Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

UNIFORMES - Fasc. 23 e 24



     UNIFORMES  fasc. 23 

Toda a tribo “Delaware“ se reuniu junto ao túmulo do Guerreiro, seu chefe. O corpo foi colocado em atitude de descanso, rosto voltado para o sol nascente. Suas armas de guerra e instrumentos de caça o ladeavam, para a ultima viagem.
Pôr que estão tristes meus irmãos, e porque choram? - Porque um jovem guerreiro foi caçar nos bosques da bem aventurança? - Porque um chefe encerrou sua carreira com honra? - Ele era bom e valente. Manitu precisava de um guerreiro como ele e Manitu o chamou. Sou apenas um tronco ressequido, a quem os brancos despojaram de raízes e ramos.
Minha raça desapareceu das margens do lado Salgado e do meio dos rochedos DELAWARES!
ÚLTIMO DOS MOICANOS -   DE JAMES F. COOPER

AOS JOVENS QUE SE ORGULHAM DO UNIFORME E O RESPEITAM.

CAPITULO I:

Eu e um amigo de infância que também participava do movimento, discutíamos a uniformização do Movimento Escoteiro em nosso Pais.
A discussão iniciou-se quando folheávamos uma revista escoteira em uma das salas do Grupo, antes do inicio da reunião.
Uma “charge“ mostrava escoteiros com tipos e cores diferentes de  uniformes. Embaixo lia-se : - E ainda dizem que somos um movimento uniformizado. Ele e eu tínhamos a mesma opinião, apesar de pequenas divergências, que, somadas, não significavam muita coisa. Esta “charge“ datava de mais de 35 anos atrás.
Muito tempo havia-se passado deste então. Se naquela época do chapelão escoteiro já se discutia o uniforme, e agora? - Meu amigo era perspicaz e até impertinente nos seus comentários. Ele não concordava com as modificações atuais.
A cada ano - dizia - em nome de algum motivo se altera o uniforme. Éramos conhecidos pelo Chapéu, o lenço e o caqui curto. Quando passávamos não havia duvida de que eram escoteiros. Hoje não. Para uns o antigo uniforme se tornou caro. Com exceção do lenço, existe uma grande divergência nos uniformes. Não concordo. Conheci diversos jovens, cujos pais diferenciavam muito dos de hoje e cuja situação financeira não impediu de que os filhos possuíssem o uniforme correto.
- Interrompi pois um jovem Sênior havia adentrado na sala. Ficamos a observá-lo. Ele nos cumprimentou , procurou alguns papeis, pediu licença e se retirou. Na nossa mente ficou gravado o uniforme do Sênior. Claro, nosso velho conhecido da modernidade. Uma calça jeans desbotada, mais para azulada do que cinza, camisa cinza comum, lenço, sem contar um par de tênis, não muito preto e meio colorido. Era o uniforme. E olhe que no Grupo a exigência do uniforme era severa.
Meu amigo continuou -  Veja você como tudo mudou. Se amanhã este Sênior estiver junto a um “Desbravador“ ( jovens de uma religião evangélica, que se desmembrou do Escotismo nos Estados Unidos e que ainda mantém parte das técnicas escoteiras, mas voltadas para sua religião) vão reconhecer o ultimo como escoteiro e terão duvida do Sênior quanto ao uniforme. Não mais nos reconhecem.
- Fui obrigado a concordar com ele. - Bem, acho que não é tanto assim - falei. Ainda existe uma parcela do público que sabe quem somos!.
- Será? - completou ele. Claro - retruquei. Admito que não é mais como no passado, mas nossos dirigentes só querem facilitar para uma melhor uniformização.
- Veja você como é difícil conseguir hoje comprar um chapéu. Seja ele qualquer um , principalmente um legitimo “Prada - escoteiro“ que não  se fabrica mais. A calça curta está fora de moda e o caqui, cá pra nós é démodé! - Ainda temos o lenço , o cinto, o anel, todos eles mantendo a tradição.
Meu amigo deu um sorriso sutil. E você acredita mesmo? - completou. - Não tenho o tempo seu no movimento, estou a pouco mais de seis anos mas ainda não  consegui ver uma uniformização de verdade.
Meu pensamento voltou para o “Velho“ uniformizado. Não seria um tradicionalista? - é claro que nunca pensei nele vestido com o “novo uniforme“, e quem sabe se o visse assim, teria a admiração que hoje tenho pôr ele como Escotista ?
