Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A bravura de um herói.


Lendas Escoteiras.
A bravura de um herói.

(Esta é uma historia contada aos pedaços da vida de Caio Vianna Martins. Parte dela é fruto da imaginação do autor. O desastre e outros detalhes são reais – em 1973 em um acampamento regional Escoteiro em Matozinhos foi entregue a seu irmão uma medalha de Valor Ouro post mortem a Caio Vianna Martins. – Eu estava lá!). 

                Apenas um menino, nada de diferente dos demais. Nasceu em Matozinhos MG e foi batizado como Caio Vianna Martins. No Grupo Escolar seu professor Senhor Jamilson contou muitas passagens de sua vida. Ninguém ainda imagina que ali estava um menino que mostrou ser um herói para toda nação. Dizem que os heróis não se fazem, já nascem assim. Professor Jamilson nunca observou Caio por este prisma. Hoje sabendo de seu passado glorioso ele se sente orgulhoso de um dia ter conhecido Caio Martins. Dizia ele que se lembrava do dia que adentrou na sala de aula, e pomposamente fazendo uma mesura o chamou de Senhor Professor. Sabe Moço, dizia o professor. Eu Lecionava na Escola Visconde do Rio das Velhas e o conheci em 1930. Ele tinha seis anos na época e nem sabia o que eram os escoteiros. Alguns anos mais tarde seus pais foram para Belo Horizonte e ele se matriculou na Escola Barão do Rio Branco.

             Caio um jovem simples nunca pensou em ser lenda, herói ou um Escoteiro padrão. Sua vida escoteira teve início em um sábado quando ele com um amigo foram assistir ao treino de um time futebol e viu pela primeira vez os escoteiros. Ficou fascinado e não deu sossego ao seu pai enquanto não o levasse para matricular. Ele já estava em Belo Horizonte passou por dois colégios até que se transferiu para o Afonso Arinos onde começou sua vida escoteira. Entregou-se de corpo e alma a sua nova filosofia. Ele mesmo fez seu bastão, sua mãe o uniforme e numa bela tarde de maio ele fez sua promessa Escoteira. Sua vida mudou. Tinha verdadeira adoração pelo seu Chefe Clairmon Orlando Gomes e o Chefe Rubens Amador.

                  Ele amava o escotismo e sua mãe e seu pai tinha orgulho dele. Ficou amigo de Gerson Issa Satuf por quem tinha um carinho todo especial. Na patrulha Lobo era considerado um sábio pelos seus conhecimentos de história e geografia. Nunca teve muito contato com a Alcatéia de Lobos e nem sabia que mais tarde ele Gerson e Hélio Marcus de Oliveira Santos o lobinho fariam uma tríade a ser lembrada para sempre na memória escoteira. A história de Hélio com seus noves anos nunca foi contada. Sorria pouco e quase não falava. Era sim um Lobinho entusiasta sempre o primeiro a chegar e o último a sair. Uma vez em um jogo de Kim com 24 objetos se lembrou de 22. Uma surpresa para sua Akelá. Foi em um acampamento em Contagem em um sitio de um amigo do Chefe Francisco Floriano de Paula (grande mestre Escoteiro e reitor do colégio onde estudava foi um marco no escotismo mineiro). Caio, Hélio e Gerson se cruzaram muitas vezes.  O acampamento marcou a vida de Caio Martins para sempre. A vida passava muito rápido e logo ficou sabendo da atividade em São Paulo. Convenceu seus pais a deixa-lo ir afinal era bom estudante e bom filho.

                  Caio sem esperar foi eleito monitor de patrulha. Na época os monitores eram escolhidos olhando mais sua idade e desenvoltura. Baden-Powell em seu livro Escotismo para Rapazes dizia que os mais velhos são mais respeitados pelos mais novos. Foi uma festa quando partiram no trem noturno para São Paulo.  Eram seis lobinhos, doze escoteiros, três pioneiros o Chefe Clairmont e Rubens além de mais dois membros da Comissão Executiva. Uma delegação de 25 participantes. Embarcaram na Estação Ferroviária em Belo Horizonte. Foi nela que o primeiro relógio publico de Belo Horizonte foi instalado. No vagão dos escoteiros era só cantoria e alegria. O condutor o Velho Gabriel com seus bigodes imensos sorria com aquela meninada divertida e alegre. Seria uma longa viagem até São Paulo. Vinte horas num trem sacolejante e fumacento. Naquele vagão onde dormiam os escoteiros ninguém imaginava o que estava para acontecer. A História do herói começou a ser escrita.

