Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

UMA CONVERSA AO PÉ DO FOGO COM CHEFES AMIGOS Fasc. 65


Os três grandes fundamentos para se conseguir qualquer coisa são: -  primeiro trabalho árduo, segundo perseverença, terceiro senso comum.
Thomas A. Edson
Escrever é a única profissão em que ninguém é considerado ridículo se não ganhar dinheiro.
Jules Renard

Uma conversa pé do fogo com chefes amigos– Fasc. 65
“Causos e causos escoteiros”

A todos escotistas meus amigos que nunca vi pessoalmente, e que aprendi a ter o maior respeito. Desde agora e sempre estão marcados no meu coração

      Foi um acampamento diferente, bem diferente. Poderia dizer mesmo que não havia encontrado tanta amizade e tanto amor entre amigos que pela primeira vez se encontravam em um acampamento só deles. Fizemos de tudo, grandes pioneirias, um lindo fogão com forno, uma mesa excelente, enfim todas as necessidades básicas de uma patrulha bem formada. Claro tinha de ser superior, eramos doze adultos, doze chefes de varios grupos diferentes.

     Não lembro o motivo quando surgiu a ideia. Foi assim como se fosse um estalo. Vamos? Vamos. E todos concordaram. Ficamos juntos por cinco dias em um acampamento regional e alí começou nossa amizade. Antes da partida, fizemos um pacto. Renovamos com uma promessa de todos de não ter motivos para que ninguém faltasse. Dalí há um ano iriamos nos encontrar novamente, em um acampamento só nosso. Todos concordaram. Marcamos uma data e me escolheram para ver o local e transporte.

     O local? São Lourenço da Serra. Inesquecível. Acampei lá muitas vezes. Lindo. Um por do sol inesquecível. Uma vista de tirar o fôlego. Uma bela lagoa, uma mata que trazia uma brisa suave todas as tardes antes do sol nascer e se por. Madeira a vontade para pioneirias. Uma bela bica de águas límpidas e frescas. Não precisariamos de mais. O belo dia chegou. Abraços, comprimentos, sorrisos. Velhos amigos se encontrando. Vieram todos, os doze aventureiros conforme nós mesmos nos chamávamos.

    Tudo transcorreu tranquilamente. Tentei de todas as formas convidar o "Velho", mas ele foi irredutível. Já tinha dito para ele sobre o doze aventureiros e ele disse – São doze não treze. Afinal iria estragar tudo. Voce me conhece, sabe como sou. Dou “pitáco” em tudo! Entendí o que o "Velho" queria dizer. Não dava para convidar ninguém, nem mesmo os chefes do grupo onde prestava minha colaboração.

     Quatro dias maravilhosos e no último, após um fogo de conselho especial, alí em volta daquele calor, à conversa se prolongou por muitas horas. Causos, cantigas, gargalhadas, histórias. Cantando e sorrindo até altas horas da noite. Foi então que o chefe Afonso Soares, com seu estilo alegre nos contou duas histórias. Vamos chamar de “causos”, pois ele tinha um estílo inconfundível para narrar. Assim ele começou:

             Tínhamos uma sede em um clube. Usávamos a área que não era a área social, cujo acesso se dava pela área social, caminhávamos mais ou menos 150 metros, depois subíamos um escadão para se chegar à sede.

              Sempre tínhamos problemas com as crianças e jovens, sócios do clube, que não eram do movimento. Eles aguardavam à hora em que os lobinhos ou escoteiros fossem ao bebedouro tomar água para confrontá-los, para fazer "hora" no bebedouro. Enfim não gostavam que os lobinhos ou escoteiros bebessem água na sede social do clube; por isto faziam de tudo para dificultarem que a água fosse sorvida. Lutamos com o problema por mais de dois anos quando uma lobinha, de nome Mariana, chegou perto de mim e disse:

- Akelá, por o Grupo não compra um filtro e coloca aqui na sede?

              Aquilo foi um tiro no nosso pé. Que administradores éramos que não tivemos a visão da lobinha?

      Gargalhadas geral. Ele afoito, partiu logo para o segundo “Causo”. Afonso era assim, despreendido e amigo.

               Um dia, coincidiu a data da festa de encerramento das atividades anuais do Grupo Escoteiro com a da confraternização de uma Fazenda que era gerenciado por mim e outra pessoa.

              A confraternização na fazenda era para mais ou menos 50 pessoas e era um almoço. A do Grupo Escoteiro era às 19 horas, para nossos mais de 100 membros.
Durante a confraternização na Fazenda, para agradar a uns e outros, tomei todas as cachaças que me foram oferecidas. Pensei comigo, são 12 horas, até as 19 horas, com a "caixa" que tenho e minha resistência ao álcool ninguém vai perceber nada.

