Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A CORTE ESTÁ EM SESSÃO!


A Corte está em sessão! Fasc. 66

"O julgamento desejável e correto é aquele em que, usando-se variados exames das circunstâncias, se reconhece o que é justo.” 

 (Amiano Marcelino) 

"Estamos habituados a julgar os outros por nós próprios, e se os absolvemos complacentemente dos nossos defeitos, condenamo-los com severidade por não terem as nossas qualidades. "

 (Honoré de Balzac) 


A todos aqueles que foram julgados culpados e foram condenados no escotismo. Lembrando a Palavra de Jesus Cristo - "Não julgueis para não serdes julgados. Pois com o julgamento com que julgais sereis julgados, e com a medida com que medis sereis medidos."

Capitulo I      

        Uma sexta feira normal. Muito calor, um prenuncio de chuva para o fim de semana e eu chegando a casa na hora certa. Nem sempre isto acontecia. Sexta sempre ficava mais tarde na empresa. Um servicinho aqui outro alí e quando assustava a noite tinha chegado. Mas nesta sexta não. Cheguei cedo. Um banho, chinelos, e repassei o programa da tropa para o dia seguinte. Era assistente senior. Mas sempre me delegavam atividades que aos outros não eram delegadas. Não sei por que, mas acho que por minha proximidade com o "Velho". Acredito que me achavam mais qualificado. Bem, poderia considerar isso como uma honra.

     Estava absorto em meus pensamentos e na minha leitura quando uma discussão em vóz alta na rua me chamou a atenção. Cheguei à janela e vi dois vizinhos meus conhecidos discutindo em altos brados. Fiquei curioso. Não era comum. A rua onde morava sempre foi pacífica, todos se cumprimentavam e nunca houve um caso como aquele. Outros vizinhos acorreram, mas qual não foi minha surpresa que um dos contendores sacou uma arma e atirou a queima roupa no outro. Um susto tremendo. Nunca esperava aquilo.

      Corri para a rua e o que atirou havia fugido. Logo uma ambulância e vimos que o tiro tinha entrado no ombro, portanto afastou-se o perigo de morte. Porque razão? Eram bons amigos. As familias sempre se visitavam. O motivo? Uma bola de futebol. O pai de um jovem que chutou uma bola no carro do outro foi tirar satisfações. Uma bola, um tiro. Mais tarde o que atirou se apresentou a policia. Fiquei pensando o que acontece no dia a dia com as pessoas. Um desentendimento futil poderia ter levado a uma morte. Um pai de familia, outro pai de familia.

     Lembrei-me de fatos diários na metropole que morava. Mortes, agressões, roubos todos os dias. Quando pensava nisso me lembrava do escotismo. Uma fraternidade, amigos, forjando caráter, ética, respeito. Não seria bom se todos fossem escoteiros? Não poderia ter sido evitado tantas violencias? Bah! Uma palavra que aprendi ha pouco tempo. Bah! Não era verdade. No escotismo os jovens se entendiam perfeitamente. O mesmo não acontecia com os adultos! Casos pipocavam e muitos deles ficaram na clandestinidade. Não sei se era interessante não vir ao conhecimento da familia escoteira. Graças a Deus o Bullyng ainda não fazia parte do escotismo. (será mesmo?)

     O escotismo estava mudando. Continuava este movimento lindo como o conhecemos, mas nem tudo era um mar de rosas. Aqui e alí surgiam casos contados por um e por outro. Julgamentos ditatoriais, desentendimentos, esquemas forçados para uma solução que nem sempre agradavam as partes. Cada caso, um caso. Acreditava que qualquer que fosse o motivo, o bom senso devia prevalecer. Pipocavam aqui e ali fatos e estes nem sempre eram bem explicados pelos nossos dirigentes. Diziam que tais episódios não eram de bom alvitre levar ao conhecimento de todos.

     Eu não pensava assim. Nunca aceitei julgamentos que não fossem públicos. Não conheço muito de leis, mas minha consciencia acreditava que ser “Salomão” era uma tarefa difícil e a justiça escoteira poderia errar. O que via não era mais uma grande fraternidade regida por uma só organização. Outras estavam aparecendo. Um amigo me dizia ser natural. Elas existiam em outros países e se davam bem. Mas aqui eu não via isso. Uma disputa, uma contenda em dizer, - Eu faço certo voce não.

