Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. A volta dos que não foram.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
A volta dos que não foram.

- Seu nome? – Osvaldo Excelência.
- Osvaldo de que? – Ferraz Excelência.
- Não me chame de excelência. Não sabe quem sou eu?
- Me disseram que era o Senhor São Pedro. Usei o termo excelência para dar uma conotação de respeito.
- Esqueça! – Excelência quem usa são seus políticos que antes de se pegarem no tapa ou nos palavrões se chamam uns aos outros de excelência!
- Seu nome não consta da minha lista. Ele disse com cara fechada.
- Senhor São Pedro quem sabe podem ter escrito Vado Escoteiro, sou muito conhecido lá na terra assim.

- Anjo Gabriel! – Venha cá. Era um anjo enorme, mas simpático.
- Pois não São Pedro!
- Vá até o Armazém 185.487 próximo a Constelação de Andrômeda. É aquela galáxia espiral próxima a Via Láctea, aquela que tem seu nome derivado da princesa mitológica Andrômeda. Chegando lá procure o arquivo, ou melhor, o Dossiê deste tal Vado Escoteiro. – Não demore, pois a fila está grande demais e amanhã vou viajar para o espaço sideral. Fui chamado pelo Mestre!
- Olhei para São Pedro assustado. Tinha oito anos que estava nesta fila e agora vem me dizer que não estou na lista? – Notei a um quilômetro de distância um vermelhão que parecia ser chamas altas pegando fogo. Seria lá o inferno?

- Licença São Pedro! – Posso lhe dar uma palavrinha?
– Diabos, era um tipo metido a besta daqueles que gostam de uma camiseta, um lenço amarrado nas pontas, claro barrigudo como eu e com a camisa fora da calça. Arre! Olhei melhor e pelo novo lenço sabia que era da Liderança Nacional que mete o bico em todo lugar. Agora até no céu tem disto? - Fale Chefão! Disse São Pedro.

- Chefão? Aqui também?
- Senhor São Pedro, este reles chefinho lá na terra cria caso, fala mal dos Grandes e Poderosos Chefes da UEB, agora chamada de Magnífica e única EB. Ele é metido a escrever histórias e faz artigos dizendo cobras e lagartos da nossa amada direção. Seu séquito seguidor no Facebook é pequeno, uns gatos pingados e mais alguns nos seus blogs fajutos. Nosso Conselho de Ética pediu para não dar colher de chá. Se eu fosse o Senhor, chamava logo o Chifrudo para levá-lo as prefundas dos infernos!

- Minha nossa! Onde amarrei minha égua? Até aqui estes tipos da Comissão de Ética tem voz e voto? Eu nunca tive essa regalia escoteira e agora me julgam como um insurreto maldito? Maldição, pelas barbas do Profeta Maomé. Logo que puder irei declarar guerra a esta cambada que só querem ver minha caveira no Inferno!

- Achei Senhor São Pedro. Era o Anjo Gabriel que chegou para me salvar...
- Me deixa ver! – São Pedro começou a ler. A fila a reclamar. Até aqui a fila não anda. Um chefinho daqueles novos, recém-enfeitado com o Lenço da IM cheio de “meu pé me dói”, deixando a barba crescer pediu para usar da palavra.

- Fale disse São Pedro e seja breve, tem uma fila de mais de 35.000 quilômetros e nem todos irão para o céu. Não tenho comida para todo mundo e muitos anjos escoteiros bondosos irão chegar. A Policia Escoteira Galáctica também vem.

- Pois não Senhor São Pedro. Acho que a triagem que fazem quando chegamos é falha. Só o senhor para atender este mundão de gente? Se morreu, bateu as botas Então que seu destino já esteja traçado. Perder tempo sem uma boa internet não dá. Se quiser posso vender celulares e Smartphone da ultima geração. No Whatsap são identificados na hora.  Preços a perder de vista. Vendo no cartão e cheque pré-datado. Se quiser pode comprar também no novo site da EB – PAXTU!

- Deus meu! Estes vendedores escoteiros estão em todo lugar! Mas gostei dele. Gente boa. Virou para São Pedro e disse: - Pedrinho, Se este paspalho foi Escoteiro dê a ele uma oportunidade. Afinal ele já foi lobo e escoteiro e deve ter feito muitas boas ações!

- Procurei meu bastão com ponteira de aço. Aproximava uma “diabada” vestimentada e tinha de me defender. Lembrei que ele foi confiscado quando cheguei por aquela amor de anja linda sardenta de cabelo vermelho. Era mesmo linda de morrer! Ops! Mas eu já não estava morto? - São Pedro apitou três vezes. Apito? No céu? Nem um chifre do Kudu? – Reunir quem? A chefaiada que toma conta do céu? Pensei eu. - Não era, chegaram 14 demoniozinhos escoteiramente vestimentados.
- Levem este sapo boi para o inferno. Veja com o Doutor Presidente Capeta um bom lugar para ele. Dizem que é indisciplinado, não tem registro na UEB e fica tirando onda de Chefão. A meu pedido que ele queime pelo menos cinco milhões de anos!

