Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

PRINCÍPIOS ORGANIZAÇÕES E REGRAS - POR - FASC.50, 51 E 52



                    PRINCIPIOS, ORGANIZAÇÕES E REGRAS - POR
                           A Patrulha da Esperança - Fasc. 50

Para mim, tive o mais agradável dos dias. Teve nuvens e chuvas, mas também teve um glorioso sol.
Para você, porem, que irá fazer do seu dia? Poderá ser muito feliz desde que decida assim fazê-lo. Mas não o será se você ficar ocioso, esperando algo que dê uma reviravolta ou dormindo parte do tempo.
Acorde! Vá trabalhar!
Você só tem um dia de vida, portanto aproveite cada minuto. Dormirá melhor quando chegara a hora de dormir se tiver trabalhando ativamente durante o dia inteiro.

Do livro Caminho para o Sucesso – de Baden Powell

A TODOS AQUELES QUE SORRIEM E SABEM QUE O ESCOTEIRO É ALEGRE E SORRI NAS DIFICULDADES

Capítulo I

- O “Velho” me ligou aquela tarde, pedindo, ou melhor, ordenando que eu o levasse até um hospital. Perguntei educadamente porque, se tinha alguém lá internado que eu conhecia, mas ele só disse para vir logo após sair do serviço.

Era sua maneira e eu já conhecia de cor e salteado. Enquanto dirigíamos ao Hospital perguntei para ele o que houve. Após acender seu horrível cachimbo (sabia da minha raiva quando ele empesteava aquela fumaça horrorosa dentro do veiculo) me disse que um monitor, vizinho dele tinha socorrido um jovem na rua após um acidente, caiu de “moleza”, partindo um osso da perna e batendo a cabeça na calçada.

Como não tiveram notícia e o hospital não aceitava menores para visitas, me indagou se poderia ir até lá e informá-lo.

- Entendi “Velho”, você vai lá, sem conhecê-lo, só porque um monitor disse. – Ele pigarreou e respondeu – Olhe você já devia ter aprendido que nós escoteiros nos preocupamos com todos e se o monitor estava preocupado e não pode entrar no hospital, vamos nós que somos adultos. – Bem não entendi muito, mas se o “Velho” dizia por que não acompanhá-lo, ou melhor, ser seu motorista.

Conhecemos o jovem, após uma árdua batalha com a recepcionista do hospital, que não concordava com a nossa entrada. Ela não conhecia o “Velho” e depois de uma peleja das boas acabou nos informando onde ele estava. O “Velho” era um guerreiro pelo que achava seu direito, e não abria mão.

Com seus 22 anos, moreno magro, simpático, mas não muito palrador nos ouvia e não estava entendendo aquela visita, mas via-se que era educado e era daqueles que esperava o final da conversa para dar uma opinião ou então uma resposta.

Ficamos lá algum tempo. Após ver no “Velho” um amigo, narrou um pouco de sua vida, o que pretendia no futuro e seu emprego já formalizado em uma cidade do interior. O “Velho” fez questão de anotar seu endereço para que ele quando saísse o visitasse. Antes de sairmos, ele nos contou uma breve historia que acredito foi importante para saber quem era o jovem que estávamos visitando.

Sua vida tinha uma situação peculiar. Acreditava que tudo que tocava dava errado. Se falasse, dizia palavras desconexas, se andasse diziam ter pernas tortas, sua voz era baixa e todos quase sem exceção implicavam e mesmo tendo uma mente aberta, tentava não acreditar o que os outros diziam, mas infelizmente muitas coisas eram verdadeiras.

No seu primeiro emprego, achou que seria demitido em menos de um mês. Não aconteceu. Gostaram dele. Mas ele não gostou do trabalho e se demitiu. Era católico fervoroso, mas passou a freqüentar uma igreja evangélica, achando que ali teria paz e palavras mais amigas. Desistiu. Estava em dúvida quanto à religião.

