Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

BOTSUANA - UMA NAÇÃO DE ESCOTEIROS - FASC. 53, 54 E 55



Veja se você compreende exatamente o que desejam de você, ou o que é que você deseja realizar.
Faça então os seus planos para completa execução.

Tenha boas razões para justificar esses planos.
Faça a sua execução adequada ao material que dispõe.
E, sobretudo tenha força de vontade – uma vontade obstinada – a determinação de cumprir os planos rigorosamente até chegar ao sucesso final.

Marechal Foch

Botsuana – Uma nação de escoteiros – fasc.53

          PARABENS AQUELES QUE NÃO DESISTIRAM DA CAMINHADA

Capitulo I

Era impossível segurar o riso. Sei que seria injusto, mas eu mesmo tentava a todo custo não rir daquele escotista, que sempre levantava polemica quando um ou outro palestrante do Curso estava no seu auge, para finalizar de maneira bombástica e apaixonante a apoteose de sua exposição do tema que tão bem preparara. E lá estava ele, nosso amigo contestador, com seus satíricos senões a atormentar os que ali estavam laborando a formação de líderes escotistas.

Mas os diretores do curso já abarcavam aquelas ressalvas com compreensão e cortesia, deixando correr livremente, para em seguida solicitar ao polemico replicante uma conversa privada, fora dos horários pré-determinados.

Mas que ele era mordaz em seus epílogos, isto lá era. Já no terceiro dia, notamos que suas trapalhadas mais ajudavam que confundiam. Basta ver a sua última intervenção, onde comentou com o dirigente sobre os seniores e guias dormirem na mesma barraca. Nenhuma resposta o satisfez. Depois o Liz de Ouro e assim uma seqüência inquisitória de alguém que quase nada conhecia do Movimento Escoteiro.

Estávamos em um curso mais avançado e sua inscrição deveria ter sido mais meticulosa. Não sabia como o aceitaram, pois não estava preparado para tal matéria e infelizmente com tais impedimentos deixamos de ter informações da totalidade do currículo do curso sem a repetição pura e simples de temas já conhecidos.

No entanto, foi um bom avançado. Fiz novos amigos, trocamos muitas idéias, falamos assaz de tudo e tive novos conceitos para desenvolver com os monitores, quando do meu retorno, já que como assistente de tropa poderia recomendar tudo que aprendi no Conselho de Tropa, Corte de honra ou mesmo Conselho de Patrulha.

No domingo antes do encerramento, na Cadeia da Fraternidade a emoção tomou conta de todos. Até o Diretor do Curso, já calejado e veterano nestas atividades, me surpreendeu ao ver em seus olhos lagrimas de emoções e sentimentos.

Cheguei à noitinha, tomei um bom banho, e até pensei em visitar o “Velho”, pois sabia que iria “adorar” meus comentários do curso, como sempre o fazia. Mas estava estafado, precisando de uma boa noite de sono, e no dia seguinte voltaria às lides profissionais. Senti falta dele, pois por motivos diversos passei mais de 15 dias sem visitá-lo.

Ao chegar à empresa pela manhã, fui surpreendido com um recado de me apresentar na diretoria industrial, área que estava ligado. Fiquei preocupado, pois faltei mais de 6 dias para o curso, mas previamente combinado com a chefia da área, para desconto em férias.

O Diretor meu conhecido, claro sem familiaridades colocou-me a par da situação e foi logo dizendo que precisava dos meus préstimos na filial do norte do país, com uma urgência imprescindível e se não houvesse contra tempos, embarcaria imediatamente, pois as passagens já estavam reservadas.

Só tive tempo de ir a minha casa, preparar a mala ligar para minha esposa e embarcar. Esqueci completamente do “Velho” e da Vovó. Fiquei lá por mais de 30 dias. Não era normal tal situação, já que cada filial era autônoma e dependia pouco da matriz. No entanto as dificuldades encontradas poderiam ser resolvidas mais rapidamente com a minha experiência no contexto.

Quando retornei, pedi uma licença de dois dias. Eu estava com a cabeça girando, Todas as minhas obrigações particulares sem fazer e precisava me inteirar de tudo para voltar ao normal com as minhas atividades sociais de voluntariado principalmente o Escotismo.

