Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

ADESTRANDO A EQUIPE - Fasc. 43 e 44

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    ADESTRANDO A EQUIPE  fasc. 43
                                   
- Você ainda não compreende - disse monotonamente a Voz Cinzenta - Não há nenhum tempo, não há nenhum espaço. O que era é, e sempre será. Você é você, jogando xadrez consigo mesmo, e novamente deu xeque-mate em si mesmo. Você é o juiz. A moral é o seu acordo consigo mesmo para submeter-se às suas próprias regras. Para seu próprio bem, seja verdadeiro ou estragará o jogo.
- Louco.
- Então mude as regras e jogue um jogo diferente.
Você não pode exaurir sua variedade infinita.
- Se você ao menos me deixasse olhar para o seu rosto - gaguejou Lazarus impaciente.
- Tente um espelho!.
ROBERT HEINLEIN

PARA AQUELES QUE DERAM UMA VIDA AO ADESTRAMENTO DE ADULTOS

CAPITULO I

              Não era a primeira vez que eu a encontrava na casa do "Velho" . Não a conhecia apesar de sua espontaneidade e alegria estampada em cada frase, em cada gesto. Tudo que fazia ou dizia explodia em sons harmoniosos e vibrantes como a cantar ou recitar as benesses do Escotismo. Sua juventude ainda pôr viver plenamente o amadurecimento do porvir, vibrava a cada palavra de uma responsabilidade que havia assumido sem ter ainda a noção exata do que pretendia fazer.
              - Ali estava um exemplar sadio do que precisamos para fortalecer nossas tropas ou Alcatéias, - ponderei comigo mesmo. Era o que o Escotismo precisava para crescer pois vi que ela transmitia otimismo, inculcando em mim uma nova visão da vontade de vencer aliada a motivação que estava  me faltando há alguns meses.  
              O "Velho" era o de sempre com os novos. Educado, prestativo e um autentico aconselhador a moderar o apetite muitas vezes indigesto, que só o tempo poderia mostrar. Ela ainda não tinha a maturidade necessária mas sua juventude, o desejo de colaborar ou quem sabe de participar do escotismo em todas as suas potencialidades poderia sem sombra de duvida alcançar o sucesso do desenvolvimento de uma sessão escoteira.
              O Grupo que estava participando fora outrora forte e deveria ter produzido frutos o que infelizmente não aconteceu. Uma Alcatéia com poucos lobinhos, uma Tropa Escoteira que não dava duas patrulhas e oito jovens escoteiras anexada aos escoteiros pôr falta de uma Escotista. Só aí a dificuldade era grande para começar tudo de novo. O Chefe dos Escoteiros exercia uma liderança sobre elas que seria difícil de retirar. Um dos males que afligem Grupos sem orientação, dizia o "Velho". Não deram o devido valor aos distritos. Prefiro não comentar pois você sabe o que penso a respeito.                       Mesmo com os conselhos do "Velho" ela fora fazer um acampamento junto com os escoteiros e seniores sem estar devidamente preparada. Voltaram das férias e na segunda quinzena sem nenhuma preparação, lá foram elas alegres na ida e tristes na volta. Não houve possibilidade de dizer não, disse ela ao "Velho". As meninas não aceitaram a explicação que estavam começando e deviam ter uma preparação antes. - Se vai para o mar , avie-te em terra - Dizia o "Velho" . Foi um verdadeiro fracasso. Tinham que começar tudo de novo e com menor número, pois algumas das meninas decepcionadas não voltaram mais as atividades de sede.                    
              - O que aconteceu com essa tropa vem acontecendo em outras centenas - dizia o "Velho" após a Escotista ter se retirado. A uma liberdade de ação preocupante. A falta de conhecimento do Chefe do Grupo, e talvez pôr não ter um programa anual a ser cumprido para a progressividade e continuidade, lamentavelmente a improvisação serviu para prejudicar o todo. Serviu para aprender a fazer fazendo? - pode ser. É a mesma técnica usada pelo cego, que conduziu outro cego e ambos caíram no buraco!
