Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O ESCOTISMO DO SECULO XXI - FASC. 56, 57 E 58



Outro dia, um amigo, me perguntou: "é possível evolução sem educação?” Claro que a pergunta não se refere à educação no sentido de "ensino", de educação escolar, mas sim no sentido de "educação para a vida”. Vamos clarear isso um pouco mais: educar-se pode ser traduzido como aquisição de conhecimentos e sua transformação em habilidade, aptidões e atitudes. Colocamos "educar-se" e não "educar", pois a educação é fundamentalmente um processo de aprendizagem e não de ensino. Modernamente, o papel de educador é o de facilitador do processo de aprendizagem, e não mais o do "professor que ensina", mas isso é um outro assunto.
Carlos Augusto Petersen Parchen


O ESCOTISMO DO SECULO XXI, – Fasc. 56

A TODOS ESCOTISTAS QUE CONSEGUIRAM A INSÍGNIA DA MADEIRA E PERMANECEM ATUANTES DANDO TUDO DE SI EM FAVOR DA NOSSA JUVENTUDE ESCOTEIRA

Capitulo I
Tivemos no passado invernos rigorosos, mas como este não rememoro. Estava bem agasalhado para mais uma reunião do Conselho de Chefes do nosso Grupo Escoteiro, nesta quarta feira tão fria que se houvesse bom senso o Diretor Técnico (O “Velho não gostava desta terminologia preferindo à antiga) teria ligado para todos cancelando.

Conhecia bem nosso amigo Diretor, era sincero em suas convicções e rígido com o que achava direitos e deveres. Nada contra. Todos sabiam que nesta reunião contextos importantes e interessantes seriam discutidos e só assim a família escotista poderia sugerir debater e tratar temas do seu interesse e de todos.

Possuíamos dentro de cada um de nós, uma maneira peculiar que era a de não discutir assuntos importantes fora desta reunião, para não provocar linguagens dissolutas que pudessem ferir ou mesmo originar interpretações que podiam não condizer com a realidade. Isto sempre foi um fato entre os escotistas e por este motivo existia uma grande fraternidade e respeito por parte de todos.

Achei que seria uma reunião que no seu todo não iria demorar. Não lembrava de assuntos importantes a não ser confirmar a programação das seções para o mês atual e seguinte. Parecia que meu raciocínio estava certo. Dado a palavra a cada um, poucos tiveram algum assunto a apresentar.

Quando o Chefe da Tropa Escoteira foi convidado a se manifestar, foi que senti que a reunião iria prolongar alem do imaginado. O Chefe Lhano era um dos mais antigos do Grupo. Entrou como escoteiro, foi sênior e ficou afastado por uns três anos quando resolveu voltar como Escotista. Claro, foi aceito de imediato.

Ficou como assistente e após a saída do titular assumiu a chefia da Tropa Escoteira. Eu a considerava excelente. Com quatro patrulhas, praticamente completa, tinha um corpo de monitores se não o melhor, talvez entre os melhores do distrito. Mesmo agora, no sistema rotativo onde a cada dois anos eram eleitos novos monitores, ele se desincumbia a contendo.  

Para nossa surpresa, ele apresentou um pedido de licença para no mínimo dois anos, e apresentou suas razões todas elas bem validadas. Ficamos consternados. Ele era muito querido e sabíamos que iria fazer uma grande falta. Sua explanação me pegou de surpresa, pois me indicou para substituí-lo. Achei estranho, pois tinha mais dois assistentes e porque não eles?

Esclareceu que ambos concordavam com o seu pensamento. Eram pais que estavam na sessão a pouco mais de um ano e eu como assistente sênior e com duas Insígnias a de sênior e de escoteiro poderia muito bem dar conta do recado. Ainda mais que os monitores eram meus amigos, me visitavam sempre e me mantinham a par de suas aventuras que não eram poucas.
 
