Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

sábado, 29 de dezembro de 2012

As memórias do Chefe Bill Wagryth – fasc. 078 Meu amor mora nas estrelas.


 “Quando eu era criança, e fitávamos as estrelas, você me contava sobre os heróis, cuja gloria foi escrita nas estrelas. E que lá havia uma estrela para mim. Você!”.

As memórias do Chefe Bill Wagryth – fasc. 078
Meu amor mora nas estrelas.

                  O dia ainda estava claro. A primavera, dizem os poetas trás o perfume das flores, os pássaros cantam nas arvores mais afinados, as matas os bosques, às campinas ficam mais verdes e os rios correm para o mar sorrindo. Eu sempre gostei da primavera. E quando a brisa daquela tarde gostosa e sonolenta soprava em nossa face era como se estivemos vivendo uma tarde em um acampamento qualquer. Eu e o "Velho" Escoteiro estávamos sentados na varanda de sua casa, e de lá podíamos avistar o morro das Bermudas, que graças a Deus foi mantido como uma reserva florestal e não sucateada por alguma imobiliária. Eu e o "Velho" Escoteiro dormimos a tarde toda. Pudera, o almoço da Vovó foi incrível. Quando vi a deliciosa Moqueca de Traíras pescadas naquela madrugada por quem eu não sabia, acompanhada de uma abobrinha afogada com uma pimentinha no ponto, um pirão no ponto e um arroz solto com rapinhas no fundo e não deu outra. Comi feito um esfomeado que há dias não comia. Olhe igual à Vovó na cozinha pode ter muitas, mas superior não.

                     O "Velho" como sempre nestas tardes, como a chamar a atenção dos jovens que brincavam seus folguedos na calçada em frente, colocou o seu velho LP do Trio Irakitan a repicar gostosamente várias canções escoteiras na sua vitrola já gasta com o tempo. Ficamos assim sem conversar, mas vi que o "Velho" Escoteiro queria me contar alguma de suas histórias ou então das suas eternas discordâncias com nossos dirigentes, uma luta de anos e anos. – Olhe, começou – Acho que nunca comentei com você. Existem tantas coisas que aconteceram em minha vida Escoteira que precisávamos ficar juntos uma eternidade para lhe contar tudo. Acordei esta madrugada lembrando-me do meu querido amigo o Chefe Bill Wagryth. Já falei dele com você? Não? Bem vamos lá. Bill Wagryth entrou como Escoteiro na Patrulha Puma. Eu estava na Touro. Mesmo assim como morávamos na mesma rua sempre íamos e voltávamos do grupo juntos. Nasceu daí uma bela amizade.

                    Fomos juntos para os seniores, e nos pioneiros ele ficou pouco tempo. Como tinha feito um concurso para a Aeronáutica, durante quatro anos ficou na Academia da Força Aérea, em Pirassununga. Víamo-nos nas férias, e até fizemos um acampamento juntos a convite de escoteiros da Costa Rica, no Sopé da Cordilheira Central, em Guanacaste e Tilarán. Foi um acampamento que marcou muito. Quando se formou como Aspirante foi logo promovido a Segundo Tenente. Quase não tinha folga, mas sempre sobrava um tempinho para tomarmos uns chopes, uma ou três noites de campo ou a explorar alguma das mais belas grutas de Minas, e até mesmo participar do Sétimo Jamboree Mundial em Bad Ischl, na Áustria. Nossa amizade permaneceu firme e logo ele foi promovido a Tenente. Foi nesta época que ele foi designado para servir na capital e transferido para o gerenciamento do Tráfego Aéreo do aeroporto Catorze Bis na capital, o que lhe tomava muito tempo.

                  Um dia ele me convidou para conhecer seu trabalho e achei fora de série. A cada minuto alguém suava com algum problema. Alí todos trabalhavam com o estresse a flor da pele. Não era nada fácil. A vida de centenas de aeronaves estavam nas mãos deles. Ele me convidou para um cafezinho no bar do aeroporto e lá fomos nós. Foi então que me contou sua história. Incrível história. Se eu não soubesse que era um Escoteiro dos bons diria que ou estava estressado demais ou um tremendo mentiroso. – assim começou sua narrativa - Foi em um dia de semana qualquer. Aeronaves descendo e subindo. Na minha linha ouvi uma voz feminina com um sotaque russo. Pedia para desobstruir toda a pista número quatro. Eles iam descer em quatro minutos. Pedi para se identificarem. Não responderam. No radar vi que era uma nave gigantesca.

                    Não tive saída. A pista foi interditada para eles. Não vi direito a nave. Ela aparecia brilhante quando alguma nuvem no céu cobria o aeroporto. Mesmo assim com dificuldade. A maior parte do tempo estava invisível. Parecia ser um enorme charuto. Imenso. Mais de quarenta metros de altura e mais de cento e quarenta metros de comprimento. – Eu prestava a maior atenção ao "Velho" Escoteiro. Uma história que parece ele tinha tirado do fundo do baú. Eu gostava destas historias, se eu acreditava eram outros quinhentos. – Ele continuou – Meu amigo Bill engasgado, disse que ouviu a voz feminina de antes – Precisamos nos falar. Preciso explicar. Pode ser em algum lugar reservado? Disse que seria na sala do Brigadeiro Duarte. Ele ainda não sabia do que estava acontecendo. Fui até lá. Expliquei. – Está doido? Por Deus brigadeiro é a mais pura verdade, aqui não é lugar para este tipo de brincadeira.

                     A voz parecia flutuar e disse – Estou me materializando na sala. Não façam nada. Nem um gesto. Ela apareceu ao vivo e a cores. Uma linda loira de olhos verdes esmeralda com um uniforme estranho. Olhou-me e na sua voz fanhosa explicou. – Sei que vai ser difícil acreditarem, mas somos de um planeta distante, que pelas suas medidas fica a mais de cem milhões de anos luz da terra. Nosso planeta irá se desintegrar em alguns anos. Nossos cientistas descobriram um parecido com o nosso na Constelação de Centauro, que vocês chamam de Alpha Centauro por ser a estrela mais brilhante no céu em determinados meses do ano.  Estamos alguns séculos avançados em relação ao seu planeta. Somos orientados a não interferir no crescimento de vocês e de outros povos que habitam não só a sua galáxia como a de milhões que conseguimos descobrir. Nossa nave estelar pode viajar grandes distâncias entre sistemas solares. A velocidade da luz para nós não tem segredos. Podemos viajar mais de vinte vezes a velocidade da luz.

                     - Continuou o Chefe Bill. – Meu nome aqui para vocês será Sheyla. Minha aparecia normal não é esta. Mas precisava adaptar uma nova vestimenta humana para podermos conversar. Ninguém poderá saber que estamos aqui. Um pequeno problema em nosso motor de dobra que não foi possível reparar no espaço nos obrigou a descer aqui. Seria difícil para você entenderem como funciona nossa nave. Escolhemos o Brasil por ser um pais de paz e não colocará aqui sua parafernália de guerra como fazem os outros países. – Eu olhei para o "Velho" Escoteiro. Ou ele ou o amigo dele o tal Chefe Bill tinham uma incrível imaginação. Assisti a filmes e mais filmes em que os americanos queriam dominar e até atiravam nos alienígenas antes de conversar.  – O "Velho" não se fez de rogado e mostrando que lê meus pensamentos parou a história. – "Velho"? O que foi? – Ele rispidamente disse – se acha que estou mentindo porque continuar a contar a você seu pirralho?

                      - Tudo bem "Velho". Desculpe. Gostaria de saber o final de tudo. Vou continuar – disse. Mas se notar qualquer olhar de galhofa paro na hora. – Juro que não o farei "Velho".  – Ele como se fosse tomar um ar lá fora, foi até a escada que levava a rua e em pé mesmo continuou – Chefe Bill me contou que ficaram seis horas na pista quatro. Sheyla o convidou para conhecer a nave. Incrível. Lá havia mais de trinta mil passageiros. Na realidade a aparência deles era de pequenos anões, magros, cara fina, sem cabelos e orelhas. Sheyla riu do meu espanto e do brigadeiro, pois ele insistiu em ir. Não havia animosidade e nem cara feia para nós. Todos sorriam e parecia que viviam em um sistema de harmonia perfeita. O pior foi que o Chefe Bill me disse que tinha se apaixonado por Sheyla. – Como? Perguntei. Não sei. Eu sabia que a aparecia dela não era aquela e o pior ela me convidou para conhecer Alpha Centauro. O brigadeiro foi contra.

