Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

PROGRAMANDO O PROGRAMA - Fasc. 11


PROGRAMANDO O PROGRAMA  fasc.11                                           

“ Não tenha receio de fazer o que deve ser feito;
   A duvida desabrocha na mente de quem tenta fazer o certo;
   Mas acredite em você, vá em frente. Buscas a verdade onde houver duvidas,
   E a cada passo, você pode sentir até onde pode  ir, se analisar
    O que foi feito e sentir que fez o certo.     
                                                                                          
                  O...PATA...TENRA

AO JOVEM QUE SOUBE APROVEITAR TODAS AS OPORTUNIDADES COM LEALDADE.

     A Reunião de chefes de tropa já havia começado há algum tempo. Toda primeira quarta feira na segunda quinzena do mês. Era uma rotina.
     Algumas vezes “gostosa” outras vezes macete. Já tinha ouvido de alguém que, participar do movimento não era difícil, pois bastava dar de 2 a 4 horas pôr semana do seu tempo. Ledo engano. Não seria possível a ninguém somente com este tempo fazer alguma coisa numa sessão escoteira. Hoje, já passados nove anos que participo, cheguei a conclusão que com menos de oito horas pôr semana é uma utopia a colaboração. É impossível. Isto sem contar as horas de acampamento e outras atividades extra sede.
     Acredito no entanto que alguém com mais experiência possa fazer com menor tempo o que eu não consigo. Se não vejamos:
     Um dia na semana, mínimo de 4 horas na reunião de sede com a tropa. Domingo sempre tem alguém na minha casa ou eu vou a casa de alguém para “fazer” escotismo. Terça vou a sede pois sou instrutor de especialidades, ou conversar com monitores. Uma quinta pôr mês é a reunião de chefes. Terça folgo para na sexta voltar e tentar colaborar na parte burocrática da tropa, e é claro, participar da “chopada” do fim de semana.
     Isto sem contar as reunião de chefes do Grupo, reunião do Distrito ou atividades de pais e correlatas. Ufa!, difícil para mim manter um ritmo, sem esquecer cursos, atividades regionais e nacionais.
     O chefe da 1ª tropa estava comentando a ultima Reunião de Monitores, quando estes deram diversas sugestões para as reuniões do trimestre. Um assistente achou as idéias muito infantis. Eu ouvia e quase não falava pois a semana tinha sido difícil no meu emprego e cansado só esperava o termino para ir embora descansar.
     Meus olhos insistiam em fechar e eu lutava para mantê-los abertos. Outro assistente insistia que nossa programação não estava atingindo o objetivo. Tínhamos que programar a curto, médio e longo prazo. Cada programa teria que atingir a cada jovem da tropa e o seu desenvolvimento teria que ser criativo, pois caso contrário, alguns poderiam se adestrar rapidamente e outros não acompanhariam.
     -Vejam bem dizia o assistente - No ultimo Processo de Lis de Ouro, tivemos dificuldades. Varias especialidades foram rejeitadas devido não satisfazerem o tempo determinado entre uma e outra conforme o POR. Os assistentes regionais e nacionais parecem não fazer outra coisa senão procurar erros, finalizou. Começou a discussão de novo, pensei. Meu cochilo prolongava noite adentro e torcia pelo fim da reunião. Minha mente brigava entre dormir e programar o programa. E ainda me diziam que bastava duas horas pôr semana!
     Um burburinho tomou conta da sala. Eis que adentrou nada mais nada menos que o “Velho” com sua pose favorita de deixar que os outros o admirem sem falar nada. Na boca o inseparável cachimbo. Nos olhos, um sorriso infantil. Na testa, mechas do cabelo branco cismavam em embaralhar a visão. Acordei de pronto. Milagre, pensei. O “Velho” aqui? Pelo que sabia, havia mais de dois anos que não comparecia em reuniões noturnas.
     Educadamente pediu se podia sentar e ouvir. - Claro, disseram todos se levantando. A sala começou a ter mais penetras e a modorrenta reunião se transformou em segundos. Ninguém falava, e olhando para o “Velho” esperavam dele o sinal para continuar a reunião.
     O “Velho" soltava baforadas em seu cachimbo e como sempre  empestava a sala de fumaça do odor achocolatado.
     O Chefe da Tropa meio sem jeito, pediu licença e continuou a reunião explicando para o “Velho” onde estavam. Ele balançou a cabeça e continuou calado. Alguns assistentes querendo mostrar o que aprenderam  (eram jovens e iniciantes) começaram a falar e discutir acaloradamente. Era o que o “Velho” queria, pensei. Não passara 5 minutos e contei mais de 10 pessoas na sala. Só mesmo o “Velho” para isto.
     Na tropa tínhamos reuniões em que não eram permitidos outros participantes, mas em algumas, não fazíamos questão da presença , só que a opinião serviria apenas como sugestão.
     - Vamos fazer o seguinte,-  propôs um deles. Faremos o esboço de todas as reuniões do trimestre, cada assistente terá cinco fichas de escoteiros em mãos, e vendo o que cada um precisa montamos o adestramento progressivo! falou orgulhoso.
     O "Velho" nem piscou. Fechou os olhos e fingindo dormitar, deixou o cachimbo pendurado na boca e respirava lentamente. Foi uma discussão de primeira. Todos davam opinião, falavam ao mesmo tempo e a discussão acalorada a principio foi esmorecendo, esmorecendo, pois o “Velho” não participava e o interesse caia. Só mesmos eles para acharem isto. Eu sabia perfeitamente que ele  participava e gravava cada palavra do que acontecia.
     Lá pelas tantas, cansados, foram feitos três programas. E era para fazer 12!. O “Velho” tremeu na cadeira. Ninguém prestou atenção.