     O sábado ia chegando. Precisava revisar o programa da tropa. Eu gostava da tropa senior. Agora com a presença das guias tudo fluia melhor. Uma nova motivação. Mas as patrulhas não eram mistas e as jovens não deixavam a desejar quando em disputa com os seniores. A amizade entre eles era muito grande. Mais de vinte e quatro. Quatro patrulhas de seis e eu sabia que havia uma fila de espera. O Diretor Técnico nos tinha informado. A probabilidade de ter uma segunda tropa senior estava fora de cogitação por enquanto.

     Antes de dormir fui saber do vizinho. Informaram-me que ainda estava no hospital. Ele passava bem. Deveria retornar no domingo para sua casa. Soube que o outro que atirou chorava na delegacia. Um arrependimento tardio. Claro sempre válido. Era um tema interessante. O "Velho" seria “importunado” por ele (o tema) no domingo. Era o dia que sempre o visitava. Claro que em dias de semana também. No entanto aos domingos passavamos o dia juntos e eu sempre me deleitava com o almoço da Vovó.

     Foi uma reunião extraordinária. Uma participação maciça e olhe que dificilmente algum senior ou guia faltavam. Os monitores tinham planejado uma viagem pelo “espaço sideral” através da sede. Pediram duas horas só para isso. Soube que se prepararam a semana toda. Viagem ao “espaço sideral”. Isto mesmo. A patrulha teria que atravessar todo o pátio sem pisar no chão. Uma distância de mais de 60 metros. Dificil eu pensava. Mas as audaciosas guias fizeram a viagem com uma facilidade tremenda e ganharam dos seniores. E olhem, foi proibido perna de pau. Tinha que ser a mais de dois metros de altura e no percurso cada patrulha deveria ter seus patrulheiros juntos.

     Como? Podem perguntar. Não vou contar. Se voce tem ou colabora com uma tropa senior fale com eles. Deixe que eles desenvolvam. Copiar não vale. A primeira patrulha (de guias) viajou pelo “espaço” em quarenta minutos e a última uma hora de dez (de senior). Ainda deu para cantar belas canções. Apareceram dois violões uma clarineta e um arcodeon. Cantaram como se estivessem em uma grande apresentação de fogo de conselho.

      O melhor mesmo foi o jogo de encerramento. Bolado por um senior. Foi feito um circulo com giz e as patrulhas ficavam uma atrás da outra em parte do círculo, bem juntos, como se fosse um castelo de cartas e ao sinal empurrava-se o primeiro que caia de costas empurrando o segundo e assim sucessivamente. Seria como se fosse um grande dominó. A primeira patrulha a cair tinha de levantar rápido e se postar atrás da última. O jogo terminava com a volta no círculo ou se alguma patrulha não conseguisse chegar a tempo. Um divertimento perfeito. Ri a vontade. Um dominó humano!

      No domingo dormí até tarde. Minha esposa já tinha levantado e como sempre perguntei se iria comigo a casa do "Velho". Desta vez para surpresa minha ela disse que não. Combinou em sair com umas amigas e estaria de volta antes das cinco. Eramos um casal quase perfeito. Cada um respeitava os limites do outro. Dificilmente discutiamos. Minha residência ficava a uns cinco quarteirões da casa do "Velho". Resolvi ir a pé. O dia estava lindo, uma brisa gostosa soprava e eu precisava fazer uma caminhada. Isto me fazia bem.

     Para surpresa, ao subir os dez degráus que me levavam a varanda da casa do "Velho", eis que vi alí mais três adultos da mesma idade que ele (83 anos). Não era comum. Eles se divertiam, cantavam, e ao apresentar-me o "Velho" disse: - Todos da patrulha Raposa onde eu era o monitor e depois juntos na patrulha senior Turuna (valente em tupi-guarani). Cada um deles se apresentou a moda militar. Batendo os calcanhares e fazendo uma reverencia dizendo Sempre Alerta! Simpáticos. Gostei deles a primeira vista. Vi que alí uma amizade de mais de setenta anos se fazia presente. Difícil ver e acreditar que ainda existia.