Não vou entrar em todos os detalhes, mas pedi pelo menos dez dias para tomar uma decisão. Estava preocupado e com razão, pois era o sexto escotista que pedia afastamento em menos de dois anos. Todos tinham seus motivos, mas precisamos fazer alguma coisa, pois tal conjuntura estava prejudicando e muito o Grupo Escoteiro. Claro que aceitaria, mas antes queria ouvir o conceito do “Velho” e razões que poderia no futuro mudar tais atitudes que prejudicam em muito o desenvolvimento do escotismo.

A reunião terminou e convidei o chefe Lhano (epíteto de sincero, leal, franco etc.) para irmos tomar um chope e conversarmos a respeito. Como éramos amigos de longa data, tínhamos uma afinidade bem maior do que os demais escotistas do grupo. Ele sabia o que pretendia e não faltou em tempo algum com a verdade.

Explicou-me que o tempo dele estava sendo muito absorvido com o escotismo. Claro que valia a pena, mas sua família, seus estudos e seu trabalho estavam sendo prejudicados. Modestamente sorriu e sem nenhum sinal de censura, comentou o que todos dizem quando iniciam como escotistas e poucos analisam bem o conteúdo destas palavras. São apenas de duas a três horas por sábado e qualquer um pode ajudar sem prejudicar ninguém. Sempre diziam nos convites para aqueles que estavam dispostos a colaborar como voluntários.

A principio, seu anseio natural e recordações da juventude quando fora escoteiro manteve viva a chama da motivação, tão peculiar no começo, mas que vai se extinguindo com o passar do tempo. Claro, tinha e tem um amor ilimitado ao escotismo, mas agora precisava pensar um pouco em si, na sua família e na sua carreira na empresa. Foram 10 anos sem interrupção e uma dedicação integral.

Reuniões aos sábados, atividades dia sim dia não aos domingos, acampamentos aproveitando finais de semana prolongados, reuniões quinzenais de chefes, com monitores, com Corte de Honra, Indabas, cursos, atividades regionais e nacionais isto tudo somado praticamente me deixava a mercê do movimento escoteiro. Não tinha mais vida própria.

Mesmo com minha esposa participando e com meu filho já lobinho, descobri que meu mundo girava em volta do Movimento Escoteiro. Não sei se isto é valioso e posso até aceitar que outros considerem isto como privilégios. Tentei conversar com outros escotistas e cheguei à conclusão que a realidade para eles era outra e ainda nutriam a ilusão do sonho escoteiro, que todos nós temos quando a motivação é constante.

Como pode ver não deu resultado. - Agora veja você – disse – isto é correto? Será que estou errado? Você sabe tão bem como eu que diversos outros escotistas, antigos no movimento vivem para isto, esquecem a vida privada e não tem outros assuntos quando se encontram a não ser o Movimento Escoteiro. Claro quase todos dizem que não.

Suas biografias são regidas pelo prazer em estarem juntos. Idolatram o tempo que participam, falam de suas atividades, de seus sonhos, dos jovens com que estão juntos. Conversam com amigos, e o assunto sempre é o mesmo. Enfim, rotular a todos seria deselegante, mas é o que penso. Você não pode viver em função do Movimento Escoteiro completou.

Não sabia o que dizer. Ali naquele momento só podia concordar. Despedimos-nos não sem antes de sua promessa em nos visitar pelo menos uma vez por mês. A tropa ia sentir falta e o elo não podia ser quebrado se não nunca mais o veríamos.

A noite ia alta. O frio intenso. Era hora de retornar para casa, absorto em tudo que ouvi, mentalizava se isto poderia ocorrer comigo. Estava a mais de 9 anos labutando no Grupo Escoteiro, até então conservava como no primeiro dia, um amor ao movimento e uma entrega completa. Como ainda não tinha filhos e minha esposa apresentava diariamente uma carga horária respeitável no seu trabalho, o escotismo estava sendo para mim uma “válvula de escape”.      

