Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

ESCOTISTAS - Fasc. 18


ESCOTISTAS   fasc. 18 

 “ Perguntaram-me diversas vezes porque sou um Chefe Escoteiro. - Respondia : Porque acredito no Movimento como formação de jovens. - E eu me pergunto : - É uma resposta certa ? - Sou um professor ? - Um educador ? - Ou um simples irmão mais velho !. De todas as qualidades, estou devidamente preparado ? - Dou o exemplo ? - Ah ! - Como é difícil responder a mim mesmo. Quantas responsabilidades tenho nas mãos. As vezes acredito que é mais fácil ir a lua remando de barco, do que me preparar para ser um “Escotista” de verdade...”
                                                                                   
                                     O... PATA...TENRA..

AOS MEMBROS DA EQUIPE DE ADESTRAMENTO QUE LUTAM POR UM ESCOTISMO MELHOR.

     - Poderia ter participado, no entanto achei que dando a ele o apoio ( e que não foi pouco), daria maior liberdade de ação. Quando toda a família participa acho viável a esposa estar junto. Mas a medida que minha filha não se interessava  mais em participar do movimento (Fora Bandeirante pôr dois anos e meio) e principalmente pôr achar que não tinha aquelas qualidades tão essenciais para ser uma Escotista não me sentia motivada.
     Eu vivi plenamente a minha filha e o “Velho” mas veja, com isto não quero dizer que as esposas dos Escotistas não devam participar. Cada uma deve medir sua responsabilidade junto aos seus filhos e seu lar, pois esses vem em primeiro lugar.
     Vovó respondia a uma pergunta minha, o porque ela não tinha sido Escotista.
     - Agora - continuou a vovó - , eu sofri  bastante em casa. Veja bem como foi o meu “sofrimento”- falou rindo .
     - Tive que aprender MORSE logo após o casamento e olhe, ficávamos horas  e  horas, eu em uma sala e ele no quarto, conversando com uma “Cigarra rústica“.  SEMÁFOROS?  Deus do céu !, como foi difícil. Cheguei quase a empatar com ele transmitindo de 30 a 40 letras pôr minuto. E olhe, não conto o ALFABETO DOS MUDOS, e comentar naturalmente a LEI E A PROMESSA.
     -  Está rindo ? - pois preste bem atenção, faço perfeitamente um PERCURSO OU ESBOÇO DE GIWELL. Não tenho dificuldades em ler MAPAS E CROQUÍS feito a mão ou não. E isto em qualquer ESCALA.  Meu PASSO ESCOTEIRO e o PASSO DUPLO, são perfeitos (elogiados pôr muitos). Domino com facilidade uma BÚSSOLA SILVA ou PRISMÁTICA  e sem querer ofender, aceitei o desafio do  “Velho  “ e consigo fazer acima de seis NÓS escoteiros ou de marinheiro com um ou dois pedaços de linha dentro da boca ! – e completou, ainda consigo fazer 56 nós escoteiro e de marinheiro.
     - Fiquei estupefaço ! - Quem diria em vovó !.
     - E ela continuou: - E tem mais, treinamos juntos todo o adestramento de SAÚDE E PRIMEIROS SOCORROS, desde o “noviço” até 1a CLASSE, incluindo a especialidade  de SAÚDE E SOCORRISTA em qualquer eficiência, desde lobinho até Sênior. Faço sem problemas TALAS E TORNIQUETES, sei usar o lenço em qualquer tipo de tipóia. Fazer MACAS é meu hobby. E olhe bem , aprendi a achar o FIO de qualquer lamina em sua afiação. Lixar e proteger uma ferramenta não tem segredos. E para sua informação, faço de olhos fechados a AMARRA QUADRADA, DIAGONAL E PARALELA. Isto sem contar dois tipos de COSTURA DE ARREMATE com uma só mão. Tenho pôr costume, identificar qualquer cobra VENENOSA e saber onde é seu “habitat”.
     - Chega Vovó, chega. Falei. Estou envergonhado. Fiz vários cursos, inclusive a INSÍGNIA DA MADEIRA, e não aprendi tudo isto!.
     -  Não chega não filho. Continuou a Vovó. - (Seu olhar e seu sorriso e sua voz doce e suave, encantava qualquer ouvinte que estivesse ali presente)
     - Você ainda não viu como eu e ele treinamos COMIDA MATEIRA. Dei belas gargalhadas quando fizemos o nosso primeiro ‘FRANGO FRITO NO BARRO - sobre brasas e sob a terra. ( O “velho“ ria as gargalhadas) . E quantas vezes treinamos coar um CAFÉ SEM COADOR ! E olhe, o “Velho“  sempre me desafiava a fazer um ARROZ SEM PANELAS.  Como ? - segredo. Não posso contar. Use da imaginação.