               Cheguei em casa, dormi. Acordei, tomei meu banho, aprontei-me para o encerramento do Grupo Escoteiro, vesti meu traje e fui todo alegre.
              Os lobinhos da Alcatéia I, na qual eu era Akelá, já por 6 anos, perceberam meu hálito e perceberam ainda que eu estava diferente, nervoso... O encerramento foi dirigido por outras pessoas, felizmente, e foi muito boa.

              Para minha surpresa, na primeira reunião da Alcatéia I, no ano seguinte, um lobinho se aproximou de mim e perguntou:

- Akelá, por que você fez aquilo na festa?
Respondi:
- Aquilo, o quê?
O lobinho:
- Você tinha bebido!

              Foi uma bofetada maior do que se tivessem chamado a minha atenção na festa de encerramento.
Moral da história: parei de beber

      Uma canção um olhar para o céu, lindo naquela hora e logo após o chefe Carlos Kohlrausch não se fez de rogado. Também tenho um “causo” disse. Em pé, naquele seu estilo inconfundivel de grande contador de historias começou. Prestamos uma atenção enorme no que ele dizia:

            Certa feita, acampamento de grupo, quase sete da noite, minha patrulha senior a Kilimanjaro  já com o jantar adiantado, em fogão aéreo, mesa muito bem feita de taquaras. Vi passar o escoteiro, direção a uma bica de água a uns 30 metros de nosso campo, panela na mão muito apressado, iria passar despercebido o fato se ele não estivesse cuidando "para não derramar".

       Pensei água não vai buscar. Saí de perto da galera que estava em volta do fogo, conversa animada sobre os jogos e o fogo de conselho que estaria por vir. Aproximei-me e lasquei - "daí Tchê" que tu tá inventando? Queimou alguma coisa? E ele, o Kohlrausch, tô lavando a massa! Eu disse que? Tô lavando a massa foi à resposta. Eu indaguei: - De onde tu tirou isso? Caiu no chão? E a resposta - Não, mas até agora tive que lavar tudo, tomate, alface, arroz (ainda se lavava arroz), daí vim lavar a massa!

      Olhei, pensei. Iria falar e acabei dizendo: - tá certo! Lava bem lavada! A resposta dele: - Pode deixar! Voltei e disse para a patrulha: - Vamos encenar uma peça para o fogo de conselho e olhem agradeçam ao patrulheiro Limoeiro da  Água! Ganhamos a peça de mão beijada, e mais será "baseada em fatos reais".

     Durante o fogo o rapazola teve sorte, noite sem lua, seu rosto trocando de cor quando da esquete (peça) e na hora das risadas não podia nem ser visto.

            Meus amigos eram historias contadas por grandes escotistas, cujo passado nada ficava a dever as do "Velho". Eles alí naquele mmento reviviam um passado alguns distantes outros nem tanto. – Alguem gritou - Chefe Luciano Loyola, chegou a sua vez, disse um dos chefes. Chefe Loyola apesar de ser circurspecto e ponderado,  não se fez de rogado. Seu “causo” foi contado por ele em pé, fazendo gestos, como se estivesse vivendo tudo o que contava. Ele era assim, apesar de sério gora se mostrava alegre e rindo enquanto narrava seu causo.

      Certa vez montei uma jornada, com 4 trajetos diferentes. Era para a Tropa Escoteira.

      Cada trajeto com cerca de 10,5 km.
    
       Para montar a jornada, em uma zona rural próxima a Curitiba, estive por  ali 7 vezes fazendo e refazendo os percursos.
Falei com os moradores, explicando que escoteiros estariam passando por ali.

        No trajeto eles teriam que fazer diversas atividades, incluindo percurso de Gilwell, carregar alguém numa maca, e por aí vai.
Para cada patrulha, calculando o tempo de caminhada, deixava os alimentos com algum morador e o local para prepararem o almoço em um ponto de parada mais a frente.

         Levamo-los de olhos vendados e os liberamos em cada início de percurso, com bússola, envelopes com as cartas prego, rádio e câmera fotográfica, pois teriam que escrever o relatório ao final.

         Os trajetos iniciavam em locais diferentes e acabavam em um local comum.

         Os relatórios trouxeram fotos de todos os tipos.

           E todas as atividades funcionaram bem. Os moradores que passaram a tarefa para eles prepararem a maca, outros que explicaram como plantavam as hortaliças, outros que contavam as particularidades da redondeza, etc.
Inclusive nas casas onde pedi para os moradores liberarem uma área coberta onde foram colocados os fogareiros e apetrechos de cozinha. Não tivemos nenhum problema.

