Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

sábado, 3 de dezembro de 2011

ROTATIVIDADE (EVASÃO) - Fasc. 09


ROTATIVIDADE (EVASÃO)  fasc.09

Nos momentos difíceis, um sorriso nos 99% das dificuldades. Sedes constantes: - Muitos fracassam pôr falta de vontade, paciência e perseverança. Não me distingui em nada, mas provei muitas coisas que me permitiram gostar das alegrias que o mundo oferece.
Nunca pensaram que a vida de um homem adulto de 70 anos é feita de 291 mil horas de vigília?
A maioria das pessoas dorme 8 horas quanto bastam 7 horas. Quem dorme 7 horas, ganha na vida três anos!                                              BADEN POWELL

“A TODOS AQUELES QUE ALCANÇARAM O TITULO DE “LOBINHO CRUZEIRO DO SUL, LIS DE OURO , ESCOTEIRO DA PÁTRIA E INSÍGNIA DE BP”

     Certo dia de um mês de novembro, o pôr do sol de uma tarde quente ia se escondendo atrás das montanhas, e a pedido da esposa de um dos Escotistas do Grupo, me dirigia ao Campo Escola, para levar um recado e algumas bugigangas a um cursante. Estava sendo aplicado o Curso da Insígnia da Madeira, ramo Sênior, parte de campo, e nada mais agradável do que poder observar a movimentação dos alunos, alem  de poder tirar uma “casquinha” no meu aprendizado, apesar do curto espaço de tempo que estaria ali presente.
     Sentindo-me um intrometido mas com a mente aguçada, me vi sentado em um banco ao lado da porta da sala  da equipe dirigente  pois os alunos estavam em sessão e enquanto aguardava um intervalo me foi muito gratificante tirar uma de “mudo” e ouvir os “Grandes chefes” comentarem o desenrolar do curso dentro da sala e que infelizmente dava para ouvir perfeitamente.
     Ali estavam o Diretor do Curso, um jovem DCIM, um casal de adestradores, ele DCB e ela DCIM, ambos meus conhecidos de cursos anteriores. Também ao lado estava outro membro da equipe, fazendo anotações e cartazes e acabava de chegar um antigo membro da Equipe, muito conhecido pela experiência e conhecimento mas que já não participava mais de cursos (uma pena), preterido que fora pôr outros, conforme desejo dos novos dirigentes regionais.
De temas diversos e outros mais complexos, discutiam entre si as diversas opiniões Agora comentavam sobre a dúvida de quem deveria se dirigir ao Dirigente da Cerimônia da Bandeira, quando do arreamento ou asteamento da Bandeira. Isto porque parece, tinha sido motivo de comentários pôr parte dos alunos. Ouvi cada um dos membros dirigentes dar sua opinião, baseado em “ficha Técnica” e interpretações pessoais.
     A seguir discutiu-se sobre a imaturidade de um aluno participante e de outro, mais maduro, mas com apenas dois anos de movimento. Foi também perguntado ao diretor que manual ele estava utilizando e respondeu ter feito um “condensado” de diversos outros manuais e de sua experiência anterior (conforme fiquei sabendo, foi um excelente chefe de Alcatéia e nunca dirigiu tropa Sênior).
     Também foi comentado da melhoria que estava sendo efetuada nos manuais, visando atingir melhor o adestramento do Escotista.
     O Ex. membro da equipe que pouco comentava e só ouvia, em dado momento falou : - “Sabiam que no ano anterior pouco mais de 65 mil membros foram registrados na UEB e há 30 anos, tínhamos mais de 70 mil? Claro que não eram todos registrados,  e olhe que há alguns anos surgiu a co-educação o que deveria ter elevado o efetivo e não diminuído! -  Todos olharam para ele e num gesto simpático balançaram a cabeça, sorriram e voltaram em seguida a conversar entre si, sobre o novo adestramento, os alunos, as unidades didáticas, as novas técnicas de ensino etc.etc.etc.
     Não era essa a preocupação no momento. Olhei para o meu relógio e vi que já passavam das 23 horas e tinha que ir embora. Na saída notei que um dirigente ainda dirigia uma sessão do curso em horário avançado e alguns cochilavam sem prestar muita atenção.
     Naquele domingo, tinha sido convidado pela Vovó a comer uma “canjiquinha” com costelinhas de porco, um prato típico do interior de um estado brasileiro. Lá encontrei a filha do "Velho". Jovem ainda, estava separada do marido desde o inicio do ano. Ainda me lembrava dele, um jovem assistente da tropa de escoteiros e assim como apareceu no Grupo também desapareceu sem deixar rastros. Serviu de lição para nós na admissão de adultos.
     A separação foi brusca, pois ele deixou dois filhos para ela cuidar. Ela muito bonita, tinha puxado a mãe, e ainda mostrava dotes de uma mulher que sabia enfrentar a situação sem descuidar da aparência e responsabilidade. Seus dois filhos um com nove outro com 11 anos era o “xodó” do "Velho". Quando eles apareciam (e era sempre) ele se transformava. Amava aqueles netos como se fosse a única coisa neste mundo.   Brincava, rolava no chão, fazia tudo que eles pediam mesmo sem ter condições físicas para acompanhá-los.