     - Não faço acampamentos como vocês, mas experimente me desafiar a armar uma BARRACA, qualquer uma, em qualquer tempo ou situação. Sou capaz de armar de olhos vendados.
     - A Vovó era cheia de surpresas. Não havia como duvidar dela pensei...
- Se você quiser, vou lhe ensinar a fazer ARMADILHAS de vários tipos para caçar pássaros e vamos serrar toras com qualquer  SERROTE OU TRAÇADOR.
     - SINAIS DE PISTA, conforme está no Manual é coisa de amadores. Sigo qualquer pista em qualquer terreno!. e olhe meu filho, tive a sorte de ver o CREPÚSCULO numa noite de inverno do alto de uma montanha, e o sol nascer atrás de montes verdejantes!.
     O "Velho" se extasiava com a Vovó.  Soltava “baforadas mil“ no seu cachimbo inglês e dava boas gargalhadas enquanto a Vovó falava. Ela era a única que ele ouvia com atenção. O seu olhar, a sua meiguice e o carinho demonstrava que o amor não tem idade.
     - Olhe Vovó - ( Ele tinha uma maneira carinhosa quando se dirigia a ela ) - interrompeu o “Velho” sutilmente. 
     - O ADESTRAMENTO ou como o queiram chamar hoje, teve formas diferentes para nós, os antigos. O aprendizado era na base do FAZER FAZENDO. Não precisávamos de cursos para aprender. Talvez outras formas para desenvolver tarefas dentro das novas metodologia para a  educação da juventude fosse necessário, mas este é o Escotismo verdadeiro que conhecemos. ATIVIDADES AO AR LIVRE.
     - Esta conversa de novos tempos, novos métodos eu desconheço. É claro que devemos observar todo o avanço tecnológico de hoje, mas nenhum jovem vai trocar uma barraca em uma floresta ou “dormir sob as estrelas” sentindo a vida de um explorador pôr um computador no seu quarto “navegando“ na Internet. (seria interessante uma pesquisa a respeito).
     - O “Velho“ sentiu que o cachimbo apagara. Calmamente deu uma ou duas “socadas“ , jogou no cinzeiro as cinzas e acendeu novamente soltando  “ fumaça “ pôr todos os lados, empestando a Sala Grande.
     -  Existe uma grande dificuldade hoje com adultos - continuou - que se aproximam do Movimento Escoteiro. Talvez pôr desconhecer tantas coisas, se jogam de corpo e alma nos cursos de adestramento  e não se aprofundam no aprendizado mais importante que é o do fazer fazendo e aprendendo. É muito fácil apitar e sinalizar para formaturas ou chamadas. Qualquer um faz isto. Se você ensinar um macaco ele é bem capaz de fazer e quem sabe até melhor ( falou de uma maneira galhofa).
     - O “Velho” voltava ao seu estilo. Não perdia uma oportunidade para criticar.
     - Temos nas Lojas Escoteiras, uma infinidade de livros bons sobre literatura Escoteira. Mas quem se habilita a ler? - E mesmo lendo, praticar o que leu? - Você conta a  dedo quem tem uma boa biblioteca Escoteira em casa.
     - Alguns acham que é só fazer umas “coisinhas“ etc. e tal e pronto. Estão devidamente preparados para serem “Chefes“. Com alguns anos de atividade no escotismo, enchem o peito e vão para os encontros regionais ou nacionais olhando “pôr cima“. Ali, muitas vezes ser modesto ou ser humilde, é tabu para a maioria.
     - Se possuem a  “Insígnia“, aí ninguém agüenta tanta falta de modéstia. A cada “taco” o sujeito é o BP em pessoa. Quanta arrogância fingida!.
     - Nas  rodinhas de  chefes desconhecidos, cumprimentam mas não se misturam.  Tem seu próprio grupo. Agora já podem participar de uma reunião de Giwell! - Esquecem até da própria canção que diz : -” Volta a Giwell, terra boa, um curso assim que eu possa eu vou tomar!”.
     - Podem dar aulas. É só o “Meu Grupo“, o “Meu Monitor “, a “Minha Tropa“, meus alunos, enfim é o dono de tudo! . Será que não “pegaram“ nada? – Escotista, Chefe, Dirigente etc., são  palavras bonitas mas lembro bem quando tinha oportunidade de me dirigir aos futuros chefes em Cursos de Adestramento. Costumava aprender mais do que ensinar.                                       