                        - Para finalizar eles partiram por volta de meia noite aquele dia. Chefe Bill foi com eles. O brigadeiro não aceitou e disse que levaria o caso a Corte Marcial. Seis meses depois o Chefe Bill voltou. Uma aeronave que voltava para buscar mais gente o deixou em algum lugar do Deserto de Saara. Olhe eu mesmo não acreditei na conversa do Chefe Bill. Mas ele me mostrou uma gravação feita lá no novo planeta onde iriam viver. Incrível! Os primeiros pioneiros que lá chegaram mudaram o clima, os quatro oceanos eles os transformaram em um só, o planeta todo foi reflorestado e agora já estava com florestas imensas de polo a polo do planeta. Eles tinham muitos dos animais que temos aqui na terra. Olhe, poderia ficar aqui contando a você tudo que o Chefe Bill me contou. Tem muito mais e nada que um bom Escoteiro explorador não tenha vivido como ele viveu.

                          Chefe Bill Wagryth até hoje não casou. Disse que se apaixonou por Sheyla. Sabia que nunca poderiam viver juntos nem agora e nem nunca. Ela estava anos luz adiantada dele. Se em um passado longínquo tinham se conhecido em alguma estrela do universo hoje a distancia entre os dois era bem grande. O Brigadeiro Duarte não gostou do final de tudo. Não o expulsou e até o ajudou com um analista da aeronáutica. Mas voltar a sala de comando na torre estava fora de cogitação. Abriram uma exceção. Agora ele estava treinando novos Controladores de Voos. Disse-me que está morando em uma casinha próximo ao lago Santa Inês. Pertence a Aeronáutica. O brigadeiro disse que poderia morar o tempo que quisesse. - E ele terminou dizendo – Olhe meu amigo não enlouqueci. Mas depois que conheci Sheyla não quero viver com nenhuma outra mulher.

                        Fico a imaginar se tudo não foi obra do destino, um destino que não entendo, para muitos impossíveis de imaginar. Amar alguém que mora nas estrelas? Se apaixonar por alguém que nunca poderão viver juntos? Não conto esta história para ninguém. Eu mesmo disse ao Chefe Bill que ele estava ficando louco. Interessante que a Aeronáutica e a Infraero conseguiram abafar tudo. Não deu nada na imprensa. Foi uma história não contada. Abafada pelas Forças Armadas. Ninguém soube e nem irá saber. Ele disse que confiava em mim. Que não contaria a ninguém. – O "Velho" riu alto. Claro estou contando a você porque não sei. Quem sabe por que o Chefe Bill morreu a duas semanas? Ou por que não tenho com quem falar e conversar? Quase ninguém vem aqui. Olhe o Chefe Bill antes de morrer me disse ainda que todos os abandonaram. Noêmia a sua noiva nem chorar chorou quando o mandou passear. Com os olhos cheios d’água me disse que precisava desabafar com alguém. Nada como o "Velho" Escoteiro. E ele me disse que quando fosse para o outro lado da vida que eu estaria liberado para contar.

                       O "Velho" Escoteiro se calou. Não disse mais nada. Nunca me contou uma história assim. Passava das duas da manhã. Fui embora quando vi o "Velho" Escoteiro subindo as escadas para o seu quarto. Acho que Vovó já estava dormindo. Na rua fria e atípica de uma noite de inverno fui pensando na história do "Velho". De escotismo pouco, de historias inverossímeis muito. Este "Velho" Escoteiro nunca me deixou na mão com boas histórias. Atravessei a rua e sem querer torci o pé e cai ao chão. Sem pensar olhei para o céu. Uma nave gigantesca estava passando em grande velocidade. Velocidade de Dobra? Risos. Não sei. Melhor é continuar mesmo mancando. Não posso me apaixonar por alguém que mora nas estrelas. Já tenho uma esposa e outra não ficaria bem para um Chefe Escoteiro. Que sono! Acho que vou dormir bem, mas pouco. Amanhã, ou melhor, hoje tem trabalho. "Velho" escoteiro. Amo este "Velho".

“Podemos ter nascido em mundos diferentes”.
Mas eu conheço você.
Quando me pegou no céu, eu soube.
Senti o coração de um homem disposto a doarem-se
Pelos outros.
“Um homem disposto a lutar por uma causa”.


sábado, 24 de novembro de 2012

As responsabilidades são de todos nós – Fasc. 078



Não existe nada mais perigoso do que acreditar que se detém a formula que vai continuar sempre conduzindo ao sucesso.
Robert Collier

As responsabilidades são de todos nós – Fasc. 078

                         Tudo deu certo para mim naquele dia. Deu certo a manutenção que fiz no Torno Elétrico que voltou a funcionar divinamente. Pela primeira vez elogiei a cozinheira pelo cardápio no nosso restaurante da empresa. Estava cansado de comer frango ensopado. Ela se esmerou. Deu um belo de um sorriso quando falei ao seu ouvido: Parabéns! Seu almoço foi divino. Nunca comi tanto em minha vida. Ela me olhou espantada e sorriu dizendo – Obrigada! Fui para casa mais cedo. Sempre ficava depois das cinco. Hoje não. Hoje era meu dia de sorte. Porque não visitar o "Velho" Escoteiro? – pensei comigo. Não era dia. Era quarta, mas não tinha nada para fazer, horário de verão e resolvi ir até lá.

                         Subi as escadas que leva a Sala Grande sem fazer barulho. Como um filho da casa abri a porta devagarinho. Não o vi. – Entre! Era ele! Que susto. Estava em um canto da sala que não deu para ver quando entrei. – Sente aí. Explique-me direitinho. Mandaram você embora? Eu sabia! Só fica fazendo escotismo e não se preocupa em desempenhar suas funções a contendo. Veja, tem mais de nove anos nestas empresa e não passa de um reles chefinho mecânico! – Sorri de leve. Já conhecia este “papo” do "Velho". Era sempre assim quando saia de minha rotina. Não o cumprimentei. Nunca fiz isto. Nunca dei um abraço. Devia dar. Acho que todos gostam de um abraço. Será por quê? Não sei explicar. Desde a primeira vez que foi assim. Mas tanto ele como eu sabíamos que tínhamos uma amizade incrível. Eu adorava o "Velho" e ele quando não ia a sua casa sentia uma falta tremenda.

                        Sentei no meu banquinho de três pés e ele de supetão me perguntou? – Me diga, quando sua organização ou sua fábrica vai mal de quem é a culpa? Dos funcionários ou dos diretores? – Não sabia onde ele queria chegar. – Fale "Velho" do que se trata. – Da nossa direção Escoteira. – Mas é diferente "Velho". Lá se um funcionário vai mal ele é substituído. Isto não pode acontecer aos escoteiros. – Mas se a diretoria não mostra resultados o que fazem os acionistas? Trocam todos eles não? – Fiquei pensando. Quem sabe os membros da nossa direção que são sócios, pois pagam uma taxa anual não seriam aos acionistas? – "Velho", é difícil comparar, eu sempre converso com outros amigos escotistas e eles nunca “batem” direto com nossa direção. Quem recebe críticas sempre são os funcionários subalternos, ou um Assistente de qualquer ramo ou mesmo alguém que recebeu a incumbência de esquematizar alguma atividade nacional e ela não deu certo.