          Como a região é de colonização italiana e sobrevive do plantio de hortaliças, as equipes foram chamadas de patrulhas: milho, batata, tomate e beterraba.

           O "causo" que chamou a atenção, entretanto, foi de uma patrulha. Ao chegar a um dos pontos de atividade, junto a uma casa de uma moradora que eu havia conhecido, chamaram pelo rádio. Disseram que estavam na casa de dona Maria, como eu a conhecia, disse "tudo bem. O que mais?". Bom eles estavam pedindo autorização para almoçar com a senhora, pois esta ao ver aquela gurizada, ficou animada, se pôs a conversar com eles e quis preparar  o almoço para eles. E a piazada, mais do que depressa quis aceitar.

          Tive que dizer não, pois a comida e o local para preparar o almoço encontrariam mais a frente. Depois fui em seguida até a casa de dona Maria pedir desculpas.

          Eu não esperava que a presença dos escoteiros por ali fosse ser uma novidade tão interessante para os moradores.

              Não havia sono. Passava da meia noite. Mas alí eramos todos adultos, e nada mais natural que do que aproveitar aquele instante mágico. O fogo já tinha se apagado. Ainda algumas fagulhas aqui e ali insistiam em subir ao céu. Aproveitamos para tomar um cafezinho quente que estava na chaleira em cima das brasas. Mas não parou por aí, o chefe Sérgio Vanti se levantou e com seu vozeirão de barítono e disse – Agora é minha vez. Eu tambem tenho um “causo”. Grande chefe Vanti, um ótimo amigo. Assim ele começou:
 
         Certa feita, nos bons anos oitenta, eu era assistente de tropa Junior do chefe Andreazza, no meu grupo d origem, o 36° RS Iguassú.  Estávamos indo em jornada de quinze km para o local do acampamento no horto florestal, antigas instalações de também antigas estâncias. Era uma noite enluarada de sexta feira, clara, e já na zona rural, muitas árvores e campos. Avançávamos em fila indiana com tropa completa, outro assistente cerrando a fila lá atrás.

          Avanço tranquilo, silencioso quando lá na frente dois vultos deslocavam-se em nossa direção, até ai nada demais. Porém ao aproximarem-se da coluna deu pra perceber seu peculiar caminhar, e que estavam de mantos escuros com capuzes, não se podendo ver as cabeças ou rostos. A frente da coluna ia eu o chefe Andreazza conversando, junto com o monitor da primeira patrulha.

         Quando a dupla de estranhos visitantes aproximou-se de nós deu a nítida impressão que não caminhavam e sim flutuavam retos a uns centímetros do solo, e por mais que tentássemos não foi possível ver um rosto ou cabeça dentro daqueles capuzes. Chefe Andreazza, nervoso e tentando ser controlado, ainda disse: - Boa noite senhoras... E o silêncio foi sua resposta. 

        À medida que aquilo passava ao lado da tropa, ia tocando horror, a gurizada se agitando, percebendo a insolitude do a que acontecia. 
Foi um tal de escoteiros correndo uns para frente, outros para o mato ao lado, uns até chorando, vários vinham a nós dizendo: Tu viste chefe, tu viste? E os monitores, bons monitores a gritar: - Voltem pra forma “cagões”, voltem pra coluna! De fato graças aos bons monitores e subs, não tivemos problema em recompor a tropa, mas não preciso dizer como foram às guardas daquela noite...

         Vi que o sono se aproximava. Eu também estava com sono, e queria contar meu “causo” afinal como o "Velho" não estava presente, eu tinha que representar o que ele sempre nos alertava. E meu relato não era nãda divertido. O retirei um dia da internet e o adaptei. Olhe disse, esse relato é sobre uma tropa que foi acampar cujos pais não eram muito ligados ao que se passava com seus filhos, quem sabe serve de lição para o futuro. Começa com uma carta que os pais recebem dos seus filhos. Vejamos:

Queridos Pais

      Nosso Chefe Pietro Lando nos disse para nós escrevermos, pois se caso voces assistirem a inundação na televisão onde estavamos acampados não devem ficar preocupados.

     Estamos todos bem. Só uma das barracas e dois sacos de dormir é que foram na enchorrada. Felizmente nenhum de nós se afogou. Isto porque estavamos na montanha a procura do Zé, quando aquilo aconteceu.

    Ah! Por favor, liguem para a mãe do Zé e comentem que ele está bem! Ele não pode escrever por que está engessado nas pernas e nos braços.