- Nem morto! Nem morto! Eu gritava.
- Paspalho dizia a capetada, você está morto! Não volta mais na terra. - Mas me mandaram para a fila de São Pedro! Eu disse. Mereço uma chance! - Não deram bola. Arrastaram-me até a beira de um precipício. Lá em baixo um fogaréu enorme. Eu esperneava, gritava e pedia a ajuda de todos os santos.

- Um senhor idoso simpático, muito bem uniformizado, com um chapéu Escoteiro de fazer inveja fez um sinal para me largarem. – Na sua fleuma escoteira muito usada em Gilwell Park disse: - Vou levá-lo comigo para o Grande acampamento! - E agora José? Pelas barbas de Maomé! Vou para o inferno ou para o Grande acampamento? Já pensou ficar bilhões de anos em volta de uma fogueira cantando, ouvindo historias Escoteiras e comendo banana assada? Será que vou aguentar?

- Pulei no espaço rumo às chamas vermelhas do inferno cantando o rataplã e a canção da despedida. Afinal não era mais que um até logo não era mais que um breve adeus!

- Marido! Marido! Acorda! Não aguento mais esta sua gritaria nos seus pesadelos. Afinal não tem nenhum sonho lindo para sonhar? – Eita mulher amada. Sempre me salvando destes meus pesadelos infernais. Ufa! Levantei e fui tomar um uisquezinho para melhorar meu humor. Um Chivas Regal 18 anos com quatro azeitonas pretas fizeram efeito. Fui para minha varanda e comecei a cantar sob o aplauso dos vizinhos o rataplã. Minha vizinhança é supimpa. Não tem nenhum dirigente escoteiro! Viva!


Nota - Se você não gosta das minha gozações quando tenho pesadelo, melhor não ler. Aqueles mais “chegados” a EB ou UEB sei lá, não irão apreciar meus dotes humorísticos de Velho Chefe Contador de Histórias e Bravatas. Deu sopa? Meto o pau em dirigentes que ainda não aprenderam a verdadeira fraternidade escoteira. Kkkkkk.

sábado, 27 de janeiro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. As férias Escoteiras do Chefe Tibúrcio.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
As férias Escoteiras do Chefe Tibúrcio.

                      Não discuto. Posso dizer sem errar que são merecidas. Afinal enfrentar uma estrutura de um grupo escoteiro juntamente com sua atividades profissionais e familiares durante um ano não é para qualquer um. Conheci um Chefe Escoteiro que quando chegava o fim do ano ele se entristecia nos últimos sábados de reunião. Como não era muito dado a dar ouvidos aos escoteiros ele fazia questão de fazer o programa sozinho. Programa? Imagine! Rabiscava antes de sair uns horários que ele chamava de BOIA. No jargão Escoteiro significava “Bandeira, oração, inspeção e o A eu fico pensando até hoje que podia significar”. Alerta? Avante? Pois é.

                     Ele sabia que ao chegar à turma já estaria dando um arranco numa “pelada” e poucos estariam em seus cantos de Patrulha. Quem sabe uns poucos lá estavam, pois sonhavam em receber um dia o seu Lis de Ouro. Coisa impossível já que naquela tropa isto era um “sonho impossível”. O tal Chefe adorava quando julho chegava, e em dezembro e janeiro ele se mandava com a família para a praia. Ainda bem. Era um Chefe que tinha algumas posses. Um carrinho, uma casinha, um empreguinho que lhe dava um tudo extra para viajar.

                    Um dia, um “Lambisgoia Escoteiro” lhe perguntou: - Tibúrcio, (era o Chefe) você sabe quantas horas se dedica aos seus escoteiros? - Ele olhou de banda com raiva e não disse nada. Ele sabia, já tinham dito para ele. Quatro reuniões de sábados por mês, no caso dele multiplicado por nove meses seriam trinta e seis reuniões. Muitas? Poucas? Mas e as atividades extra sede? Os acampamentos e excursões? Os desfiles? Os “limpa lixo” para se mostrar que são mestres em colaborar com a comunidade? Ele preferia ficar calado. Não tinha assistentes e só ele para suar de “coitado”.

