Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

PIONEIROS - Fasc. 19 e 20


               PIONEIROS  fasc. 19

“ Agora estou imaginando melhor a pessoa que está lendo este livro. Ora, você não é a pessoa que eu queria que lesse o que escrevi! .
Você já tem interesse pelo seu futuro e só quer saber o “Caminho para o Sucesso“ . Minhas idéias portanto, irão se colocar sobre as outras que você tinha. Minhas idéias podem corrobar as suas ou talvez o desapontem. Em qualquer dos casos, espero que não se torne menos meu amigo.
Mas se já preparou para o futuro, não é a pessoa que realmente desejo como leitor deste livro !.
Desejo aquele que nunca pensou no futuro sozinho ou que nunca planejou o porvir.
Deve  haver uma enorme quantidade de rapazes em nossa Pátria que está sendo arrastado pelas más influências do seu ambiente porque nunca viu caminhos mais limpos. Esses rapazes não sabem que com um pequeno esforço pessoal podem elevar-se sobre o que os cerca e remar na sua rota para o sucesso“  .
                      BADEN POWELL

DE TODAS AS LIDERANÇAS O MESTRE PIONEIRO SE DESTACA. ELE É AQUELE QUE MERECE NOSSO RESPEITO, POIS ESTÁ ABRINDO CAMINHOS PARA O SUCESSO !