                      - O "Velho" me olhou de esguelha. – Você acha isto certo? Nunca ninguém disse que precisamos mudar para eles? Não cobram? Claro, tem aqueles que dizem que os congressos e assembleias é para isto, mas você já viu alguém tomar alguma atitude? Mas meu amigo, hoje não quero falar sobre isto. Recebi via e-mail de um amigo virtual, um pequeno artigo sobre as alterações que vem sendo feitas e claro, ele englobou as tradições. Comentou sobre elas se elas estão desaparecendo, se isto é bom ou ruim. Não sei o que pensar. Li e reli. O rapaz que a escreveu parece ter tirado do meu pensamento. Leia você mesmo. Depois me diga, onde está a razão? Onde estão os dirigentes? Que tipo de luta se poderia fazer para que houvesse uma grande “grita” nacional com tudo isto? – O "Velho" me entregou o artigo. Li duas vezes. Dizia:

Essa temida tradição escoteira.
Nas eleições deste ano (2012), fui votar no colégio municipal onde estudei quando criança. Aproveitei a deixa para passear pelo bairro onde cresci. Foi engraçado, quase surreal, ver crianças empinando pipa, jogando bola na rua e trocando figurinhas na calçada. Até porque, é um bairro de periferia e imagino que não são todos os que têm um computador ou um videogame como opções de ócio. O escotismo aqui cabe lembrar, é de inclusão, ou seja, contempla os do “Playstation” e os da “pipa”.
Se a questão da tradição escoteira girasse ao redor da substituição de uma bússola por um GPS, ou de um Atari pelo Wii, ou de uma pipa por um aeromodelos, quão fácil ficaria o diálogo neste ou em qualquer outro blog. Bastaria estar por dentro de novas tecnologias e pronto. Mas não se trata somente disso; é mais complexo.
Pessoalmente, não entendo a questão da tradição escoteira. Eu não sei quando ela começou. Para mim, será aquela que vivi no final dos nos 80, como membro juvenil. Para outros, os mais entrados em idade, será a década de 60. Não sei, ademais, se ela deveria existir, já que a escravidão, por exemplo, foi uma tradição neste país.
Cabe ao povo, e somente a ele, decidir quando uma tradição acaba e quando ela começa. E não uma junta diretiva ou uma comissão. Não adiantará assinar leis impondo uma tradição ou decretando seu fim se o povo não a aceitar.
Para ilustrar o pensamento, a bandeira do Mercosul deveria ser hasteada, por lei (sequer é uma tradição), em todos os estabelecimentos públicos oficiais. Quantos de nós já vimos uma bandeira do Mercosul?
E não há meio de afrontar uma tradição sem deixar feridos pelo caminho. E esses feridos podem ser os que mais precisamos num movimento em queda livre, já que trazem na bagagem as rugas de alegria em relação ao que deu certo, e as cicatrizes daquilo que não vingou.
Traslademos o pensamento à associação escoteira.
Uma instituição que não aposta na própria imagem e no que ela representou e representa há décadas, não poderá mostrar seriedade ou firmeza naquilo que crê ou faz. Um desenho que sempre estampou aqueles uniformes levados com galhardia, livros publicados na década de 60 (período mais fértil da literatura escoteira), se apagado de nossa história da noite para o dia, não somente mostrará que a associação não acredita em sua imagem, mas que sente dificuldade em dar valor àquilo que fez dela o que é hoje - “um país que não conhece sua história, tende a cometer os mesmos erros no futuro”.
E se por uma questão de moda se tratasse, ela, a moda, é tão passageira como o passar das estações. Não podemos afirmar o mesmo no que se refere à tradição, que se perpetua com o passar dos tempos: ela fala por si e não há necessidade de vendê-la, sequer enfeitá-la.
Não se trata de mudanças somente de imagens, ou de roupas, ou de modas, ou de gadgets. É que a própria instituição se resiste às mudanças. E por uma dessas ironias que nos cruzam o caminho, nos mostra essa resistência justamente porque ela, a instituição, não quer mudar sua forma de governar, sua tradição política, mesmo que seja para um bem comum e mesmo que os associados a reivindiquem.
Com o artifício da internet, o povo desfruta de portais de transparência, mas parece que o escotismo não precisa disso. Enquanto o voto direto representa uma democracia, nós não o temos. Enquanto a participação dos associados, o patrimônio máximo de uma associação, é levada em boa conta em qualquer segmento, no escotismo se faz a engenharia inversa.
Há aqueles com o discurso na ponta da língua: “mas o foco é o jovem”. Lembremos que são 12 mil adultos que mantêm essas crianças interessadas em escotismo.  A modernização que trouxe resultados, como se vê lá fora, foi justamente essa: a de se saber dar o devido valor ao adulto (a meritocracia). Mas nossos sites, longe de se atualizarem, preferem apenas gastar umas poucas linhas ao voluntariado.
No meu tempo era melhor? Lembro-me de minha infância com carinho, mas não me atrevo a equipará-la a outra infância ou adjetivá-la de “a melhor”.
Hoje é melhor? Para os jovens que vivem esse tempo, sim.
Mas para os adultos, que são os alicerces do movimento escoteiro, talvez seja um fardo demasiado grande que carregam a favor de crianças, porque a associação contribui para tanto. O escotista, o adulto, quer atuar onde a meritocracia funcione; quer ser ouvido, quer estar onde possa apertar a mão de um comissário distrital; ter uma conversa ao pé do fogo com algum dirigente nacional, receber uma carta lhe congratulando. A associação, ao contrário, se distancia cada vez mais do seu maior patrimônio, daquele que defende o nome da causa escoteira esteja lá onde estiver: o adulto, o “chefe”.
O movimento escoteiro no Brasil não perde jovens para a internet ou para videogames. Os perde para ele mesmo. Passamos de um movimento que oferecia algo único, a um movimento “a mais” que oferece o mesmo que outros, com outra roupagem. A premissa da escola de cidadania não passará de um mantra se não nos fazemos ver e, por conseguinte, não sermos lembrados.
                   Olhei para o "Velho" Escoteiro. – E aí, disse ele – Aí? Não sei o que dizer respondi. Ficamos os dois um olhando para o outro sem nada dizer. Ele baixinho comentou: - Para mim são os meus velhos e bons tempos, e para você serão os novos e bons tempos. Qual o melhor? – não disse nada. Olhe o relógio. Meia noite. – "Velho" onde está a Vovó? Foi dormir na casa da filha. Ela está meio adoentada. Olhei para ele, oitenta e seis anos. Dormir só ali? Liguei para minha esposa. Expliquei. Falei para o "Velho". Ele riu, e quem disse que quero você aqui? E subiu para seu quarto. Fui para o quarto de hospedes. Sabia onde era. Tomei um banho, deitei e com as mãos embaixo da nuca pensava – Escotismo, você transforma as pessoas. Quantas mudanças de destino em cada um que resolveu ser um de nós. Acho que dormi. Acordei cedo, seis horas, hora de trabalhar. Sai correndo, na rua lá estava o "Velho" Escoteiro fazendo sua caminhada, até amanhã! Ele fez um sinal e foi em frente.     
O sucesso geralmente vem para aqueles que estão muito ocupados para estarem procurando por ele.
Henry David Thoreau


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O incrível exército de Brancaleone ou Dom Quixote de La Mancha – Fasc.077



Onde a virtude estiver em grau eminente, verás que é perseguida; poucos, ou nenhum, dos famosos varões que passaram na terra, deixaram de ser caluniados pela malícia.

O incrível exército de Brancaleone ou Dom Quixote de La Mancha – Fasc.077

Não sabia quanto tempo eu estava ali na Sala Grande. Acho que mais de duas horas. Sentado no meu banquinho de três pés olhando o "Velho" Escoteiro e sentindo nele que seus sonhos estavam sendo aos poucos esvaídos. Eu pensava e meditava o que seria de minha vida sem ele. Não só a Escoteira. Tinha uma esposa, vivíamos harmoniosamente, ainda sem filhos, mas eu gostava mesmo era de estar com o "Velho". Para dizer a verdade eu o amava mais que meu pai. E a Vovó era minha segunda mãe. O "Velho" não era mais aquele “briguento” de outrora. Naquele dia ele me dizia das suas lutas, dos seus sonhos e seus moinhos de ventos que não levaram a nada. "Velho", meu "Velho" Chefe e amigo, desistindo?    

                - Seus olhos já não brilhavam mais. Aquela força que tinha eu não via em suas palavras. - Olhe, ele disse, sempre fiquei em dúvida onde me posicionar. Você sabe e me conhece. Vivi um escotismo bem diferente. Hoje nem sei o que pensar. Sempre tive de fazer escolhas. De um lado meu herói Brancaleone. Do outro meu querido Dom Quixote. Um mostra as estruturas políticas, religiosas, culturais e mentais da época. Brancaleone, um cavaleiro que apesar do título vive em uma cabana pobre e se diverte com seu insubordinado cavalo Aquilante e brinca com a hierarquia medieval onde o mais importante era a situação financeira e a classe social. Outro é Dom Quixote, já de certa idade, entrega-se a leitura de romances, perde o juízo e acredito que o que leu é verdadeiro e decide tornar-se um cavaleiro andante. Enquanto ele vai narrando seus feitos Cervantes (o historiador) satiriza os preceitos que regiam as histórias fantasiosas daqueles heróis de fancaria. Mas seriam fantasiosas?

               "Velho", não estou entendendo você. Aonde quer chegar? Porque tudo isto? Olhem para dizer a verdade se eu não conhecesse o "Velho" poderia dizer que ele estava dizendo o nada com nada. Quem sabe sua senilidade estava chegando?
        
