Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O eterno desconhecido.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O eterno desconhecido.

            Estes dias que fiquei de molho na minha barraca de primeiros socorros, tive a oportunidade de lembrar e memorizar muitos fatos escoteiros que aconteceram em minha vida. São tantos que hoje mergulhei profundamente naqueles desconhecidos que estão sempre presente ao Grupo Escoteiro, e fazem parte na mente de alguns como a mesa, a cadeira, a escrivania que estão ali para servi-los e quando não estão mais aí sim sentimos falta. Minha personagem não é um ser inanimado, é um ser vivente, presente tem sangue e sabe sorrir. Ele não é um Chefe Escoteiro, não está junto aos meninos, não vai acampar, não veste o uniforme e poucos fizeram a promessa. Quando alguém lhe agradece, quando recebe uma palma ou um bravôo, ele diz: - Obrigado, não foi nada! Estou aqui para ajudar e servir.

             Não esqueço o Oscar. No Grupo Escoteiro São Jorge onde iniciei minha saga escoteira. Todo sábado lá estava ele na sede. Custou a receber uma copia da chave. Era o faxineiro, o faz tudo, o tesoureiro, secretário e umas “cositas” mais. Participava do cerimonial. Para ele um orgulho. Disseram para ele não fazer a saudação. Acampamentos? Nunca. Quem sabe foi naquela atividade de lobos para ajudar. Ajudar? Necas! Cozinhar, limpar os banheiros e outros mais. E assim aconteceu em outros Grupos. No Walt Disney onde fui Chefe de Tropa era frei Marcolino. Incansável. Trabalhador nato pelos seus paroquianos no Convento do Alto da Serra e sem esquecer jamais dos escoteiros. Uniforme? Necas. Nunca vestiu se fez a promessa eu nem sei. Quando os militares assumiram o poder, Defendeu com unhas e dentes seus escoteiros da sanha dos militares do DOPS.

              Conheci outros. Incansáveis que nem do nome me lembro. Aqui em São Paulo ajudei no Grupo Escoteiro Paineiras. Eram tantos que o Francisco Presidente sorria de orelha a orelha. No Águia Branca onde fiquei onze anos poderia dizer da Dona Adélia, do Padre Bruno e de tantos outros que não vestiram uniforme, mas tinham prazer em ajudar e colaborar. Quantas vezes os visitei? Quantas noites conversando, reunindo diretoria, falando, cansando e deixar os dias passar? E não foram os únicos. Sei que tem centenas espalhados nos Grupos Escoteiros do Brasil. Homens e mulheres que são os autênticos voluntários no escotismo. Terão seus nomes gravados nos panteões dos heróis?

             Raciocinem comigo. O Chefe tem mais motivação pelo que faz. São os meninos e meninas, são as amizades, são as atividades Escoteiras na sede ou no campo, são os Fogos de Conselhos, as descobertas e as atividades aventureiras. Ele se torna um herói para os meninos e até mesmo para alguns destes desconhecidos que dificilmente terão o sabor que o escotismo pode dar aqueles que se põe a luta junto à meninada por este mundão de Deus. Eles não. São desconhecidos a não ser para os que estão ali ao seu lado. Chegam e saem dizendo simplesmente boa tarde ou boa noite.

              Quando você precisa de alguma coisa, lá está ao telefone falando com ele. Ficam felizes em serem registrados, terem sua carteirinha, mas tem mais fora isto? O que os motiva? São lembrados para uma medalha de bons serviços? Ou será que a UEB não vai reconhecer seus bons serviços? Recebem um sorriso simplesmente e nem são distinguidos com a Insignia da Madeira. Não participam da reunião do distrito. Quantos deles já foram a uma atividade escoteira regional ou nacional? Pois é. Sei que alguns me dirão que em seu grupo eles recebem o que merecem receber. Vou contar nos dedos da mão quantos receberam uma medalha ou ate mesmo um certificado de agradecimento.

               Lembro-me da Tati Bernardi que escreveu: - Eu tô sempre indo embora, mas aí vai um super clichê: - É de tanto que eu só queria ficar. E queria que você não achasse que sou sempre um louco, ainda que eu seja! – Será que aqueles eternos desconhecidos não diriam assim: Eu só queria alguém pra vencer comigo esses dias terrivelmente chatos! Se eu pudesse eu voltaria no tempo para dizer a todos eles: Amigos, saudades nós matamos, lembranças nós guardamos, tristeza nos superamos, amigos nós descobrimos, mas pessoas especiais como você, nós nunca esquecemos! Ah! Saudades demais deles e de tantos que nos trouxeram tanta força e na hora não soubemos dizer muito obrigado.

                 Estes desconhecidos são os verdadeiros heróis do escotismo. Não vestem o uniforme, não são amigos dos deuses do poder, não recebem medalhas, nem mesmo uma frase de agradecimento. Para a liderança irracional eles não existem a não ser ali, em um cantinho do registro dizendo: - Senhor Fulano, secretário. Mais nada. Pode fazer cinco, dez, quinze anos. Nunca usaram um distintivo de atividade, quem sabe um de lapela. Não importa, eles na menção que se faz do intelectual e moderno Escoteiro são apenas um... Nada. Sabem servir, sorrir e dizer podem contar comigo. Mas como fazem falta. Fazem falta demais...


                  Se você meu caro amigo e leitor tem alguém que é esquecido, faça seu trabalho. Dê a eles o que merecem. Não apenas um aperto de mão tem muito mais a fazer do que simplesmente dizer: - No meu grupo eles são valorizados!

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