Amanhã é outro dia e quem sabe o “Velho” vai me fornecer algumas elucidações a respeito. Não sei se vou concordar, pois ele não é o melhor exemplo. Sempre versou a sua vida 24 horas dedicada ao movimento. Sem pretensões de censurar ele fez da Vovó seu retrato, deu a ela uma vida escoteira sem participação física, mas enfim, quem sou eu para admoestar o “Velho”.

Quem sabe ele tem suas razões assim como aqueles que fazem o mesmo. Acredito que a ciência exata não pode explicar o que se passa no pensamento do que todos nós acreditamos. Como diz BP, a felicidade está dentro de nós e procurá-la com exemplos que não corresponde o que sentimos é uma maneira de ver com os olhos dos outros erroneamente.

                                                                      O Pata Tenra

Censura é uma fórmula das mais eficientes para complicar-se.
Abençoe a vida e todos os recursos da vida onde você estiver. Nunca desconsidere o valor da sua dose de solidão, a fim de aproveitá-la em meditação e reajuste das próprias forças.
Francisco Candido Xavier



O ESCOTISMO DO SECULO XXI, - Fasc. 57

Há muitos e muitos anos atrás, um sábio homem, num país muito distante, trouxe uma enorme contribuição para a humanidade. Teve a feliz idéia de criar um movimento de jovens, aceito, conduzido e jogado por eles mesmos. Este homem em sua época deu uma enorme contribuição ao sistema educacional, que guardadas as devidas proporções, podem ser comparadas aos grandes educadores do passado: - PESTALOZZI, FLOBEL, MONTESSORI E JOHN DEWEI. Este homem, “Velho” general inglês de muitas batalhas e aventuras, sentiu a importância dos jovens na formação de uma nação. Com suas experiência do exercito nas colônias britânicas, acreditou no civismo, na observação, na obediência, na generosidade e altruísmo. A união dos povos através de uma grande fraternidade mundial. Criou o Escotismo e assim a humanidade pode ter mais um grande educador – BADEN POWELL


AOS MEUS VALIOSOS LEITORES PORQUE SEM ELES NÃO TERIA SENTIDO EM CONTINUAR ESCREVENDO OS FACÍCULOS

Capitulo II
O frio continuava e a semana prometia. Uma garoa fina se espargia durante todo o dia fazendo-nos mudar a indumentária, alterar a bebida e claro, correr para um chocolate quente que tão bem a Vovó laborava. Este era um manjar dos deuses como se todos estivessem reunidos no Olimpo, a sorrir cantar e claro saborear juntos pasteizinhos de mandioca, deliciosos pedaços de bolo de caramelo e não podiam faltar os apetitosos pãezinhos de queijo feitos na hora, num autêntico festival gastronômico.

Eu, a Vovó, o “Velho”, a minha esposa e o Chefe Lhano estávamos ali há horas. Falando de diversos temas, todos eles sem uma conotação especial. Próximo a Sala Grande, uma mesinha pequena e graciosa, com toalhas brancas bordadas com lindos pontos cheios e tendo em cima varias bandejas, onde de quando em quando cada um de nós se aproximava e se aprazia a granel.

A tarde estava terminando e ficamos só eu, o Chefe Lhano e o “Velho” na Sala Grande. Ouvíamos com baixo ruído uma suave melodia escoteira que não pude identificar, mas que não mais era o célebre e encantado disco do Trio Irakitan. Falávamos por falar. Não havia temas específicos. Podem pensar que o Chefe Lhano estava ali por causa da última reunião dos Chefes do Grupo. Engano. Foi uma coincidência. Uma feliz coincidência.

Foi o Chefe Lhano quem lançou o assunto. Quando comentou sobre o motivo do seu afastamento e da minha indicação para substituí-lo. Notei que o “Velho” piscou seus olhos azuis e enrugou a testa algumas vezes. Eu conheço bem o “Velho” e tinha quase a certeza que poderia ou não haver um moção de censura.