    - Boa pergunta. Porque isto tudo? – Porque me sinto no meio dos dois. Poderia ser Brancaleone onde critico as estruturas da UEB sem satirizar é claro, pois só desejo o seu crescimento sadio. Ou quem sabe melhor seria dom Quixote, pois alguns já disseram que perdi a razão e fico a lutar junto com meu amigo Sancho Pança e é ele quem tem uma visão mais realista das coisas. Dizem que minha luta contra os moinhos de vento seria porque quero me transformar em um mito quixotesco. Não acredito nisto. Só sei que a maioria dos meus amigos e amigas que me dão a honra de uma vez ou outra me visitar e me ouvir, não gostam muito quando entro nesta seara e a minha moda vou dando meus “pitacos” na “gigantesca” estrutura da UEB. Não acredito que ela possa nos levar a um futuro venturoso. Eu sabia que no passado era uma luta inglória e não me importava. Agora não sei.

          - De vez em quando apareciam amigos e amigas que empunhavam as armas e ficaram do meu lado. Eram poucos. A maioria ficou do outro lado. As nuvens sopram de maneira diferente e eles estão satisfeitos com a cartilha atual. Mas afinal meu chefe, eles me perguntavam - Qual é sua luta? Boa pergunta. Quem sabe acabar com a ditadura do proletariado? Nada a ver com a ideologia de Karl Marx, pois até que seria boa uma tomada do poder pelos operários aqui denominados escotistas, pois só assim poderia se evitar esta exploração capitalista. Não estão entendendo? Risos. Nem eu. Melhor seria dizer que quando falo abertamente o que penso tento ao meu modo vender meu peixe a todos. Mas sei que sempre foi uma pequena gota d’água. E eu acreditava que poderia ser transformar em um grande lago azul.

                Como seria bom se nos congressos, conselhos, indabas, mutirões, assembleias se começasse a pensar em mudar. Mudar as normas, estatutos, regimentos e se aos poucos fossem implantada uma democracia direta, tipo democracia pura. Se fosse acontecer quem sabe assim todos os membros dos quadros da UEB poderiam expressar suas vontades pelo voto direto e até pela democracia representativa, poderiam expressar sua vontade por meio de seus representantes eleitos pela vontade de todos.

               Seria formidável que em vez de 0,5% dos que hoje tem este direito pudessem ser a maioria. De norte a sul todos dando suas sugestões, opiniões e nada seria decidido sem uma grande pesquisa nacional. Aí então o escotismo daria um salto de liberdade. Pois hoje não acredito que tenhamos. Até acredito que haja uma conspiração silenciosa onde cada um pode ser advertido ou repreendido se aderirem a ideias que não sejam as definidas pela UEB. Conheço dezenas de escotistas que se afastaram de mim e muitos deles me disseram que poderiam ser prejudicados. Eu sou prova viva da história de um passado que se foi. Amigos que tentavam dar uma nova conotação as normas que existiam na época (e que pouco mudou) foram gentilmente convidados a se afastarem do meu convívio e minha “trupe”.

              Muitos ainda não abriram os olhos para ver os mandos e desmandos que tivemos no passado e ainda temos até hoje. Não critico, pois entraram em um movimento onde se exige lealdade e onde a palavra Servir a União dos Escoteiros do Brasil faz parte da promessa dos adultos. Dificilmente irão notar que são seguidores. E ainda dizem que nosso movimento é um movimento de liderança, onde ensinamos aos jovens as tomarem atitudes por sí mesmo. Interessante que o Próprio Baden Powell dizia que devemos olhar alem da ponta do nariz e em seus escritos falou muito sobre democracia e escolha.

             Eu olhava para o "Velho" Escoteiro pensativo. Oitenta e sete anos não era brincadeira. Mas eu sabia que muitas vezes ele pecava pelos seus pensamentos e ideias e muitas delas passavam de longe do que pensavam os dirigentes. Tudo bem que ele tinha um passado. Viveu um escotismo diferente, mas por um instante será que ele não tinha razão? Seria razoável fazer uma eleição livre? Amigos meus diziam ser impossível. Impossível? Com os meios de comunicação que temos? Com as regiões? Com os distritos? Não seria uma forma de criticar esta possibilidade uma maneira de permanecer no poder? Ou então se considerar acima dos demais? Quem sabe um Zé Ninguém poderia ser eleito? E se fosse? Mas isto não é democrático?
  
            O "Velho" Escoteiro parecia dormitar em sua poltrona de vime já gasta com o tempo. Lembrei-me das histórias que me contou, do seu amigo mexicano, do americano, do francês, do inglês e do suíço. Foram muitas aventuras. Sabia que ele tinha participado de quatro jamborees internacionais. Sabia dos seus conhecimentos. Pelo que saiba nunca escreveu nenhum livro. Claro tinha centenas de manuscritos. Uma vida Escoteira se encerrado ali na mente daquele "Velho" Escoteiro. Assim como outros iguais a eles, que um dia se foram e não são mais lembrados pelas suas ideias. Tenho uma certa mágoa com os dirigentes. Valorizam somente que está do lado deles. Faz parte do ser humano. Sempre buscando os holofotes. E mesmo sem eles se sentem satisfeitos quando sabem do poder que tem nas mãos. E que poder. Um amigo me disse uma vez que era o poder do nada.

            A Vovó entrou na sala. Viu o "Velho" escoteiro dormindo. Olhou-me com um sorriso meio sem jeito. Disse-me que agora era sempre assim. Dormia na sua poltrona de vime já gasta com o tempo. Ela sabia que não ia durar muito.  De leve o tocou no ombro e o chamou. Ele acordou, virou para mim e disse – Sabe meu amigo, eu gosto muito de você, muito. E foi para seu quarto claudicando. Despedi da Vovó e fui embora. Meu tempo estava sendo contado. Minhas horas com o "Velho" também. Sabia que um dia não teria ele para me contar seus pensamentos escoteiros, suas aventuras, suas extraordinárias atividades que junto a muitos fez por este brasil. Iria sentir falta. Muita. Escoteiros como ele estão desaparecendo da história. Aqueles que nasceram e morreram no escotismo pode ser contado a dedo. Quantos ainda estão por aí é difícil dizer.

             Estava chovendo. Tinha ido a pé para a casa do "Velho". Que se dane a chuva. Sem correr percorri os três quarteirões que me distanciava da casa dele até a minha. Vazia a rua. A chuva varria o asfalto e um vento forte me pegou de jeito. Agora era correr. Entrei em casa encharcado. Mais um dia, mais uma noite e quantas ainda teria na companhia dele? Melhor dormir. O futuro a Deus pertence!

O medo é que faz que não vejas, nem ouças porque um dos efeitos do medo é turvar os sentidos, e fazer que pareçam as coisas outras do que são!



sábado, 6 de outubro de 2012

CARTA AOS MEUS AMIGOS DO ESCOTISMO.



CARTA AOS MEUS AMIGOS DO ESCOTISMO.

Caros amigos e amigas escotistas.

Sempre Alerta!

                  No mês anterior mandei uma carta para o céu, endereçado ao Senhor Baden Powell, amigo de todos nós. Claro uma carta imaginária e hipotética. Quem sabe muitos puderam ler nas entrelinhas o que lá estava escrito. Escrevi como sempre o faço criando situações análogas, típicas dos meus contos, pois assim me sinto melhor quando escrevo. Para ser sincero tenho aversão dos politicamente corretos com seus palavreados cheios de pretensão de saber, de superioridade enfim, daqueles que hoje se acham acima do bem e do mal e claro sem desmerecer a qualquer um destes. Eles são honestos consigo próprio e acreditam no que fazem.

                Em outras publicações tentei ao meu modo mostrar meu ponto de vista do escotismo atual. Recebi comentários por todos os lados, alguns concordando, outros aceitando parte e discordando de outras. Tem aqueles que não concordam com nada. Alguns até acharam que tenho mágoas passadas e tento aqui expor situações que para eles são ridículas e despretensiosas. É possível. Meu passado Escoteiro junto aos jovens foram os momentos mais felizes de minha vida, mas junto aos dirigentes nem tanto mar nem tanto terra. Mágoas? Não. Decepção talvez. Assim como muitos aqui eu também me julguei dono da verdade um dia. De maneira diferente, pois andava por todo um estado buscando conhecimentos, ouvindo e fazendo amigos. Foram dezenas de cidades. Tentei ao meu modo modificar o que pensava de errado. Não sei se consegui. Acho que valeu por aumentar o meu aprendizado Escoteiro.