     Entrosei-me logo. Eles apesar da idade tinham uma memória fantástica. Que belos momentos deveriam ter passado. Quantas aventuras! As histórias rolavam uma atrás das outras. Ainda desconhecia este outro lado do "Velho". A Vovó apareceu sorrindo com petiscos que eu já conhecia. Junto a uma deliciosa caipirinha. Uma calabresa ao molho de cebola, coraçõezinhos de galinha no ponto, carne com macaxeira (uma manteiga por cima da macaxeira com tomate, cebola etc.) requeijão fresco, camarão frito, postas pequenas de fritas de cascudo (um peixe de água doce, uma delicia).

      Estavamos alí no regalo, com historias mil aparecendo, quando a Vovó nos chamou para o almoço, nada mais nada menos que a sua fenomenal feijoada, e digo com sinceridade que nunca comi nenhuma melhor do que a dela. Pululavam lá dentro do panelão, costelinhas de porco, lingüiça de porco pura, paio, carne seca da boa vinda do nordeste, pé de porco, rabinho e para acompanhar um arroz soltinho com rapa. Uma cove picada de primeira, laranjas, daquelas grandes, que para dizer a verdade não sei onde Vovó conseguia naquela época.

     Eu sabia que após o almoço, o cochilo não podia faltar, não sabia se seria acompanhado pelos quatro patrulheiros, que em nenhum instante paravam de falar. Comi a mais não poder. Retirei-me para o meu banquinho de três pés na sala grande e lá coloquei uma partitura de Wagner – Wilhelm Richard Wagner, nascido em Leipzig, 22 de maio de 1813. Faleceu em Veneza em 13 de fevereiro de 1883. Para mim não só um maestro, mas um dos maiores compositores e ensaista, mundialmente conhecido por suas óperas e dramas musicais. Uma das suas melhores composições tocava agora baixinho na vitrola antiga do "Velho". Tristan und Isolde. Um marco da música moderna reconhecida por muitos.

A Corte está em sessão! Fasc. 67

Aprende que com a mesma severidade com que julga você será em algum momento condenado. 

Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. E você aprende que realmente pode suportar. 

que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. 
E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida.


A todos os membros escoteiros que participam de Comissões de Ética nos órgãos escoteiros da União dos Escoteiros do brasil. Um trabalho extraordinário. Saint-Exupéry dizia que é bem mais dificil julgar a sí mesmo que julgar os outros. Se consegue fazer um bom julgamento de ti, é um verdadeiro sábio.

Capítulo II

      Como sempre o pigarro do "Velho" me acordou de supetão. Ele estava só. Seus amigos tinham partido. Olhou-me como se eu tivesse culpa. - Porque não me chamou disse! – Seus olhos piscaram faíscas. – Seu ronco falou – Você os assustou. Não disse nada, sabia que era uma das manias do "Velho". Ele calmamente sorrindo explicou que tinham compromisso com as esposas. Estavam de passagem e não podiam faltar aos compromissos assumidos com elas. Preferiram não acordar você.

        Olhei pela janela e o sol já estava se pondo. Dormi um bocado. Ainda dava para ouvir os acordes de “Das Rheingold” (O Ouro do Reno). Wagner era incomparável. Olhei para o "Velho" e como sempre o inquiri a minha moda, de supetão, sem o deixar pensar muito. "Velho" – Tenho notado, que aqui e alí vários casos de tomadas de decisões e julgamentos dentro do escotismo tem acontecido. Agora em maior quantidade que no passado. Soube de casos que mereciam mesmo a exoneração do escotista. Mas vejo, no entanto que alguns grupos estão atuando ditatorialmente, com seu lider querendo ter o poder nas mãos sem consultas às normas escoteiras.

      O "Velho" me olhou, pigarreou olhou para o teto e não disse nada. Fiquei como ele, calado também. Passado alguns minutos ele começou. Seu jeito, seu estilo, agora sabia que tinha engrenado a conversa. – Olhe disse, aqui e alí tenho ouvido casos. Como voce sabe, aprendi a usar a internet. Fiz uma centena de amigos e trocamos idéias. Muitos deles me pedem conselho como se eu fosse um “Salomão” com todas as soluções a mão. Não sou. Sou mortal como todos.