              Passado algumas semanas estive em visita a sede regional e na Cantina Escoteira folheava alguns livros e vi que estavam sendo vendidos os manuais dos cursos existentes. Não sabia se ali estava todo o conteúdo, ou se somente parte. Pensei comigo mesmo que o "Velho" tinha comentado que no passado poucas pessoas tinham acesso, apesar da qualidade superar a quantidade. Encontrei na saída o Diretor (antigo Comissário Regional), trocamos algumas amabilidades e cada um foi para seu mundo.
              A empresa onde trabalhava, aplicava de tempos em tempos, treinamento especializado e até outros que podiam implicar numa forma de crescimento de seus funcionários. Na minha área de produção, isso não acontecia no passado, mas agora era freqüente. Como tinha participado de diversos cursos escoteiros, sempre comparava a maneira de um e outro apesar de ser difícil a comparação. Um era aplicado em sala fechada e o outro ao ar livre. Mas sem analisar profundamente as causas, o da empresa era mais objetivo e alcançava em médio prazo os padrões desejados.
              Estava em minha casa consertando a torneira da cozinha, quando fui surpreendido pela fumaça do cachimbo do "Velho", que sem comunicar resolveu me visitar. Claro, ele era sempre bem-vindo. A Vovó me cumprimentou de longe e estava em um gostoso bate papo com minha esposa. Ele maneirosamente à vontade, me pediu uma dose de conhaque. Era para abrir o apetite - falou - Entendi. Se convidou para almoçar conosco.
              - O "Velho" como sempre estava "refestelado" em minha poltrona favorita e conversávamos banalidades após o “repasto”. Sem nada programado começamos a falar do "Adestramento" de adultos no Movimento Escoteiro. A nomenclatura foi mudada de adestramento para treinamento, pois alguns sempre comentaram que a palavra adestramento era um termo para designar o treinamento de animais e não devia ser usado entre nós. Foi mudado. Mas com o "Velho" isso não iria pegar nunca. Era adestramento e pronto! 
              Seu estilo inconfundível era o mesmo quando entrava em determinado assunto. Lembrava-se sempre do passado e como ele tinha modificado sua maneira de ser.
              - A patrulha tinha como objetivo construir um “ Ninho de Águia “ - dizia o "Velho". Era um Curso da Insígnia da Madeira para Chefes Escoteiros e naquela época ficávamos a disposição oito dias. Não era fácil ficar ali no campo todo esse tempo sem ver a família e olha que para ser sincero esquecíamos de tudo e de todos.
              - Tudo era cronometrado nos mínimos detalhes. Dois dias antes fomos informados que devíamos projetar e preparar a construção para a data determinada. Foi divertido e não muito difícil. Naquela época a maioria dos cursantes tinham um alto padrão técnico. Havia uma preocupação maior com a técnica de campo, mas a metodologia não era meramente simbólica. Nunca esqueci toda a preparação, a construção e a alegria de estar presente nas alturas  de um “Ninho de Águia” que nunca mais vi ou construí. Se você me perguntar se lembro de outros temas daquele curso, acho que vou responder que não. Quem sabe este é nosso erro!
              - Eram outros tempos mas acho que vale a pena analisar. Naqueles cursos, sentíamos mesmo não sendo crianças a necessidade de união e esta só vinha com cinco ou seis dias após o inicio.  Quando fomos apresentados e formadas as patrulhas, a Lei Escoteira era questão de honra. Seis a oito adultos em uma equipe, tem tudo para acertar qualquer  tarefa ou convivência em até dois ou três dias juntos. A partir daí não. Afloram diversos tipos de lideranças e os desentendimentos começam a ter inicio. É muito interessante. Mesmo com pessoas de níveis universitários isso acontece. A maneira com que o curso era conduzido tinha pôr finalidade mostrar a dificuldade encontrada pôr nossos jovens na convivência no Sistema de Patrulhas. Ao sair dali, estávamos preparados para resolver todas as questões trazidas pelos monitores.