Fui pego de surpresa quando o “Velho” balançou a cabeça e parabenizou o Chefe Lhano pela recomendação. Pela primeira vez, ele me elogiou. Disse que eu era um dos mais preparados e sabia da minha habilidade e conhecimento técnico o que me deixou mais ainda sem fala. Preferi nada comentar. Só ouvia e observava o desenrolar do diálogo entre os dois.

Lá pelas tantas o Chefe Lhano se despediu e ficamos só eu e o “Velho” na sala. Minha esposa e a Vovó deviam estar em outro cômodo da casa, conversando amenidades, pois as duas tinham grande ternura uma com a outra e quando se encontravam ficavam horas e horas a discorrer sobre assuntos dos quais eu não fazia a menor idéia.

Durante algum tempo, nada falamos. Cada um ocluso em seus pensamentos não participavam entre si o que conjeturavam. O “Velho” tomou a iniciativa e falando a sua moda, mas refluindo seu tom natural tão velho meu conhecido, começou a ponderar o que pensava. Senti pela primeira vez a falta de seu cachimbo, da sua pose e seu estilo inglês, das suas maneiras afáveis e ao mesmo tempo tempestiva. Depois de Botsuana o “Velho” mudou.

- Acredito – disse – que isto deve estar acontecendo com certa constância. E não iniciou agora. É um fenômeno rotineiro. Desde que assumi como Chefe Escoteiro em 1950 notei a grande evasão de adultos. No inicio super motivados, mas com o tempo desistem de suas responsabilidades e poucos, mas poucos persistiam e a grande maioria praticamente submergia. No passado eram em numero menor, mas com o passar dos anos aumentou consideravelmente.

- É uma situação singular. – continuou - Tive a oportunidade de conversar com vários escotistas que se foram, e confesso a você que não tenho uma opinião formada. Claro, a evasão existe em qualquer organização, mas entre nós ela é ferina, pois perdemos o amigo e um investimento sem retorno. Dentro do seu novo habitat ele pouco se lembra do seu passado, das vantagens do escotismo e esquece que mesmo ausente poderia colaborar conosco.

- Olhe “Velho” – disse – Estive pensando em tudo isto quando o Chefe Lhano pediu a dispensa. Tive que concordar com suas observações. Do jeito que estamos caminhando, nosso tempo vai sendo utilizado sempre com a maior freqüência, seja em nossas tarefas diárias e as grandes conquistas tecnicológicas que deveriam ajudar, nos colocam mais atarefados e para sobreviver ao mundo de hoje estamos sempre correndo.

- Acho, - continuei – Que no passado nosso tempo era mais bem aproveitado, talvez pela falta dos meios de comunicação, e com o avanço da ciência em todas as áreas como acontece hoje, não nos tornávamos escravos das fantasias oferecidas que substitui plenamente nossa motivação em participar do escotismo em sua plenitude.

- Muitos de nós, encontramos ali (no escotismo) o que sempre sonhamos. Talvez porque não tivemos a oportunidade da realização quando jovem. Claro que isto não justifica aqueles que foram escoteiros e quando adultos resolveram colaborar como escotistas. Pode ser que seus motivos sejam de continuidade da vida escoteira ou vendo por outro ângulo, oferecer sem recompensa, o que recebeu no passado.

O “Velho” continuava calado. Refletia sobre tudo que eu disse. Ficamos ali, estáticos sem ter um caminho, uma solução para tudo que estava acontecendo na grande evasão de adultos, muitos deles bem adestrados, formados com aprovação de seus tutores, prontos para contribuírem e que se afastavam sem mesmo dar um retorno ao movimento onde permaneceram.

- Continuei – Você “Velho” que tem mais de 70 anos como escoteiro e participando efetivamente no escotismo sabe disto. Se procurar antigos atuantes pode-se contar nos dedos da mão. Temos é claro um numero aceitável com mais de dois anos, mas destes poucos com mais de 10 anos. Isto é fácil de verificar nos efetivos dos Grupos Escoteiros. Quase sempre o Diretor é o mais velho. Os demais não.