Uma empresa de hardware de informática recebeu seu currículo e o convidou para trabalhar em uma cidade do interior. Aceitou de pronto. Havia mandado vários currículos, pois se formou em Técnico de Informática e ainda não sabia se era o que queria. Antes de embarcar para aquela cidade conforme chamado passou um fim de semana em sua urbe, passeando, indo ao cinema, ao shopping, praças, enfim, uma volta ao passado, pois muito tempo havia que não fazia aquilo e pretendia matar a saudade antes da mudança.

Quando retornava para sua casa, não havia levado o carro e ao tomar o ônibus, escorregou em uma casca de laranja e caiu ao chão, com as pernas dobradas e sentiu que ela não obedecia ao seu comando e doía horrivelmente. Sua cabeça sangrava. Neste momento observou alguns jovens de uniforme, uma patrulha de escoteiros conforme disse, que o socorreu de imediato. Chamaram a ambulância e ficaram ali com ele conversando e procurando saber qual o pronto socorro que eu iria.

Achou que seria liberado após engessarem e viu com surpresa que seria internado por alguns dias para observação, pois o medico disse que bateu a cabeça e poderia ter lesado o cérebro. Tudo bem. Ligou para sua mãe e pediu para ela ligar a empresa onde deveria se apresentar na segunda feira. Disse para ela não se preocupar. Era um pequeno acidente.
 
Novas visitas chegaram e nos foram apresentadas, dentre as quais a sua mãe. Resolvemos retornar, não sem antes de desejar breve restabelecimento e partimos. Achei que o assunto estava encerrado. Levei o “Velho” para sua casa e ele nem me convidou para entrar. Estava pensativo, cabisbaixo e vi que sua mente fervilhava em meditação e agora ele nada iria me dizer.  Aguardar era melhor. Sempre foi assim e assim será.

O tempo passou. Um dois ou três anos não me lembro bem, mas em uma quarta feira, como antigo ritual, lá estava eu na casa do “Velho”, conversando, aprendendo, falando de tantas coisas, mas cuja frase Movimento Escoteiro estivesse presente. Afinal, eu um novato, com menos de oito anos participando possuía um apetite grandioso de enriquecer meus conhecimentos escoteiros. E o “Velho” era uma fonte da juventude para os meus desejos.

Conversa vai conversa vem, ele me lembrou do jovem que visitamos no hospital. Não sabia, mas ele esteve em sua casa logo após ter tido alta, para agradecer a visita e como sempre lá ficou por mais de quatro horas. A Vovó adorou o jovem, na sua simplicidade e na duvida do que queria ser e fazer. O “Velho” demorou três anos para me contar a visita do jovem.

Muito bem. Tudo tem seu tempo e sua hora. - Foi uma surpresa. Não me lembrava com clareza de tudo, mas na mente ainda tinha lembranças do acontecido.

Ele contou para o “Velho” que no passado fora lobinho e escoteiro de um Grupo na cidade que morava antes de vir para a capital. Foram tempos maravilhosos, os amigos que fez as recordações das aventuras de sua patrulha (elefante) sem esquecer claro da Akelá, uma senhora sensacional que junto com o Baloo, soube pela primeira vez a historia do menino lobo.

Sua biografia, suas canções, sua paciência com as matilhas de lobinhos irrequietos, mostrava ser uma educadora que nunca seria esquecida, pois nas suas historias nos colocava em plena Jângal, e vivíamos as historias de Mowgli, nas suas aventuras inesquecíveis.

Graças a ela, fora lobinho duas estrelas. Ela sempre dizia que quando entramos na alcatéia, era como se estivesse nascendo. Ainda não tinha aberto os olhos, e assim eu era um pata tenra. Ali aprendeu a abrir um olho com a primeira estrela e depois os dois com a segunda estrela.

Não conseguiu o Cruzeiro do Sul, pois tinha começado com 9 anos e não deu tempo. Logo fez a passagem e com orgulho vestiu o uniforme escoteiro, meões cinzas, calça e camisa caqui, chapéu de abas largas e até um sapato preto que seu pai tinha comprado. O lenço verde e branco era um orgulho pessoal.

Fez a trilha na patrulha Elefante. Ele mesmo a tinha escolhido. Não sabia por que, pois as demais também pareciam compostas de jovens amigos e prestativos.