              Nesse meio tempo a Vovó veio até a sala e disse que teriam que ir embora pois esperavam a visita da filha. Como o assunto me interessava, naquela mesma noite fui até a casa do "Velho" e após as banalidades de sempre e de seu horrível cachimbo, lembrei da conversa interrompida e falei:
              - "Velho" - Com a diversificação e simplificação você não acha que nossos cursos hoje também atingem essa finalidade? - Veja bem, a uma preocupação em facilitar a participação do futuro Escotista, pois hoje é muito difícil ficar mais do que dois ou três dias a disposição. Os novos dirigentes acharam que muitos não terminavam seu adestramento pôr falta de tempo. Fica mais fácil dividir em duas ou três etapas, com um currículo mais acessível e linguagem didática plenamente conhecida pelos participantes.
              - Não sei - falou o "Velho" - É uma explicação  mas mesmo mudando não atingiram o objetivo. Prefiro não discutir mudanças enquanto não ver os resultados. Infelizmente o que estou vendo não me agrada!
              - Mas pelo currículo apresentado e a seqüência da progressividade, você não acha que as mudanças foram para melhor? - disse - Quem sabe a culpa cabe aos próprios alunos que não procuram se inteirar e dedicar ao seu adestramento de uma forma conveniente a responsabilidade que assumiram? - Hoje existe em quase todas as regiões uma gama enorme de cursos aplicados anualmente e qualquer Escotista pode programar seu adestramento sem dificuldade. E isso não acontecia no passado. Eram cinco ou seis pôr ano e olhe lá. Muitas vezes tinham que procurar cursos em outros estados porque no seu era difícil aplicar um curso de maior nível.
              O "Velho" não estava prestando atenção ao que eu dizia. Tinha se levantado e se dirigido até a janela onde conversou com a Vovó que já  há tempos estava na varanda a conversar com uma amiga de infância que a visitava.
              Me deu as costas formalmente. Não era um gesto indelicado. Fazia parte dele. Meus pensamentos buscaram outros temas que infestavam a mente sem solução imediata.
              Bruscamente, o "Velho" voltou e apontou o dedo em minha direção, perguntando: - Pelo que sei você fez mais de 15 cursos em oito anos de atividade. Possui a Insígnia para Chefe Escoteiro e só. Eu fiz 10 cursos. Possuo a insígnia para Lobinhos, escoteiros, seniores e Chefe de Grupo. O que você me diz? - Quer contar as horas dedicadas a estes cursos em relação aos seus? - Veja não estou desmerecendo nada, mas como dizia BP o importante é o resultado. Como você se conta nos dedos os Escotistas que procuram se adestrar e aprender.
              Parou de falar e me chamou até o Jardim. Não entendi nada. Ele me mostrou dois pés de rosas brancas. Continuei não entendendo nada.
              - Preste atenção neste aqui, veja as pétalas firmes, a cor uniforme, a firmeza das folhas. Agora veja este outro, as folhas estão caindo, já esmorecidas, sem forças e sem uniformidade. Entendeu a diferença?
              - Acho que sim, você quer exemplificar os cursos do passado dos cursos do presente não?
              - Nada disso falou. A diferença é simples. A primeira é nova, está na flor da idade e a segunda já envelheceu e claro não podia comparar a primeira. Faz parte da vida. Nascer, viver, morrer,  nascer de novo, esta é a lei!
              - Continuei não entendendo nada. Mas o "Velho" não falou mais nada. Não sei se estava me gozando ou se pretendia atingir algum objetivo. Se fosse assim, não sei qual. Também não perguntei.
              - Olhei para o céu e vi um balão soltando foguetes. Um absurdo pensei. Mas sempre existe um louco para seu hobby. Assim seja.