- Hei , acorde!, era o meu amigo quem falava. Viemos aqui para bolar um programa novo de informática para o Grupo Escoteiro ou você esqueceu o pedido dos Diretores? - Não,  falei. Vamos lá. Esqueci que estamos na era da computador e facão e machadinha não cabe aqui dentro deste programa!.
- Encontrei umas seis pessoas na sala. Assustei, pois nunca tinha visto tanta gente na casa do “Velho” como hoje. - Alguns conhecidos, outros desconhecidos. O “Velho” estava alegre e contente pôr toda aquela visita oportuna.
A minha entrada, voltaram a vista e o “Velho“ gritou - Sempre Alerta! - Sempre!, respondi. O "Velho" não deixa de me surpreender!.
- É um dos meus melhores amigos, retrucou . Me senti lisonjeado . O “ Velho “ me apresentou a todos. Eram ex-escotistas, amigos do passado, lembrando dos “Velhos tempos“. Pensei comigo - Acho que deviam também pensar nos novos tempos!.
A conversa era alegre e alguns se mostravam mais entusiasmado a medida que se provocava uma boa discussão com o "Velho". Claro que o assunto era um só. Escotismo. Escotismo e Escotismo. - Um deles estava dizendo algum, que chamou a atenção.
- Estava eu - falava o amigo do “Velho“- em um ônibus no sábado passado, absorto em meus pensamentos e eis que uma surpresa agradável aconteceu. Em um ponto subiu uma patrulha Sênior, que pela maneira como conversavam, deviam estar de retorno de alguma atividade aventureira. Abri o meu melhor sorriso mas nenhum deles olhou para mim. Ia me apresentar quando um passageiro a minha frente comentou com seu amigo - Que “diabos” é isso ?
- Não sei retrucou o outro, devem ser alguma gangue de bairro!. - Parece que alguns deles tem algumas roupas parecidas e dois deles estão com um lenço no pescoço! Podem ser de algum desses colégios indisciplinados de bairro!
Já ia interferir na conversa para dizer que eram escoteiros, mas desisti - logo vi um dos jovens com um cigarro na boca, dentro do ônibus! - seus uniformes estavam em pandarecos. Um outro de radinho no ouvido, brinco na orelha, cantando rock e mastigando chicletes. Uns três estavam com o lenço pendurado no cinto e quase todos incomodavam os demais passageiros com suas mochilas carregadas, sem se preocuparem com a boa educação. Pensei comigo, isto não pode ser escotismo. Estou fora da realidade. Deixe que pensem que são jovens de algum colégio, pois seus jeans desbotados e camisas azuis com boinas pretas não os identificam. Melhor para o Movimento Escoteiro!.
- Pois isto não é nada, declarou outro - Com minha mulher no Shopping no domingo, um Pioneiro e uma Pioneira, uniformizados (se é que aquilo era uniforme) se beijavam e esfregavam em um canto, sem dar a mínima para quem passava - O amor não tem hora nem lugar, falou minha mulher - Era um esculacho, retruquei!.
- Vocês estão generalizando. - Falou um dos presentes - Um ou outro caso não serve para exemplificar o movimento de hoje. Temos muitos Grupos que são exemplos de adestramento e formação. Não é porque um numero mínimo  procede de maneira incorreta que devemos julgar a todos.
- Meu pensamento já não estava mais ali. Aquele não era meu tema, meu mundo e minhas recordações. Ainda conhecia bons escoteiros e escoteiras. Muitos com verdadeiro “Espírito Escoteiro“, pois o movimento não tinha perdido seu encanto, seus métodos, apesar da falta de uma boa uniformização em nível nacional mas acredito que estamos em uma nova era.
- Olhei para o “Velho“ que se divertia com os demais. Vovó também participava, com seu café fumegante e bolinhos de chocolate na manteiga.
As canções escoteiras  antigas se sucederam. Riram, falavam, abraços. Velhos amigos se encontrando.
Fui para casa também sorrindo. Meu mundo era outro. Quem sabe no futuro, também me encontrarei com os ex-escoteiros deste meu tempo, e faremos o mesmo.
Sempre Alerta !

