Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

sábado, 3 de dezembro de 2011

CONDECORAÇÕES, DISTINTIVOS E... Fasc. 47


CONDECORAÇÕES, DISTINTIVOS E...  Fasc. 47
Sessenta anos atrás eu sabia tudo, hoje sei que nada sei. A educação é o descobrimento progressivo da nossa ignorância.
Willian James Durante
O grande homem é aquele que não perdeu a candura de sua infância.
Provérbio chinês
Aqueles que fazem o pior uso do seu tempo são os primeiros a reclamar de que o tempo é curto.
Jean De La Bruyere
PARA AQUELES QUE ACREDITAM QUE VAMOS CRESCER EM QUALIDADE E EM QUANTIDADE

Não duvidava nem tinha argumentos para tentar mudar alguma coisa. O que o ‘Velho’ dizia não tinha contestação.
A vida é cheia de altos e baixos, e o que estava vendo não me agradava. Pensava em como mudar aquilo, mas não sabia como.
Lembro que fiz um curso/treinamento em minha empresa (sistema de organização e métodos) o que me fez ficar muito metódico, cheio de melindres para executar qualquer tarefa.
Uma vez estava fazendo uma excursão noturna, com a tropa sênior e as guias em conjunto. Tudo foi muito bem planejado, pois éramos mais de quatro adultos presentes, 16 seniores e oito guias. Era uma jornada e tanto e junto à chefia e os monitores, colaborei para fazer um planejamento, digno de uma grande jornada, ou melhor, dizendo, talvez digno para minha seção na empresa.
Nada deu certo. Os horários furaram. O plano teve que ser modificado. Choveu a noite e não havia locais de abrigo. Um pai já idoso ficou revoltado (não explicaram para ele que seria 35 k a pé)
Aí pensei, de que serviu meu curso, mas depois pensei muito e cheguei à conclusão que o que vale é a aventura e nisto ouço até hoje por parte dos seniores e guias, as historias contadas, os sorrisos, as alegrias, e tenho certeza que aquela atividade ficou marcada no coração de todos.
Era sexta feira, uma tarde fria de junho, tinha feito uma jornada no trabalho de 06 as 14 hs na empresa e estava em casa só, sem nada para fazer. Minha esposa só chegaria após as 19 hs. Nada melhor que um papo com o “Velho” e quem sabe, saborear um chocolate quente com biscoitos e uma bela sinfonia, harmoniosamente tocada para o meu deleite e do “Velho” que adorava por na sua vitrola já gasta com o tempo.
Cheguei cedo. A porta estava aberta, e o “Velho” estava cochilando na poltrona de vime e seu ronco era como se fosse motores de avião na hora de levantar vôo. Não disse nada, sentei no meu banquinho de três pés, e ali fiquei. Sem perceber, fechei os olhos, pensando como devia ter sido a infância do “Velho” como lobinho, escoteiro, sênior e pioneiro. Naquele tempo, não sei se ele fez um melhor escotismo que os jovens hoje fazem. Sem fazer barulho a Vovó entrou, sorriu e já ia saindo quando um pigarro do “Velho” me acordou dos meus pensamentos. Cumprimentei a Vovó e o “Velho” que não respondeu.
O que faz aqui tão cedo? – me perguntou – Sorri. Era seu jeito. Mandaram-lhe embora? Afinal você só fica fazendo escotismo e se esquece da esposa e do trabalho. Nem filho tem, que diabo de chefe é você?
Não respondi. Não adiantava. O velho sabia por que ainda não tínhamos filhos e que eu trabalhava em turnos alternados, quando a participar do escotismo, ele tinha razão. Eu tinha que me patrulhar mais. Ele vivia dizendo que o Escotismo é um Movimento de fim de semana e não semanal.
Eu andava preocupado com um tema que me chamava muito à atenção. Verificava que na maioria dos Grupos Escoteiros, que não tinham uma organização burocrática e não sabiam como proceder para premiar os Escotistas do grupo, e até outros membros inclusive os jovens, estavam a “deriva” de como agir para que as providencias fossem tomadas junto ao órgão superior.
Isto fazia com que Escotistas com 7, 10, 15, 20 ou mais anos de movimento, não tivessem acesso a premiação que tinham direito, por uma condecoração que fosse de encontro a sua colaboração ao movimento. E olhe que daria de olhos fechados a muitos deles, um certificado qualquer de bons serviços, uma medalha, seja por tempo, seja pelo trabalho executado, seja por merecimento.
Claro, podiam e podem alegar que o POR é claro. E é mesmo. Mas e daí?
Era o assunto que ia levantar com o ‘Velho’. Já tinha uma idéia do que ele iria dizer. Ele gostava de falar dos nossos dirigentes de uma maneira peculiar, própria de sua experiência e que sei, os mesmos não gostavam, e ficavam sempre longe do “Velho” .
No ultimo Conselho Regional e Nacional (agora Congresso) vi com surpresa diversas condecorações escoteiras serem aprovadas por indicação de algum participante e entregues a seguir sem nenhum processo escrito e aprovado. Pensei comigo – Porque essa diferença, no Grupo que participava (O “Velho” não gostava que dissesse meu Grupo, Minha Tropa, Minha Patrulha, Meus monitores – dizia sempre que isto não tem preço e não somos donos de nada, ali somos meros colaboradores) –

