Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

MÉTODOS E PROGRAMAS - Fasc. 01


METODOS E PROGRAMAS fasc. 01

“A maior ameaça a uma democracia é o homem que não quer pensar pôr si mesmo e não quer aprender a pensar logicamente em linha reta, tal como aprendeu a andar em linha reta. A democracia pode salvar o mundo, porém jamais será salva enquanto os preguiçosos mentais não forem salvos de si mesmos.
Eles não querem pensar, desejam apenas ir para frente, seguindo a ponta do nariz através da vida. E geralmente, estes, alguém os guia puxando-os pelo nariz!
- Saia da sua estreita rotina se quer alargar sua mente.
BADEN POWELL

 A TODOS AQUELES QUE SONHARAM VER EM NOSSO PAÍS, MILHÕES DE HOMENS E MULHERES COM ‘ESPÍRITO ESCOTEIRO   

     Da varanda da casa do “Velho” e através da cerca de madeira "caiada" de branco, podíamos avistar a rua sem nenhum movimento. Aqui e ali, os vizinhos também procuravam às áreas frescas, pois fizera um calor insuportável naquela tarde de março. Agora, o sol estava se pondo no horizonte e uma brisa leve e fresca vinda do leste, soprava em nossa direção. A criançada aproveitara às benesses dos pais com seus olhos havidos ali presentes, para brincarem seus folguedos nos passeios e jardins, dando um colorido todo especial em nossa conversa que já se arrastara há horas.
     Era domingo e domingo era o dia em que passava minhas tardes com o “Velho”.  Minha esposa quase nunca participava, mas não me criticava pela presença. Ela também gostava do “Velho” e da Vovó. De vez em quando aparecia um ou outro amigo ou membro do Grupo, mas naquele dia estávamos somente os três.
     - O “Velho” como não podia deixar de ser, parava a conversa de vez em quando, para ouvir com maior atenção não só a algazarra dos jovens, como o som de uma ópera clássica ou mesmo às velhas musicas escoteiras dos seus discos já gastos com o tempo cujos sons vinham através da janela, de uma vitrola antiga, mas que funcionava divinamente.
     Vovó num esforço concentrado estava lendo um livro e transportada para as páginas de sonhos não perguntei pôr educação qual livro era. Eu e o “Velho” naquele bate papo informal, também nos esquecíamos de tudo e de todos. 
     De um a outro tema a mudança era rápida. Eu não tinha nenhum especial e o “Velho" também. Seu cachimbo estava apagado e dentro do cinzeiro que ganhou ha muitos anos de um amigo do exterior, trazia no bojo a foto de BP. Com a luta que se trava hoje contra o fumo, era até um paradoxo ter BP como fundo de cinzas e brasas envenenadas. Mas não era eu que iria falar para o “Velho”.
     - Nosso Movimento dentre outras necessidades pretende a formação e adestramento de Lideres. - falou o “Velho”. Isso é claro procurando fornecer aos jovens a boa cidadania, iniciativa e desenvolvendo suas potencialidades físicas, mentais e espirituais. Em síntese seria isto que pretendemos, mas como fazer com Escotistas-não-formados e atuando como amadores?
     Não entendi o que o “Velho” queria dizer. Não tínhamos falado nada a este respeito - Fiquei calado. Aguardava o momento para intervir. Com o “Velho” era assim. Claro que ele apreciava uma boa discussão. Mas não era nada disso. Era a maneira dele e eu aceitava. Até gostava de ouvi-lo. Caso contrario não viria visitá-lo sempre.
     - Se o nosso Movimento é uma fraternidade livremente aceita, - continuava o “Velho” - e não tem caráter de obrigação, o adulto só atua com supervisão. Ele (o Escotismo) pretende fazer com que o jovem participe de uma seqüência de atividades, adaptadas a sua idade, exercitada principalmente ao ar livre, ajudando uns aos outros, confiando-lhes responsabilidade e assim acreditando que seu caráter se afirme. Só assim é possível que ele se torne também capaz de cooperar e liderar.
     - Vejo que você não está entendendo onde quero chegar. É parte de nossa conversa anterior quando falávamos que hoje seriam necessários termos profissionais atuando como Escotistas. Não acredito nisso. Temos um programa simples e que está se complicando pelas alterações feitas através dos tempos.
     - “Velho”, - falei - Se entendi bem, lembro-me de que a rápida expansão do Movimento Escoteiro durante os primeiros anos foi devido ao método novo de educação, que se apresentava de uma maneira simples e que atraia os jovens pela sua própria simplicidade. Recorria a uma linguagem fácil, muito afastada dos termos técnicos utilizados no mundo pedagógico e sociológico de hoje. Posso até completar que talvez seja este um dos motivos para não citarem Baden Powell ou o Escotismo como a fonte originária dessas idéias e técnicas. Nosso Movimento tem uma finalidade tão séria, que exige uma abordagem de qualidade profissional.