Capitulo I

     - “- Passei a corda pelas axilas, soltei a mão direita forçando todo o corpo para cima agarrado em uma pequena saliência. Consegui com muito sacrifício me firmar. O vento forte deixou de balançar o meu corpo como uma folha solta de uma arvore no alto daquela montanha”.
     - A medida que o “Velho“ falava, ele acompanhava em gestos suas historias quando  jovem e Pioneiro . Ele não largava o  cachimbo preso entre dentes e soltava cinzas em sua camisa marrom clara, caindo pelo chão. 
     - “ Tínhamos escalado mais de 300 metros. Éramos quatro, ou os três Mosqueteiros como nós mesmos nos chamávamos. Acredito que devia ser quase meio dia, pois o sol lançava ferozmente o calor e o brilho ofuscava a vista naquele parte da pedra lisa. Dali para frente não tínhamos condições de  continuar.  Enquanto a escalada é positiva tudo bem, negativa impossível.
     - Conseguimos chegar numa saliência de uns 2 metros quadrados, meio disforme e tínhamos a nossa frente uma vista maravilhosa o que compensava todo o sacrifício. O rio se destacava ao longe como se fosse uma enorme serpente e os raios do sol sobre as águas douravam aquela visão.
     - São atividades assim que marcam toda uma vida de aventuras no Movimento Escoteiro. O prazer da conquista inebriava todos nós. Infelizmente lembramos que precisávamos iniciar a descida, pois o sol no seu caminho para o oeste já estava se pondo. Após um breve intervalo iniciamos a descida e chegamos a uma conclusão ululante! - Não tínhamos condições para  descer!. Os mosqueteiros tinham conhecimento de escalada até a ponta do nariz!
     - O medo é claro tomou conta, a altura ajudou e a vista já não era mais como antes. Víamos a cidade, as pessoas do tamanho de formigas e achamos que só um milagre nos tiraria daquele aperto.
     - A noite chegou e com ela a brisa gostosa da tarde se transformou em frio. Não tínhamos levado material para dormir. O plano era chegar ao topo e voltar antes do pôr do sol. Embolamos uns aos outros e passamos uma noite péssima. Acho que ninguém dormiu a não ser um cochilo ou outro.
     - O amanhecer em outra situação seria esplêndido. No nosso caso os ossos acostumados com todo tipo de atividade pioneira, estavam em “pandarecos”. Mas para nossa sorte, ouvimos um barulho acima e avistamos a uns 30 metros alguns sertanejos e policiais com uma corda. Que sorte! - Um sermão, uma gozação de toda a cidade e pluf! - nossa escalada chegou ao fim.
     - Ouve outras aventuras. Isto  se pudermos chamar assim. Mas todas elas valeram. Outra marcante foi na foz do rio Negro com o Amazonas. As peripécias da viagem (sem dinheiro) e na base da carona pôr todo o nordeste foi inesquecível.
     - Eram outros tempos. Os detalhes seriam longos e portanto vou resumir para você. Um “caboclo” nos acompanhou rio acima nos transportando em sua canoa. Bom de papo, tipo humilde e quando “poitamos“ o barco pediu um adiantamento. Não entendemos pois achávamos que ele era bem camarada ao nos oferecer a carona. Nada disso disse. Falou no seu jeito mateiro que poderíamos ser da “Policia de Captura”, muito comum naquelas bandas e eles sempre pagam adiantado. Tentamos explicar que nossa atividade era outra e estávamos viajando para conhecer nossa terra. Falamos ainda que tivemos que trabalhar em uma chalana para chegar até ali e todos tinham nos ajudado. Que nada, ele nem quis saber. O  caboclo passou a mão no seu barco e para nosso desespero se foi nos deixando, sem eira e nem beira naquela parte da floresta.
     -  A volta foi outra aventura. pôr terra não dava. Passamos um dia e uma noite (tínhamos material completo de campo nas mochilas, alem de alimentação para quatro dias) até acharmos uma solução. No dia seguinte montamos uma jangada feita de “piteira” seca (graças a Deus tinha bastante e todos nós fôramos  Escoteiros 1a Classe e Seniores Eficiência dois). Descemos o rio até encontrar ajuda pois aquela área era razoavelmente habitada (ainda bem).
     Namoradas? - claro que tínhamos, mas elas vinham em segundo plano. Primeiro o Escotismo e fim de papo. Ouve outra atividade bem interessante. Há tempos sabíamos da “Cidade fantasma“ próxima ao Rio que acompanhava a estrada de ferro.
     - A História era antiga. Quando da construção da Ferrovia, devido ao ataque freqüente dos Índios Aimorés e da malária, que dizimava completamente a maioria dos trabalhadores, não havia peão que ficava muito tempo na Empresa encarregada da construção.
     - O Governo pressionado, pois queria a todo custo terminar a obra, ofereceu liberdade condicional aos presos na Capital e algumas grandes cidades, em troca do trabalho forçado para a Estrada de Ferro. Pelo contrato, após um ano de serviço, estariam livres.
     - A lenda contava que em uma determinada cidade, como muitas que apareciam com a ferrovia a maioria dos criminosos ali residiam.
     - O padre local sempre fora contra este tipo de coisa e era freqüentemente jurado de morte pelos bandidos. Durante uma procissão da Semana Santa junto a milhares de fieis, agarraram o “dito cujo“ e o enterraram em frente a Matriz só com o pescoço para fora. Dizem que suas últimas palavras foram que não ficaria pedra sobre pedra naquela cidade. A maldição parece que “emplacou“. Dai há alguns anos a cidade foi ficando deserta e praticamente não ficou uma viva alma. ( a Estrada de Ferro mudou de itinerário e a população acompanhou, fundando outra cidade) . 
     - Chegamos lá antes das 11 da manhã. Havia uma rua com calçamento de pedra e pequenas paredes  era o que restavam das casas que ali existiram.  Montamos barraca. Queríamos ouvir o famoso e “Celebre” grito do Padre que todos juravam ouvir após a meia noite. Era um desafio a nossa coragem. Não perguntamos e não pedimos orientação a ninguém. Ali eram os quatro mais experientes do Grupo. Não havia nada que não enfrentávamos de frente!.
     - A tarde corria solta. O sol se pôs no horizonte e se foi. A noite chegou brava e eu estava fazendo o meu “Celebre e histórico“ sopão. Ainda não eram 11 horas da noite.    O Grito foi ensurdecedor! - Gelei ! - Os “mosqueteiros“ correram para a cozinha.           Ficamos ali grudados uns aos outros. Era uma tremedeira geral. O Grito aumentava mais ainda quando o vento soprava mais forte. Caminhamos em direção ao Grito. Não preciso explicar como estávamos. Vinha da praça onde enterraram o padre, pensei.
     A filha do “velho“ chegou acompanhada da vovó e dos netos. Ele nem olhou mais para mim. Não adiantava tentar saber o final da historia.
     O “velho“ virava uma criança como os netos. Eu e minha esposa mantínhamos uma excelente amizade com a filha do “Velho” . Era uma grande mulher. Dizem que junto a um grande homem, sempre tem uma grande mulher. Naquele caso era diferente. O marido que se mandou era um patife. Mas isto é outra historia.
     ( continua no próximo capitulo).

“Enquanto escrevo estas linhas, está acampado no meu Jardim um exemplo vivo do que eu espero que seja o resultado desse livro numa escala crescente.
De todo o coração espero que isso aconteça. Ele é um vigoroso “PIONEIRO’ cerca de 18 anos de idade, portanto um camarada que está se adestrando para ser um homem adulto “.