Ainda que goze de alta posição na sua profissão, o cidadão comum tem tendência a considerar que as decisões relativas à vida da sociedade a que pertence são obras do destino sobre as quais ele não tem influencia - como os súditos romanos do mundo inteiro pensavam na época do Império Romano, o que é uma disposição favorável ao desenvolvimento da religião, mas desfavorável a manutenção de uma democracia atuante.
PAUL TILLICH
                                            O ...PATA...TENRA

ADESTRANDO A EQUIPE  fasc. 44

Existem erros monstruosos demais para remorso...
                                       EDWIN ARLINGTON ROBINSON

AOS VELHOS ADESTRADORES, PORQUE FIZERAM O MÁXIMO COM O MÍNIMO

CAPITULO FINAL

"Se tens vento e depois água, deixa andar que não faz mágoa! - Mas se tens água e depois vento, põe-te em guarda e toma tento!" Vermelho ao sol pôr, delicia do pastor!" - "Orvalho de madrugada, faz cantar a passarada" - Nuvens baixas, cor de cobre, é temporal que se descobre "- São tantas lembranças na mente que só esquece quem não aprendeu. - dizia o "Velho".
       Hei "Velho" - disse - Se esqueceu que estamos em um estádio, em  uma arquibancada assistindo a um jogo de futebol? - Onde quer chegar?
       - O "Velho" não tinha hora nem lugar para resmungar ou relembrar. Desde que tínhamos chegado, fomos xingados, devido ao cachimbo e a fumaça que insistia em ir de narina a narina dos torcedores próximos a nós. O Estádio estava lotado. Era um jogo de final de campeonato, e eu torcedor fanático pôr um dos times não podia perder. O "Velho", que eu não sabia para qual time tinha preferência, se convidou a ir comigo. Quem sou eu para dizer não.
       - Olhe só para a cara de cada um - continuava o "Velho" - Torcem sentados, numa boa, enquanto 22 jogadores e um juiz correm o tempo todo. E vem você me dizer que isso é esporte. Pode ser para quem está no campo, mas para nós não.
       Não discuti com o "Velho". O jogo estava empatado em 1x1, e os nervos dos torcedores estavam à flor da pele e prontos para explodir. Em dado momento, devido a uma jogada perigosa, se fez enorme silencio no estádio, pois um jogador importante de um dos times tinha se machucado. Havia duvida se ele voltaria ou não.
       Nesse momento, o "Velho" levantou e virando para os torcedores, ficou em posição de sentido e  fez a saudação escoteira gritando a plenos pulmões: - SEMPRE ALERTA! - Foi à conta. O estádio veio abaixo. A gozação foi tremenda. Tivemos que procurar outro local para ficarmos mais a vontade.
       Na volta fiquei pensando se nos meus 80 anos seria como ele. Ao chegar em frente à casa do "Velho", e ele descer sem agradecer, voltei para a minha e no caminho não tive duvidas que queria ser como ele. Não importava as excentricidades que para mim eram virtudes. Se o Escotismo era o que ele gostava, porque não vivê-lo plenamente? Esqueci de completar - meu time perdeu de 5x1!
       Aquele mês prometia. O fenômeno El Nino que tanto falavam estava de volta. Mesmo com a temperatura amena naquela hora da noite eu sabia que nos próximos meses podíamos nos preparar para chuvas torrenciais em nossa cidade. Isso sem contar o calor que iria sufocar a todos nos períodos pós meio dia.
       Cheguei na casa do "Velho" no horário habitual. Ele para minha surpresa ajudava a Vovó no jantar, lavando vasilhames e preparando a mesa. Minha liberdade naquela casa era grande e na cozinha me sentei à mesa sem cerimônias. O jantar foi servido e me refestelei com aquele manjar dos deuses feito pela Vovó. Em minha casa não tínhamos aquela rotina. Minha esposa também trabalhava fora e sempre lanchávamos em qualquer horário que chegássemos.
       - Vou lhe dizer uma coisa - falou o "Velho" - Estive pensando sobre o adestramento de adultos e cheguei a diversas conclusões, sem escolher qual  a melhor. Procure você mesmo analisá-las e tirar suas próprias conclusões. Não será preciso que me diga nada, pois não me interessa o que você pensa! - Malcriado - pensei.
       Me servi de mais um pastelzinho de mandioca que estava uma delicia. Ao lado a Vovó completava meu copo com um suco de manga, gelado, que acompanhava esplendidamente aquele jantar meu velho conhecido.  
       - Desde 1950, venho notando a preocupação em termos bons manuais de cursos. Alguns ex-Comissários Nacionais de Adestramento sempre tiveram a preocupação em aprimorá-los e com isso as mudanças foram acontecendo. Esta mudança não foi brusca mas não acompanhou a evolução dos alunos participantes para confirmar se foram válidas ou não. Claro, houve maior facilidade para se chegar a Insígnia mas seria este o caminho? - Tenho lá minhas dúvidas. Como repito sempre, o importante é o resultado.
       Se fizermos uma pesquisa de quantos alunos passaram em cursos nos últimos 30 anos e procurar saber quantos ainda estão participando como Escotistas, teremos uma grande decepção.
       Não vou discutir que no passado formávamos melhor os Escotistas. Não. Mas sem querer desmerecer os atuais, as tropas antigas lideradas pôr bons Escotistas com Insígnias davam melhores resultados.