- No entanto “Velho” não posso desmerecer o que estão agora na ativa. Muitos deles são excelentes escotistas e dentro das suas limitações contribuem em muito para a manutenção do efetivo, já que a expansão é nula. A estes devemos ser agradecidos e muito. As atividades regionais e nacionais são muitas vezes conduzidas e programadas por eles.

- Olhe – disse o “Velho” de repente – Quem sabe é o programa? – Como “Velho”? Já falamos sobre isto – disse – Quantas e quantas vezes rememoramos e ponderamos a respeito? Hoje alguns nem se preocupam com o programa, mas outros tantos fazem questão de segui-lo conforme nossas normas e a formação que recebemos.

- Acho que você não está entendendo – disse o “Velho”. Não quero voltar novamente a comentar mudanças e transformações que estão acontecendo. Não é meu intuito. Parece-me ser um fato consumado e sem retorno. A luta é inglória, pois poucos estão preocupados. Mas sempre aconselho aos que me procuram assim como também a você que tudo isto pode ser evitado, tentando ver a verdadeiro conceito da formação escoteira criada por BP.

- Respondi de pronto ao “Velho” – Eles fazerem seu próprio programa. Não é assim? Olhe sabe que sempre fui um assistente sênior e tive poucas oportunidades para realizar e praticar os seus aconselhamentos a respeito. Confesso que até hoje ainda não entendo como ainda participo do Movimento Escoteiro. Ele sorriu e nada comentou naquele momento.

Foi até a mesinha, colocou em um pratinho de papelão um pedaço de bolo e dois pasteizinhos de mandioca. Pensei a mesma coisa e lá fui fazer o mesmo. Acho que estava com fome. – Olhe “Velho” – continuei você acredita que no mundo assoberbado cheio de riscos em cada esquina, possamos fazer um escotismo como no seu tempo? Não sei. Tenho dúvidas e muitas e incertezas.

- Acho que sim – disse – Afinal o que fazem os jovens e as jovens em sua comunidade quando se reúnem? E olhe que todas as noites e também durante o dia estão juntos. Você acha que eles estão esperando um adulto para fazerem um programa que irão realizar no dia ou no fim de semana? Claro que não. Não precisam de nenhum adulto para orientá-los e até reclamam e reprovam quando os pais se intrometem.

- Eles, continuou - Quando procuram o escotismo, é pela mágica do uniforme, dos comentários de amigos, do que leram sobre as atividades ao ar livre, das atividades na floresta, de fazer algum diferente do seu dia a dia e acreditavam estar encontrando e achando que teriam aventuras mil. Ao verem que o programa é feito pelos adultos aceitam em princípio, mas logo atentam que não era o que pensavam.

                                                           O Pata Tenra

Não deixe de sonhar, mas enfrente as suas realidades no cotidiano.
André Luiz

O ESCOTISMO DO SECULO XXI, - Fasc. 58

O Escotismo é um grande jogo. Em todas as nossas atividades, jogar, brincar faz parte do crescimento. Jogado com seriedade e simplicidade nos traz uma motivação constante. Nestes jogos, não somos somente participantes, mas responsáveis. Fazer com que o aprendizado seja uma alegria, nos incentiva a enfrentar as dificuldades da vida. Concluir que o mais importante é a participação já é uma vitória. Já dizia BP que a verdadeira felicidade é fazer a felicidade dos outros. O sorriso de uma criança, a alegria de um adulto é a maior recompensa que o homem pode ter.

AOS VELHOS LOBOS QUE AINDA NA ATIVA ACREDITAM EM SUA FAINA E NÃO DESISTEM NUNCA

O “Velho” deu uma pausa. Aproveitei para pensar em tudo que estava sendo dito. Não podia esquecer o trabalho dos que estão na ativa. Sem estes não seriamos nada. O Escotismo já teria desaparecido. É preciso ver aquele que também permanece por muitos e muitos anos, acredita no seu trabalho, tenta ao seu modo motivar outros e mesmo sabendo que muitos não irão permanecer, não desanimam.