Badem Powell


  PIONEIROS  fasc. 20

“Quando tudo vai mal e parece inclinado 
    A tornar-se pior e mais turvo a seguir,
   Não dê coices, nem grite e não fique afobado;
        Apenas basta sorrir.

           Quando alguém, a você, quer passar para traz
              E tomar mais que a parte que lhe competir,
                Seja firme, gentil e paciente rapaz:
                  Apenas basta sorrir.
             
                     Mas se um dia você ficar “cheio“ demais
                       (certas vezes você ficará abafado)
                           Não podendo sorrir, não se irrite jamais
                              Apenas fique calado “.
(OLE MARSTER-B.B.VALENTINE )Do livro CAMINHO PARA O SUCESSO DE BADEN POWELL

AOS EX-COMISSÁRIOS DE DISTRITOS, QUE LEVAVAM A SÉRIO SEUS PAPEIS DE ORIENTADORES.

FINAL

O Grupo estava discutindo a formação do Clã.  Era mais uma tentativa. Houveram outras, sem sucesso. O Conselho de Chefes aprovou com ressalvas. Havia falta de rapazes com experiência em outras sessões. Já fora discutido o convite a rapazes e moças que ainda não tinham participado do Movimento.
No meu ponto de vista, concordávamos em parte. Sempre se desvirtuava o verdadeiro sentido do pioneirismo. A co-educação no ramo era bem-vinda, mas nos poucos Indabas ou atividades fins não senti ali o “Espírito Escoteiro” sem generalizar é claro. Havia ressalvas, conhecíamos bons Clãs. Admitíamos que outros Grupos agissem de outra maneira. Não era o nosso caso.
- O “Velho” deixou raízes fortes, que dificilmente seriam alteradas. No entanto, não podíamos ficar sem o Clã. Ele fazia parte de qualquer Grupo para a continuidade da formação do jovem. - A rotatividade no ramo Sênior ainda era grande. Mas os poucos que ficavam “exigiam” o ramo,  já que nem todos queriam participar como Escotistas.
Uma outra motivação estava em curso. A nova Tropa de Guias e alguns seniores estavam atingindo os 17 e 18 anos. Um número satisfatório de ex-seniores também estavam interessados. Foi proposto ao Chefe do Grupo a criação do Clã.
Minha experiência era pequena com pioneiros. Fiz um Curso Básico e participei de dois eventos pioneiros. Em todos eles ainda não tinha uma opinião formada. Achava que os rapazes e moças que estavam participando ainda procuravam o seu “Caminho para o Sucesso”.
Não havia uma constante nos assuntos discutidos nos “mutirões“ salvo um ou outro pioneiro e poucos “Mestres“ que levavam a sério sua participação. Isto não desmerecia os demais. Só que pediam e discutiam temas totalmente fora de propósito na minha visão do Escotismo. Tentavam a todo custo criar e modificar normas. Não havia um encontro sem que novos pioneiros voltassem a temas já ultrapassados.
Conhecia uma dezena de Clãs e alguns podiam ser dados como exemplos. No entanto o resultado final ainda era uma “incógnita “ para mim. A participação de rapazes e moças era uma motivação para todos e isto influía na organização como um todo.
O Conselho de Chefes do Grupo há mais de quatro meses vinha discutindo a formação do Clã. O inicio teria que ser dado. Estávamos adiando demais.
- O medo aflorava a pele! - Mas éramos insistentes e caminhávamos no rumo da pedra onde pensávamos vinha o grito. Que piada.  O grito  do padre nada mais era que uma fenda que ia de um lado a outro da pedra. O vento forte vindo do rio próximo entrava pôr um lado e saia pôr outro e uma espécie de apito dava impressão de um grito. O   velho“ dava boas gargalhadas!.
- Nosso pioneirismo naquele tempo era outro. O mundo mudou muito. Tudo agora é bem diferente - continuou - Os tabus do passado já não existem mais. Uma liberdade que me preocupa ronda o Movimento Escoteiro, mas não podemos fugir da realidade. Se formos competentes e sérios poderemos atingir objetivos mesmo com esta época difícil.
- O “Velho“ respirou fundo e continuou - É muito difícil dar uma opinião válida para você. Claro que o Grupo não pode ficar de fora desta experiência, mas acho que certo cuidado com os rapazes e moças vindo de fora do escotismo deve ser bem criterioso. Aceitar um ou outro tudo bem, mas a maioria devem ser jovens do próprio Grupo.