       Talvez essa não seja a questão principal. Quem sabe são os membros da equipe cuja escolha e preparação não está à altura da liderança esperada deles. A partir de 1970, começamos a ter cursos avançados em quantidades suficientes para adestrar um bons numero de Escotistas e prepará-los para atuarem como membros da Equipe. Tive a oportunidade de participar de dois deles como membro diretor. Me senti meio deslocado com a preocupação constante do uso das técnicas modernas de treinamento.
Não me considero desatualizado , isso  não. Você me conhece e sabe principalmente  o que leio diariamente e a minha literatura é bem escolhida. Inclusive manuseio e bem o  Computador.  
       - As técnicas de seleção e treinamento dos membros da equipe hoje utilizadas não são do meu conhecimento. Conheço apenas os resultados através de Escotistas que estão participando de cursos, que mesmo com a alta rotatividade desses mesmos Escotistas , elas ( as técnicas) não me agradam.
       - Quando recebi minha terceira conta, lembro bem que tive que participar de dois cursos como observador e mais dois como membro da equipe. Só após fui liberado para dirigir sozinho mas com um tutor. A partir da observação feita pôr ele me entregaram o certificado. Não sei se isso acontece hoje.
       O "Velho" calou e se levantou da mesa da sala de jantar se dirigindo a sala Grande. Não me chamou. Sabia de antemão que eu o acompanharia.
       Sentado em sua poltrona preta de vime preferida, começou a encher o fornilho do seu cachimbo, no velho ritual já conhecido.
       - Escotismo é atividade ao ar livre - continuou o "Velho". Queira ou não essa é a verdadeira motivação dos jovens quando entram para um Grupo Escoteiro. Não adianta inventar outras atividades pois elas serão supridas facilmente pelos jovens em suas rotinas fora do Escotismo. Assim, as técnicas de campismo e atividades ao ar livre devem ter prioridades em qualquer curso.
       Eu estava calado desde que o "Velho" iniciou sua conversação sobre treinamento de adultos. Digeria suas palavras e analisava a autenticidade ou não dentro do contexto meu conhecido. Como sou novo no Movimento com apenas oito anos de atividade e participei de diversos cursos dentro da nova metodologia ora utilizada, confesso que a convivência com o "Velho" e junto aos amigos Escotistas do Grupo, meu adestramento alcançava melhores resultados. Mas não desanimava nunca pois sempre tive como principio que em qualquer que seja o curso, havia algo para aprender.
       Também tinha uma excelente biblioteca escoteira em minha casa e nunca deixava de ler ou consultar qualquer livro que pudesse me ajudar no dia a dia com a tropa.
       O "Velho" interrompeu meu pensamento e voltou a falar, agora um pouco mais a vontade pois seu cachimbo estava igual a uma locomotiva a vapor, soltando fumaça pôr todos os lados.
       - Adestrar a equipe. Não sei se vai resolver. Selecionar melhor os membros participantes. Quem sabe pode ser um complemento. Fiscalizar o andamento e resultados dos cursos, pode  influi um pouco. Mas digo com sinceridade, acho ainda que o melhor seria ver onde estamos errando e saber reconhecer o erro. Você vai dizer que estou dando voltas e repetindo velhos chavões já utilizados. Pode ser. É necessário uma volta às origens. Sem essas o futuro do escotismo é incerto. Acredito que tudo vai ser modificado e a finalidade do método e programa do escotismo deixaram de existir. O tempo vai mostrar se estou certo. Não estarei aqui para confirmar mas quem viver verá.
       O "Velho" parou de falar. Semicerrou os olhos e dava belas tragadas em seu cachimbo. O vento fresco entrava pelas janelas da Sala Grande e balançava suavemente as cortinas brancas que a Vovó insistia em ali colocar apesar da poeira reinante em nosso bairro. Sempre aproveitava essa deixa do "Velho" para também meditar e tirar minhas próprias conclusões.
       Lá fora ouvimos alguns trovões. A Vovó entrou e se despediu da amiga. Eu gostava da chuva. Ela prenunciava ser passageira. Muitos trovões e vento forte, deixa andar que não faz mágoa!
       Apesar de tudo eu achava que o escotismo tinha tudo para dar certo. As palavras do "Velho" podiam ser válidas ou não. Sempre teríamos alguém seja só ou em equipe para "tocar o barco". Afinal este abnegado está aí queira ou não. É teimoso, insistente. Não desiste. Não importa o número, as técnicas, os bons, os maus, seja lá o que for.
       Cheguei em minha casa debaixo de um "toró" de fazer gosto. Não me importava. Era mais uma noite junto do "Velho" e só isso valia tudo. Não sei quanto tempo terei aquele amigo para fanfarronar, ou quem sabe, dizer às verdades que para muitos eram simples fantasias de um passado que já se foi. Mas vou aproveitar saboreando cada momento junto a ele. Sou insistente sem ser derrotista. Vale mais um pássaro na mão do que vários voando.

E ele dormiu abraçado ao retrato
Sonhando sonhos de venturas mil !
E acordou e viu de manhã em seu sapato
Uma enorme, bandeira do Brasil !

O PATA TENRA


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