Renovou a promessa daí a um mês e logo estava dando tudo para “tirar” a “Segunda classe”, sabia que se prestasse a prova certa, em breve poderia usar uma faca mateira como os demais. Para a primeira classe foi um pulo. Ficou na tropa até os 15 anos.

Seu pai trabalhava em uma multinacional e ela sempre o transferia de cidade ou estado, conforme as necessidades de seus conhecimentos profissionais. Assim foi avisado que iriam partir nas férias de julho, e infelizmente não poderia continuar como escoteiro.

Todos ficaram muito sentidos, e o chefe do Grupo deu uma transferência, pois se na cidade que fossem morar houvesse um Grupo, iria precisar. Nesta constava toda sua vida no grupo, as atividades, os acampamentos e suas conquistas. Nada seria perdido.

Não havia Grupos na nova cidade. Outras atividades escolares, de amigos e do clube local substituíram e quase o fizeram esquecer os dias mais felizes de sua infância. O tempo passou, Terminou o colegial, fez um curso técnico e foi procurar o primeiro emprego.

Há alguns anos seu pai faleceu. Sua mãe, costureira trabalhava muito e usufruía da pensão do pai. Quando começou a trabalhar ajudava com seu salário e tinha um bom padrão de vida, pois era filho único e conseguiu até comprar um carrinho novo.

O final da historia disse ele, todos conhecem, sofreu um acidente “tolo”, mas que fazia parte de todos os fatos da sua vida.

Achei interessante a historia do jovem, mas vi que o “Velho” não tinha terminado. Esperei a Vovó fazer seu comentário, providenciar o saboroso bolo de baunilha com requeijão cozido, um chocolate quente apesar de o tempo não estar frio. Notei que o “Velho” estava dormindo e roncando a “céu aberto”. O epílogo ficaria para outro dia.

                                                 O PATA TENRA

O que é feliz é rico, mas isso não quer dizer que aquele que é rico e feliz

Provérbio do Ceilão


                  PRINCIPIOS, ORGANIZAÇÕES E REGRAS - POR
                      A Patrulha da Esperança - Fasc. 51

Vocês já leram por acaso o “Pássaro Azul” de MATERLICK? “É a historia de uma menina chamada MYLTYL e de seu irmão TYLTYL, que resolveram achar o Pássaro Azul da Felicidade”, e andaram por todo o país, procurando-o sem jamais encontrá-lo, até no final descobrirem que jamais houvera a necessidade de andar tanto.
– Felicidade, o Pássaro Azul, estava lá, onde resolveram fazer bem aos outros, em seu próprio lar.
Se você meditar no profundo significado dessa lenda e aplicá-la, ela o ajudará a encontrar a felicidade, bem perto, ao seu alcance, quando estiver imaginando que ela esteja lá na Lua.

De Baden Powell no livro Caminho para o Sucesso

AOS ABNEGADOS QUE NÃO MEDEM ESFORÇOS PARA COMEÇAR UM GRUPO ESCOTEIRO DENTRO DOS PADRÕES ESTABELECIDOS
  
Capitulo II

Naquele domingo a filha do “Velho” e seus dois filhos passaram toda a manhã com ele, almoçaram e a tarde foram embora. Fomos convidados pela Vovó para o almoço juntamente com minha esposa e estivemos juntos naquela manhã maravilhosa. Lá pelas tantas, nem vi a saída de todos e dormitava no meu banquinho de três pés, ouvindo bem baixinho o trio Irakitan na vitrola do “Velho” quando ouvi um pigarrear dele que me acordou em seguida.

Estava com quatro folhas datilografadas na mão e sorria de uma maneira tão peculiar que vi estampada em seu rosto toda a felicidade que alguém pode alcançar. Sorri também, fico feliz em ver alguém sorrindo, principalmente o “Velho”.

Ele me disse que recebera na ultima sexta feira, uma carta do jovem que visitamos há três anos atrás no hospital (me lembrei bem do fato) e que ele tinha alcançado seu objetivo e seu caminho para o sucesso na vida.