A saudade do “Velho” era grande. Sabia como seria recebido. Com um silencio sepulcral. Ele era assim, e assim eu gostava dele. Iria ouvir reclamos, e reprimendas. Como era um dos poucos ou quase o único que o visitava devia estar ofendido, melindrado e quem sabe preocupado com minha longa ausência.

Afinal, todos os sábados à noite, domingos, quartas, fora outros dias que sentia aquelas saudades, lá estava eu em sua casa. Fui chegando com passadas calmas, já concebia em minha mente a recepção e a maneira peculiar do “Velho”, fingindo dormitar na sua poltrona de vime, e como um velho amigo da casa entrei sem bater. Não vi ninguém. A luz acesa e nenhum som. Logo apareceu a Vovó, sorridente, amiga, simpática e com aquela aparência de todas as vovós do mundo, cujos netos adoram, me cumprimento e convidou a sentar.

Achei estranho. Não era assim. Nunca foi assim. Fiquei mais de 40 dias fora e onde estava o “Velho”? Ela me explicou. - Viajou para Botsuana. - O que? Perguntei. Botsuana. Lembra do pais da America central do qual vocês falaram muito? Lembrei então. No ano anterior, um Executivo Escoteiro Profissional de Botsuana procurou o “Velho” em sua casa.

Rememorei que eram amigos antigos.  Depois fiquei sabendo que ambos se conheceram em um Conselho Inter-Americano em Caracas, lá pelos idos de 1970. Ouve outras atividades em conjunto principalmente no Jamboree mundial no Japão e dois cursos avançados aplicados em países sul-americanos. Quando veio visitar o “Velho” senti uma amizade sincera, amiga e que não havia segundos interesses de parte a parte.

- Mas o que foi que ele foi fazer em Botsuana? Perguntei para a Vovó. – Pelo que entendi, disse ela - eles estão com grande dificuldade na expansão do movimento, com uma enorme evasão e como os novos diretores que foram eleitos querem dar uma volta às origens, enviaram o Executivo Profissional à procura do “Velho”.

- Disse ele que os precedentes mudaram diversas normas, formas de adestramento, retiraram com intensidade às características do escotismo de BP, algumas partes do método, a arte de aprender a fazer fazendo, desfiguraram nomes Técnicos, situações de atividades ao ar livre, provas de classe, distorceram os uniformes. Alteraram tanto que os novos agora não sabem como recompor o que foi feito e como fazer sem ir de encontro às normas estatutárias e regimentais vigentes.

- O Wahnisi, (Executivo Profissional) ficou aqui por dois dias. Até se hospedou conosco. Conversaram, dialogaram, trocaram idéias, e o convite foi feito. O “Velho” iria a Botsuana, com passagem ida e volta paga, hospedagem, e claro se fosse necessário alguma forma de remuneração seria feita. O “Velho” não se fez de rogado. Falou comigo, com sua filha, e partiu com aquela auréola de velho escoteiro, que é versado, sabe como fazer e tem certeza como resolver.

Caramba! Pensei eu. Parece um país que conheço. Mas Vovó, você concordou? Afinal o “Velho” vai fazer 83 anos, e será que está preparado para uma viagem assim, sozinho, sem companhia? A senhora não foi e nenhum dos seus amigos. Não tem receio de acontecer alguma coisa? – ela sorriu e disse que conhecia o “Velho”. Ele iria retornar como se tivesse caminhado até a esquina e comprado o pão da tarde.

Aguarde sua chegada, ele me telefonou e disse que chegaria no próximo dia 20 (daí a 15 dias), caso você não tivesse se acidentado, morrido ou sido mandado embora da empresa, que fosse buscá-lo no aeroporto. Seu vôo estava previsto para chegar as 23 h. (Típico do “Velho”)

Teria que aguardar. Meu intelecto tão solicito em respostas imediatas, agora ficaria sustado até a volta do “Velho”. Ele era realmente imprevisível. Com aquela idade, com as dificuldades de locomoção considerando a batelada de remédios, enfim tantos senões que estava admirado de sua audácia. Este era o “Velho” que não conhecia, mas suspeitava.