- E neste ponto, os passarinhos deixaram o castanheiro e voaram numa nuvem preta e irregular para as montanhas, enquanto as ultimas nove badaladas do Ângelus da manhã, elevaram-se e caiam, - desvaneciam-se no silencio da manhã toscana...  
                                          O...PATA...TENRA..



  UNIFORMES  fasc. 24

“A farda escoteira, pela sua uniformidade, constitui agora num laço de fraternidade entre os rapazes do mundo inteiro.
O uso correto do uniforme e a elegância na aparência de cada Escoteiro, individualmente, torna-o um motivo de crédito para o nosso Movimento.
Mostra que está orgulhoso de si mesmo e da sua tropa. Pôr outro lado um escoteiro desleixado, mas vestido, pode causar aos olhos do público, uma péssima impressão sobre todo o movimento. Mostrem-me um desses tipos e lhes afianço que provarei que ele é um daqueles que não conseguiu pegar o verdadeiro Espírito Escoteiro e não se orgulha de ser membro da nossa Grande “Fraternidade“ .                                              BADEN POWELL

AOS MEUS IRMÃOS DA PATRULHA RAPOSA, AINDA VIVOS E AQUELES QUE JÁ FORAM PARA O GRANDE ACAMPAMENTO E QUE SE LEMBRAM DOS VELHOS TEMPOS E DO ORGULHO DO NOSSO UNIFORME !