     Após o almoço, regado a uma “cerveja no ponto” (o "Velho" não bebia), e após um agradável bate papo, me retirei e fui para a sala grande, no intuito de ouvir alguns “clássicos” do "Velho", uma de suas distrações favoritas, acompanhadas como sempre do seu amigo inseparável, sua majestade o “Cachimbo”.
     Sozinho na sala, escolhi ao acaso e me dei conta que “Wendell” fora um dos grandes de sua época. No meu banquinho predileto, encostado à parede, fui absorvido pela suave melodia. Uma calma preguiçosa daquela tarde ensolarada inebriava o meu pensamento e em sonhos utópicos, quase “adormecido”, fui acordado bruscamente pôr um “pigarro”  do "Velho". Abri os olhos, sorri para ele, aspirei a contra gosto o aroma açucarado que “infestava” a sala grande e sem pensar, despachei uma pergunta a queima roupa:
     - Porque aceitamos adultos que nos procuram, oferecendo ajuda e não investigamos profundamente suas qualidades, formação de caráter, já que somos um movimento de educação e formação de jovens? Porque aceitamos os jovens sem uma obrigação natural que implique na participação dos pais? - Porque quando há o interesse de algum adulto o admitimos de imediato sem primeiro saber de suas potencialidades de educador e logo após temos uma pressa de inscrevê-los no primeiro curso sem saber se estão preparados para tal? - Quantos deles se conscientizaram de sua missão de Escotista e é claro, procuraram ler no mínimo os três livros básicos do fundador? - Quantos estão aplicando corretamente o método Escoteiro e até outros que criam situações absurdas nas sessões prejudicando sensivelmente a progressividade  no crescimento?
 - Olhe "Velho", ouvir o ponto de vista do jovem, analisar erros, usar o Sistema de Patrulhas, Corte de Honra, trabalhar individualmente e inclusive ver que o Conselho de Chefes e de Grupo funciona, isto eu vejo diariamente na minha labuta escoteira, mas não vejo na maioria dos outros Grupos. O que fazer?
     - O "Velho" suspirou fundo, deu uma grande “baforada” em seu cachimbo, me olhou de cima em baixo como se eu fosse um “ET”, e disse:
     - Que calhamaço! - Levaria um ano para responder a todas às suas perguntas, - sorrindo de leve , continuou - : Mas vamos lá, vou resumir apesar de que tudo que você falou é a essência do sucesso no Movimento Escoteiro. Se isto fosse bem feito, hoje não seriamos uma movimento de poucos. Em síntese isto é  a “pressa do resultado”!
     - Não entendi! - falei.  Muito simples, ele retrucou. - Nesses casos o Grupo Escoteiro pôr não ter uma  estrutura adequada,  procura uma solução em curto prazo sem pensar que em longo prazo irá falhar.           - Veja bem, a vinda de um pai ou adulto novo ao movimento, nem sempre é feita dos cuidados que outras organizações sempre se preocuparam em ter. A falta de adultos faz com que aceitemos qualquer um, dando a eles responsabilidades e alguns pôr não terem formação dentro dos princípios mínimos exigidos para educador, logo que fazem a Promessa já se consideram dirigentes e prontos a assumir responsabilidades, o que nem sempre é real. Eles motivados pelos demais, passam a adotar a postura do Chefe Escoteiro e não estão é claro preparados para isto.
- Dificilmente existem nos Grupos, Distritos, Regiões e na própria Direção Nacional, algum órgão ou pessoa encarregada de investigar e olhe que qualquer organização que se preza, principalmente se tem em sua maioria jovens a primeira coisa que deve ser feita é uma  investigação completa antes de convidar ou aceitar.Tudo seria mais fácil e simples se fosse feito corretamente.
     - O "Velho" pigarreou, olhou pela janela o pôr do sol, e sem olhar para mim, continuou:
     - Todos nós sentimos que a falta de um bom Profissional e estou falando de um adulto pago, seja em qualquer nível poderia ajudar muito, já que o elo fraterno pôr parte dos voluntários que atuam diretamente nas tropas, unem-se aos pais tentando o melhor para seus filhos e dificilmente recusam ajuda, que vem de forma simples e sincera. O profissional não. Ele iria fazer o seu trabalho, dentro de normas preestabelecidas e evitaria com isso a admissão de bons intencionados que resolveria em parte muitos dos problemas que estamos vendo hoje.
     - Continuou o "Velho" : - Vamos considerar de uma maneira genérica. Nossa literatura é vasta e bem razoável. Poucos são os que tem uma boa biblioteca escoteira dentro de casa. Nossos Cursos de Adestramento não atingem o ponto ideal a que se propõe porque deveriam ser completados dentro dos grupos, reuniões e outros tipos de aprendizados tais como Cursos paralelos, estágios e tutores dentro da organização a que ele pertence. A diretoria é responsável mas esta também nem sempre tem participação ativa, o que leva aos Escotistas a definição e aceitação final.