E se pudéssemos compreender a todos que labutam, confiam em seus dirigentes, crêem que o caminho está sendo alcançado e se sacrificam, não recebem nada em troca, se contentam com o sorriso de amor e de confiança dado por um escotista em fim de curso.

No seu olhar reconhece toda a força do programa com que foi informado e acredita que a partir deste instante não era mais um indeciso no trabalho de fortalecer e dar tudo de si para um escotismo melhor. Ele não está vendo os defeitos. Ali só vê a qualidade. Não se preocupa se são muitos ou se são poucos. Seu amor ao escotismo é maior que tudo isto.

Logo meu pensamento voltou a Sala Grande. Eu estava com o “Velho” e ele estava usando da palavra. Tudo que dizia era verdadeiro, mas o outro lado também tinha a sua razão.

- Se você pensar bem – continuou o “Velho” e quanto a isto não tenho muita certeza, pois como diz você não tenho subsídio, gostaria de saber se os jovens e quantos deles nos últimos 20 anos ainda estão na ativa. Principalmente nesta década. Pergunto-me se o programa que tiveram em suas sessões e mesmo desconhecendo o verdadeiro programa de BP foi válido para sua permanência.

Pergunto-me também se estes adultos que foram dirigentes nacionais nos últimos 20 anos não acreditaram que estavam sensatamente fazendo o melhor para o Movimento Escoteiro. Muitas vezes e você é prova disto, pois há quantos anos conversamos sobre o crescimento qualitativo e quantitativo, e você sabe sem sombra de dúvidas que critiquei de forma contundente tudo o que foi feito.

Sempre me bati pelos resultados e quem sabe se não fossem por eles, pelo que fizeram o resultado não poderia ter sido bem pior? – O “Velho” estava dando uma guinada de 180º pensei. Aonde ele quer chegar?

- O “Velho” respirou fundo e continuou - Vou voltar as minhas colocações que você mesmo me apresentou e foi iniciada pelo Chefe Lhano. Chega uma hora em que o adulto vê seu dia, semana, mês e ano sempre colaborando, verifica que a entrega do seu precioso tempo não deu os resultados que esperava, e isto leva ao desanimo e muitos não permanecem porque dentro do seu próprio grupo falta o reconhecimento e até um elogio pelo seu trabalho. Ele com o passar dos anos não sabe da sua importância.

- Continuou o “Velho” – Acredito e até posso estar errado que este é o motivo da permanência por mais anos do Diretor Técnico. Ele se sente mais prestigiado, sabe que tem uma grande família sob sua responsabilidade.

- Você já leu, conhece e sabe o que BP pensou quando criou as bases do escotismo. Ele teve a feliz idéia de criar um movimento de jovens, aceito, conduzido e jogado por eles mesmos. Vamos raciocinar. Aceito, o jovem aceitou. Ninguém o obrigou. Conduzido, pensou que iria ter grandes aventuras, que lá conduziria seu programa, dentro das técnicas esperadas. E finalmente jogado por eles mesmos.

- Agora veja você, não é o que estamos fazendo. Nos cursos os manuais insistem em tentar mostrar aos escotistas como fazer um bom programa, a curto, médio e longo prazo. Isto leva a pensar que precisamos nós adultos de tempo para fazer tudo isto. Falar que devemos utilizar assistentes é utopia. Eles na maioria dos grupos não existem. Basta dizer que a falta de adultos é tão grande que para facilitar estão formando alcatéias e tropas mistas só para facilitar a direção da sessão com um só escotista.  

- Aí então vemos que qualquer adulto que tem uma vida normal e resolve participar do escotismo acredita no que vê e anos depois chega à conclusão que seu tempo foi totalmente consumido pelo escotismo. As metodologias modernas e adaptadas pelos nossos dirigentes mostram outro caminho, bem diferente do que pensava BP. e com isto a evasão de adultos é freqüente.