                                                            O PATA TENRA

- Nunca vá para o norte quando puder ir para o sul;
- Nunca vá de automóvel quando pode ir a pé e nunca vá a pé quando puder ir a
cavalo.
- Nunca passe por cima quando pode passar por baixo, nunca passe por baixo
quando pode passar de lado e nunca passe de lado quando pode passar pela
passagem livre.
                          
   Botsuana – Uma nação de escoteiros – fasc.54

O Movimento Escoteiro tem por fim desenvolver o civismo e a boa cidadania nos rapazes e moças. Formando neles pelo adestramento os hábitos da observação, obediência e iniciativa, neles inculcando a lealdade e a generosidade para com os outros.
Fazendo com que aprendam a se tornar úteis, ensinando-lhes habilidades manuais e desenvolver suas habilidades físicas, mentais e espirituais e esperando que os jovens adquiram responsabilidades, tornando competentes diante de si próprios, acreditando que seu caráter se afirme e que os outros possam contar com ele.

 A TODOS AQUELES QUE CONSIDERAMOS NOTÁVEIS ESCOTEIROS   
                          MAS INFELISMENTE ESQUECIDOS

        
Capitulo II

No dia determinado fui ao aeroporto buscar o “Velho”. O vôo chegou no horário. Lá estava ele, sorridente e pasmem de uniforme caqui, curto, chapelão e com sua mochila as costas. Só mesmo o “Velho”. Abraçou-me com estardalhaço, gritou alto “Sempre Alerta”, e depois de chamar a atenção sobre si com os presentes no saguão, (era sua maneira de fazer proselitismo, muito sensata afinal) lá fomos nós retornando e ele contando histórias de Botsuana, mas sem entrar nos detalhes.

Sabia que ficaria para outro dia. Já era tarde da noite, ele deveria estar cansado e eu também. Deixei-o em casa, cumprimentei a Vovó, e também fui dormir. Já passava da meia noite. Teríamos muito tempo para colocar a prosa em dia.

Eu tentei desviar minha atenção da viagem do “Velho” o dia inteiro. Mas logo que retornei do trabalho, tomei um banho e me dirigi a casa dele, pois me inculcava sua ação tão peremptória, no trato com uma Direção Escoteira de um país distante e do qual ele pouco conhecia.  

Encontrei um “Velho” alegre, sorridente, que foi até a porta me receber, me cumprimentou, bateu a mão afetuosamente em meu ombro, chamou a Vovó que veio afável me receber. Incrível! Não estava acreditando em tudo aquilo. Não era à maneira do “Velho”.

Ele logo se tornou um palrador, sempre me perguntando como estava o que fiz o que deixei de fazer e como andava o Grupo Escoteiro. Após esse prélio verbal, ele começou a contar em detalhes como foi sua visita a Botsuana. A principio não entendi muito, mas depois vi que o “Velho” tinha mostrado todo o seu conhecimento e junto com os dirigentes escoteiros Botsuanês, conseguiu fazer o que nós há tempos vínhamos conversando sobre o escotismo em nosso país.

- Era uma situação peculiar. Parecia um caminho sem volta – Dizia o “Velho”. O país tem uma população aproximada de 120 mil habitantes e com um efetivo de 30.000 membros há 10 anos atrás. No ano anterior só conseguiram registrar no 28.000. Verificaram que cada ano, mais e mais jovens abandonavam o movimento. O Adestramento realizado com adultos redundava em abundante fracasso.

- Para facilitar – continuou – Mudaram a forma de adestrar e que agora chamavam de formação, tirando boa parte do adestramento técnico. Achavam que os novos não estavam se adaptando e praticamente copiaram as formulas atuais de formação de executivos utilizados em empresas, e para isto também mudaram em muito a formação dos jovens, deixando mais temas relevantes com a sociedade atual.

- Pequenas coisas que alguns consideravam tradição foram abolidas. A participação jovem masculina diminuiu consideravelmente. Claro, havia muitos Grupos Escoteiros bem estruturados, mas estes tinham bons escotistas na liderança, que traziam dentro de si o conhecimento e a chama de um passado que se orgulhavam.

