir mais vidas (tirar os lenços), tomar as bandeirolas ou ter o maior numero de bastão totem, é a ganhadora.
6)     É proibido – Lutas, brigas, palavrões (olhem a lei escoteira) e discussões inúteis;
7)     É aceito – Qualquer tipo de truque, força (sem denegrir a imagem), ou qualquer situação a ser criada para ganhar o jogo.
8)     O jogo terá a duração de seis (seis) horas, a contar do sinal de o Jogo já começou – guerra. O sinal de fumaça “O jogo já terminou – paz” determina a paralisação imediata do jogo.
9)     Lembrem-se, vocês devem proteger o seu campo e também atacar os demais. Como fazer e o que fazer fica para o conselho de patrulha resolver.
10)  Estaremos toda a chefia em local privilegiado, vendo vocês através de potentes binóculos. Onde veremos qual a patrulha mais esperta e a mais não tão honesta! (naquela época não havia telefone celular, se fosse hoje, seria proibido). Boa sorte Patrulhas da Tropa Mafeking!

Começamos o jogo. Seu desenrolar foi o esperado. Muitas surpresas, muitas alegrias e até um pouco de confraternização. Todo ano era assim, um Grande Jogo uma surpresa e a satisfação de ter participado. Neste deixo para a imaginação de cada um em saber quem foi o vencedor. Nota – O prêmio foi uma flor de lis de lapela para cada participante. Quem sabe um dia farão um igual ou adaptado?