- Veja o exemplo do Chefe Lhano. Não era um novato. Foi escoteiro e sênior. Mesmo assim desistiu.

- Quando esquecerem o medo e tiverem o entusiasmo próprio dos que acreditam que vai dar certo, deixando que eles conduzam seu próprio programa você vai ver que os resultados não serão imediatos. No entanto o triunfo será plenamente reconhecido em bem pouco tempo. Esqueci de dizer que BP também disse que todo o programa é feito com a supervisão de adultos. Supervisão. Não liderança e comando.

- Se isto fosse realizado, o tempo hoje despendido seria reduzido em muito. Um bom programa feito por eles, conduzido e jogado por eles, sob a supervisão e orientação de adultos, seria reduzido em menos da metade atual. Veja bem, deixar que eles façam suas aventuras, a sós. Acreditar neles.

- Existem diversas maneiras de acompanhar sem ter que enfrentar os perigos que são freqüentes nas grandes cidades. Programar com cuidado as atividades durante o ano. Não querer estar presentes em tudo que se apresente.

- Se tem o desejo de participar nas grandes atividades regionais e nacionais, devem ser específicos. Lembrar do seu tempo que é precioso. De sua família, de sua vida pessoal.

 Olhava para o “Velho” e recordava o passado, quando analisamos tantas e tantas vezes tudo o que ele dizia. Às vezes fico enfastiado com tanta insistência por parte de muitos que não analisam os erros, só vêem os acertos e que em pouco tempo aqui não mais estarão para ver o que fizeram e que o caminho podia ser outro.

Prefiro me abdicar de fazer pesquisas que não realizo. Mas nos meus oitos anos de movimento, participei em vários cursos e dos alunos que ali conheci, poucos ainda continuam como escotistas. Que assim seja. Ainda bem que ainda existem diversos Grupos Escoteiros que estão indo bem e muito bem no seu caminho da formação e da aplicação do método. Eles são o Caminho para o Sucesso.

Lembro sempre que o “Velho” nos seus melhores momentos, me relatava como toda a comunidade conhecia os escoteiros quando ele era jovem. Andavam uniformizados, calças curtas, chapelão, por toda a cidade. A pé, de ônibus, de trem e tinham aprendido que o garbo sempre se traduzia em boa ordem. A apresentação era ponto de honra. Falavam pouco em seu chefe. Relatavam mais sua patrulha, suas aventuras e peripécias com um gostinho nostálgico do aventureiro sonhador.

Faziam seu próprio programa. Jogavam seu próprio jogo e conduziam seu próprio destino. Foi uma época boa, eu penso. Mas uma coisa garanto. Irei fazer com a tropa que agora sou responsável o mesmo que aprendi com ele. Serei somente o monitor dos monitores. Poderei viver com eles algumas aventuras, mas eles é que serão os heróis e irão receber o que escolheram.

Abri os olhos e não vi o “Velho”. Minha esposa estava me chamando para irmos embora. Disse-me que o “Velho” já tinha se recolhido. A Vovó estava ao seu lado sorrindo. Haverá outros dias, e não darei descanso ao “Velho”. Estarei sempre aqui para perguntar, saber, aprender, pois ele é e sempre será o meu querido instrutor escoteiro.

                                                            O Pata Tenra

Através de grupos de idades sucessivas, sem distinção de raças classes sociais e níveis sócios econômicos, dentro de um programa próprio, desenvolvido por eles mesmos sob a supervisão de adultos, com um sistema progressivo de conhecimentos úteis, o método Escoteiro se caracteriza:
- Código de Honra aceito voluntariamente;
- Trabalho em grupo;
- Aprender a fazer fazendo;
- Formação pessoal pela orientação individual;
- Adestramento progressivo;
- Atividades ao ar livre;
- Sistema de grupos divididos por sessões;
- Mística e ambientação.

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