- A maioria dos jovens que adentravam, continuou o “Velho” desconheciam o passado, como era realizado e o programa atual parece que não estava entusiasmando muito. Um bom número de escotistas, no entanto aplaudiam estas mudanças, mas o resultados até agora foram pífios.

- Muitas outros contextos seguiram o mesmo caminho. Não vou enumerá-los todos. Uma nova Diretoria Nacional foi eleita, o que surpreendeu a todos, pois se tratavam de escotistas tradicionalistas que não estavam exultantes com a situação atual. – Tentaram a principio mudar alguma coisa, devagar, com calma para não ferir suscetibilidades.

- Nada do que faziam dava certo. Havia um regimento interno, estatutos que determinavam o modo de agir. Mudá-los era uma tarefa árdua e espinhosa. Viam assim que o movimento caminhava a passos largos para sua extinção, com retorno as origens de difícil implementação.

HH       
- Muitas das idéias a serem aprovadas com nova forma de participação, planificação de adestramento de adultos e jovens, não seriam de fácil desenvolvimento. Levariam anos para se concretizarem. Era preciso que em cada mudança se analisasse os resultados. Sem estes nada teria valido a pena. 

- O executivo contratado, o Wahnisi havia adquirido algumas experiências pelas suas andanças em nosso continente, pois exemplos norte americanos ou europeu eram de difícil implementação. Conversaram por longo tempo e souberam do “Velho”, dos seus conhecimentos e quem sabe poderia surgir alguma idéia nova, se pudessem contratá-lo por um período curto, mas de serventia.

- Assim o meu amigo Wahnisi veio aqui, e conversamos por mais de 3 dias seguidos. Ficou meu Hóspede e conversamos de manhã, à tarde e a noite. Não era fácil a solução que ele procurava. Pensamos juntos, buscamos fórmulas, mas todas de difícil execução.

- Wahnisi telefonou para Botsuana e os dirigentes falaram diretamente comigo. Não havendo uma saída, me convidaram para ficar uns dias com eles, com passagens e estadia paga, sem nenhum ônus. A principio relutei, mas aos poucos pensei – porque não? – Não havia a obrigação de acertar, de ser o “Messias”, mas apenas de colaborar e como o Escoteiro é amigo e irmão dos demais escoteiros, aceitei.

- A Vovó estava de acordo, pois participou ativamente da nossa conversa e de trocas de idéias com o Wahnisi. Consultei minha filha que achou uma idéia excelente para eu me rejuvenescer e ver outras paragens, pois assim eu mesmo estava voltando as minhas origens. Wahnisi insistiu com a Vovó nos acompanhar, mas ela não quis.

- Nunca estive em Botsuana, mas lá me senti em casa. Todos do Movimento Escoteiro que de uma maneira ou de outra me envolvi, eram de uma delicadeza e fraternais ao extremo. – Vi que o “Velho” narrava como se fosse uma apoteose tudo o que viveu, como lembranças do seu passado e que suas idéias foram muito valorizadas o que não acontecia aqui. Isto foi bom para ele e acho que também para o Escotismo de Botsuana.

- Na primeira semana nossas mesas-redondas, não foram frutíferas. Muitos dos diretores (em numero de seis) não podiam participar inteiramente devido aos seus afazeres profissionais e com exceção de dois os demais eram novos no movimento e não tinham ainda a noção do que poderíamos fazer comparando com nossas expectativas e com a realidade atual, mas sem nenhum resultado prático.

- Uma tarde tivemos uma idéia, que se bem explorada poderia abrir o caminho para tudo aquilo que tínhamos arquitetado, mas faltava o caminho correto para a ação. Foi então que sugeri uma reunião urgente com os melhores escotistas do pais, registrados ou não, e considerados “notáveis”, divididos em tantas categorias que fossem necessárias. (executivos de empresas, aposentados, profissionais liberais etc.).

