Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A CORTE DE HONRA - Fasc. 16 e 17

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    A CORTE DE HONRA  fasc. 16

“ Uma organização não é consciente nem viva. Seu valor é instrumental e derivado. Não é boa em si; É boa apenas na medida em que promoveu o bem dos indivíduos que são partes do todo. Dar primazia às organizações sobre às pessoas é subordinar os fins aos meios.
Tudo estaria a salvo se toda a população fosse capaz de ler e se permitisse que toda espécie de opiniões fosse dirigida aos homens, pela palavra ou pela escrita, e se pelo voto, os homens pudessem eleger um legislativo que representasse às opiniões que tivessem adotado!.
                                            ALDOUS HUXLER

AOS MONITORES, POR SEREM PRÁTICOS E SINCEROS NAS SUAS PALAVRAS E AÇÕES!

Capitulo I

     O Verde completava as diversas cores diante dos olhos e ofuscava a quem vivia na cidade de pedra. Era como se fossemos transportados do nada para um paraíso, já que  não fazíamos  parte da coreografia estática, mas que se movimentava em plena natureza com a brisa gostosa de um final de janeiro e dava um sabor todo especial aquele bosque e a  floresta que se avistava ao longe.
     Sempre que ali comparecia me transformava. Quando sonhava que meu espírito vagava a procura de um éden feito de jardins e flores  era ali que  sentia os meus sonhos realizados. Claro, nem tudo era um Jardim de primavera, mas o local, o aroma da mata, a brisa e o silencio reinante dentro daquela cidade de pedra, fazia a qualquer mortal se sentir realizado.
     Eu gostava de visitar e mesmo participar de Cursos de Adestramento no Campo Escola. Pelo menos ainda se mantinha viva a natureza, que era preservada, apesar de algumas construções de pedra e tijolos destoarem do local. Mas eram necessárias.
     Tudo ali tinha o sabor doce e suave da elevação do espírito no mais alto grau que ele pudesse alcançar naquele momento mágico. O elemento principal na alteração de mentalidades controvertidas era ali um bálsamo para o espírito e só aqueles sem fé e sem idealismo é que não aproveitavam o momento e o local, para absorver toda a magnitude do Escotismo. Os adultos que procuravam aprender, encontravam a verdadeira felicidade de pertencer a Grande Fraternidade Escoteira.
     Tinha convencido o "Velho" a ir comigo, buscar um jovem Escotista que estava num curso de Adestramento no Campo Escola e ele em principio relutou mas concordou. Ele também como eu, gostava do local e quem sabe, encontraria alguns velhos amigos para uma conversa amena.
     Chegamos cedo e o Curso ainda não havia encerrado. Estava atrasado em “algumas horas” (!). Um dos membros da equipe veio ao nosso encontro, e saudou o "Velho"  convidando-o a conhecer os demais na Sala da equipe. Ao passar pelos alunos cursante, sem chamar a atenção, o "Velho"  perguntou se podia ficar ali alguns instantes, ouvindo  o que era transmitido a todos pôr um DCIM, bem relacionado como Adestrador. O amigo concordou e sentado em um banco de madeira, um pouco afastado, ele se sentiu em casa. Logo, outros membros da equipe se juntaram a ele, mas sem algazarra ou troca de confidencias.
     O tema era deveras interessante. a Côrte de Honra. A sessão devia ter começado há pouco tempo e o Adestrador tentava a sua maneira, explicar como funciona e como deve ser a participação dos Monitores. Tentava mostrar que ela não era uma Reunião de Monitores e nem parecida com a reunião de Patrulha.
     - A Côrte de Honra, - dizia - é um órgão que se reúne ordinariamente ou extraordinariamente quando se faz necessário. Não vou entrar em detalhes sobre datas, participantes ou mesmo responsabilidades. Isto vocês poderão ver na literatura especifica.