                  No início tentou motivar sua “patroa” para entrar. Deu como exemplo o Zeca Pantufa cuja esposa era uma excelente Chefe de lobinhos. Nada. Ela foi algumas vezes, mas viu que ali não era sua praia. Seus dois filhos vibraram no início, mas agora iam mais por exigência dele. O interessante é que tinha meninos querendo entrar apesar de muitos querendo sair. Querendo não, eles saiam mesmo. Sumiam e não davam mais notícias. Não adiantava ele vociferar que se não viessem até dia tal estariam expulsos.

                Quando fez seu primeiro curso até que deu uma “vibratória” na sua mente. Planejou horrores coisas “fantásticas” para sua tropa. Como diz o velho ditado, “Uma Volta a Gilwell” pode ajudar. Até que sim. Depois viu que os cursos eram mais burocráticos, uma preocupação enorme em ferir os “estatutos do adolescente” Cursos para saber como funciona a Nave mãe, aprender a “mexer” com o tal PAXTU que elegantemente em prestigio a última morada do Chefão, substituiu o famoso SIGUE. Infalível nas suas informações e contra-informações. Técnicas de campo nada!

                Ele pensava porque os escoteiros não aproveitavam nas férias os Campos de Férias que ofereciam estupendas atividades e que sempre vivem lotados. Ele fazer um acampamento escoteiro de longa duração? “Necas de catibiriba”. Adorava suas férias, viajava, descansava e muitas vezes pensou em passar o bastão de chefia para outro. Tocou no Assunto com Nicodemos o Chefe do Grupo e nada. – Não tenho ninguém em vista.  Pensou como Ponte Alto do outro grupo ainda participava com todos nas férias, fazendo acampamentos de longa duração.

               Deixemos Tibúrcio com seus problemas. Ele agora retorna das férias. Sua “patroa” cobra dele muitas atividades sociais nos fins de semana. Seus filhos têm outras escolhas. Ah! Seria bom se eu entrasse de férias escoteiras para sempre! Pensava tristonho quando se dirigia para mais uma reunião. E eu aqui no meu cantinho das minhas criações ainda me “batuto” se devemos ou não ter férias no escotismo. Quantas horas escoteiramos por ano? Vai dar tempo de preparar a escoteirada ou a lobada para conquistar seus sonhos?

              Ainda bem que não tenho férias. Sendo aposentado não faço nada. Chega de escrever, a todos meu Sempre Alerta sem o famigerado SAPS. Já falei dele por aqui. É madeira de dar em doido a preguiça de dizer Sempre Alerta para Servir. Podem rir, eu tenho os meus motivos. Qualquer dia desse retorno para encher a paciência e contar a longa e saudosa história do SAPS. Até as próximas férias... Se Deus quiser!

Nota - As férias estão terminando. Os Grupos Escoteiros de volta as atividades. Poucos acamparam durante as férias e outros sabem que uma parte da escoteirada e lobada não vão estar presentes nesta primeira reunião. Quem sabe muitos irão desaparecer para sempre. É sempre assim, fim de férias novo recomeço. Bem vindos! Boa caça! Avante para o campo e que seja muito poucas, mas muito poucas mesmo as reuniões de sede.

       

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Conversa ao pé do fogo. Uma questão de principio ou... Hábito de comportamento.


Conversa ao pé do fogo.
Uma questão de principio ou...
Hábito de comportamento.

                      Estamos vivendo uma fase “Sui Generis! No escotismo Brasileiro. Quem sabe acontece também em países considerados de primeiro mundo. Para alguns o método Badeniano é imutável para outros sujeitos a adaptações. Sinais de novos tempos. Hã! Novos tempos! Isto abre a porta para muitos que chegam ao escotismo e veem aqui um manancial para liberar suas ideias e criatividades. Se você comenta sobre o que disse BP tem vários para contradizer. Sempre com a mesma alegação: - Tempos modernos”.

                     Não sou um estudioso do escotismo em outros países. Lembro-me do Embaixador Juracy Magalhães em 2014 quando disse: - “O que é bom para os EUA é bom para o Brasil” – Ele ironizava os “entreguistas” nos anos 70 e 90. Agora fazemos o mesmo. Países da Europa e dos EUA são modelos. Os que têm maior número de membros como Indonésia (8,1 milhões) Índia (2,4 milhões) Filipinas (1,8 milhões) Tailândia e Bangladesh com seu milhão não servem como exemplo.

                  Mudar? Alterar? Novas normas e novas metodologias? Pode até ser. Não discuto. Mas quem disse que irá dar os resultados esperados? Temos sofrido uma série de mudanças, de experimentos, afinal somos cobaias? E os países copiados, deram certo? Falar da Inglaterra onde nasceu o escotismo ou dos americanos com sua perfeição de primeiro mundo fico na duvida se serve para nós. E tudo foi mudando. Veio o Traje, a Vestimenta, o novo programa educativo tão decantado, mudaram o símbolo da flor de lis, das especialidades, dos distintivos de classe. Tudo isso diziam para o “bem do escotismo”. Os outros estão mudando Chefe! Precisamos mudar também! Novos tempos!