Sem maiores preâmbulos, deu-me a carta e sem nenhuma interrupção dele ou da Vovó, li com calma e saboreando cada palavra, cada frase e cada página. Adentrei na história magnífica, como se estivesse em plena Bagdá, das histórias das mil e uma noites, contadas por Betsabá, no seu castelo azul encravado na Montanha de Cristal, sentada nos alcochoados coloridos, com seu sorriso franco e semblante de uma princesa.

Sem entrar nos detalhes iniciais, a carta dizia:

 - E assim “Velho” após o breve preâmbulo de minha vida, que lhe contei quando estive em sua residência, sentia que alguma coisa faltava para completar e preencher o vazio que sentia. A ajuda ao próximo. Você me alertou sobre isto. Deveria fazer alguma coisa, alem de trabalho e ociosidade. Como participei de um Congresso de gerentes na Empresa, o tema do trabalho voluntário fora comentado em uma palestra feita por uma jovem que era nossa assistente social e levei muito a serio suas palavras.
 
No dia seguinte a procurei e comentando sua palestra, contei que fui do Movimento Escoteiro por muitos anos e pensei em iniciar um pequeno grupo em nossa comunidade. Claro, nunca esqueci o que me disse e que me informara que nesta cidade não havia nenhum Grupo.

Expliquei como era o que faziam os escoteiros, seus propósitos, programa e métodos. Ela achou esplêndida a minha idéia e disse para começar logo para não esfriar a motivação e isto seria muito bom para a juventude do bairro e adjacências.

Não foi tão fácil o início. Procurei na internet prováveis endereços onde pudesse me informar e só achei o da Região do Estado. Poderia ter entrado em contato com o senhor, porém achei melhor enviar a eles um email e após 30 dias sem resposta, telefonei a eles diretamente. Lembro bem do que me disse que um Escoteiro caminha com suas próprias pernas. (Caio Viana Martins). Assim o fiz.

No meu telefonema não foram “gentleman” no atendimento, mas insisti e disseram que o melhor era me dirigir até a capital e procurar a sede Regional em pessoa. Eles tinham uma loja que “vendia” alem de materiais escoteiros, diversos livros e literatura suficiente para que eu pudesse me aperfeiçoar nos meus conhecimentos escoteiros.

Não vendo outra saída, pois não sabia de outros grupos próximos a minha cidade, tirei um dia de folga na semana, marquei uma visita e fui até a Capital do Estado, (mais de 300 quilômetros), pois para mim, era ponto de honra organizar o Grupo Escoteiro, pois este iria substituir tantos outros planos que tinha em mente.   

Até que não foi ruim a minha visita. Conheci os dirigentes (não todos) e mostraram-se simpáticos a minha idéia. Explicaram-me como agir e fizeram uma lista de livros especializados que eu deveria ler, dando-me um formulário próprio para que quando tivesse tudo pronto, poderia pedir a Autorização Provisória para o inicio.

Não vou aqui entrar nos detalhes, mas aprendi que organizar um Grupo Escoteiro, sem ter nenhuma pessoa com conhecimentos escoteiros e junto para colaborar vai sentir muitas dificuldades e se não for um idealista desistirá imediatamente. Não é fácil começar um Grupo. Eu que o diga. Claro, dentro das normas, tudo feito como deve ser o tal POR (Princípios, Organizações e Regras) que você me deu e li do início ao fim.

Com amigos do bairro e da paróquia, montamos a primeira Diretoria. Com um colega da fábrica, consegui meu primeiro assistente. A Paróquia através do Pároco nos ofereceu moradia e a igreja, para as reuniões e salão para os contatos com os pais. A assistente social conversou com a diretoria da empresa e ela se prontificou a dar uma ajuda financeira inicial. Como estão vendo, tudo caminhou com muitas facilidades, outros acredito não terão como eu tive.

Houve planos de uma grande festa, quando toda a “meninada e as moçoilas” do bairro fossem arregimentados, e a nossa Diretoria e o Pároco diziam que poderíamos ter mais de 300 participantes iniciais! Todos eles de uniforme novos, fazendo o “juramento” com a banda de musica da cidade, o prefeito, o juiz, o delegado enfim todas as autoridades seria bombástico! Estrondoso! Uma apoteose nunca vista e que seria lembrada por todos durante muitos e muitos anos.