- Inicialmente conseguimos 50 nomes. Mais de 80% IM e que de alguma forma participaram no passado na equipe de adestramento ou em lideranças distritais e regionais. Sabíamos que poucos deles eram agora atuantes e a grande maioria não pertenciam ao Conselho Nacional, sem direito a voto, e outros tantos desinteressados pelos destinos do movimento, conforme me disseram.

- Marcamos uma reunião para dalí há 8 dias. Muito pouco tempo, mas a diretoria arregimentou outros tantos escotistas IM, participantes mais diretos da Direção Nacional, ativos e vários da Equipe Nacional de Adestramento.

- No dia determinado, foi uma surpresa. Eram mais de 100 escotistas, quase todos uniformizados, se confraternizando e conversando sobre o que lhes foi informado. O Escoteiro Chefe usou da palavra, explicou o que pretendia o porquê de tudo aquilo, a evasão constante de adultos e jovens, o efetivo diminuindo e contava com eles para acharem juntos o caminho certo para quem sabe, um retorno as origens ou uma volta por cima dos erros que poderiam ter sido cometidos.

- Dividiu-se em 4 comissões, com temas escolhidos por eles e a reunião durou o dia inteiro. Fiz ali muitas amizades, encontrei outros escotistas que conhecia no passado e vi em seus semblantes a alegria de poder participar e ter o reconhecimento que sempre mereceram.

Olhei no meu relógio, e estava marcando duas da madrugada. A noite foi esquecida, mas teria que ir, pois meu trabalho assim o exigia no dia seguinte. Falei com o “Velho” que voltaria nesta noite, para continuarmos onde paramos o que aconteceu a Botsuana, seus sonhos, seu crescimento, pois era um assunto que me comprazia e queria saber o desfecho.

- Vovó estava ao nosso lado, ouvindo, pensando e de vez em quando balançava a cabeça concordando outras vezes não. Fui embora refletindo que o Movimento Escoteiro era “suis generis” com uma faceta diferente de tantas outras organizações, e que despertam a chama que transforma o sentimento, o amor que sentimos, e ter no coração e na mente, a felicidade tão almejada no simples fato de sorrir e seguir em frente.

                                                            O PATA TENRA

A mãe de Goethe traçou uma boa orientação para a vida quando disse:
“Não procuro espinhos e me agarro às pequeninas alegrias. Se a porta é de pouca altura eu me abaixo para passar. Se for possível afastara uma pedra do meu caminho, afasto-a. Se for pesada demais a contorno”.

De Baden Powell no livro Caminho Para o Sucesso
                                                                                                                                               


Botsuana – Uma nação de escoteiros – fasc.55

Através de grupos de idade sucessivas, sem distinção de raças classes sociais e níveis sócios econômicos, dentro de um programa próprio, desenvolvido por eles mesmos sob a supervisão de adultos, com um sistema progressivo de conhecimentos úteis, o Método Escoteiro se caracteriza:
- Código de honra aceito voluntariamente;
- trabalho em grupo;
- Aprender a fazer fazendo;
- Formação pessoal pela orientação individual;
- Adestramento progressivo;
- Atividades ao ar livre;
- Sistema de Grupos divididos por seções;
- Mística e ambientação.


          AOS ANTIGOS ESCOTEIROS, GRANDES BRASILEIROS QUE   
                   CONHECERAM O CAMINHO PARA O SUCESSO


Capítulo III

Foi um dia extenuante na fabrica. Uma máquina importante quebrou e fiquei com mais dois engenheiros até as 23 h quando conseguimos colocá-la em funcionamento. Ligue para a Vovó e o “Velho” atendeu. Expliquei o que ouve e minha falta. Ele disse que o interessado sou eu e não ele. O “Velho” voltou às origens. Depois deu uma grande gargalhada e pediu desculpas. Não estava entendendo nada. O “Velho” não age assim.

Desliguei dei boa noite ao “Velho” e fui dormir. Minha esposa estava na biblioteca, deslanchando um serviço no PC e disse que iria dormir em seguida. Dormi em segundos. Só acordei as cinco da manha, para a minha rotina diária. Durante o dia uma coisa “matutou” minha imaginação, mas não sabia o que era. Alguma coisa estava errada. “Eureka”! O velho durante a viagem quando fui buscá-lo no aeroporto e o tempo que estive em sua casa não cachimbou.

