Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Qual o melhor acampamento para você?


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Qual o melhor acampamento para você?

                       Todos dizem e repetem que não existem nada melhor no escotismo que o acampamento. Acampar realmente é uma aventura sem igual. Tem acampamentos que deixam saudades, mas tem outros que duram uma eternidade e existe uma torcida silenciosa pedindo para ele acabar. Hoje dizem que já não se pode fazer acampamentos nos moldes de Gilwell. Falta de local, falta de material, falta de madeirame, falta de tudo. É discutível. Vejo filmes e fotos de escoteiros europeus e americanos no YouTube e no Google com a escoteirada mandando ver. Fazem pioneiras, fossas, fazem excursões em lugares lindos de morrer. E aqui não pode? Ou não tem? Beleza! Estão todos uniformizados! E aqui?

                     Acredito que cada um sabe onde o sapato aperta. Mas fico com pena dos jovens de hoje com suas “quentinhas”, em alguns grupos com acampamentos de sessões misturados, pais dando “pitaco”, um sistema de Patrulha diferente, monitores cansados e no final como não tem aquele sabor de um verdadeiro acampamento Escoteiro, lá vão eles pular no barro para se divertir. Pelo menos isto não? Sem desmerecer nenhum barreiro que encontraram ou fizeram por aí. Mas o verdadeiro acampamento, por Patrulha, com seu campo próprio, com sua cozinha, com suas pioneirías, com sua liberdade sem o Chefe para amolar é bom demais.

                    Algumas tropas adoram acampamentos distritais, regionais e ou mesmo os Jamborees Internacionais e Nacionais. Tem chefes que juntam seu rico dinheirinho para pagar os gastos de passagem, de hospedagem, das taxas de campo dos lenços feitos para trocar ou vender, dos distintivos do escambal. Não vejo muitos falando nos meninos. Até mesmo fico em dúvida se não são chefes turistas. Largam seus lobos para trás ou dão férias. Alguns levam de Mulambo alguns seniores ou guias que papai tem Money para pagar. Não confundir, nem todos são assim.

                    Eu tive a sorte de participar de acampamentos de tirar o chapéu. Descrevê-los hoje seria uma leviandade para alguns novos e teria que ter um tempo enorme para contar. Acampamento bom é aquele difícil, com chuva da boa, com vento jogando a barraca no tempo, com pioneirías caindo, com bois invadindo, com onça rosnando a noite, com feijão queimado, com bife torriscado e uma sopa cheia de preparados de capim, mosquitos e o diabo a quatro!

                   Mas no passado tínhamos bons acampamentos Distritais, Regionais e até mesmo os Nacionais. Cada estado com sua característica. Mas necas de taxas, de soberba, de ser o maior, de não ter o sistema de patrulhas em seu programa. Dizem que os grandes acampamentos não dá. Já pensou o maior Jamboree do mundo que aconteceu na Suécia com mais de 40.000 participantes? Gente demais. Nem sei se dava para abraçar todo mundo. Esqueci-me de dizer, o Brasil participou com mais de 800 membros. Garanto que oitenta por cento era de chefes. Eita chefes danados! Já estamos mudando para União dos Chefes Escoteiros do Brasil!

                    Mas aqueles menorzinho, de 400, 600 e até 1000 participantes eram “supimpas” como se diz, feitos à moda antiga. Patrulha completa, entrando no campo cantando o Rataplã levantando seu totem, sorridentes e dizendo: - Chefe Onde é nosso Sub. Campo? Existia isso assim. Sub. Campo, com Chefe e Assistente. Eu mesmo tive a honra de ser um Chefe de um Sub. Campo Sênior com 36 patrulhas. Que orgulho em formar, vibrar com seus gritos de patrulha, seus abraços e apresentar: - Chefe De Campo, orgulhosamente apresento o Sub Campo Sênior Anhanguera... Sempre Alerta!

                    As patrulhas se preparavam com antecedência. O material nos trinques. Sapa bem oleado e afiado. As panelas brilhavam. Muitas levavam seu bornal de víveres. Nada de ganhar ou comprar. Outros acampamentos o Chefe ou Distrital dava duro para conseguir uma intendência de víveres para todos. Quando chegavam recebiam seu quinhão para todos os dias. Era uma festa quando se ouvia um silvo longo de um chifre de Kudu. A turma batia palmas vendo os intendentes correndo a galope para atender ao Intendente Geral do campo. Eita, que saudades... Bom demais!

                   Hoje tudo mudou. É moderno. Tem restaurante tem gente que paga taxa para ser um “Staff”. Tem outros que prefiro chamar de turistas que vão para papear, ficar com as chefes, guias e os escambal e depois contar prosa do que fizeram ou deixaram de fazer. Muitos adoram dizer palavrões, gritar sem necessidade e andar de maneira inadequada no campo. Mas sei que tem uma boa parte de escoteiros e escoteiras e de chefes que se divertem, gostam das brincadeiras, dos desafios e da liberdade que em outros lugares não tem. Nada diferente de Acampamento de Férias de Empresas especializadas oferecem.

                    É mesmo. Hoje tudo é moderno. Soube que nos Estados Unidos fizeram um acampamento onde apareceram quinhentos mil escritos. Foi um pandemônio, um escambal. Não sei como mudaram ou como dispensaram os que sonhavam em participar. Americano tem disto. Dizem que eles tem uma quota de participantes para qualquer Jamboree. Primeiro mundo, endinheirados se deixar qualquer Jamboree passa de 200.000 acampados. Mas será que isto é bom? Como dizia meu Compadre Wander, lá no céu nos espiando: - “tem gente que gosta”.

                   Mas meus amigos e inimigos (juro que não sei quem são) o melhor acampamento, o melhor mesmo é aquele de Patrulha, todos amigos e irmãos, construindo um belo fogão, uma bela mesa, uns bancos rústicos e na hora das refeições brincar, comer, cantar e dizer: - Chefe! Quando vai haver outro como este? Pois é, quem já fez sabe como é e sabe também que o verdadeiro acampamento é aquele que faz do escoteiro ou escoteira uma pessoa de verdade, com ética, com honra, com lealdade e sem esquecer com grande fraternidade!


Nota - Acampar! Bom demais! Viver em plena natureza, ouvir o cantar dos pássaros, brincar com o pé na água fria cristalina de um riacho, de gritar “Madeiraaaa”! de olhar sua construção, da boia do cozinheiro que não termina, de uma pescaria, de uma armadilha para pássaros e depois soltar! De uma tardinha em volta da mesa lonada, dos bancos que construíram, dos jogos noturnos e depois, pois, pois... Do fogo de Conselho. Demais. Dar as mãos, cantar, e finalmente dizer: Meu irmão escoteiro, não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus!

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