Fui para casa pensativo naquela quinta feira, e passei quase toda a noite acordado. Não foi o que você me disse e nem o que dizia os alfarrábios. Na minha cabeceira, estavam os livros Escotismo para Rapazes, Caminho para o Sucesso e o Guia do Chefe Escoteiro, todos escritos pelo fundador do escotismo, Lord Baden Powell. Um livro que me chamou muito a atenção foi o Guia do Escoteiro, antigo, escrito pelo “Velho Lobo” e muito conhecido pelos antigos escoteiros.

Na semana seguinte procurei a todos e mostrei como deveria iniciar. Ficaram desconfiados e não concordaram a principio. Disse que o programa escoteiro e suas finalidades não seriam alcançados com educação em massa, isto não existe em lugar nenhum. Quem sabe, dentro de uns 4 ou 5 anos, poderíamos ter uns 120 jovens e adultos no Grupo e aí faríamos uma grande festa de comemoração.

Com os pés no chão teríamos no futuro muitos dos jovens ali iniciantes, como os prováveis nossos substitutos e já radicados na comunidade ajudando de uma ou outra maneira ao Grupo.

Tentaram de toda forma me fazer mudar de idéia. Disse que teriam todo o direito de procurar alguém que não fosse eu, e o conceito que faziam do escotismo poderia ser por este realizado. Não concordaram em procurar outro. Aceitaram a contra gosto e assim dei inicio a formação da Tropa Escoteira, que foi por muitos e muitos anos, meu caminho para o sucesso, o amor de uma vida e que agora, já com mais de três anos de atividade, guardo no fundo do coração os primeiros anos de alegria e de felicidade.

A Diretoria me deu uma lista de mais de 400 jovens inscritos. Colocaram nomes e endereços e mais nada. Precisava escolher oito. Sim oito. Uma tarefa árdua e trabalhosa. Seriam os futuros Monitores e os Sub Monitores das patrulhas, isto quando tivéssemos as quatro funcionando.

Escolhi aleatoriamente 14 nomes. Fui à rua onde moravam, olhei-os de soslaio e fui anotando numa pequena caderneta os nomes que poderiam servir para serem os primeiros. Conversava com outros jovens e percebia em suas palavras como eram se bom amigo, se alguém reclamava enfim tudo que pudesse indicar um pouco de liderança.

Em duas semanas só escolhi dois. Fiz a mesma coisa com outros da lista e ao final de 40 dias tinha os nomes dos oito. Fora difícil, não sabia se daria certa a minha escolha. Dizem que a pressa é a inimiga da perfeição. Eu sabia o que fazer como fazer e quando fazer.

O Diretor Presidente da nossa diretoria mandou uma carta aos pais dos oito, pedindo para comparecerem na sede. Ele não estava entendo nada. Expliquei o que devia ser feito. Um compromisso dos pais. Caso contrário não poderiam ser aceitos. (os jovens).  Drástico mas sabia pela literatura que tinha lido que não havia possibilidade de ser ter uma boa alcatéia, uma boa tropa e um bom Grupo sem a participação dos pais.

Quem está entrando são os pais. Os filhos irão participar receber a educação escoteira que colabora na formação dele na escola, na igreja e junto à família. Sem ela, não havia motivo de participação do jovem. O programa não seria profícuo e suas finalidades inexistentes.

Num dia de maio, em um sábado, ainda sem meu uniforme (não sabia como fazer a minha promessa) ali estava eu e os oitos jovens, cada um sorrindo um para o outro e apesar do meu programa estabelecido e pronto, fiquei meio encabulado em dar o inicio da tropa que seria o baluarte futuro do nosso Grupo Escoteiro.

Fiz um jogo quebra gelo – O Macaco disse – com força e vigor, dois ganharam o jogo. Logo em seguida outro jogo. De corrida, Revezamento do Sorvete, mais forte, que provocou risadas e senti que já estávamos falando o mesmo “idioma”.  

Alegria, amizades, apresentações, finalidades, adestramento, conhecimento, conversas ao pé do fogo, Promessa, Lei Escoteira, enfim, era só o início. Em outra reunião, falamos sobre as bases de uma patrulha, eleições, Côrte de Honra, companheirismo, Conselho de Patrulha, Conselho de tropa etc. Três sábados, muita camaradagem.