É realmente um erro, dizia o “Velho”. Muitos ainda participam por amor ao movimento, mas no fundo ficam tristes por não receber nada e outros talvez até sem merecer recebendo muito. Talvez sua Comissão Executiva não saiba como agir, o Comissário do Distrito, o assistente de Condecorações, todos eles com uma parcela de culpa. E quando um grupo, que não tem domínio da burocracia não dá o primeiro passo, o Escotista ali fica sem jeito de abrir os olhos dos outros em proveito próprio. Lá está ele, dando tudo de si, e o que ganha é só o sorriso dos jovens numa atividade qualquer.

O pior não é só isto. Quando você manda um processo além da demora da resposta, muitas vezes a exigência ultrapassa o bom senso. Ele é devolvido, e solicitado a corrigir erros. O Grupo que viu seu Escotista crescer, ajudar, trabalhar enfim, tem que refazer e mandar de novo. E aí, quando por um milagre aprovam, vem a Região dizer que deve esperar uma atividade própria para entregá-la. Vi eu mesmo no passado, regiões que guardaram as condecorações esperando o dia próprio, e quando este aconteceu o Escotista já tinha saído do movimento. Ele tinha desistido. Porque não entregar ali, no seu Grupo? Afinal seus membros merecem esta solenidade mais que encontros nacionais. Todos no Grupo ficariam orgulhosos e muitos iriam se dedicar mais e que sabe, seriam os próximos da lista.

Agora, para melhorar tal situação não aparece nenhum membro nacional para fazer modificações. Ele o dirigente sabe como funciona e sabe também que todos ali na alta direção terão suas medalhas entregues muitas vezes sem merecimento. Se quiser, vamos visitar 10 Grupos Escoteiros, um em cada estado e veremos quantos dos Escotistas com mais de sete anos de atividade, tem sua condecoração que merece. Você conta a dedo quantos recebem por ano, claro leve em consideração quantos Escotistas temos e quantas são entregues. Você já viu alguma informação da Direção Nacional da entrega de condecorações a jovens? Por ato heróico, por trabalho comunitário, por ter se destacado nos estudos, por ser um escoteiro modelo? Claro que não, mas já viu figurões recebendo sua mais alta condecoração em um Conselho (me recuso a dizer Congresso – desvirtuaram as coisas belas que tínhamos no escotismo, amanhã vão mudar a Corte de Honra para Congresso de Honra. Conselho de Monitores para Congresso de Monitores e por ai vai.  Isto se não já mudaram). Isto está correto?

Depois dizem que somos um movimento democrático. Não sei. O pior é ver que Grupos Escoteiros estão mudando de rumo, passando para outras organizações, por causa daquele que mais parece um cego querendo dirigir outro cego para ambos caírem em um buraco! (é, o “Velho” não tem papa na língua, já conhecia seu estilo debochado).

Já comentei a burocracia em outras ocasiões. Acho que são necessárias estas, mas com um telefonema, uma conversa, tudo anda melhor. A UEB recebe anualmente os registros dos membros, será que ainda não fez uma pesquisa para ver quantos tem mais de sete anos? 10 anos, 15 anos? Seria tão difícil lembrar a Região? O Distrito? O Grupo? Isto não. É muito trabalho e eles vão dizer que não tem pessoal para isto.

 De repente o “Velho” levantou e saiu rápido da sala em direção a porta. Eis que sua filha chega, com os dois filhos, e aí eu sabia que nada mais ouviria. A algazarra dos netos era uma fonte de energia para o “Velho”.  Voltei aos pensamentos anteriores. Ele estava certo. (Só não via quem não queria ver). Eu tinha nove anos no movimento, recebi só um certificado distrital de bons serviços! Paciência! Quem sabe um dia vou receber o “Tapir de Prata”? . Claro, sabia que para isto teria de ser um dirigente regional ou nacional. Ser da Equipe de Treinamento (o “Velho” dizia adestramento e não mudava a maneira de pensar). E um participante ativo de Conselhos (congresso). Sem contar a..., melhor calar. O silencio traz uma paz interior, que nós os Escotistas temos, pois nossa abnegação, nossa lealdade, sempre está acima das coisas  importantes, mas quase sempre somos obrigados a considerar supérfluas.
Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível.

                                   São Francisco de Assis

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