                Mas afinal o que eu desejo e o que pretendo? O mesmo que todos há muitas e muitas décadas. Um escotismo forte, para que os jovens que passaram pelas suas fileiras tenham tido o melhor do método idealizado por BP. Assim quando crescerem irão acreditar que o escotismo pode sem sombra de dúvida modificar e dar a todos os jovens uma parte do seu método tão espetacular. Se o escotismo fosse participante da vida do país, enraizado na sociedade e esta retribuindo e acreditando que quanto mais oferecer aos jovens o programa Escoteiro mais teríamos o fortalecimento das raízes escoteiras, seria muito bom. Mas afinal não é isto que está sendo feito? Sim dizem muitos, não outros dizem. O caminho não foi frutífero.

                Eu penso e posso estar enganado que existem oligarquias nas direções escoteiras, uma espécie de capitanias hereditárias às avessas. Quem está dentro não sai e quem está fora não tem condições de entrar nunca. Mas isto não é bom? Claro que não. Quando acontecem eleições para as diretorias e escolhas de cargos entre outros, estes passam de amigos para amigos e dificilmente aqueles que não pertencem a esta oligarquia terão condição de serem eleitos ou participar. Claro existem exceções. Será isto correto? Um Escotista me garantiu que sim. Explicou em palavras simples que é o melhor para o escotismo, pois muitas organizações assim o fazem e dá certo. Alguns me disseram que tínhamos vinte e poucos mil a quarenta anos atrás e hoje temos setenta mil. Acho que se esqueceram de ver a densidade populacional naquela época e hoje. Também a facilidade dos meios de comunicação, locomoção, pois se assim o fizessem veriam que não ouve aumento e sim decréscimo. Outro tentou a seu modo ver uma oligarquia no passado de alguns estados e com uma grande união deles (os contra na época acho eu) esta acabou. Será? Ou quem sabe ela mudou de direção e se encastelou em outro lugar?

             Não sou contra, nada disto. Se estivéssemos dando passadas largas para o nosso crescimento falar o que? Eu pergunto a cada um de voces se algum dia receberam a visita de um dirigente preocupado com nosso crescimento e solicitando que o grupo fizesse um grande debate a respeito. Ou mesmo que sugerissem aos órgãos superiores um programa que pudesse dar aos jovens a motivação para continuarem na senda Escoteira. Alguns justificam nosso pequeno crescimento em dizer que nem todos nasceram para o escotismo. Será? Se for verdade não seria melhor termos um exame psicotécnico para saber quem serve e quem não serve? Acredito que um bom número dos escotistas atuais tem menos de dez anos de atividade. Portanto a não ser por estudos ou informações de terceiros não podem lembrar como era o programa no passado. Vamos esquecer esta confusão que fazem com Escotismo Tradicional. Alguns se escoram a favor e contra nestas palavras que nada trazem de útil para nosso crescimento.

              No passado era comum ver patrulhas e matilhas completas por anos a fio. Não teria sido melhor que tivessem sido mantidos as tradições das etapas modificando o que fosse necessário? Não foi feito assim. Uns poucos decidiram o que devia ser bom e mudaram tudo da água para o vinho. Implantaram sem nenhuma consulta as bases. Hoje vejo por todo o país muitos reclamando, mas é claro que vários outros aplaudem o novo programa. Agora estão tentando fazer uma frente parlamentar. Uma excelente ideia. Mas vamos conseguir? Será que um dia poderemos ter um Mr. Smith, que no Filme A Mulher faz o homem, (Mr. Smith goes to Washington) mostra um chefe Escoteiro, puro nos seus pensamentos e atos, Escoteiro de coração e alma, cuja vida em um Grupo Escoteiro por anos e anos sem perceber é guindado a senador dos Estados Unidos e agora precisa enfrentar as raposas que lá estão? O filme é uma epopeia, vale a pena ser visto. Mas dificilmente encontraremos políticos assim. Mas vale a pena tentar. Não vou contradizer.

           Eu acredito mais nos jovens que receberam um bom escotismo, nos princípios éticos, onde se acredita na honra e na palavra dada. Estes sim no futuro seriam o esteio do movimento Escoteiro nos meios empresariais, políticos e claro englobariam toda a sociedade. Isto foi feito em diversas nações. Já pensou se o nosso Ministro da Educação e secretários conhecessem profundamente o escotismo? Saber seu valor na formação do jovem e reconhecer que ele pode contribuir para a formação de uma nação? E as autoridades estaduais e municipais? Isto é claro, só com um trabalho a longo prazo visando manter nas fileiras escoteiras por maior tempo possível os jovens de hoje. Agora não. Somos considerados um movimento excessivamente infantil, ineficaz e nos acham uma forma de servir com tarefas que nada trazem de proveito ao nosso reconhecimento. Para estes somos uma diversão à parte. Quando comentei que a responsabilidade para isto acontecer era de nossos dirigentes nacionais o mundo veio abaixo. Não são eles? Então quem são? Os chefes? Coitados. Sempre dizem que eles são culpados. Não dão o programa corretamente, não atingem o que o jovem deseja e por aí vão. Não acredito nisto. Esta plêiade que luta para fazer um escotismo bom e honesto campeia em todos os estados brasileiros. Deveriam sim dar a cada um uma medalha de gratidão pelos serviços prestados. Infelizmente muitos estão desistindo por não terem o respaldo que deveriam ter.

                Sempre perguntei e pergunto o porquê temas importantes como programas, uniformes, normas estatutárias entre outros não são motivo de uma consulta a nível nacional. Difícil? Não precisa? Por quê? Os chefes são incompetentes? Claro tem aqueles que dizem que temos o fórum próprio. Todos podem participar. Brincadeira. Só para quem não sabe como funciona. Um até me disse que todos podem opinar e dão exemplo das modificações do POR. Nem sabemos quais e quantas ideias serão aproveitadas. Por toda a vida foi dado aos dirigentes uma carta assinada em branco. Claro dirão alguns. Os estatutos, o Regimento Interno e outras normas são claros quando a isto. Mas vejam, estas normas foram criadas, escritas e decididas por eles, menos de 0,5% do nosso efetivo nacional.

              BP foi enfático em dizer que o importante são os resultados. E os resultados quais são? Meu amigo Escotista. Pode não ser o seu caso, mas você por acaso sabe que um bom número dos grupos no Brasil tem menos de cinquenta membros registrados e que a procura dos jovens para participar é mínima? Sabe que lista de espera praticamente não existe? Será que você sabe que a nossa evasão é uma das maiores do mundo? Que isto implica em muito a formação Escoteira, pois dificilmente um jovem ou uma jovem que ficou menos de um ano nas fileiras escoteiras poderão ter o conhecimentos que se espera para uma formação de Espírito Escoteiro. Poderia dizer que temos dezenas de países bem menores populacionalmente e com um PIB muito menor que o nosso e tem um efetivo superior ao brasileiro. Aqui mesmo na América do Sul. Tem explicação? Claro. Sempre tem.

          Muitos me dizem que ser voluntário hoje no escotismo não é fácil. Gastam do próprio bolso, pagam todas as despesas e chegam ao desplante de muitos pagarem as mensalidades nos grupos e a anual da UEB. Claro sei que poderei ser contestado, mas pagar para ser voluntario? Cursos? Temos vários. Muitos excelentes. Mas porque não estão atingindo o objetivo? Porque a saída de adultos ainda é grande? E os preços? Não sei e não posso afirmar, mas alguém comentou que as taxas de cursos hoje em dia fazem parte do caixa que cada órgão Escoteiro necessita. Acrescente a isto o numero de atividades regionais, os custos das peças, materiais, literatura dentre muitos itens que cada participante precisa. Dizem eu não sei que os preços não são acessíveis a todos. Disseram-me que as lojas escoteiras se transformaram em um negócio rentável e até de difícil acesso por parte de grupos longínquos. Usar cartões ou outra forma de pagamento só se for registrado no SIGUE. Venda fechada. 

        Não vou me alongar mais. Lembrem-se não desmereço a nenhum dirigente. A nenhum diretor. Sei do amor que eles tem pelo escotismo, pela sua formação e espírito Escoteiro. Tem muitos novos que estão lutando para mudar. Mas nem todos abdicaram do poder e da tomada de decisões entre eles. Ouvir o que outros tem a dizer sempre foi uma frase filosofal. Pouco usada na UEB. Nossa democracia é ténue. Poucos se arriscam a discordar. Eu sei de centenas que foram admoestados e hoje seguem a cartilha da obediência cega. Aqueles que podem sugerir ou discordar são considerados “persona non grata”. Eu mesmo se estivesse em um órgão Escoteiro e com registro em dia e agindo como estou agora claro que seria admoestado. Sem sombra de dúvida.
            