     - Veja bem meu “Velho” - falou a Vovó - Nós já discutimos muito sobre os adultos no Movimento Escoteiro. É claro que cada um tem seu estilo, seu conhecimento, sua maneira de ser. Mas no Escotismo não dá para fazer este tipo de experiência. Ao aceitar a responsabilidade,  é “Ser ou não Ser“ !.
     - Concordo Vovó, - disse o “Velho” - Acontece que a falta de adultos é tão grande, que o primeiro que aparece colocamos um “Lenço“ nele e fazemos a sua “Promessa”!
     - Não existe uma escolha, uma investigação mais cuidadosa, como é com sua família, etc. Logo confiamos a ele  uma sessão qualquer de jovens e seja tudo como Deus quiser. Ele agora tem livre arbítrio para atividades extra sede e aí ninguém sabe o que pode acontecer.
     - Se ele colocar uma “Insígnia no pescoço” ele vai ficar amigo do “Rei”. Não leve minhas palavras ao pé da letra. Existem muitos que não são assim. E posso até dizer que são maioria, mas a minoria, não sei não ...
     - Vovó riu com gosto. Eu também sabia o significado. Um cargo ali, outro ali, e o passo final para a  Equipe de Adestramento ou um “carguinho” regional ou nacional era um pulo.
     - O “Velho” completou meus pensamentos a sua maneira, e soltando fumaça feito uma locomotiva e empestando a sala novamente, falou :
     - A ambição de cargos no Escotismo é freqüente. Uma piada , veja só. Não há salários e a recompensa é um trabalho árduo. Se fosse direcionado para o método correto, tudo bem, mas o “candidato“ só quer ser um futuro “reizinho” vendo seus súditos se subordinarem. Eles fazem tudo para parecer simples e honestos no inicio, mas aos poucos, vão afastando os antigos, os verdadeiros Escotistas que começaram como jovens e sempre com uma explicação vão formando seu “séquito“ de bajuladores, como se fosse um “tape“ do passado.
     - O “Velho “ suspirou, e completou  -” É tão simples ser o que é e tão difícil forçar outra personalidade que mais cedo ou mais tarde vai ser vista, queira ou não”. O tempo é o senhor da razão.
     - Temos perdido milhares de jovens cuja idade podia ser aproveitada para colaborar com o movimento porque não são recebidos como deviam. O melhor Escotista é aquele que tem espontaneidade, alegria e se considera amigo e irmão dos jovens. Observe numa sessão e procure descobrir ali os verdadeiros Escotistas - De um lado, um carrancudo, falando como “Sargento” e de outro, um rindo, ouvindo “casos“ de seus amigos escoteiros.
     - Tudo é claro como água.  Tenho escutado de muitos que não é necessário decorar a Lei Escoteira - Muito bem, e como ensiná-la? - Tenho desconfiança de quem não sabe a Lei de cor e salteado.
     Você começa a conversar com um candidato a Escotista e logo descobre que ele está no lugar errado. Tem cada tipo de fazer inveja. Olhe, não acredito que teríamos condições de dar uma peneirada mas que seria bom isto seria. Você já imaginou quantos iam sair? - Nas direções regionais e nacionais sobrariam poucos ! Há, Há, Há - O “Velho“ sorria matreiramente.  
     - Fiquei pensando e me desviei das palavras do “Velho” - Tinha lido há muito tempo, um livro de um antigo escoteiro e que se chamava  “Os adultos no Movimento Escoteiro“ . Ainda não sabia onde eu me encaixava em tudo aquilo. Sabia que era útil, sabia que podia ajudar mas não sabia como chegar lá. Educar, formar caráter, espírito de iniciativa, formação espiritual, bons cidadãos.
     - E fui pensando,  pensando até que me dei conta que a Vovó  e o “Velho” dormiam preguiçosamente abraçados no sofá preto e o “"Velho" roncava “descaradamente“.                                                                             
                                   O .... PATA ....TENRA ...




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