               Ninguém soube explicar porque o Chefe da estação João Aires não parou o trem de carga que descia a Serra da Mantiqueira. No Noturno todos dormiam sorrindo em pensar o que fariam ao chegar ao seu destino. Nas páginas do livro da vida uma nova etapa tinha inicio marcado. Para Mario Montes o maquinista do cargueiro, mais de vinte anos fazendo o mesmo trajeto nem imaginava o que ia acontecer. Jonas o Coruja maquinista do Noturno nem percebeu o trem cargueiro em sentido contrário se aproximando a toda velocidade. Tarde demais! O desastre era eminente! Os freios rangeram, os apitos soaram, e a batida veio forte. Estrondos se fizeram ouvir. Vagões foram expulsos da linha e jogados em uma ribanceira. Duas e cinco da madrugada fatídica. Um engavetamento monstro se formou. O ano de 1938 entrou para a história. O vagão onde eles estavam saltou do trilho e se espatifou em um barranco. Gritos, pedidos de socorro, tudo escuro e nada se via. O Chefe Clairmont e Rubens se puseram na ativa. Chefes são sempre assim. Poucos reconheceram o heroísmo de que eles eram possuídos. Só havia preocupação em ajudar os feridos.

                   Reuniram todos os membros do grupo e deram falta de Hélio Marcos e Gérson Satuf. Foram encontrados mortos embaixo dos escombros. Era uma carnificina. Os que ainda estavam de pé corriam para ajudar. Os pioneiros fizeram uma grande fogueira, a escuridão não ajudava nos primeiros socorros. Caio cambaleante ajudava como podia. Ele havia recebido uma pancada na região lombar e não contou a ninguém. Clairmont e Rubens estavam esgotados. Só às sete da manhã os primeiros socorros vindo de Barbacena começaram a chegar. Viram Caio claudicando sentindo dores terríveis. Tentaram levá-lo na maca e ele não aceitou. – Tem feridos piores disse. A história é cheia de fatos heróicos. Foi assim com Caio Vianna Martins. Ao Chegar a Barbacena, uma golfada de sangue e com os lábios tremendo recusou novamente a maca dizendo as mais belas frases que o mundo conheceu: 

– “Há muitos feridos aí. Deixe-me que irei só. Ajudem os outros, eu sou um Escoteiro e o Escoteiro caminha com suas próprias pernas”! – Saiu caminhando e desfaleceu morrendo alguns dias depois no hospital em Barbacena. Tudo seria esquecido se não fosse dois grandes homens públicos mineiros Alcides Lins e Otávio Negrão de Lima que presentes viram tudo e contaram para o Brasil e para o mundo o que disse o herói Escoteiro. O gesto de Caio Vianna Martins ficou gravado na história escoteira. Ele foi escolhido como o símbolo Escoteiro do Brasil. O Grupo de Caio hoje não existe mais no colégio Afonso Arinos. Ali somente uma placa de bronze foi colocada sobre os feitos de Caio Martins.

                      Em memória a Caio Vianna Martins, Gerson Issa Satuf e Hélio Marcos de Oliveira Santos, saudemos no panteão da glória e dos heróis nacionais com o nosso: SEMPRE ALERTA! E tiramos o chapéu com o Grito de guerra da União dos Escoteiros do Brasil – Anrê – Anrê – Anrê! – Pró Brasil? Maracatu! 


“Há muitos feridos aí. Deixe-me que irei só. Ajudem os outros, Eu sou um Escoteiro e o Escoteiro caminha com suas próprias pernas”!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

obrigado pelos seus comentários