Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Um Bravôo aos religiosos que fazem escotismo.


Conversa ao pé do fogo.
Um Bravôo aos religiosos que fazem escotismo.

                  A ideia não era de escrever o que seria o escotismo sem a religião. Nada disto. Afinal temos que respeitar os ateus e agnósticos e isto faz parte da formação moral escoteira e respeito com os outros. Acredito que não sou douto neste introito bem difícil para meus parcos conhecimentos. Talvez o título devesse ser outro. Quem sabe o que seria do Escotismo sem os religiosos. Afinal no passado eles tiveram importantes participações da vida escoteira nacional. Hoje pela manhã quando ia percorrer meus mais de mil metros me preparando para a São Silvestre de São Nunca, vi que o sol apareceu lindo demais para não aproveitar. Na volta na varanda peguei minha cadeira e cochilei, não sem dar uma lida no jornal. Eu tenho facilidades para cochilar onde sento ou deito. Vantagens dos velhos da terceira idade. Mas eis que me veio à memória os contatos que tive no passado com pastores, padres e outros religiosos.

                   Nestas lembranças não quero desmerecer nenhum líder religioso. Nada disto. Mas tenho que reconhecer que apesar dos pesares, dos ditos e não ditos, das acusações de pedofilia e outras “tantas cositas más” a Igreja Católica com seus quase cento e vinte milhões de adeptos no Brasil praticantes ou não, trouxe uma enorme contribuição ao escotismo. Acredito mesmo que ela ainda não foi devidamente homenageada por isto. No passado exceto os desbravadores poucas religiões evangélicas se interessavam pelo escotismo. A Religião Católica predominava. Os párocos acreditam que o escotismo era uma maneira de se atingir a formação da juventude. Seja na espiritualidade ou acreditando no método de Baden-Powell.

                  Sei que podemos ter dezenas de exceções. Sei também que hoje mudou muito. Casos contraditórios, mas eu na minha vida Escoteira tenho eternas lembranças dos meus amigos religiosos. Quantos e quantos padres foram meus amigos. Visitavam minha humilde morada. Fizeram refeições na minha mesa junto à família Ferraz. (adoravam a comida da Célia) Até o batismo de dois deles foi feito em minha residência por um deles. Vi dezenas deles de uniforme, calças curtas, orgulhosos, lutando em uma sessão ou dando cursos em estados ou cidades distantes. Dormi em barracas com vários. Juntos construímos lindos altares nos acampamentos. Pioneirías do mais alto escalão. Ajudei no possível quando celebravam as missas, pois menino fui coroinha. Tentei como comissário me aproximar de outros lideres religiosos e fui bem aceito, mas o escotismo não deu frutos na época. Dois deles se ombrearam comigo na luta para a expansão do escotismo em meu estado. Faço questão de tirar meu chapéu para eles.

                    Perco a conta de pensar quantos grupos iniciaram suas atividades sob o auspício da igreja católica. Considero os que ainda sobrevivem e os que já foram fechados sobem aos milhares. Sei de muitos ex-Escoteiros que lá cresceram. Sei de muitos párocos que deram de tudo para que os escoteiros não ficassem ao relento. Sei de centenas de outros que o próprio pároco vestiu a calça curta e saiu por aí de lenço e mochila nas atividades aventureiras cantando a pleno pulmões como era belo ser Escoteiro. Lembro-me do saudoso Chefe Padre Henrique quando chegamos ao topo do pico da Bandeira. Seu semblante era digno de se olhar. E na jornada com Chefe Padre João quando chegamos ao arraial e o povo veio aplaudir. Quando souberam que era padre foi uma festa. Lembro-me do Chefe Padre João Fagundes, naquele CAB Escoteiro e no terceiro dia descobrimos que oito chefes se mandaram do curso sem avisar? Só porque a temperatura desceu a dois graus abaixo de zero?

                    Labuta aqui labuta ali sempre fiz amigos entre religiosos. Aqui em São Paulo quando cheguei e comecei a dar cursos os convidava para ajudar na equipe e celebrar a missa aos domingos. O Padre Tonino da Vila dos Remédios e o Padre Danilo de Barueri nunca recusaram um convite para colaborar nos cursos. A missa era sagrada. Era um tabu que não se podia esquecer. – dizia aos alunos: Amanhã pela manhã, teremos missa no campo. Os que forem de outras religiões estarão dispensados para junto a outros ou sozinho fazer suas orações. Interessante. No outro dia estavam todos na missa. Desculpem-me se não aprofundar nesta seara. Não sou muito de discutir religião. Escolhas são pessoais e cada um dia vai decidir o que quer ser. Eu desde a idade de 17 anos sou espírita. Espiritualista por assim dizer. Mas o que dizer destes homens de Deus, que deram tudo pelo escotismo e ainda continuam dando? Em 1966 participava de um Grupo Escoteiro no alto da serra em Belo Horizonte no Convento dos Franciscanos. Frei Marcolino era nosso benfeitor. O Prior de lá sempre escondia lideres ou não procurados pela policia politica.

                   Um dia de reunião, na formatura do cerimonial, lobos escoteiros seniores em posição de sentido e um policial do DOPS chegou e gritou: Com que direito? Aqui só tem subversivo e comunista. Nada dissemos. Frei Marcolino foi até ele e pausadamente disse – Meu irmão são escoteiros, jovens que querem aprender honra e civismo. São filhos de Deus como você. Ele nada disse e foi embora. Claro não antes de revistarem todo o convento. Levaram quatro pobres diabos e dois Freis que chamaram de comunistas. As batidas eram frequentes, mas os religiosos nunca desistiram e ajudar.  Eu mesmo quase fui “premiado” em uma batida em minha casa a minha procura. Estava em Belo Horizonte com minha esposa e a casa vazia. Trabalhava na Usiminas e nosso grupo tinha o lenço vermelho e branco. Quando chegamos em Cel. Fabriciano um Padre da paróquia veio correndo – Chefe Osvaldo. Alguém denunciou o Senhor e o Chefe Carlos. Por causa do lenço vermelho o chamaram de comunista. Já vieram aqui atrás do Senhor. Ele me defendeu. O padre. A história é longa. Um dia quem sabe vou contar.

                      E é por isto que louvo a Igreja Católica. Sei que tem casos diferentes, sei que muitos darão exemplos mil de erros cometidos. Eu não. Não importa o que dizem. Para mim os meus amigos padres que foram muitos e aí incluo o Bispo Dom Lara que faz questão de vestir uniforme, tem uma morada eterna no meu coração. Acampei com eles em lugares impossíveis, em noites de lua cheia, excursões sublimes e os louvo como homens de Deus e protetores do Escotismo. Nunca tiveram duvidas em vestir o uniforme de calças curtas. Lembro-me de dois padres que de calça curta foram comigo a uma entrevista com O Governador Magalhães Pinto no Palácio da Liberdade, e outras vezes em audiências com o Secretário da Educação.


                      Não tenho o que reclamar da igreja católica. O Escotismo deve há eles muito. A estes padres que fizeram de tudo para o crescimento do movimento Escoteiro no Brasil. Nenhuma religião ou mesmo outra organização no Brasil fez tanto. A eles, meus amigos padres que já se foram e os que ainda estão vivos, me desculpem por não colocar o nome de cada um. Foram muitos. Aceitem meu Anrê, meu bravo, meu aperto de mão e meu Sempre Alerta, e me curvo fazendo uma reverência com meu chapéu de três bicos!

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