          Não vou insistir na velha tese que o jovem ainda sonha em ser um herói. Atividades aventureiras. Vida ao ar livre. Dar a ele um pouco de aventura e oportunidade de crescer por si mesmo. Mas sempre quando digo isto alguns contestam que o novo programa permite e se não o fazem é porque não entenderam bem como ele é. Ou seja, em outras palavras acham que um bom número dos chefes são incompetentes. Não sei. Sei que muitos reclamam e o pior, o número de jovens saindo do movimento continua no mesmo rumo, na mesma jornada sem futuro. Poderia dizer que esta luta em colocar o escotismo como uma formação moderna é querer substituir a escola que faz isto todos os dias, no próprio lar e junto aos amigos do dia a dia. Dar a ele algum diferente seria o caminho. Existe um sonho que não é só meu, sei de muitos que pensam assim. Uma grande união nacional para fazer com que todos sem exceções tenham direito a voz e voto. Nunca canso de lembrar-me que o seu direito termina onde começa o meu. Ah! Democracia. Que falta ela faz!

Recebam meu abraço, e meu Sempre Alerta.

Do Amigo
Osvaldo Ferraz

domingo, 30 de setembro de 2012

Finalidades de uma Organização.


Finalidades de uma Organização.
Um pequeno desabado de um velhote Escoteiro. Risos.

            De vez em quando sou atropelado por formadores de opinião ou mesmo escotistas quanto as minhas ideias que muitos julgam estapafúrdia, aboletas e desrespeitosas. Acredito que boa parte ainda não me conhece pessoalmente e fazem julgamentos apressados ao meu respeito. Já disse aqui que não tenho registro na UEB simplesmente para poder dar vazão as minhas razões e argumentos visando única e exclusivamente à expansão do escotismo brasileiro. Só assim ele terá o respeito que merece e terá o apoio por parte da nossa sociedade de uma maneira geral. Em tempo algum o escotismo aceitou uma forma de oposição mesmo que sadia e carregada de princípios éticos. Colocam nossa organização como intocável, sem defeitos, e até uns acham que ela é nosso pai e como tal somos uma família e que família contesta seus pais?

           Li uma vez uma definição sobre a palavra Organização. Trata-se do escritor Aldous Huxler, vejamos:

“Uma organização não é consciente nem viva”. Seu valor é instrumental e derivado. Não é boa em si; É boa apenas na medida em que promoveu o bem dos indivíduos que são partes do todo. Dar primazia às organizações sobre as pessoas é subordinar os fins aos meios.
Tudo estaria a salvo se toda a população fosse capaz de ler e se permitisse que toda espécie de opiniões fosse dirigida aos homens, pela palavra ou pela escrita, e se pelo voto, os homens pudessem eleger um legislativo que representasse às opiniões que tivessem adotado!

          Aldous não é o dono da verdade, mas suas palavras para mim trazem um fundo inspiracional. Se não houver contestações, divergências ou oposições sadias seria isto o que deseja Baden Powell quando organizou e criou o escotismo no mundo? Vejam abaixo um comentário seu sobre democracia:                                        

“A maior ameaça a uma democracia é o homem que não quer pensar pôr si mesmo e não quer aprender a pensar logicamente em linha reta, tal como aprendeu a andar em linha reta”. A democracia pode salvar o mundo, porém jamais será salva enquanto os preguiçosos mentais não forem salvos de si mesmos. Eles não querem pensar, desejam apenas ir para frente, seguindo a ponta do nariz através da vida. E geralmente, estes, alguém os guia puxando-os pelo nariz!
- Saia da sua estreita rotina se quer alargar sua mente.

         Claro, em ambos os casos estamos sujeitos a interpretações. Isto é válido e democrático. Mas será válida uma organização que por anos a fio dirigiu, alterou, modificou e apesar de acertos não teve o escotismo um crescimento significativo como se espera dentro das premissas do crescimento populacional? Não podemos contestar? Discordar? Criamos uma forma de obediência que nos obriga a aceitar tudo que vem determinado pelos dirigentes e sem poder discordar? Não me venham dizer que somos obedientes e disciplinados e que juramos servir a União dos Escoteiros do Brasil. Se não houvesse disciplina seria o caos. Mas isto não nos tira o direito de mostrar mesmo que erroneamente o caminho que acreditamos poder atingir o sucesso esperado.

         Eu poderia dizer que se tudo que foi feito tivesse sido feito democraticamente, com a participação de pelo menos boa parte dos nossos membros adultos, poderia sem sombra de duvida concordar e dizer que o caminho percorrido valeu ou não valeu, pois houve consenso de todos. Mas não é isto que acontece. As normas, estatutos, RI e muitas outras decisões foram feitas e aprovadas por menos de 0,5% do nosso efetivo adulto Escoteiro. Nunca houve consenso nacional. Nunca todos os grupos escoteiros foram consultados e só uma pequena minoria participou. Os novos que estão chegando não sabem do passado, e quando são informados são dados incompletos cheios de interesses pessoais e que dá uma impressão errônea da verdade.

         Não sou de outra organização e nem serei. Nasci na UEB e vou morrer nela. Mas nunca deixarei de lutar pelas minhas ideias. Podem dizer que guardo mágoas do passado, mas quem me conhece pessoalmente sabe como sou. Nunca fugi da luta. Não aceito estes feudos que se formaram na Direção Nacional, nas regiões, distritos e até em muitos grupos escoteiros.  Se aqueles que se sentem satisfeitos com o estado atual, se eles vivem me dizendo que nossa meta é o jovem, se acham que devem dizer amem a tudo que vem de cima, nada posso fazer. Isto também é democrático. Mas precisamos mesmo de coragem. Não para desmerecer tudo, não para ficar só criticando, mas temos que pensar se podemos melhorar. Para isto enquanto não se fizer uma mudança geral em todas as normas estatutárias, enquanto não chegarem à conclusão que a participação e decisões devem ser motivadas por uma ampla pesquisa nacional, seremos este movimento que não tem respaldo na sociedade e nem ocupa o lugar que merece nos meios educacionais em nosso país.

             O escotismo não pertence a alguns privilegiados que se encastelaram no poder. Ele é de todos. O dia em que não pudermos mais discordar, sugerir e brigar pelas nossas ideias então acabou por completo o sonho da democracia. Aí se verá que a ditadura está implantada. Calam-se todos. As vozes não mais se levantarão. O desejo de muitos políticos que hoje querem calar a imprensa para mandarem e desmandarem será uma realidade Escoteira. Não podemos aceitar isto. A UEB tem homens de valor. Muitos. Merecem nossos aplausos pelo sacrifício, mas que respeitem uma oposição sadia. Esta história de Comissão de Ética para os revoltosos se acontecer como já aconteceu no passado não pode ser aceita. Que as opiniões de norte a sul sejam respeitadas. Claro dentro do principio legal, e da nossa Lei Escoteira!

PS. Quero deixar claro que não sou candidato a nada. Não consigo andar direito, tenho problemas pulmonares e não posso sair de casa por mais de duas horas. Risos. Portanto se não pudesse expor minhas ideias enquanto vivo não mereceria ser chamado de Osvaldo, um Escoteiro!  

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Um agradável acampamento de Monitores.


"Quero que vocês, guias de patrulha, entrem em ação e adestrem suas Patrulhas inteiramente sozinhos e ao seu jeito porque, para vocês, é perfeitamente possível pegar cada rapaz da Patrulha e fazer dele um bom camarada, um verdadeiro Homem. De nada vale ter um ou dois rapazes admiráveis e o resto não prestar para nada. Vocês devem fazer deles inteiramente bons.
Baden-Powell of Gilwell.”.