- Vejamos alguns pontos que poderia alertar para o futuro da formação do Clã :
- Não forçar nada para eles. São pré-adultos saindo da fase da adolescência, mas não abram mão dos objetivos e principalmente da Lei e Promessa. Existem certas normas que não são motivo de discussão. Uma maçã podre pode levar tudo a perder.
-  Todos devem estar cientes que tem direitos e deveres. Nada de “ fogo de palha“ - Planejar bem as áreas de interesse escolhidas. Enquanto não terminar uma não passar para outra. Nunca parar pelo meio. Reuniões são desenvolvidas para o crescimento de todos e não de uma pequena parte do Clã. Eles aprovam e organizam uma equipe para dirigir.
- Atividades aventureiras? - Ótimo. Uma equipe fica responsável. Datas e horários de reuniões? - Eles decidem. Mas tudo que for importante para a vida do Clã, as decisões só serão tomadas na presença do Mestre Pioneiro e também da Mestre Pioneira. Não existem separações quando se está fazendo escotismo em conjunto. 
- Ao escolherem os dirigentes não entreguem responsabilidades a casais bonzinhos! - nada disto. O melhor é alguém que tem conhecimento de Escotismo, mesmo que não seja um perito. Melhor ainda se este casal tiver filhos acima de 17 anos.
-  O Clã faz parte do Grupo e não é uma unidade isolada. Não pode ir de encontro as normas já existente. A sua programação faz parte do conjunto das demais sessões do Grupo e não deve haver Exceções.
- Se possível manter um estreito relacionamento com outros Clãs, mas lembrando que somente o desejado deve ser copiado. O POR e demais regulamentos foram feitos para serem cumpridos e não discutidos. Existe o fórum para isto e não deve fazer parte dos objetivos propostos.                          
O Livro de BP Caminho Para o Sucesso é o livro de cabeceira.  Acampar, viajar, excursionar, visitas pedagógicas ou instrutivas, desenvolvimento do caráter, serviço a comunidade, discussões em grupo, liderança democrática e muitas outras situações serão desenvolvidas com fraternidade e respeito. Afinal, ali devem estar diversos jovens que atingiram etapas antes de ingressarem no Clã.
Um ponto importante - continuou o “Velho“ - é que o Pioneiro e a Pioneira devem ter livre arbítrio para participar de alguma sessão do Grupo. Nada de pressionar ou chantagear em nome da falta de adultos. Isto é sinal de fraqueza da Direção do Grupo.
-  O Clã nunca pode ser encarado como um aprendizado e formação de Escotistas.  A Insígnia de BP já tem um caminho para isto. Cada um vai achar o seu caminho com liberdade.
- Um ponto que considero muito importante é o do respeito entre o Pioneiro e a Pioneira. Uma vida em conjunto poderá surgir desta convivência, mas dentro das normas que a sociedade impõe. Não existem aberturas para libertinagem e liberdades em nome de vivermos agora numa época diferente. A barraca não é a extensão do Motel!
O “velho“ parou de falar. Ficou amarelo, começou a tremer, colocou a língua para fora e deu um grito rouco, balanceou o corpo e caiu com tudo no chão!.
Levei o maior susto da minha vida, corri para ele gritando e chamei  a Vovó para ajudar. Segurei sua cabeça mais alto e já estava preparando uma respiração boca a boca quando notei que ele estava com um olho aberto e  um sorriso matreiro!.
- Surpresa! - disse ele deitado. Surpresa!.
“Velho“ estou tremendo de susto ! gritei!
-  Calma falou ele. Isto é como um Clã a deriva sem rumo ou caminho . Foi só uma maneira de mostrar que tem tudo para dar certo se for bem feito. Isso se manter a bússola na posição correta. O resultado é o que interessa!
- “Velho“ danado. Meu coração estava batendo até agora...
- “Fom Fom” um carro passou buzinando em cima de mim. Dei um salto para o lado e ele quase me atropelou. “Diabos“ que dia, que dia... - Tentei cantarolar uma velha canção escoteira - Põe tuas mágoas bem no fundo do bornal, e sorri, sorri!. E lá fui eu cantando para ver se o susto com o “Velho passava. A madrugava ia brava. Uma pequena névoa se formava nas ruas. É o frio chegando!  Ainda bem que eu morava a quatro quadras do "Velho" .                                                                
                  O...PATA ...TENRA.

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