FINAL

O chefe da Tropa tinha sido muito exigente naquela noite. Dois aspirantes tinha comparecido a reunião, uniformizados e sem o lenço. Retornaram as suas casas.
- Vocês foram instruídos quando da admissão que o uniforme só seria usado após a Promessa de cada um! - falou - Inclusive consta como norma da patrulha e foi entregue pôr escrito pelo monitor. Sei que o desejo e o sonho de vestir o uniforme é grande. Mas isto é uma conquista e compete a vocês lutarem para conseguir!. Terminem as “provas“ de noviço. Aceitem o desafio. Até lá, compareçam com a camiseta da tropa ou do Grupo.
- Mas chefe - dizia um deles -  Qual o problema? - em outras tropas o aspirante veste o uniforme e ainda coloca o lenço. Só coloca o Distintivo de Promessa quando a faz!.
- Não é o nosso caso! - falou o chefe - O uniforme é uma conquista. Lutem para isso. Em seguida, educadamente os despachou para suas casas. Foi duro é verdade mas se não fizesse assim nunca haveria esforço pessoal, responsabilidade e valor com o traje Escoteiro. E ainda iria implicar no futuro na falta de motivação com conseqüente saída do Movimento Escoteiro.
A  tradição era norma. Foi colocada pelo “Velho“ que tinha aprendido assim e assim deveria ser mantida. Eu tinha lá minhas dúvidas mas no Grupo em que prestávamos a colaboração os uniformes não eram peças decorativas. Todos que ali compareciam estavam sempre impecáveis.
Os chefes usavam os dois uniformes. De campo e social. Nas reuniões, usavam o mesmo dos escoteiros. A sessão pecava pelo excesso de Garbo e Boa Ordem. A sétima Lei Escoteira era levada a sério.
- Nada de “jeitinho“. Todos temos que aprender a respeitar - Dizia o “Velho“ . Ou se está ou não uniformizado!. Isto inclui todas as peças!.
A reunião continuou sem maiores comentários. Todos já tinham assistido a aquele filme e sabiam de cor e salteado o seu final.
- Chega de invenções! -  o  "Velho"  falava - Alguns chegam com uma “lengalenga” infantil e mostrando boa vontade, satisfazem os desejos e caprichos de alguns, dali a alguns anos saem  do Movimento e não ficam para ver o resultado das suas trapalhadas! - vociferava o “Velho" a comentar as mudanças que estavam sendo implantadas aos poucos. Acho que não assimilaram o Método e o Programa.
- Já não basta um que veio me convencer que a Promessa não deve ser decorada e dita pelo jovem e sim repetida a medida que o Chefe vai falando!.
- Papagaio também repete e vive preso pôr uma corrente no poleiro comendo bananas ! Até hoje não sabe se é papagaio ou gente !.
O “Velho” estava ficando cada dia mais rabugento, pensei (ainda bem que não disse que alguns papagaios não gostam de bananas ).    
- Estamos cheios de “inventores”. Observe bem que estes não produzem nada! - Dizia o “Velho”. Conheço alguns que só destorcem o que existe  sem analisar depois de alguns anos os resultados!. Não estão mais participando e suas preocupações não serão mais estas!.
- O  “Velho” com seu mau humor tão peculiar em alguns dias (e sempre pior) estava ao meu lado no meu automóvel e voltávamos de uma consulta com seu médico, um antigo escoteiro, que tinha “paciência“ para agüentá-lo.
O médico tinha insistido para ele desistir de fumar o seu “cachimbo” pois isto iria aumentar em mais de três anos sua longevidade. O coitado ouviu poucas e boas!
Ele saiu de casa resmungando e voltou pior. Não sei porque toquei no assunto do uniforme e dos jovens que o chefe mandou de volta para casa no inicio da reunião.
- É BP pra cá, BP pra lá, exemplos internacionais, etc. e coisa e tal. Não sei como eles sabem tanto da vida de BP e o que ele falou! - continuava o “Velho”. Ainda vem este “ pandego “ dizer que terei mais três anos de vida. Ao “diabo” com seu conselho (era um grande amigo do “Velho”).
Estávamos parado em uma avenida, num engarrafamento “mostro“ (muito normal em nossa cidade) e o calor era insuportável. Havia avisado ao meu supervisor na fábrica que no mais tardar as 15 horas estaria de volta. Eram mais de 16 horas e ali estávamos parado, sem que o veiculo andasse alguns milímetros!. Excelente dia, pensei. - O Escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades. Muito fácil falar e difícil de aceitar!.
O pior então aconteceu. - O “ Velho“ tirou seu cachimbo do bolso e começou o velho ritual já meu conhecido.
- Deus do céu!, aqui não!. -  Falei para o “Velho“ . - Dentro do carro não dá. Espere pôr favor até chegar a sua casa. - O danado nem me olhou e continuou a sua  criminosa ação poluente. Como se eu não existisse e nada tivesse falado, manteve o seu pensamento em voz alta do assunto em pauta.
- Eu me lembro até hoje de como foi difícil para “tirar“ as provas de Noviço. Não é esta “moleza“ que temos hoje. Todos os dias olhava meu uniforme com carinho. Estava perfeito no guarda roupa. Engomado. O cinto já havia recebido várias “graxas” para  “amaciar” o couro e fazê-lo durar mais. O metal brilhava, pois eu não economizava na pasta de dente (usada naquela época para manter o metal e seu brilho).   Aguardava com ansiedade o dia da minha Promessa. Já sabia ela de cor e salteado e tinha até treinado em frente ao espelho, a “pose” que iria fazer. Só quem passou pôr isso sabe o valor da Promessa.
- Entendia perfeitamente o seu significado - continuou. - Era sempre assunto no “Conselho de Patrulha “. A Côrte de Honra tinha aprovado e o próprio chefe conversou diversas vezes comigo a respeito.
Quando chegou o dia foi o mais feliz em minha vida. Aquele uniforme tinha um valor tremendo. Lutei pôr isto. Mereci usá-lo. Os desafios das demais provas seriam mais fáceis agora.
- A fumaça “empestava” o meu carro. Já pensava o que minha esposa iria falar quando fosse buscá-la mais tarde no seu trabalho. Ela “adorava” o perfume do cachimbo do “Velho”.
- Uniforme ! - pensei - Tantas preocupações agora com este engarrafamento e fico a ouvir e pensar em uniformes!.
Uma policial feminina fez sinal para que eu fosse em frente. O transito começava a fluir. Observei a elegância e o garbo.
- Impecável em seu uniforme, e olhe como é bonita e charmosa não acha? falou o “Velho" dando uma bela de uma “tragada”.
- Quase 80 anos e vem com este papo. Descarado! - falei para mim mesmo raivoso. Tossi algumas vezes e coloquei a cabeça para fora da janela tentando respirar ar puro! - Um caminhão de lixo parou ao meu lado. Tive que fechar as janelas. O "Velho” ficou calado e dava grandes baforadas.
- Uniforme! - Alegre e sorrir nas dificuldades! -... Promessa! ... - Maldito cachimbo do “Velho”.
- Mas no fundo, bem no fundo eu sabia que ele estava totalmente certo!.
                                                                                  
                              O PATA...TENRA..


E agora temos o traje... O que teremos daqui a 50 anos?


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