     Andei num dos jipes da Policia Rural a procura dele. Foi Massa! Nunca conseguiriamos encontrar se não fosse a trovoada. O Chefe estava fulo com o Zé por ele ter ido fazer uma excursão sozinho, sem dizer nada a ninguém. O Zé disse que tinha dito ao Chefe, mas como foi durante o incêndio e o Chefe nem prestou atenção.

     Sabiam que se puserem uma botija de gás no fogo à botija explode? Com o chefe fizemos a experiencia. A madeira molhada perto queimou e uma das barracas também. Claro perdemos boa parte das nossas roupas. O pior vai ser o João. Ficará esquisito do jeito que está. Só vai melhorar quando o cabelo dele crescer novamente.

     Só conseguimos chegar ao acampamento no sábado, pois só neste dia o chefe conseguiu consertar o carro. A culpa não foi dele. Os freios não funcionavam quando saímos daí. O Chefe diz que em um carro "Velho" é natural essas coisas acontecerem. Acho que é por isso que ele não fez seguro.

    Mas nós curtimos muito o carro. Não importava que ficavamos todos sujos e suados. Quando ficava muito quente, o Chefe nos deixava ir em cima do para-lamas, e voces sabem dez pessoas lá dentro fica muito quente. Ele nos deixou ir tambem em cima do capô. A Policia Estadual não gostou e multou o Chefe de novo. Só porque estavamos em cinco no capô. O nosso Chefe é muito valente. Discutiu com os policiais.

    Mas fiquem tranquilos, nem fiquem preocupados. Ele dirige bem. Está até ensinando o Miguel como se conduz o carro naquelas estradas de montanha, cheias de buracos, ribanceiras enormes, onde só passa um carro e com aqueles caminhões cheios de madeira indo para a  fábrica de papel era uma diversão.

   Hoje de manhã, fomos mergulhar lá de cima das rochas para o lago. Mais de trinta metros de altura. O Chefe não me deixou porque eu não sabia nadar, e não deixou o Zé porque ele está com gesso nas pernas e no braço. O Chefe achou que nós poderiamos nos afogar. Assim fomos de canoa. Foi um espetáculo. Ainda se conseguiu ver muitas árvores apesar da inundação.

    O Chefe é durão. Não é rabugento como os outros chefes. Nem se queixou por não estarmos usando coletes salva vidas. Ele tem passado muito tempo tentando consertar o carro, por isso estamos sempre procurando lugares novos, mas quando estamos próximos dele obedecendo ele em tudo.

     Conseguimos as especialidades de Socorrista! Com  o corte no braço que o David fez ao mergulhar no lago, aprendemos a usar o torniquete para estancar uma grande quantidade de sangue que saia. Tambem a torção no joelho que o Jairo fez ao cair em cima de uma pedra. Eu e o Luis vomitamos muito, mas o Chefe disse que era uma pequena intoxicação alimentar dos restos do frango de ontem que comemos. Ele disse que isso acontecia muito com a comida que eles comiam na cadeia. Acho muito bom que ele tenha saido de lá e vindo ser nosso chefe. Porreta!

   Bem tenho que terminar. Vamos a cidade mandar as cartas e comprar facas de mato, facão e balas. Ainda não usamos os fuzis e as metralhadoras que o Chefe levou.
Muitos beijos
Nelinho
P.S – Quando foi á ultima vez que tomei vacina contra o tétano?

               Nosso acampamento deixou saudades. Acho que valeu. Todos nos  abraçamos-nos e não houve quem deixasse de sentir o até logo, o breve adeus e claro pequenas lagrimas de despedidas. Não podiam faltar as juras de todos. Ano que vem tem mais disseram. Claro que sim disseram todos. Pena que desta vez o "Velho" não estava, mas acredito que a presença dele não teria dado aquele sabor que encontramos com amigos. Amigos que mostravam que eram muito mais. Agora irmãos escoteiros! Uma união que só o escotismo pode oferecer. Abraços, aperto de mão e até um próximo! E todos voltaram para seus lares sorrindo e pensando no ano que viria!

Ps. Meus agradecimentos carinhosos aos chefes Afonso Soares, Carlos Kohlrausch, Luciano Loyola e Sérgio Vanti que tornaram possivel este fásciculo. A eles meu Sempre Alerta e quem sabe, um dia estaremos juntos em um acampamento como este.

Qui em minas, té o cafezim que te oferecem a cada vizita é mais gostozim, pois em cada dose, vai um pitada de carim.
É, mas é muito fei servi café com lingua, tem qui te um biscotim, ou um bolim, se o café fica na medida certa, a moça pode inté casa, mas se nu sabe fase um cafesin gostosim, há! Vai te que isperar, inté o moço prova, e fala ta prontinha prá casar. Bjs a vcs e aqui vo ficá.


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