Sabia que existia alguma coisa errada. Cheguei em casa as 16 h, tomei um banho e parti para a casa do “Velho”. Não estranhem minha liberdade. Sua casa era minha casa. Entrava e saía sem pedir. Considerava-o como um pai, um amigo, meu guru chefe escoteiro, e um amor ilimitado, adquirido por anos e anos de convivência.  

Na esquina, o avistei na varanda, a conversar com um vizinho. Subi as escadas de dois em dois, e após breves cumprimentos, o vizinho se foi e sentamos ali mesmo, em confortáveis poltronas de palhinha. Na varanda logo a Vovó se uniu a nós e claro, na mesinha forrada com uma toalha branca bordada com ponto cheio, lá estava os deliciosos biscoitos de polvinho, algumas brevidades, pedaços de bolos de chocolate, enfim um manjar para que a conversa se esticasse indefinitivamente.

Sem delongas, perguntei a queima roupa – “Velho”, onde está seu cachimbo? Ele sorriu e respondeu - guardei e quem sabe irá para o meu museu quando partir para o Grande Acampamento, claro você sabe o que penso deste tal acampamento. Deve ser uma aporrinhação ficar naquela velharia do além. – Mas achei que o fumo não estava me fazendo bem, e se posso ficar sem fumar por mais de 6 h em um vôo, posso ficar eternamente sem fumar.

- Parabéns “Velho”, agora vejo que você vai ter mais alguns anos de vida, e seu médico se sentirá recompensado. – Grandes coisas, disse ele. Parei não por ele ou por minha saúde. Parei para dar exemplo, para seguir as leis e mostrar que a força de vontade pode ser alcançada por qualquer um.

- Mas chega de entretantos e vamos aos finalmentes. Voltemos a Botsuana. Eu tinha e tenho várias idéias de como voltar às origens com um crescimento sustentável e garanto se aplicado darão resultados soberbos. Mas em Botsuana não poderia aplicar. Em 30 dias e sem modificações estatutárias ficaria de pé e mão amarrados.

- A única saída – continuou – era fazer um grande mutirão nacional, começando com pequenas Indabas de um dia em todas as áreas, englobando de 3 a 5 Grupos Escoteiros, todos voltados para o tema do desenvolvimento, da volta às origens, e de outros que acharem válidos discutirem. Durante 60 dias, seriam os temas mais discutidos por todos os escotistas do país.
                             
- Após, cada Indaba seriam eleitos 5 delegados de cada área (numero que poderia ser alterado) para uma representação regional, onde em uma grande seminário de escotistas, do estado, iriam formar diversos grupo de estudos.

- O objetivo consistia procurar uma solução, claro com as idéias já aprovadas nas Indabas anteriores, com novos conceitos tudo para ser aplicado em um programa a curto, médio e longo prazo. À volta as raízes de BP eram condições peremptórias.

- Claro, que muitas das minhas sugestões foram colocadas no contexto e algumas exemplifico - Mudança nos estatutos, regimento interno, normas internas, padronização do traje escoteiro, novas formas de adestramento de jovens e escotistas e arregimentação de adultos.

- Todas foram aos poucos sendo vinculadas, para que quando da realização no final do ano dos Conselhos Regionais e no Conselho Nacional sem idéias contrárias, pudessem atingir o objetivo proposto.

- Muitas das idéias a serem aprovadas com nova forma de participação, planificação de adestramento de adultos e jovens, não seriam de fácil desenvolvimento. Levariam anos para se concretizarem. Era preciso que em cada mudança se analisasse os resultados. Sem estes nada teria valido a pena.

- De tudo exposto, deixei bem claro aos meus irmãos escoteiros de Botsuana que sem uma participação geral de todos os escotistas nenhuma idéia poderia ser implementada. Hoje ou amanhã. Cada Grupo Escoteiro tem de ter representatividade nos Conselhos Regionais e Nacionais.  Não se pode conceber que uns poucos dêem a palavra final em temas que interessam a todos.