                  Não discuto quando tudo é discutido com as bases, as Unidades Locais, e quais foram os resultados. Não sei se é o nosso caso. Basta alguém escrever sobre BP sua metodologia, para vir um dizer que hoje se ele estivesse vivo faria diferente. Será que Jesus Cristo se estivesse entre nós hoje faria tudo diferente? Bom para pensar, mas só vendo poderíamos dizer. Cada um tem seu principio de normas ou padrões de conduta. Alguns se calam outros alardeiam.

                 Para aqueles que viveram o escotismo no passado o hábito de comportamento foram mantidos. Viveram assim e acreditam que este é o escotismo verdadeiro. Alguns preferem ficar em OF não se manifestando. Outros aceitam as mudanças sem se manifestar. É um direito. Uns poucos adoram mostrar seus conhecimentos burocráticos tentando provar como se fosse de alguma religião mostrando o que se deve compreender dos versículos bíblicos. - Quais os resultados? Deram certo? Temos exemplos para dar?

                 Não sei se li ou alguém me contou que os Americanos quando pretendem mudar parte do seu programa escoteiro eles escolhem algumas tropas que durante anos são observadas e testadas na nova programação ou metodologia. São anos e anos. Só quando os jovens estiverem na fase adulta eles terão as respostas para a mudança em todo o efetivo. Aqui no Brasil? Muda-se da noite para o dia. E se não deu certo alguns meses depois se muda de novo.

                 Não vou ficar repetindo se o método Badeniano é o melhor ou não. Todos que ingressam no escotismo já devem conhecer. Será que os novos dirigentes tem direito a mudar toda uma história, todo o trabalho de um homem que criou este movimento com tantos adeptos? Reclama-se que não se pode mais fazer campismo, que o aprender fazendo pode ser feito de outra forma, que o jovem de hoje não tem condições de assumir seu próprio desenvolvimento e que o Sistema de Patrulha não é tão importante. BP é ultrapassado, o moderno trazido pelos novos pensadores e pedagogos tem muito mais valor?

                Discute-se hoje tanto que nem sei se este caminho é o sucesso com que todo esperam. Liberdade, fazer fazendo, ouvir os jovens, acampamentos, uniformização, garbo e boa ordem são aos poucos substituídos por outras maneiras que não aquela tradicional do fundador. As reuniões de sede são frequentes. O campo é difícil de ir e nem sempre o líder tem tempo para acompanhar. Brinco com minha consciência que hoje temos muito mais Chefes Turistas que no passado. Eles não se importam com o simbolismo, a mística, nem ligam para o tradicional. Adoram viajar, ser “staff” namorar quando se pode e vestir do jeito que gosta.

                Não sou contra adaptações desde que discutidas e levantando-se em consideração o que pensam as unidades locais. Que tenha contendores de ambos os lados. Do presente e do passado. Seguro-me no que sempre pensei. Precisamos mudar os estatutos, dar direito a todos do escotismo, adultos ou não de poder participar de sua vida escoteira. Dos maiores poder votar e ser votado, de ter direitos em todas as convocações legais e estatutárias e poder discutir e deliberar nos temas propostos.

                Sei que não sou um “expertise” no escotismo. Já temos demais deles atuando. Mas eu gosto de expressar meu pensamento. Não sei se tenho direitos, pois vive tudo que se pensa no escotismo desde menino lobinho até hoje. Disseram: - Perda de tempo Chefe! Perda ou não bato na mesma tecla. Sinceramente não estou vendo resultados a não ser chefes voluntários falando maravilhas do que fazem. Poucos se dão ao luxo de mostrar o que fazem na realidade. Quantos passou para escoteiros? Quantos ficaram e passaram para sênior? Quantos na sua vida atual dão seu testemunho nas vantagens da educação escoteira?

               Enfim, mais uma vez levanto minha voz. Nas letras e ideias somente. A minha voz real não existe mais. Se os tempos bons estão chegando eles não são mais os meus. Vida longa ao escotismo, que ele não caia nas mãos de pensadores e pedagogos demagógicos que irão mudar tudo o que um dia fez o nosso fundador.


Nota – Para não perder o andar da minha caminhada de Velho Chefe Escoteiro, mesmo trôpega, continuo escrevendo o que acredito na minha formação escoteira. Disseram-me que sou um contestador e não existe nada de útil nas minhas palavras. Prefiro me esconder na frase famosa dos mexicanos: “Ai Gobierno soy contra” – “No hay Gobierno? Soy contra também”! Alegria de velhos escoteiros duram pouco. Logo quem sabe estarei assistindo a tudo isso em um palco criado no universo, onde poderei aplaudir ou chorar com os resultados.

sábado, 20 de janeiro de 2018

Lendas maravilhosas. A história do toque do Silêncio.


