Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Um tributo a Walter Dohme, um Chefe inesquecível.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Quando a realidade supera a lenda.
Um tributo a Walter Dohme, um Chefe inesquecível.

               Quando foi mesmo? Década de oitenta? Isto mesmo. Recém-chegado a São Paulo, não muito bem recebido pelos adestradores antigos. Mineiro metido a “besta” lá estava eu insistindo para participar da Equipe. Não foi fácil abrir caminho entre os donos do poder. Escrevi diretamente ao Diretor Nacional de Adestramento solicitando autorização para um CAB. A região na época não me deu bola. Alegria, alegria. Um mês depois recebi a autorização pelo correio. Foi meu primeiro curso em São Paulo no Campo Escola do Jaraguá. Quantos? Menos de vinte alunos. O caminho tinha sido aberto. Logo depois um novo regional assume, me convida para Assistente de Adestramento Regional. Um susto nos antigos. Convite foi feito aos “montões” aos adestradores paulistas para entrosarmos, falar o que melhorar aumentar os cursos no estado.
                 
                 Quantos aceitaram? Uns gatos pingados. Lá estava o Elmer e o Walter Dohme. Com eles e alguns outros a bandeira subiu não sei quantas vezes no Campo Escola do Jaraguá. Elmer está aí até hoje mostrando sua raça, seu estilo de Escoteiro seguidor da Lei, e em tempo algum deixou de colaborar. Walter Dohme um baluarte. Juntos atuamos em dezenas de cursos. Não tinha hora e nem lugar para negar fogo. Cedo de pé a preparar sua unidade didática, e isto ia até a noite na hora de recolher. Comecei a admirar aquele Chefe Escoteiro pelo seu porte, pela sua fidalguia, pela sua apresentação com seu uniforme, pois a qualquer hora lá estava ele de calças curtas, mostrando seu orgulho em ser um Escoteiro para que os outros pudessem ver que não havia hora e nem lugar para estar devidamente uniformizado.

                 Alguns anos se passaram. Ele e eu nos tornamos amigos. Se precisasse era só telefonar e ele não negava fogo. Um conhecimento Escoteiro incrível. Aqueles que um dia foram meninos escoteiros sabem o seu caminho a seguir. Não precisamos mostrar o caminho a evitar. Sabem escolher a água boa e o saltem o obstáculo. Um belo dia me dispensaram de membro da equipe. Parei de atuar no Estado de São Paulo. Uma decepção e ainda dizem que somos um movimento fraterno e irmãos escoteiros para sempre. Interessante que recebi de um conterrâneo mineiro uma cartinha pedindo para devolver meu certificado de Membro da Equipe, meu lenço e coisa e tal. Fingi de morto para não ser mal educado. O tempo passou vez ou outra chamado a colaborar com a região sendo a que me deu maior trabalho foi ser Interventor no Grupo Escoteiro São Paulo um dos mais antigos do Brasil.

                    São memorias que quero esquecer e só lembrar para me servir de exemplo em algum futuro se isto aconteça novamente. Eis que vez ou outra topava com Walter Dohme. Guardava dele as melhores recordações. E foi aqui no Orkut e no Facebook que trocávamos figurinhas quase todos os dias. Admirava seu trabalho sua força suas esperanças através dos seus desenhos e charges e da principal personagem que criou o “Alertino”. Ficou para a história. Daqui a cem duzentos mil anos “Alertino” sempre será lembrado. Adorava quando ele postava com aquele seu estilo próprio, onde dava vida ao “Alertino” e suas tiradas magnificas para a posteridade escoteira.

                     Walter Dohme se foi. Hoje mora em alguma estrela brilhante no universo. Não fui ao seu passamento. Foi um dia atípico das minhas crises pulmonares. Nem mesmo escrevi em sua página nenhuma lembrança da dor que senti ao saber de sua viagem, ou melhor, ao retorno de seu destino. Acordei hoje com sua imagem em meu pensamento. Parecia ouvir sua voz, seu sorriso gostoso, e a dizer: - E aí chefinho, quando sai outro curso para darmos juntos? Sei que teve outros escotistas que privaram mais da sua amizade pessoal e eu não fui um deles. Preferi ficar calado e não dizer nada. Estamos vendo muitos partindo para cumprir suas metas traçadas no alvorecer de um tempo que nem sabemos medir. Amanhã irão outros e claro eu também.

                      Não sei se nos encontraremos novamente quando chegar minha hora de partir. Nem sei se lá onde ele está recebe visitas de pseudo escritores que pouco escreveu sobre ele. Passamos muitas noites juntos no Campo Escola e fora de lá quase nunca. Não existe maneira de fugir do nosso destino. Hoje aqui, amanhã lá e a volta pode acontecer sempre que Ele achar que vai haver retorno. Tem amizades que fazemos que não nos deram a oportunidade de uma aproximação maior. Dizer da dor de seus familiares é impossível descrever. Ser solidário depois de tanto tempo nem sei se vai adiantar. São tantos “causos” agora no ocaso de uma vida que se foi que até é difícil contar. Saudades sim, e isto todos aqueles que tiveram a honra de usufruir de sua amizade também têm.


                         Não há historias que não ficam para sempre presas em nosso coração. Não há registro a fazer para aqueles que se foram pelas mãos do criador. Mas nunca esqueci o seu sorriso, a sua chegada ao campo escola, a sua vontade em ajudar e isto me marcou para sempre. Nada mais a dizer. Ainda sou um pária, ou melhor, um esquecido de amizades que não poderia perder. Ainda vou voltar aqui na terra muitas vezes. Aprender a ser mais solidário, aprender a abraçar mais amiúde. É... Eu tenho ainda muito que aprender e pelo menos Walter Dohme me deixou um legado, aquele que honrou seu sexto artigo da lei, pois o Escoteiro é amigo de todos e dos demais escoteiros!

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