Um agradável acampamento de Monitores. Fasc. 76

              O "Velho" Escoteiro não se fez de rogado. Era um dia que ele estava palrador, e eu gostava quando estava assim. Dizia-me: - Faço-lhe um convite. Agora você não está responsável pela tropa Escoteira? Chame seus Monitores, pergunte se já fizeram um Acampamento de Monitores. Eles vão olhar para você de outra maneira. Irão ficar se perguntando o que seria. Garanto que em pouco tempo todos irão se interessar e muito. Afinal você é o Monitor dos seus Monitores. Saiba que é uma maravilhosa atividade. Diga a eles que vai ser voltada única e exclusivamente para aprendê-lo a fazer fazendo, portanto aquelas tropas com Patrulhas bem adestradas com altos conhecimentos de técnicas mateiras não sei se iriam gostar, mas nunca é demais, pois o campo sempre é uma atração para nós escoteiros. – Portanto não sei como está agora sua nova tropa!
              Olhei para o "Velho" Escoteiro. Pensei com meus botões porque não? Afinal adoro um acampamento e fazer um só com Monitores e subs será uma experiência encantadora. – Você já fez "Velho"? – Ele me olhou com aquela cara de quem não gostou e disse – Claro que sim. Não iria sugerir nada que não tivesse boa experiência. Chame e discuta o assunto com seus assistentes. Explique o objetivo que é de dar maior conhecimento técnico ao Monitor, ensinar maneiras de liderar, dividir tarefas enfim coisas e coisas escoteiras. Depois chame os Monitores. Discuta a ideia mais e mais. Você sabe, será só você e eles. Claro para formar uma Patrulha completa convide os Submonitores. Depois coloque em discussão o nome da Patrulha e o grito. Não dê palpites. Eles devem providenciar o totem e o bastão. Agora é partir para a preparação de tudo.

              - Veja bem, sei que você conhece, mas minha sugestão é fazer algum diferente. Se possível que eles desconheçam. Primeiro - Escolha do local. Escolha bem. Veja se alguns deles tem sugestão. Veja se tem bambus ou eucalipto ou outro tipo de madeira para usar. Claro tudo com autorização do proprietário. Sem isto a técnica mateira não será possível desenvolver. - Escolhido o local, marcar a data. Neste período ver as providencias de praxe. Autorizações (dos pais, do grupo ou distrito se for o caso), ver a lista de material de campo, alimentação e duração do acampamento. Sugiro saírem em uma sexta a noite e voltarem no domingo. Ah! Esqueci-me de dizer. Será um acampamento com uma atividade noturna no primeiro dia. Já, já vou comentar sobre isto. Não levem muita coisa. Alguns costumam levar além do que precisam. Isto é só carregar peso a mais. No primeiro dia farão uma jornada noturna de mais de seis ou oito quilômetros. Todo o material será levado nas costas de cada um. O material individual ao mínimo necessário. Irão aprender a lavar roupa e secar passando. Diga que esqueçam o saco de dormir. Irão dormir sobre folhas secas ou capim. Quanto aos utensílios quem sabe um caldeirão pequeno, uma cafeteira, coador uma frigideira pequena e uma panela pequena para arroz ou algum parecido. Um facão (ou dois) uma machadinha pequena (ou duas) uma lima, e não esquecer. Um rolo de sisal.

                - Levar ainda quatro ou cinco lonas de 4x4 metros ou similar, (destas simples que todo grupo tem e que não pesam nada) elas serão dobradas de maneira tal que dá para amarrar na mochila. Os Monitores que tiverem facas, lanternas, canivetes escoteiros, cantis devem levá-los. Não levarão barracas. Com as lonas irão improvisar abrigos. Escolhido o material de sapa acima detalhado e o de campo a preocupação é com a alimentação. Simples. Muito simples brinco sempre que um arroz, macarrão e batata e algumas linguiças comemos por dias e dias sem perder peso. Risos. E se lá puderem pegar uns lambaris que tal lambaris fritos com arroz? Se isto for possível um ou dois anzóis, uma chumbada leve e alguns metros de linha de nylon bem final. Afinal você sabe pescar não? Toda a alimentação será divida pelos participantes e levadas na mochila deles. Primeiro fazer uma lista. Ex. X quilos de arroz, X quilos de batata e assim por diante. Não esquecer óleo, Bombril, sabão, sal, açúcar, café em pó etc. Lista pronta divide-se pelos participantes.

                - Interessante. Na minha época sabíamos o que cada um precisava para se alimentar. Chamávamos ração A, ração B e ração C. A primeira para acampamentos de fins de semana, a segunda para dois a quatro dias e a ultima pra mais de seis dias. Todos sabiam de cor, tinham a lista em casa. Fácil para cada um levar o seu. Lembre-se a quantidade deve ser sempre para mais e não para menos. Pode-se também dividir por itens. Ex. um leva o arroz, outro a batata e assim por diante. Bem acho que estou ensinando padre nosso ao seu vigário. Risos. Mas vamos continuar. Estes itens alimentícios e de limpeza irão conforme já disse dentro das mochilas de cada um. Cuidado. Embalar bem. Se possível em pequenas tapoers e amarradas com plásticos. É um desastre alguma abrir e fazer festa com o material individual. É possível que esqueci alguma coisa. Compete a voces descobrir e acrescentar. Agora vamos partir para o programa. - Esquecer a ideia de tal hora isto tal hora aquilo. Então qual é o programa? Encontro na sede às oito e meia da noite, convidar dois ou três pais para transportá-los até o inicio da jornada (caso seja necessário) e para buscar no domingo bem tardinha. De trem ou ônibus melhor ainda. Dividir todo material entre si e pé na tábua.

               - Estava gostando da ideia do "Velho" Escoteiro. Já tinha visto outras tropas fazerem acampamentos de Monitores, mas não como este. – "Velho" e a tropa? – Um dos assistentes fica responsável pela reunião. Você sabe existe um tal sub do sub que não está escrito, mas é fato. O sub do sub assume! Certo "Velho". Continue: - Ao chegar à estrada ou trilha, adeus aos pais e começo da jornada a pé. Vá junto a eles, se possível prepare uma serie de histórias curtas para no caminho ir contando. Incentive-os a terem seus contos também. Incentive-os também a ouvir os ruídos da noite. Tentar descobrir o que é. Eles devem aprender para quando estivem em marcha com a Patrulha. Lembre-se a cada meia hora pare por dez minutos. Pés acima da cabeça e do coração. Assim além de descansar mais é bom para a circulação. Não ande mais que três horas. Ao ver um local afastado da estrada, (uma estrada carroçável, melhor se dirigir a uma pequena fazenda ou sitio) Hora de dormir. Pelo menos uns quinhentos metros fora da estrada. Olhe o local, veja cada moita, cada monte de folhas e capim. Forre com uma ou duas lonas. – Uma canção, quem sabe um daqueles jogos de boa noite, oração e vamos dormir. Nada como ter o céu como barraca e as estrelas como proteção da noite.

                 - Costumava – dizia o "Velho" Escoteiro – Escolher local onde não houvesse perigo. Caso desconfie, coloque guarda. Uma hora para cada um. Sempre bem perto de você. Explique como é. Qualquer coisa qualquer dúvida deve chama-lo imediatamente. – Bem cedo, sol ainda não nasceu e alvorada. Não vão sair sem café. A Patrulha se vira. Um deles é o cozinheiro. Você só orienta. Outro vai ver água ou então se precaveram antes com um cantil cheio e não usado. Biscoitos ou pão com manteiga já preparado. Pança cheia pé na taboa. Você já deve saber que mais duas horas chegarão ao local onde vão acampar. – Olhe em marcha de estrada você deve intercalar que vai à frente e quem vai por último. Sempre trocando. A distância de um e de outro não deve ser acima de três metros. Acima disto pare espere o atrasado. Não se esqueça das canções, observações ou quem sabe um relatório individual de cada um sobre os pássaros encontrados, nomes, se apareceu algum outro animal, e olhe, não vale animal domestico ou de criação. Seria estupendo um quati, um lobo, uma capivara ou um macaco prego. Não importa.

                 Ao chegar ao local escolhido, nada de pressa. Analise junto a eles onde deveria ser o melhor local do acampamento. Mostre exemplos de chuva torrencial, enchentes, local sujeito a ficar barrento, água de chuva em cascata nas barracas enfim tudo que for útil para a escolha. Depois deixe que cada escolha seu local. Individualmente. Ninguém fala com ninguém. Uma conversa ao pé do fogo e vamos ver a maioria onde escolheu. Veja as horas, se preocupe com um bom fogão, claro irão fazer um suspenso enquanto isto se vire com um tropeiro mesmo. Ficou claro na sede que cada um será responsável por uma montagem. O Monitor é todos, o sub sempre é o intendente, ainda tem o almoxarife, o aguadeiro, o lenhador, o cozinheiro e construtor de pioneiras. Não vale no campo os cargos burocráticos de sede. Bom sinal é a fumaça. Se ela existe é um começo para que o almoço seja iniciado. Deixe dois se preocupando. Os demais divida as tarefas. Explique a eles que breve serão os Monitores em um acampamento.