Lendas maravilhosas.
A história do toque do Silêncio.

                   Capitão Barbosinha não tinha filhos no escotismo, mas sempre estava presente em reuniões de sede e até mesmo em acampamentos ele fazia uma visita relâmpago. Não sei por que o Chefe Tomaz não tomou dele a promessa. Era menino naquela época e quem sabe deveria haver uma história que não poderia ser contada. Todos nós gostávamos muito dele. Calmo, ponderado sempre com uma instrução militar ou uma história para contar.

                   Nunca esqueci aquela tarde, acampados as margens do Rio Guaçuí, ele chegou de bicicleta sem ofegar. Rimos a valer quando ele apoitou em uma árvore e perdeu o equilíbrio caindo como uma fruta madura no chão. Ele era da Policia Militar e muito querido por todos. Um dia me disse que deveria ter sido escoteiro e não foi. Quando notou meu clarim pendurado na ponta da minha barraca ele me perguntou: - Vado, você conhece a lenda do toque do silêncio?

                   Milito e pedregulho ouviu o que ele dizia e por um toque de assovio chamou toda Patrulha. Era nossa maneira de se comunicar. Sentamos a sua volta e ele de cócoras sorriu e começou a contar: - Escoteiros! É uma lenda quando ouve a terrível Guerra Civil Americana, lá pelos idos de 1862. O Capitão Robert Ellicombe do Exercito da União estava com seus homens perto de Harrison’s Landing, na Virginia. O Exército Confederado estava do outro lado de uma estreita faixa de terra. Durante a noite o Capitão Ellicombe ouviu os gemidos de um soldado caído, gravemente ferido no campo.

                 - Sem saber se era um soldado da União ou um Confederado, o Capitão decidiu arriscar sua vida e trazer o homem atingido para cuidados médicos. Arrastando-se deitado em meio ao tiroteio ele o alcançou e começou a puxá-lo em direção ao seu acampamento. - Quando finalmente alcançou suas linhas descobriu que o soldado era na realidade um Confederado, e que ele havia morrido. O Capitão acendeu uma lanterna e na obscura luz viu a sua face. Era o seu próprio filho.

                 - O rapaz estava estudando música no Sul quando a guerra começou. E sem falar com seu pai, alistou-se no Exército Confederado. Na manhã seguinte, o capitão pediu permissão aos seus superiores para dar a ele um funeral com honras militares, apesar de ser um soldado inimigo. Seu pedido foi apenas parcialmente atendido. Ele solicitara que alguns membros da banda militar pudessem tocar um hino para o funeral, mas os comandantes não concordaram, uma vez que o soldado era um Confederado. Mas, por respeito ao pai, eles lhe ofereceram só um musico.

                 - O Capitão escolheu um corneteiro. Pediu a ele para tocar uma série de notas musicais que havia encontrado em um pedaço de papel no bolso do uniforme de seu filho. Nasceu então a triste melodia executada em serviços funerais de militares e que conhecemos como o Toque do Silêncio!

                - Notei que o Capitão Barbosinha estava emocionado ao terminar o conto. Mas todos nós entendemos o porquê ficou triste. Sabiamos que um filho seu morreu de acidente de automóvel há dois anos. Um por um cada um de nós fomos até ele e fizemos questão de um forte aperto de mão e um abraço. Quando chegou a hora de recolher pedi ao Chefe João Soldado se podia tocar o toque do Silencio naquela noite. Autorizado toquei quem sabe o mais lindo toque que já tinha realizado.

                 Se alguns de vocês leitores ainda não ouviram o verdadeiro toque do silencio, no site do Youtube poderão ouvi-lo e ver a beleza de um toque tão triste.


Nota: - O silêncio, uma música, um toque, um cheiro e meu pensamento vai parar lá no passado, naqueles belos tempos, todos dormindo e o toque ressoando na floresta sem querer acordar o que ali moravam. Belos tempos que não voltam mais.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Sorria você vai dar um gostoso Grito de Patrulha.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Sorria você vai dar um gostoso Grito de Patrulha.

                   Vez ou outra nos passa despercebido à união, a força e o orgulho quando damos o Grito de Patrulha. Até hoje muitos param para ver o grito quando uma Patrulha se prepara. Dá para ver o espirito de Patrulha, o espírito escoteiro e a vibração quando todos seguram o bastão, elevado no ar o grito sai emocionante para alegria dos patrulheiros presentes. O Grito de Patrulha faz parte das grandes místicas e tradições no escotismo. Tem um simbolismo que encanta. Espero que nenhum “çabio” da Escoteiros do Brasil resolva cancelar em nome da modernidade.