     - O “Velho” gostou da minha intervenção. Tinha na ponta da língua a resposta, mas suspirou , relaxou, pegou o seu cachimbo e começou a encher o fornilho, até que soltando belos rolos de fumaça pelo ar, atraiu os olhares dos vizinhos, que sorriram ao ver o olhar de alegria e satisfação daquela tragada infernal. Durante segundos, minutos, não sei quanto, ficou calado como a pensar no que eu dissera.
     - Nos países avançados, - quem falava era o “Velho”. A prática da demonstração e a da descoberta, às atividades ao ar livre e a aprendizagem em pequenos grupos de fazer para aprender, são técnicas escoteiras que conhecemos de outra maneira. Aqui, talvez pela repetição pura e simples dessas técnicas, dos jogos e até a completa ausência do método nas atividades práticas da tropa, trouxe aos olhos do publico um desinteresse e em alguns casos alguns educadores nos consideram um Movimento excessivamente infantil e nos domínios da educação somos vistos como atrasados e ineficaz.
     - Mas não seria interessante rever o papel do Escotista? - falei - Se é esta a situação, se às autoridades educativas não tem levado a sério o Escotismo e não o considera como importante meio para completar a educação, não teríamos que concentrar nossos esforços na seleção e formação dos dirigentes.
     Claro! - falou o “Velho”. Não se nasce líder. Mas é possível formar e adestrar um líder. Isto leva mais do que algumas semanas para ingerir informações e conhecimentos. Meses para desenvolver a competência e anos para que esta competência se torne um hábito de comportamento. É evidente que o homem tem necessidade de direção e orientação, mas não é porque tem nos faltados recursos e sim imaginação.
     - Quando BP reuniu em 1907 na ilha de Brownsea na Inglaterra 20 jovens de diferentes meios socioeconômicos e educativos, ele trouxe uma enorme contribuição educacional que, na época estava estagnado. Assim o Escotismo veio dar uma visão mais abrangente às escolas e estas é que estão tirando partido das técnicas escoteiras de demonstração, observação e dedução, aplicando-as às suas classes. Às técnicas de aprender fazendo e tentar fazer sem saber, até descobrir o certo através do erro, sempre foram partes do método Escoteiro. Confiar no rapaz para que ele próprio seja responsável pela sua auto-educação e disciplina sempre fez parte do Escotismo. Tudo é muito simples. Não é preciso ser um Super Homem para ser um Chefe Escoteiro. É só dar liberdade ao jovem para que ele próprio seja responsável pela sua auto-educação e disciplina. Dar liberdade ao espírito de competição e da aventura, através de jogos, acampamentos e excursões. Este é o Programa Escoteiro e que bem realizado se mantém na liderança das técnicas até hoje empregadas.
     - Poderia completar - continuava o “Velho” - Que temos uma base excelente e sem similar para realizar isto: - A Patrulha! - Ali os jovens podem viver trabalhar e jogar em seu próprio grupo. É simples. Muito simples. Não precisamos de profissionais nesta área, veja bem.
     - Também não precisamos de professores, pedagogos e outros para fazerem experiências sem conhecimento de causa, mas que são bem-vindos para participarem desde que de maneira simples e direta.  Se conseguirmos fazer com que o jovem permaneça pelo menos um ano em atividade, vencemos a batalha. Sejam bem vindos todos, mas cada um deve se manter dentro do método e programa do Escotismo. Não venham com aquele blá-blá-blá que conheço de longa data.
     - Estamos falhando e falhando feio. Durante todos estes anos falaram em mudanças, mas a melhor mudança é visitar Grupos Escoteiros. Nada mudou a não ser nomenclaturas e formas que não trouxeram nada de proveitoso ao movimento.  Lembrem-se, os profissionais devem existir, mas em áreas especificas. Nestas sim, eles são de grande valia. 
     - Tinha minha duvidas. Ainda me debatia entre o Chefe profissional e o voluntário. Mas não falei para o “Velho”.
     - Veja você - continuou o “Velho” - Qual a diferença desta ária da outra que ouvimos antes? - Veja a perfeição da orquestra! - Tudo nela flui harmoniosamente. Um pouco de silêncio agora para podermos sentir dentro de nós a suave melodia. Musica é a arte de nos expressar pôr meio de sons de uma maneira agradável aos ouvidos. Agora silêncio pôr favor.
     Era assim o “Velho”. De um tema, pulava para outro. Mas concordava com ele e da melodia que vinha de mansinho entrar em mim, e fazer esquecer-se de tudo para flutuar no ar com os olhos semicerrados de uma tarde quente e bolorenta.
                                                                                                                                                                            O...PATA...TENRA...







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