                - O "Velho" estava animado e eu também. Ele contava tim, tim por tim, e assim eu aprendia tudo. – Continuou o "Velho" Escoteiro – Antes da montagem do campo você deve ter conversado com todos o que poderiam fazer no campo. Quem sabe uma mesa, um fogão suspenso, fossas, lenheiro, W.C, enfim o que puderem fazer. Exija que os nós sejam bem feitos. As amarras bem acabadas. Lembre-se você ali é o Monitor dos Monitores. Não faça nada. Só ensine e explique. Bom ensinar também como usar o machado, o facão, a faca, a limpeza deles, não deixar em qualquer lugar. Ter um porta ferramentas, um toco pequeno para as de corte, explique com fazer achas de lenhas, cuidados necessários para evitar acidentes, nunca sair sem avisar aonde vai e sempre com mais um. Depois de duas horas pare tudo. Faça uma conversa ao pé do fogo. Discuta com eles o que foi feito e como está andando tudo. Deixe que cada um dê sua opinião. Após continuação dos trabalhos e parar só quando o almoço estiver pronto. Lembre-se da higiene. Lavar as mãos, o rosto, se já terem a mesa ótimo se não procurar um local apropriado onde todos ficarão juntos. Ninguém pode fazer a refeição longe um do outro.

                      - O "Velho" Escoteiro estava me prendendo com sua ideia, deixei ele continuar e não interrompi. – Olhe, continuou, acho que após o almoço alguns ajustes finais e até às dezesseis horas deve estar tudo pronto. Se sim, é hora de uma inspeção. A Patrulha forma em frente ao campo, dão ao grito e o Monitor mais velho que assumiu apresenta a Patrulha para inspeção. É bom todos acompanharem, mas explique que em campos de Patrulha onde estão todos só o Monitor acompanha a chefia. Esqueci-me de dizer sobre a barraca. Voces só levaram lonas. Fácil. Muito fácil uma armação tipo cavalete, a lona por cima presa com piquetes/espeques e fechada à frente (metade) e atrás com galhos com bastantes folhas e amarrados as laterais dos cavaletes. Não é difícil fazer uma esteira bem “acochada”.   Na frente o mesmo, mas tipo porta de abrir e fechar. Não se esqueçam das valas em volta dos abrigos. Se chover poderão dormir tranquilo.
       
                          - Já é tarde. Quem sabe um adestramento simples de usar a corda para prender entre duas árvores. É preciso força e nós apropriados. Você sabe quais são. O Volta do Fiel feito em um cabo é uma coisa, feito em corda em uma árvore outra. Quem sabe um fiel duplo? Melhor todos treinarem bem. Tem outro que faz o papel de uma roldana e puxado por todos vai servir tranquilamente. Torno a repetir, eles fazem você só orienta. A corda deve ficar não mais que um metro do chão. Com um bastão um jogo de atravessar a corda equilibrando. Claro usando os pés e o bastão como ponto de equilíbrio. No começo ninguém consegue passar. Não mais que seis ou oito metros de distância. Bem treinado varias vezes a maioria passa. O bastão serve de guia. Se der tempo praticam ao nó de evasão. Corda as costas, achar um galho, fazer um nó e descer pela corda. Marcar o tempo. Todos fazem e treinam quantas vezes quiserem. Agora um banho, uma canção, piadas e fiquem a vontade até o escurecer. Depois já sabe, inicio do jantar e os demais preparar as barracas ou abrigos para a noite. Não se esqueça da lenha para o fogo do conselho à noite. Cada um da Patrulha pega uma parte. Nada de gravetos.

                            - Um bom banho, descanso, o tempo para voces não existe. Inicio do jantar. Todos ajudam. Jantem com calma, contando “causos”. Incentivem seus Monitores e subs a contar também. Quando for lá pelas nove, tente montar uma imagem de um fogo de conselho diferente. Quem fizer vai ter que acender com um só palito. Deixe que fiquem a vontade em volta do fogo. Cada um senta onde quiser. Quem acende fica responsável pelo fogo e pela sua alimentação. Deixe que os Monitores puxem as canções, incentive palmas novas inventadas ali, leve duas ou três que eles não conhecem. Quando o fogo for aceso e é claro que pode dar errado com um só palito deixe que seja tentado uma ou mais vezes. Explique o porquê não deu certo. Muitos usam achas grossas e outros capins ou mato que juntam na hora achando que vai dar certo. No dia seguinte você vai fazer um jogo onde cada um fará seu fogo e acenderá com um só palito. Treino é treino jogo é jogo. Risos. Sabe, eu ali instituiria uma tradição. O batismo. Como? Todos serão batizado com um nome de guerra. Criem uma mística. Pode ser ficar de joelhos em frente ao Monitor. Com o bastão ele faz uma declaração. Venda seus olhos e ele seguro pelo Monitor salta o fogo uma ou duas vezes gritando seu nome de guerra. Pode ser indígena ou alguma figura proeminente de nossa história.

                          - O "Velho" escoteiro não parava. Olhei para o relógio. Uma da manhã, caramba! As sete tinha de estar no trabalho. Ele desconfiou. – Olhe vou terminar – disse. – No domingo último dia, faça uma boa inspeção no campo. De primeira qualidade, mas com todos juntos. Vá explicando o que sempre é olhado. Ensine como deveriam ter colocado o uniforme a noite para não amassar e nem pegar sereno. Depois da bandeira aproveite e treine semáforas. Você não deve esquecer-se de levar pelo menos quatro pares de bandeirolas. Com as semáforas voces vão passar boa parte da manhã. Lá pelas onze faça uma disputa. Transmissão a distancia. Aproveite para ensinar também como se usa a fumaça em transmissão a distancia. É gostoso. Fazer um fogo e quando estiver aceso ir colocando folhas secas. Sem labaredas usar uma manta ou lona. Ensine o S.O.S, ensine voltar ao ponto de reunião, ensine o que souber. – Olhe, voces se divertiram. Não foi aquele programa. O importante em tudo foi à confiança. A troca de ideias, mostrar a eles como liderar suas patrulhas.

                         - O "Velho" me olhou e disse – O final do domingo desmonte tudo. Explique como se faz. Não deixe vestígios. Convide o proprietário ou o responsável. Apresente aos jovens. Leve um lenço do grupo e dê para ele. Não colocar no seu pescoço. Risos. Lá pelas três faça um grande jogo. Você já deve ter preparado antes. Uma caça ao tesouro de olhos vendados. Como é o jogo? Caramba! Se não sabe montar um desista de ser Chefe escoteiro. Invente! Vamos ver se eles conhecem bem o terreno que ficaram. Depois um banho gostoso e esperar os pais para o retorno. Quando chegar a sede, não dê o debandar logo. Faça uma Corte de Honra rápida. Peça ao secretário para fazer a ata. Na hora. Todos assinam. Ficará para sempre com a Patrulha de Monitores. Uma tradição.

                      - Olhei para o "Velho" Escoteiro e disse – Olhe "Velho", nem tinha pensando nisto. Mas veja adorei a ideia. Vou desenvolver junto aos Monitores e aos assistentes. Não vai ficar engavetado. Se Deus quiser em um mês iremos fazer nosso primeiro acampamento de Monitores. Obrigado, mas desculpe, são duas da manhã e tenho que ir. Volto na sexta está bem? – Vá, você é um preguiçoso e riu. – O "Velho" Escoteiro sabia como era minha vida. Corrida. Mas adorava estar com ele. Aprendia muito. Na rua ao retornar, fiquei matutando. Vou me divertir muito agora na minha nova tropa. Desculpe a tropa que colaborava. Não é minha. Como diz o "Velho" Escoteiro paguei quanto pela tropa?  
  
Para conseguir isso, a coisa mais importante é o próprio exemplo, porque, o que vocês fizerem, os seus Escoteiros farão.
Mostrem a todos eles que vocês sabem obedecer às ordens dadas, sejam elas ordens verbais, ou sejam regras que estejam escritas ou impressas; e que vocês cumpram as ordens, esteja ou não o Chefe escoteiro presente. Mostrem que conseguem conquistar distintivos de Especialidades e, com um pouco de persuasão, os seus rapazes seguirão o seu exemplo.
Mas, lembrem-se que vocês devem guiá-los, e não empurrá-los.
Baden-Powell of Gilwell.”.