                    Muitos dos nossos simbolismos, místicas e tradições estão desaparecendo. O grito é único. Cada um tem seu estilo, uma maneira de gritar, a entoação que dá uma marca própria à patrulha. Difícil esquecer o primeiro grito. Conheci patrulhas que deram seu grito em montanhas, vales, florestas inóspitas e me empolguei com uma que resolveu dar o grito dentro de uma jangada caindo em uma bela cascata de águas cristalinas e enfumaçadas.

                      Li um dia que um jovem pedia sugestões para o grito.  Assustei. O Grito não é dele é de todos na patrulha. Todos têm direito a opinar quando a Patrulha é nova. Se não é o antigo não pode ser trocado. Por tradição deve permanecer para sempre. Gostar ou não gostar não dá direito a troca. O Grito não é dele, é de todos que passaram um dia por aquela Patrulha. O antigo escoteiro se lembra dele com orgulho e gosta de às vezes sozinho ou não lembrar gritando como nos velhos tempos. Afinal o grito surgiu pelas mãos de todos.

                        Outro dia um disse para mim: - Chefe eu dei um grito de patrulha naquele acampamento regional! Bacana – Bacana mesmo. Hoje não, os encontros nacionais e regionais na maioria das vezes são participantes individuais, patrulhas não vão mais unidas, não há grito a não ser se alguns se reúnem e resolvem fazer o seu. - Sabe Chefe aquele Jamboree na Inglaterra realizado no Olympia? Aquele bem no coração de Londres? Eram mais de 8.000 escoteiros de 34 países. Como deve ter sido fantástico quando todos deram seus gritos de Patrulha.

                       Dar um grito e não esquecer são coisas de escoteiros que vão guardando tudo no coração. Coração! Como cabe lembranças e coisas gostosas que acontecem com a gente. Eu conheci milhares de patrulhas. Adorava vê-las dar o grito, adorava ver o sorriso e sabia que o melhor sorriso era do novato, do noviço ou pata-tenra. Ele quando começa se sente mais um da turma. Ele acredita que seus sonhos de aventureiro estão prestes a começar.

                         Todos são responsáveis pelo grito. Tenha ou não participado de sua criação. O grito é eterno, constante, imortal, imutável e infinito. Não se muda. Ele não tem dono, pertence a todos que um dia estiveram na Patrulha e dele fizeram sua história. Olhe, já vi gritos de todos os tipos. Alguns eu dei risadas, outros me emocionei. Não importa a letra sua interpretação importa o orgulho em dizer. O Grito deve constar no Livro de Patrulha enquanto ela existir.

                         Uma vez em uma Indaba um Chefe contou em volta do fogo a volta ao seu grupo quarenta anos depois. Chefes! Ele disse: -  Deu vontade de dizer para os mais novos onde tivemos o orgulho de dar o grito em nossas andanças, acampamentos atividades aventureiras. E que alegria. Com lágrimas nos olhos ele gritava com os mais novos com o sentimento no coração.

                         Soube uma vez que uma Patrulha ficou dois meses discutindo seu grito. Sempre empate na hora de escolher. O que fazer? O Conselho de Patrulha achou que o desempate deveria ser do primeiro lobo que passasse para a Tropa. Demorou mais dois meses. Enfim foi escolhido o grito: – Demais. Nem vou contar como era. Ele existe até hoje. Tem mais de quarenta anos de existência.

                         Os gritos de guerra surgiram há muitos séculos atrás. Foram criados para motivar pessoas ou soldados quando iam lutar em uma guerra. O mais conhecido é do povo Maori que até hoje é copiado por equipes de todos os tipos de esporte. Lembro-me um pouco dele: - Te Rauparaha Haka (trecho) Ka mate, ka mate! Ka ora, ka ora! Ka mate! ka mate! ka ora! ka ora! Tēnei te tangata pūhuruhuru Nāna nei i tiki mai whakawhiti te ra Ā, upane! ka upane! Ā, upane, ka upane, whiti te ra! Hi! - (É a morte! É a morte! É a vida! É a vida! É a morte! É a morte! É a vida! É a vida! Este é o homem cabeludo Que fez o sol brilhar de novo Juntos! Todos juntos para o topo! Juntos! Todos juntos para o topo, o sol brilha de novo! Sim!).

                    Se é bonito não sei. Só sei que o grito mais bonito é o da minha patrulha, da sua e a de todos nós! – Temos também os gritos de tropa, de alcateia e de grupo. Ouve um Distrito que criou o dele. O da UEB quase não é conhecido. Quem sabe ela mesma acha seu grito sem graça. (Arrê, Arrê, Arrê. (três vezes) – Pró Brasil? Maracatu!). Olhe, vibrei quando ele foi dado em um Acampamento Regional de Patrulha com mais de 800 participantes. Todos fazendo o gesto com o chapéu e os braços. Emocionante demais.