       - O "Velho" continuou - Soube de um senior que foi suspenso por sessenta dias. Isto mesmo. Sessenta. Um amigo me contou. Não sei se foi verdade. Não importava o motivo, afinal tratava-se de um jovem de quinze anos. Mesmo tendo cometido erros justificáveis para a suspensão o que foi feito foi uma arbitrariedade. Não teve nenhuma defesa. Nao foi discutido em Corte de Honra, não houve ata, seus pais não foram comunicados. Voce sabe, eu não tenho autoridade no escotismo. Entretanto não aceito que alguns dirigentes não conheçam as normas estatutárias. Aconselhei aos pais que fizessem um ofício aos órgãos distritais, regionais e nacionais. Não precisava de tanto. Mas uma lição teria que ser dada não só a este dirigente e que outros tomassem conhecimento para tal erro não se repetir. Não mandaram o ofício. Foram pessoalmente a região.

       Um escotista recém incorporado a minha lista de amigos na internet, escotista esse que quase diariamente mantemos um bate papo agradável, contou-me que por estar aposentado e com tempo útil, foi convidado a colaborar em uma organização não escoteira, lá foi e resolveu colocar o lenço. Imagine que o distrital da área soube e implicou. Sua “excelência” achou que devia ser comunicado com antecedência e ele não podia usar o lenço. Correto, mas um homem só pedir autorização? E olhe, o distrital o ameaçou com o Conselho de Ética, expulsão e criou uma situação patética, não condizente com a fraternidade escoteira.

       Eu mesmo fui testemunha de um caso acontecido há alguns anos, onde um escotista DCIM decidiu encostar as chuteiras, mandou um ofício a quem de direito. O Diretor de Adestramento (Nome na época). Conhecido por ser um religioso, enviou outro ofício solicitando a devolução do lenço, do anel, do certificado, do colar com as contas, das condecorações etc. No ofício nem costou – Olhe obrigado pelo seu trabalho. So Rindo. Só faltou pedir a cueca escoteira que ele tinha comprado em Londres. Porque devolver? Se não vai mais participar, é uma forma de lembrança, pois tudo isto não foi dado de mão- beijada. Foi motivo de muita luta e teve custos.

    Continuava o "Velho" - Veja bem, são três casos. Poderia dizer que são poucos. Não são. O número de descontententes aumentou consideravelmente. Tudo porque alguns poucos líderes não estão preparados para atuar como dirigente. A prepotencia e a arrogância estão sendo a tônica. Graças a Deus que são minoria.  No entanto estes estão causando com isto um estrago. Com isso provocam o afastamento de muitos adultos que não aceitam estas imposições. Organizações escoteiras paralelas estão aumentando a cada dia. E o pior, nestas também não se vê nada democrático nas lideranças que são sempre as mesmas.

      Mas "Velho", disse – O que se pode fazer a respeito? – Não sei, respondeu. Não sei mesmo. Hoje se tenta melhorar a aceitação dos voluntários ao escotismo. Normas foram criadas. Até uma figura de um acessor. Uma boa idéia. Mas e os resultados? A cada dia a “boca pequena” vocè ouve casos e mais casos. Se são verdadeiros não sei. A seriedade eu acredito tem de ser grande. No entanto a democracia tem de ser maior. Os grupos muitos deles têm de se profissionalizar com tal fato. A responsabilidade dos dirigentes do abandono de adultos e jovens é grande. Agora maior ainda com o movimento feminino.

      - Olhe, continuou, não discordo das Comissões de Éticas. Elas têm de existir. Não podemos deixar tudo a “Deus dará”. Mas falta diálogo. Falta bom senso. Uma boa conversa, em local apropriado se consegue resultados excelentes. O mau disto tudo é que não seguimos o que aprendemos. O Sistema de Patrulhas, a tropa como um todo nas soluções dos problemas, o Grupo com seu Conselho de Chefes atuantes, e um bom e saudável Conselho de Grupo, é a solução ideal para agir na mais perfeita liberdade democrática.