A primeira excursão, um domingo inteiro no campo. Aprendemos juntos a fazer uma pequena fogueira, como proteger a mata das fagulhas, do perigo delas espalharem. Um deles disse que sabia fazer um café. Pedi a ele para fazer enquanto com os demais conversávamos sobre cordas, peso, proteção, cálculos para içar materiais ou seres humanos pesados. Aprendemos a subir em árvores com cordas e descer. Alguns nós, alguns sinais de pista.

A Diretoria conseguiu na comunidade, meios financeiros para comprarmos os primeiros materiais de sede e de campo para a patrulha. Recebi um ofício regional me informando dos cursos para chefes escoteiros durante o ano. Inscrevi-me em dois.

No início tirei 3 dias na semana, (após a promessa de todos, só um dia) por duas horas à noite, para conversas particulares ou em dupla com a patrulha. Trocávamos idéias, fiquei conhecendo suas professoras, como eram na escola, religião de cada um e o que pensavam a respeito.

O que achavam da Lei Escoteira, como a interpretavam, da Promessa quando chegasse o grande dia, enfim ouvi mais do que falei. Ou seja, não falei quase nada, mas consegui conhecer a cada um deles como nunca conheci nenhum amigo meu que já pertenciam ao meu habitat.

A patrulha foi crescendo em conhecimentos. Era a Patrulha de Monitores, e eles resolveram escolher um nome, que deveria ser o marco, e por unanimidade foi escolhido que seria a Patrulha da Esperança. A primeira, sem nome de animais ou fatos históricos. Era a esperança do Grupo Escoteiro e de como ele seria no futuro. Concordei é claro.

Aos poucos conversava com os pais, visitava-os, tornei-me amigo deles. Éramos relativamente confidentes do que fazíamos. Veio o primeiro acampamento de fim de semana. Já estavam preparados no manuseio de cordas, machados, facas, fogos, construções mínimas de pioneiras e eles exímios montadores de barracas. Como já tínhamos feito antes 3 excursões o acampamento foi realizado nos padrões esperados e de uma felicidade geral.

Foi um grande acampamento. Uma grande amizade já existia. Foram dois dias maravilhosos. Aprenderam como uma patrulha age no campo. Sozinha, em equipe, a divisão de trabalhos, a responsabilidade de cada um. Os perigos existentes. Andar sempre em dupla. Usar bem uma bússola. Conhecer o tempo, previsões iniciais de chuva. Para minha surpresa, dois grandes cozinheiros surgiram do nada. Muito bem aproveitado este primeiro acampamento.
  
Passado três meses, todos estavam preparados para o inicio da tropa. Junto com a Diretoria do Grupo, o pároco, a assistente social e um diretor de nossa empresa, foi feito a promessa de todos. Eu primeiro. O Presidente aprendeu como e me promessou. Em seguida tomei a promessa dos demais. Um por um. Cada um disse as palavras da promessa, embargados de sentimentos, e claro, houve até pequenas lágrimas que acredito ter sido de alegria e emoção.

Ver aqueles oitos jovens após três meses, todos desconhecidos entre si antes de formarem a patrulha, agora com seus uniformes, com seus lenços bem passados, um chapéu cuidado apesar de novo, aquele sorriso, foi um dos dias mais felizes de minha vida.

Eu também portava o mesmo uniforme deles. Nunca em tempo algum junto à tropa vesti outro.  Orgulhava-me em ser o monitor mais velho.

Um dia apareceu uma jovem no Grupo, meio gordinha, mas alegre e lépida. Disse que queria ser escoteira. Tinha 19 anos. Não havia possibilidade. Ainda não tínhamos moças na tropa (e nem teríamos, enquanto não fosse à época apropriada, e aí sim, iríamos formar uma tropa feminina, nada de tropa mista).

Ela ficou meio ressabiada, mas não desanimou. Disse para ela ler bastante a literatura escoteira, e como já possuíamos na sede uma pequena biblioteca, liberamos para ela uma vez por semana levar um livro para casa. Disse que procurasse conhecer bem o Livro da Jângal de Kipling. Dei a ela de presente o Manual do Lobinho. Quando soubesse tudo o que estava escrito me procurasse. Iria fazer uma prova com ela.