                      Contaram-me que existe uma Patrulha de Gilwell que estiveram lá por volta de 1956 e se encontram a cada dois anos para darem seus gritos e falarem dos velhos tempos. Um dos chefes ficou responsável pelo bastão e o totem. Não existem lugares para dar o grito. Grito é grito, seja em português, latim, francês, inglês, ou mesmo em linguagem galáctica ou em tupi-guarani. É uma tradição que se mantem para sempre. - Que as patrulhas gritem. Alto e em bom tom. Que mostrem a todos sua força, sua vontade seu orgulho em ser Escoteiro. Grito de Patrulha, quem já deu nunca mais vai esquecer! Ele é imortal!



Nota – O Chefe Paulo Cabello está convidando as patrulhas escoteiras e seniores para enviarem a ele os gritos, gravados para montarem uma galeria no seu Site Lis Brasil. Ideia formidável. Merece meu aplauso e a participação de todos. Valorizem seus gritos, façam dele uma lembrança para ser conhecido e amado para todo o sempre!

domingo, 14 de janeiro de 2018

Lembranças. Eu já fui professor do... MOBRAL!


Lembranças.
Eu já fui professor do... MOBRAL!

                   Foi uma experiência fantástica. Ser professor e ver alunos como os que eu tive querendo aprender é uma situação agradabilíssima. Foi uma honra ser um professor, de pessoas humildes, quase todos acima de vinte anos e muitos de cinquenta a oitenta anos. Acredito que poucos se lembram do programa governamental de formação de adultos. Na época era chamado de MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização) foi um projeto do governo brasileiro, criado pela Lei n° 5.379, de 15 de dezembro de 1967, e propunha a alfabetização funcional de jovens e adultos, visando "conduzir a pessoa humana a adquirir técnicas de leitura, escrita e cálculo como meio de integrá-la a sua comunidade, permitindo melhores condições de vida".

                      Pois é, eu fui um professor do MOBRAL. Se nas grandes cidades servia-se de pilherias e zombarias, onde eu estava era uma fonte da juventude para os que queriam aprender, apenas assinar um nome já era motivo de orgulho. Gerente de Uma Fazenda no Norte de Minas conhecia boa parte dos moradores da região, na maioria meeiros, pequenos sitiantes residentes próximos ao Rio das Velhas. Pessoas simples, sempre com um sorriso, a dizerem Senhor. Posso dizer com orgulho que tive a honra de ser padrinho de dezenas de crianças cujos pais me honraram com um convite.

                        Dois anos gerenciando a fazenda vivia em plena felicidade. O ar puro o silencio, as noites de causos, de conversas com os filhos e amigos que moravam próximo. Quando a noite chegava, adorava ver o mais lindo céu estrelado, o cantar dos passados e insetos noturnos e alguns veados campeiros correndo pela plantação de cana caiana. A luz era de um Velho “Jirico” (trator) com um motor potente acesa somente parte da noite. Uma geladeira a gás, uma TV cheia de chuvisco a bateria e três lampiões a gás. Não faltava um radinho para ouvir a Voz do Brasil.

                      Na varanda dava para ver o sol nascer ou se por. Acostumamos com os sapos cururu coaxando e os grilos esvoaçantes querendo chegar não sei onde. Já tinha lido sobre o MOBRAL e na prefeitura de Pirapora MG se prontificaram a me ajudar. Pensei por que não ter aqui na fazenda uma escola assim? Dito e feito, a ideia maturou e mãos a obra. Não pedi licença ao Presidente da Companhia, um erro meu, pois acreditava ser ele um nacionalista brasileiro e não seria contra a ter uma escola em sua propriedade. Afinal não havia gastos, pois tudo era fornecido pelo governo.

                       Quando comentei com os vaqueiros e alguns sitiantes a ideia correu como o vento pela redondeza. – “Seu Osvardo” eu quero participar... Faça um banquinho para você e apareça na próxima segunda feira. Fui atrás da responsável que me deu todo apoio possível. Até mesmo meio salario mínimo que ajudou a comprar materiais para a escola. Foi demais o primeiro dia.

                     As seis e meia da tarde começaram a chegar os “meus alunos”. De cada canto da fazenda eles surgiam a cavalo, de charrete, de bicicleta e a pé. Casais, homens e mulheres solteiras, até filhos no colo. Assustei com o numero, não esperava tantos interessados. Na primeira noite mais de quarenta, na segunda sessenta, na terceira chegamos a oitenta. Fechei as inscrições. A prefeitura de Pirapora não me negou os materiais faltantes.