     - E a tropa não vai ser ouvida? - disse ele. Foi uma bomba na sala. Ninguém entendeu. - Ouvir como? - disse o Chefe da Tropa. - Como? repetiu o  “velho”.  - Opinando é claro.  São eles os interessados.
     - Mas “Velho” os monitores já deram sua opinião. - Falou o assistente.
     - Que opinião deram que não ouvi ! - Disse o “Velho” . Ficaram meio sem jeitos e calados. Se me permitem, gostaria de dar uma pequena sugestão   - disse o “Velho”. Lá vem “bomba” pensei eu.
     - Programa é importante. Não se faz nada sem ele. - Disse o “Velho”. Mas é preciso atingir o objetivo a que se propõe. Esta historia de curto, médio e longo prazo é muito bonita, mas de difícil execução. Claro, pode e deve ser feito. A Patrulha é responsável para isto. Vocês só devem acompanhá-los. Quando se quer fazer tudo para todos com voluntários é impossível. 
     Se  vocês fossem profissionais escoteiros e estivessem a disposição do movimento todo o tempo, ainda vá lá, apesar de que o Escotismo não quer e nem precisa disso.  E olhem que não foi isso que BP pensou ao organizar as bases do Escotismo.
     - Profissionalismo só em casos específicos e nunca para a chefia. Esta em principio deve ser espontânea e objetiva, praticada pôr rapazes advindos do movimento ou mesmo pais atuando inicialmente como assistentes. Os rapazes sabem bem disto, pois foram beneficiados ou com bons programas ou com programas ruins dependendo a tropa que pertenceram.
     Dois assistentes torceram a cara. Eram pais e tinham pouco tempo de movimento.
     - Mas disse o “Velho”, os novos são bem-vindos, desde que desejem aprender e colaborar até terem sido bem adestrados. O “Velho” era didático e eu não sabia deste “seu” outro lado. Ninguém retrucava. Ali estavam dois insígnias da Madeira e os demais tinham Cursos Básicos  alem de cursos alternativos.
     O “Velho” continuou. - “É difícil quando a tropa já segue uma rotina não opinativa adaptar uma participação ativa. Mas é preciso insistir até que eles aprendam. Tudo fica mais fácil quando ensinamos a eles pescar, em vez de pescar nos mesmos achando que estamos ensinando. Não compliquem o programa. Não somos profissionais e mesmo se fossemos não é isso que pretendemos. Basta o “feijão com arroz” e chegaremos lá.
     - A experiência tem  demonstrado que rapazes que participaram do escotismo fazendo seus próprios programas são os que mais permanecem no movimento. Uma reunião de patrulha, uma de monitores, 15 a 20 minutos para cada uma e garanto um ou dois programas bons! - para eles é claro. Aos chefes, bastam acertar horários, alguns itens surpresas  e adaptar a rolagem da programação. 
     - Vocês já chegaram a conclusão que estão tendo muito tempo de suas vidas particulares tomada com reuniões e mais reuniões. São válidas, mas desde que moderadas. Afinal somos um movimento de fim de semana e não semanal. Deixem que seus escoteiros e monitores programem para eles mesmos e aguardem o resultado.   Dêem a eles o que eles querem. Aos poucos e com tempo, suas tropas terão padrões nunca antes alcançados e principalmente a evasão  vai diminuir consideravelmente.
     - Quanto ao Adestramento Progressivo, é papel do monitor! - É ele quem vai ver as necessidades de cada um. A Tropa tem além dele, o Sub. e tenho certeza, outros escoteiros que possuem adestramento para colaborar. Vocês chefes, devem estar sempre ao par, para evitar atrasos no adestramento ou mesmo se algum outro jovem  não conseguir acompanhar. Esta é a principal função. Manter a rotina saindo da rotina! - Motivando os monitores através de Eficiência Especiais a cada adestramento alcançado pôr algum Escoteiro e que orgulhosamente usarão no bastão totem.
     - O Conselho de Monitores tem uma excelente base para fazer isso. - Esqueçam que vocês são adultos! - se coloquem no lugar deles, afinal fora do Escotismo, eles estão sempre criando e fazendo seus programas com os amigos do bairro. Reuniões de patrulha são excelentes meios para adestramento.
     - Agora, cabe a vocês o desenvolvimento, acompanhamento e até o adestramento dos monitores. Tenho certeza que a tropa de vocês é de ótima qualidade. Mas o importante em tudo e gosto de repetir sempre, é o resultado final! - Tudo que vocês estão fazendo tem um objetivo: - A formação dos jovens. Assim  o resultado  pode ser avaliado se deu ou não certo.
     - Gostei muito da reunião de vocês! - Se todas as tropas tivessem chefes preocupados com o método Escoteiro como vocês estão, nosso Movimento teria outra qualidade.
E olhem bem - continuou o “velho”, se encontrarem o Chefe do Grupo, digam para ele que estive aqui e mando um forte abraço e para vocês, “Sempre Alerta!“- Rodopiou na cadeira e saiu sem maiores explicações!.
     A Sala ficou muda como muda estava. Eu não me surpreendi . Já conhecia o “Velho" de longa data. Suas opiniões bateram fundo em todos. Me alegrou bastante, pois meu sono acabou e acreditei que dali para frente, as reuniões  de chefia em dias de semana seriam moderadas. Obrigado “velho” você ajudou bastante aos escoteiros, mas não sabe a ajuda que me prestou.

“ E ele lembrou como aprendeu a fazer fazendo, errando quantas vezes fosse necessário até fazer o certo, tinha que ser assim. Não adiantava nada que outros fizessem para ele pensando acertar, pois agora ele tinha a certeza que podia fazer sozinho e a vida estava ali para ser enfrentada no seu dia a dia!”
                                                                            O...PATA...TENRA
 

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