- Disse ao Escoteiro Chefe e ao Wahnisi que mudanças e alterações em tudo aquilo que envolve o Escotismo de BP, devem ser do conhecimento e ter a anuência de todos os escotistas. O que os antigos dirigentes fizeram foram com a certeza de estarem no caminho certo. Tomaram decisões e consultaram uns poucos em cada região e os resultados não foram satisfatórios.

- No escotismo somente uma democracia participativa pode dar resultados. Afinal aderimos a ele porque acreditávamos no ideal escoteiro. Se alguns pretendem mudar isto pode minar uma grande maioria que deixa de acreditar.

- Não sei ainda o resultado de tudo. Só fiquei lá por 30 dias. Senti, no entanto que havia por parte da totalidade dos escotistas, uma mobilização geral e isto era muito bom pois os resultados poderiam ser os melhores possíveis. Somente daqui a alguns anos poderíamos saber se Botsuana alcançou o seu caminho para o sucesso.

- De uma coisa tenho certeza. À volta as origens tende a ser uma realidade. Este é o verdadeiro escotismo de BP. Não podemos conceber o escotismo autêntico onde o método, a mística e o programa são desvirtuados. Se os novos conceitos dos dirigentes que mudaram achando que era o caminho certo, deveriam também ter alterado o nome de Movimento Escoteiro para qualquer outro.

- Saí de Botsuana tranqüilo. Tenho certeza que irão acertar. Não basta uma liderança firme sem uma participação uniforme de todos interessados. Agora fico na expectativa de que a mudança irá atingir o objetivo.

- Wahnisi me garantiu que mensalmente me mandaria relatórios. Não quero isto, quero somente que me conte o andamento das mudanças. Alterações que ao correr do tempo mostrarão se eu estou certo ou errado no meu modo de pensar. Ontem mesmo ele me ligou. Perguntou quanto seria meus honorários. Ri a valer. Honorários meu amigo? Afinal vocês me proporcionaram uma volta minha as origens e esta é a maior recompensa.

O “Velho” me olhou, olhou a Vovó, se espreguiçou na poltrona e fingindo dormitar deu por encerrado a conversa. Levantei, agradeci a Vovó pelo lanche e na escada vi o “Velho” me acompanhando até o portão de madeira, caiado de branco e se despedindo.

“O Velho” mudou. E se mudou. Parecia ter rejuvenescido 10 anos. Acho que isto é o que vale no “Espírito Escoteiro”. Quando você ajuda, colabora e vê que as recompensas são fatos marcantes para o sucesso, tem em si próprio a confiança de um futuro melhor para você e para todos.

Quando BP fez seu primeiro acampamento experimental em 1907 na Ilha de Brownsea na Inglaterra, escolheu jovens acima de 11 anos. Agrupados em patrulhas de 6 a 8 e sob a liderança de um deles, fez uma revolução no processo educacional. Ainda não vi e não conheço um processo melhor do que o do Escotismo. Acho que mudanças são válidas mas sem interferir no método e no programa que tão bem foi idealizado pelo fundador.

Vamos aguardar notícias de Botsuana. Quem sabe teremos uma bombástica resposta para aqueles que sonham em ter um escotismo forte, unido, dentro dos padrões escoteiros, com crescimento quantitativo e qualitativo tão esperado por todos os Botsuaneses?

                                                    O PATA TENRA

Já viste por acaso a luz das madrugadas,
Uns veleiros azuis singrando mar afora?
Ou em marcha, a cantar patriótica toada,
Um Grupo que na serra alcantilada
Em plena mata acampa e uma bandeira arvora?

Desta flotilha azul quem são os marinheiros
Que se animam a escalar das serranias as alturas,
Contemplais que vereis, são jovens escoteiros
Entusiastas joviais briosos brasileiros
Que lá vão brincar ao léu de uma aventura.

E se você amigo patrício, pensais como eu,
vem sem demora, trazer vosso concurso a nobre instituição,
E um dia quando ouvirdes, Ra-ta-plã lá fora,
Também direis, eu sou escoteiro agora
E dos Jovens do Brasil tereis a gratidão.

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