     - Ela existe para dar uma dimensão da democracia, direitos e deveres do cidadão, responsabilidade e julgar de maneira clara temas que poderão ser do interesse da Tropa ou mesmo, quando a tropa se sentir prejudicada. Cada um deve mentalizar que uma Côrte existe para tomar decisões sabiamente. Isto para o jovem irá servir como exemplo em  sua  vida  de adulto.
     A palestra continuou na parte mais objetiva da Côrte de Honra. Durante uns dez minutos, foi explicado suas finalidades, duração, atuação do Chefe  entre outros assuntos específicos daquele órgão.
     Foi uma palestra interessante, e ao seu final, o "Velho"  fez questão de ir cumprimentar o DCIM, apesar dos dois não terem um relacionamento formal, pois praticamente não se conheciam.
     No retorno, não conversamos sobre o assunto. Isto poderia influir no jovem Escotista que estava conosco e havia participado do curso.
     Quando o levei até sua residência, também ele nada comentou. Como estava com pressa, deixei para outra ocasião e quem sabe, o "Velho"  poderia complementar o que para mim era obvio , pois participava sempre da Côrte de Honra da tropa em que colaborava e achava que não tinha nenhuma dúvida sobre ela.
     Em um dia de reunião de Tropa, eu estava na sala da chefia, tentando rascunhar um programa fornecido pelas monitoras, de uma atividade noturna,  a pedido de uma das Escotistas que devido a falta de tempo me confiou a burocrática tarefa.
     Eis que ouvi conversas na sala ao lado, e notei que três monitoras, acompanhadas de suas sub-monitoras e duas chefes, estavam em reunião de Côrte de Honra,  e que pelo visto, deveria ser extraordinária.
     Me senti deslocado, mas a minha saída iria prejudicar o andamento e a curiosidade me fez continuar onde estava.
     A informalidade das moças mostravam que ali, a Côrte teria um final previsível. Pela maneira como a Presidente conduzia, era notório que os assuntos tinham sido discutido em Patrulhas e às decisões seriam acatadas de maneira satisfatória.
     Um deles porém, levou mais tempo do que o necessário e somente naquele caso houve intervenção da chefia. Algumas  monitoras solicitaram que fosse aprovado a participação dos monitores da Tropa masculina na atividade noturna do próximo sábado. Uma das monitoras se mostrou contra assim como outras duas sub-monitoras. Cada uma apresentou sua versão e mesmo assim, houve um empate técnico. Durante todo o tempo às chefes não falaram.
     A presidente pediu a opinião das chefes e elas foram  contrárias. Sem desmerecer a idéia, ela comentou do interesse de uma das monitoras em namorar um dos monitores e isto foi que forçou a aceitação da maioria. Como era uma atividade específica da Tropa feminina, não haveria como aceitar a participação dos monitores pois não havia nenhuma finalidade que pudesse explicar tal solicitação. Afinal, o que eles poderiam colaborar num programa já feito, somente para moças? - Claro que teriam a participação de elementos masculinos, mas isto para segurança e que tinha sido determinado pelo Chefe do Grupo. Iriam dois pais e um Assistente Sênior. Aumentar para os jovens  seria um contra-senso.
     Não ouve unanimidade, mas nesta hora prevaleceu  a palavra da Chefe. Foi servido um suco com biscoitos, conversaram mais um pouco e a reunião foi encerrada com a assinatura de todos os presentes, isto é claro, após ter sido lida a ata e aprovada, para satisfação da escriba da Côrte de Honra.
     Terminei minha tarefa, e após entregá-lo a Chefe, fui embora para casa, pensando nas vantagens da Côrte de Honra e de sua validade no Adestramento como forma de cidadania.
                                                               O...PATA...TENRA...