                                                                       O PATA TENRA

Faça os outros felizes e você se sentirá feliz. Reconheça o lado bom naquilo que tiver conseguido o lado divertido da vida, as glórias, maravilhas e belezas da Natureza. Afogue a ambição pessoal.

Do livro Caminho para o Sucesso – Baden Powell


                 PRINCIPIOS, ORGANIZAÇÕES E REGRAS - POR
                      A Patrulha da Esperança - Fasc. 52

“Há gente que é um gansinho no modo em que vai atrás
Dos outros que vão à frente: nem sabe para onde vai...
Nas pisadas do pai ganso, vai pisando o filho atrás:
“Ele nunca fará nada, que não tenha feito o pai”.

B.B. Valentine – do Livro Caminho para o Sucesso

PARA AQUELES QUE LUTAM E SE ESFORÇAM PARA TER UM MOVIMENTO FORTE E UNIDO

Capitulo 3

Eu estava me deliciando com a narrativa, era uma autêntica aula de como iniciar um Grupo Escoteiro. Se todos assim fizessem hoje teríamos um movimento mais forte do que é. Mas deixemos a continuação do jovem que agora já é um Chefe Escoteiro doutorado e dos bons.

- Dois meses depois ela retornou. Iniciamos uma alcatéia masculina. Com poucos inicialmente. Duas Matilhas. Sempre com a anuência da Direção do Grupo. Ela a Diretoria era informada de tudo. Participava de suas reuniões mesmo sem ser o Diretor Técnico, mais para colaborar já que conhecia bem as atribulações do adestramento escoteiro.

Passaram-se três anos. Nosso Grupo cresceu. Não muito, mas já temos uma alcatéia masculina e uma feminina. A tropa feminina está se organizando, nos mesmos moldes como foi feito com a masculina. 6 jovens estavam formando a patrulha de monitoras com uma das mães que se interessou em ser escotista. Passei para ela tudo que fiz e sabia. Ainda não tinham surgido os seniores, mas acreditava que no próximo ano eles seriam organizados.

O Pároco entusiasmado fez diversos cursos e era o nosso Diretor Técnico. Tínhamos um relacionamento muito bom apesar de não ser católico. Muitos pais adentraram como escotistas. Hoje somos 12. Estou fazendo a parte três da minha insígnia de escoteiros. Nosso caminho foi muito consolidado, e apesar de algumas divergências aqui e ali, nosso Conselho de Chefes quando se reúne mensalmente, tem sempre o seu papel democrático.

A Corte de Honra da tropa aprendeu como respeitar e ser respeitada. Sempre ensinamos a todos e cada um faz questão de saber dos seus direitos e dos seus deveres.

Deveremos registrar se tudo correr bem no próximo ano, aproximadamente 80 membros. Um número muito bom para quem começou com oito três anos atrás. Pelo levantamento do Diretor Técnico e da Diretoria, nossa evasão não atinge 10% ao ano o que deduzo ser excelente. Basta dizer que dos oitos jovens que iniciaram, todos ainda permanecem.

Ninguém mais se lembra da “Grande Festa dos 300”. Acreditam que estamos no caminho certo e que fazemos um bom escotismo. Aqui não temos a preocupação em grandes atividades nacionais ou internacionais. Em nossa programação, participamos de algumas, não em todas. Nossos acampamentos de tropa e de grupo tem preferência. Nosso programa anual e feito com base na aceitação de todas as sessões, escotistas e dos diretores.

Olhe “Velho” sou muito feliz e já estou casado. Somos um casal unido. Algumas dissensões, mas nada preocupante. Ela não participa como escotista. Foi uma escolha dela. Não me tolhe em minhas atividades, mas me cobra na minha responsabilidade como marido. Até o final do ano vai nascer aquele que vai substituir na minha alegria a tropa dos meus sonhos. Afinal é meu filho e ele vai receber como recebi de meu pai, toda a formação e o amor que um pai deve dar ao seu filho.