     - Vamos considerar também que o nível cultural muitas vezes não é dos melhores, apesar da exigência de níveis superiores para determinadas funções, mas que infelizmente não  são observadas. Claro, pode haver exceções, pois uma infinidade de bons Escotistas não preenchem esses quesitos e atuam de maneira bem  satisfatória.
     - Poderia finalizar que se tivéssemos nas bases boas estruturas, com pessoal especializado, talvez sanássemos parte dos erros que estão acontecendo. Alguns vão criando situações paralelas, muitas vezes de confronto, (sem generalizar)  e dentro de uma rotatividade alarmante encontram caminho para ir mudando tudo a sua frente.
     - Os antigos se afastam desiludidos e é sempre muito fácil subir a hierarquia escoteira, já que nossa política é feita de  obediência e disciplina que encanta a muitos que não tiveram a oportunidade de “comandar” em suas vidas ou em suas áreas profissionais e a sede de poder é ali satisfeita sem contestação.
     - Uma organização não é consciente e nem viva. Seu valor é instrumental e derivado. Não é boa em si, é boa apenas na medida em que promove o bem estar dos indivíduos que são partes do todo. 
     - “Velho”- retruquei, - Você critica muito, mas faz pouco! - Porque não arregaça as mangas e parte para a luta?
     - Ele respondeu - : Difícil, muito difícil. Para mim é fácil levar em conta o ponto de vista do rapaz, aplicar o “Sistema de Patrulhas” conhecer  bem a Côrte de Honra e escolher com cuidado aqueles que vão colaborar mostrando que somos um movimento sério. Mas isto não é aceito facilmente pôr outros. Uma das poucas fiscalizações que tínhamos, o Distrito, foi extinto. Hoje, as Direções Regionais são as responsáveis e qualquer um sabe que elas não tem condições de fiscalização. Agora, existem aqueles que pensam de outra maneira e acham que estão aplicando o método corretamente e estes estão em todos os níveis.  Você os encontra nas  lideranças regionais e nacionais e com a estrutura que temos, nada podemos fazer.
     - Não vêem que o movimento perde a cada dia. Não vêem porque não querem ver! - Acreditam e lutam pôr seus ideais pensando que estão fazendo o certo. Em longo prazo tudo continua como antes, mas eles acham que contribuíram em muito para o desenvolvimento do Escotismo. De certa forma, até posso concordar que sim.
- Só uma mudança radical sem radicalizar as bases, poderia salvar o nosso movimento, e olhe, só para dar um idéia é só ver quanto somos e quanto fomos. Todos sabem da evasão mas ela não é uma prioridade. Claro, dizem que sim que se preocupam e quando há um aumento do efetivo, alardeiam aos quatros ventos. Mas como não foi plantado para o futuro, as sementes não dão frutos pois logo aparecem novas lideranças e tudo volta a funcionar como antes.
- Veja você. Nos Grupos todos se preocupam em ser grandes, os melhores, e todos sabem que a melhor tropa é aquela que começou com uma patrulha, adestrada e crescendo paulatinamente com os pés no chão . Isso se aplica a todos os órgãos. Não é difícil fazer o certo. Melhorando a liderança temos condições de melhorar o efetivo sem prejudicar a qualidade. Deu para entender?
     - Fungou, respirou fundo e terminou. Não era a resposta que eu queria, mas o  “Velho" se fechou , apagou o cachimbo e passou a brincar com  seus netos na sala grande, esquecendo minha presença.
     - Ele, astutamente como se atraísse meus pensamentos, falou para os  netos:
     - Meus netinhos, porque vocês ainda não decidiram participar do escotismo, olhe que ser lobinho e Escoteiro é um barato!
     - Vovô, aquilo não tá com  nada. Jogar bola, ficar no meio das meninas e ser tratado com nenenzinho não vale a pena - retrucou o menor. O mais velho também deu sua opinião: - Até que se eu fosse parte da patrulha, mesmo com aquela moleza toda, e se pudesse  acampar como nas historias que o Vovô conta e viver a vida de um herói da selva, quem sabe eu voltaria (ficou seis meses na tropa).
     - Voltei aos encantos de “Wendell”. Os sons eram compartilhados com o "Velho" que observava seus netos de soslaio na brincadeira inventada pôr eles. A musica traz uma paz de espírito inigualável. Embalado em meus sonhos, misturei o doce prazer de ouvir aquela sinfonia, com o aroma “adocicado” do cachimbo do “Velho”.
                                           O...PATA...TENRA...

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