     No passado, quando era um dirigente regional, tivemos vários casos que mereceriam uma Comissão de Etica ativa. Nunca usamos. A visita in-locum um bom diálogo, e um bom entendimento, não só se resolvia como faziamos amigos para sempre. Tive dois casos que mereceram exoneração. Falei com eles, expliquei pessoalmente. Pediram demissão. Melhor assim. Hoje não. Parece que o diálogo sumiu. O bom senso acabou. Um amigo me disse um dia que o escotismo é um ótimo lugar para que aqueles que não conseguiram uma posição de mando em suas atividades fora do escotismo. Estamos cheios de sargentões (que me desculpem os sargentos)

    Não sei. Não acredito muito nisto. Mas temos muitos “mandões” “sargentões” e olhe não vai demorar em surgir nas fileiras escoteiras o tão festejado pelas autoridades brasileiras. “Sabe com quem está falando?” A continuar a arrogancia de alguns, não vai demorar que o culpado irá ser colocado a frente de seu grupo, despido de seus distintos e expulsos conforme os padrões militares. E com todas as honras! A conferir se isto não aconteceu antes.

     O "Velho" fechou os olhos e como se estivesse voltando ao passado disse – Olhe, um jovem atuante, que não falta às reuniões não deve ter esse tipo de tratamento. Se ele cometeu erros posso afirmar que seu chefe tem culpa. Um adulto que quer ajudar e é tolhido por outro, tenho motivos para acreditar que a falta de diálogo e informações precisas não aconteceram. E olhe, não adianta me dizer que os dirigentes já sabem do problema e diversas normas já foram expedidas. Ainda sou daqueles que como minha Avó dizia – Quem quer anda, quem não quer manda. Estamos mandando muito e andando pouco.

      Poderia dizer mais, quem sabe na introdução na década de 70 de uma frase na Promessa Escoteira. Um dirigente, vendo que precisava obter maior obediência aos adultos que se aproximavam do movimento. No final se dizia também – “E servir a União dos Escoteiros do Brasil’. Precisávamos disto? Acho que ele previa uma grande debandada de insatisfeitos em busca de novos rumos. E hoje os julgamentos se multiplicam como se aqueles que não mais queriam estar na UEB deviam ser considerados traidores.
 
       Vovó chegou com seu carrinho de despedida. Um lanche noturno. Como sempre dizer dos quitutes ali colocados não era fácil. Vovó se esmerava a cada dia. Paramos o diálogo, ou melhor, um monólogo, pois deixava o "Velho" falar. Claro eu sabia de sua experiência. Logo me deliciei com um pãozinho doce, salpicado de galinha desfiada ao molho de tomate, um lindo bolo de Maçã, e diversos canapés de todos os tipos. Um chocolate quente, um frapê de uva compunha o acompanhamento líquido.

        Fui embora cedo. Ainda não era meia noite. Deu ainda para ouvir um pouco de Wagner. Das Liebesverbot (amor proibido) era tocada na vitrola antiga do "Velho". Richard Wagner fez de sua vida, uma jornada das alturas do Romantismo para a crise suprema do movimento que ele mesmo orquestrou. Sua linguagem musical derrubou todos os conceitos aceitos de harmonia, uma vez que apontava para o início do período pós-romântico e além. Seu trabalho é sem dúvida um dos pilares sobre os quais repousa a música ocidental.

        A rua estava deserta. Um vento forte me tocou a face. Chuva na certa. Pingos começaram. Logo uma chuva torrencial. Não me importei. Não corri. Deixei a agua correr pelo meu rosto. Em pouco tempo estava todo molhado. Sorria de mansinho com tudo que o "Velho" me ensinou. Sabia que é preciso uma autodisciplina interior, uma maturidade intelectual, uma seriedade moral. Senso de dignidade não se adquire assim.

          Não podemos ser escotistas preguiçosos, levianos, egoístas e indiferentes. Já dizia Blaise Pascal, que o homem é feito visivelmente para pensar; e toda sua dignidade é todo o seu mérito. Todo o seu dever é pensar bem. Uma conduta irrepreensível consiste em manter cada um a sua dignidade sem prejudicar a liberdade alheia. Gostaria de voltar ao passado, nas áureas epocas do escotismo alegre, amigo e fraterno, onde as comissões de ética ainda era um sonho irrealizável.

Se tem algo que ataca a dignidade humana; É o tratamento diferenciado a quem de fato não merece.
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.




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