Tenho três assistentes. A tropa está agora com quatro patrulhas. Ficou com duas no primeiro ano e no segundo fomos para a terceira. Já temos dos oito da Patrulha da Esperança dois segundas e 6 primeiras classes. Já enviamos dois processos Liz de Ouro para a Região. Existe uma boa lista de espera. Mas as vagas são poucas. Fico triste com isto, mas não adianta inchar a tropa ou criar outra, não temos pessoal qualificado (ainda).

Quando algum pai ou mãe reclama da não admissão do seu filho, explico por que. As vagas poderão ser cobertas com novas alcatéias ou tropas. Não temos pessoal suficiente para isto. Convido-os então a participarem conosco. Quem sabe poderão colaborar com a futura admissão dos filhos. Olhe, tem dado certo.

Continuo a trabalhar na mesma empresa. Fui promovido a chefe de seção. Minha esposa se formou em engenharia civil. Trabalha em um Escritório de Edificações. Vemo-nos pouco na semana. Faz parte da vida. Quando meu filho nascer terei que repensar meu propósito e as minhas atividades no grupo. Mas não pretendo de forma alguma sair.

Haja o que houver, nunca, mas em tempo algum vou esquecer a Patrulha da Esperança. Ela sempre se reúne uma vez por mês. A cada trimestre ou vamos a uma excursão, ou fazemos um acampamento. Quando vamos ao centro em alguma atividade social ou cultural sempre somos bem recebidos onde passamos.

Estivemos a pouco tempo em uma grande livraria cujo proprietário é nosso amigo, também Chefe Escoteiro e para nossa surpresa encontramos um célebre escritor que ao nos ver, perante dezenas de admiradores que esperavam em fila a dedicatória no livro que estava lançando, levantou-se, caminhou em nossa direção e disse Sempre Alerta meus caros escoteiros. Eu também já fui e me orgulho em ter sido.

Eu me senti honrado com tal demonstração de carinho pelo escotismo. Lá de calças curtas caqui e meu chapelão, recebi o cumprimento como um elogio, e após fomos nós, alegres para nossas casas, esperando que um dia possamos encontrar muitos outros escoteiros fazendo o mesmo que nós.

Fizemos amizades com os dirigentes regionais. Apesar de sempre insistirem para que assumíssemos um distrito ou outras atividades correlatas como assistentes regionais, sempre agradecemos e não aceitamos.

Nunca tivemos a pretensão de ser grandes. Nas atividades nacionais ou regionais que participamos, nossa meta é a confraternização e não em sermos os primeiros. Ganhar é bom, mas o importante é participar. É a nossa máxima. Fazemos questão da fraternidade escoteira. Sempre que encontramos ou recebemos membros do movimento em nossa cidade ele ou eles são sempre muito bem recebidos.

Já encontramos o nosso Caminho para o Sucesso. E como escreveu BP no seu livro mais famoso, “o mais importante no mundo é não tanto o lugar em que estamos, mas a direção em que nos movemos.”

Tudo isto devo a você, que me motivou mostrou o caminho, meu deu as diretrizes tudo em pouco tempo, pois falamos pouco, mas suas palavras foram muito objetivas. Hoje não reclamo mais de minha vida. Considero-me realizado. Muito obrigado “Velho”, muito obrigado.

“Terminei de ler, olhei para o “Velho”, vi seus olhos azuis piscando de alegria e senti que BP tinha razão, fazer a felicidade dos outros é o que nos torna felizes”
                                           
                                                                                      O PATA TENRA

REME SUA CANOA
Canção (Paródia)

Um homem não deve ser boi de rebanho
Que vai empurrado pra frente sem ver:
Se firma o caráter, faz sua tarefa
E rema a canoa para onde quiser.
Sem medo, ele olha os escolhos que enfrenta:
Bebida, mulheres, o jogo e os espertos.
Não vai encalhar, porque as rochas contorna
Remando a canoa com os olhos abertos.

Côro – Portanto, ame o próximo com a si mesmo,
Vá indo pra frente como o mundo faz
Não fique sentado chorando assustado...
Conduz com o remo a canoa, rapaz!

Do livro, Escotismo para Rapazes de Baden Powell

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