CORTE DE HONRA  fasc. 17      

A historia é o fato de quebrar a linha entre
  o exemplo e a esperança. Nunca no meio certo para
  provar que não existe semelhança numa comparação.
  Escrevê-la, mesmo em forma de romance, é juntar os
  pedaços como ponteiros.
  Mas a escolha do tamanho depende da ideologia.                        
                     JOÃO FELICIO DOS SANTOS

AO ESCOTISTA QUE SABE ACEITAR E COMPREENDER O VALOR DA CÔRTE DE HONRA.                               

FINAL


- No mínimo, você quer que eu aprove e aceite normalmente o fato. Posso até compreender, mas isto não significa que dou o aval e assino em baixo - falou o "Velho".
     - Não seria bem assim - falei -  a razão e a necessidade fala mais alto. Se o jovem mostra-se sem condições e está totalmente fora da realidade Escoteira, inclusive desafiando os monitores e dando mau exemplo, nada mais lógico do que aceitar às ponderações da Côrte de Honra em excluí-lo do Grupo Escoteiro.
     Estávamos comentando o fato de um Grupo amigo, onde a Tropa Escoteira passava pôr algumas dificuldades,  a Côrte de Honra tinha tomado a decisão de excluir um Escoteiro, que pelo seu passado tinha alcançado a Segunda Classe e fora até certo período um modelo para os demais. Ninguém sabe o porque, começou a desafiar o seu Monitor, desmerecendo os demais na Patrulha e agindo na escola e em casa de uma maneira totalmente fora do que se espera de um Escoteiro.
     - Veja bem - falou o " Velho"  - Existe todo um histórico para ser analisado. Posso até dizer que a Côrte de Honra tem também essa finalidade mas nunca como ato julgado e decidido. O  Chefe da Tropa errou em aceitar esta decisão, sem primeiro tentar ver o que estava acontecendo. Você me diz que ele visitou os pais, conversou com a sua professora e não achou um motivo lógico para esta mudança tão radical. Mas entre nós, ela existe. Mesmo que fosse outro caso, onde não houvesse um passado para ser analisado, a exclusão é uma medida extrema e só deve ser tomada após exaustivas tentativas de readaptação, feitas pela chefia. Se ele o jovem não estivesse mais participando, até que um atitude de exclusão poderia ser tomada. Mas não. Ele está indo as reuniões e isso deve ter um significado.
     -  Não podemos confundir a confiança que depositamos nos membros da Côrte de Honra em decisões que influem diretamente na formação de um jovem. Isto pode ser um começo para um  futuro incerto, que em vez de ajudar pode até prejudicar uma vida.
     - É claro que a Côrte de Honra tem toda a autonomia para tomar decisões. Mas o Escotista responsável é quem dá a última palavra. Deve esclarecer e preparar seus membros dentro de padrões toleráveis em uma Côrte. Não é ali, na hora da decisão que isto deve ser feito. No entanto o bom senso indica que os temas a serem apresentados, não podem alterar a ordem da pauta previamente preparada pelo Presidente da Côrte, ou seja o Monitor mais antigo ou em caso de empate, pôr eleição. O Chefe deve estar a par do que vai ser discutido para evitar decisões que impliquem no seu veto.
     - A Côrte é autônoma para tomar decisões que impliquem nos destinos da tropa, mas não pode decidir quando o assunto envolve os destinos de um jovem.
     Nosso programa é um só e isto deve ser esclarecido. Antes de tomar qualquer decisão é necessário informar se existe Normas ou Regulamentos que possam ser infligidos. Muitas vezes às decisões são difíceis mas devem ser tomadas. O que cabia a Côrte de Honra era mostrar ao Chefe os fatos, e a insatisfação de todos.
     -  Competia ao Chefe tomar esta decisão junto ao Chefe do Grupo e este de comum acordo com Conselho de Chefes dariam o parecer final.
     - A Côrte de Honra é o reflexo do Adestramento dos monitores. Se ele é bom, ela funciona bem e vice versa. Na  tropa temos três órgãos que devem funcionar em sintonia: - O Conselho da Patrulha, o Conselho dos Monitores e a Côrte de Honra. Muitas vezes o Conselho de Patrulha resolve e não existe a necessidade de levar o assunto ao órgão superior, no caso o Conselho de Monitores ou a Côrte de Honra.
     - No Conselho de Patrulha, todos os jovens participam, discutem, se adestram, mostram suas necessidades, e tudo isto deve ficar anotado em Ata pelo Escriba em livro próprio.
 Ali assuntos que dizem respeito a toda a tropa, são levados pelos monitores ao Conselho deles, que decidem se o assunto vai ou não ser tratado na Côrte de Honra. Claro que no Conselho de Monitores, o Chefe é o Monitor dos demais e quando este conselho está reunido, tem como mais de 80% de sua finalidade o adestramento. Pode-se no entanto orientar  numa situação crítica.
     - A partir do momento que ele vai a Côrte de Honra,  muda-se de figura.  Se ele não está a par do que vai ser discutido é obrigado a tomar decisões de última hora, até contrarias das aprovada pela Côrte. Os Monitores  podem sentir que são mero instrumento para discussões mas não tem autonomia para tomada de  decisões.       
     - O intuito da Côrte é de dar aos jovens um exemplo como funciona um regime democrático. Eles tem que aprender que temos direitos e deveres e em toda democracia existem salvaguardas para isso.  Desde o Conselho de Patrulha  até o mais alto escalão deve ser este o nosso objetivo. Todos devem compreender e saber que também o Grupo Escoteiro possui seus órgãos onde são expostos todo o tipo de problema, e as soluções se baseiam nas Normas e Regulamentos do Escotismo.
     Meu horário com o velho já estava avançado. Mesmo assim resolvi interpelá-lo pois a visão da Côrte estava um pouco distorcida com o que ele dizia.
     - Muitas vezes temos que aceitar a palavra e às decisões dos monitores, - falei - Mesmo que ela vá ao contrário da nossa maneira de interpretação. Participei de varias Cortes e em nenhuma delas foi tomada decisões que pudessem implicar em erros prejudiciais a própria tropa.
     - Claro - falou o "Velho". Você conhece os jovens tanto como eu ( queria ser simpático o que não era o seu forte). Na maioria dos casos eles nunca são radicais como nós.
     - Se você lembrar-se do membro da equipe no curso em que estivemos como ouvintes, ele foi bem claro nas suas explanações. Seu único erro foi não ter dividido o tempo entre a palestra e a Dinâmica propriamente. Muitos dos alunos ali presentes foram monitores e passaram pôr esta experiência.
     - Se ele tivesse ouvido o que tinham a dizer, tenho certeza que para os demais a Côrte de Honra seria agora mais clara no sentido de aprendizado e aplicação.
     - E vou  ser sincero com você, como o horário está avançado eu estou com sono, assim dou pôr encerrada mais esta sessão da Côrte, que Infelizmente não será lida e aprovada pôr todos, porque não existe aqui um bom escriba!.
     O "Velho"  me mandou embora educadamente. Ele estava certo. Até a Vovó já havia se recolhido. Haveriam outras noites outras conversas, outros “papos”.
     Algumas teria que agüentar às agruras de sua velhice, mas em outras tenho certeza, meu conhecimento do Escotismo seria enriquecido , pois aquele "Velho"  tinha tudo para me orientar no que eu não encontrava na literatura Escoteira. 
                                              O...PATA..TENRA...

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