                     Deram-me apostilas e aprendi muito a ensinar pessoas que não sabiam nem segurar um lápis. Foi divertido pegar nas mãos trôpegas de alunos idosos que durante o dia capinavam suas roças, faziam seus trabalhos de campo, plantavam, colhiam e ao lusco fusco da noite partiam em busca do saber. Foram seis meses maravilhosos. Começávamos as sete e terminávamos às dez da noite. O sorriso quase infantil de Dona Noêmia de setenta anos quando assinou seu nome foi demais.

                     Analfabeta assinava fazendo uma cruz ou mergulhando seu dedo em uma tinta para dizer que existia e que achava vergonhoso. Com quatro meses acreditei que eles poderiam ler e escrever. Muitos começaram a ler as cartilhas, alguns já fazendo seus exercícios com a tabuada decorada.

                  Recebi um recado do presidente da Companhia: – Louvável Osvaldo seu espirito em dar luz e saber a estas pessoas, ensinando a ler e a escrever. No entanto por motivos que irei comentar quando for ai, termine tudo. Feche a Escola. Tem duas semanas para isto! – Levei um choque. Não esperava dele tal atitude. Mudou minha concepção de homem empreendedor. Os alunos não acreditaram quando disse que a escola ia acabar. Houve choros, lágrimas. A noticia espalhou como um rastilho de pólvora e demorou para que eles entendessem que ele era o dono, tinha esse direito. Enfim, a escola acabou.

                   Mesmo sem escola muitos me procuravam em minha casa a noite ou fins de semana. Dei a atenção de pelo menos aprenderem a assinar o nome e até mesmo um bom dia boa noite ou boa tarde. No dia que fui embora da fazenda a sede da fazenda ficou cheia de amigos que vieram despedir. Ouvi as mais lindas expressões de agradecimento. Eu era um Chefe Escoteiro, sabia como conviver com adultos e pais. Mas como professor nunca tive a honra de ensinar o ABC. Foi demais, na partida lágrimas corriam a solta em meus olhos. Elas só pararam quando atravessei a Barragem de Três Marias quatro horas depois.

                        Não discuto e nem quero fazer uma celeuma das vantagens e desvantagens do MOBRAL. Se foi invenção de militares que assumiram o poder tudo bem, mas e dai? Olhar nos olhos de uma plêiade de pessoas sedentas em aprender, pessoas simples, humildes que não tiveram a oportunidade de ser alfabetizados foi demais. Nunca esqueci Dona Noêmia e seu sorriso quando assinou seu nome. Velhos tempos, um Velho Escoteiro não esquece. Só quem passou por isso pode entender o valor de uma assinatura.

Graças a Deus eu fui Professor de Mobral. Tenho grande orgulho de ter sido um!


Nota - Eu fui um professor do MOBRAL. Com muito orgulho. Como disse um poeta: - Ler é sonhar pela mão de outrem. Ler mal e por alto é libertarmo-nos da mão que nos conduz. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo. Abraços fraternos.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Existem ainda a vida na natureza para os Escoteiros Sonhadores?


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Existem ainda a vida na natureza para os Escoteiros Sonhadores?

                           Uma vez um Chefe escoteiro me disse que a juventude de hoje não tem mais os sonhos de outrora, de viver na natureza, fazendo sua própria comida, aprendendo com os pássaros, observando a vida dos animais das florestas sentindo o perfume das flores silvestres e do cheiro da terra. Será possível que hoje onde a tecnologia toma forma e é amada pelos jovens perdemos o contato com a natureza? BP dizia que acima das torres das igrejas ainda havia um belo céu estrelado para se visto.

                           Não tenho dados ou mesmo uma pesquisa feita com os jovens que hoje estão escoteirando. Sinceramente não posso analisar seus sonhos, suas aventuras, se eles ainda observam as belas paisagens quando vão acampar, pensando que são um herói da floresta com sua faca, seu facão abrindo trilhas entre as arvores em uma floresta a ser explorada. Dizem que assim são os escoteiros poetas. Mas temos ainda estes poetas escoteiros? Aqueles que amam por demais o silencio no campo, que sonham em sair por aí, procurando campinas verdejantes e floridas, os vales e bosques, as montanhas, as gargantas enormes, os despenhadeiros longínquos e os picos mais distantes para ver diante de sí, a interminável obra de Deus. Temos ou não temos?
                          
                           Será que ainda encontramos os caçadores de aventuras, aqueles que fazem as fotos mais lindas, encontram paisagens fantásticas, curtem as cores do arco íris, adoram a vida selvagem e lutam para estar em uma natureza intacta, que não desistem do sonho da aventura. Ainda procuram ver uma aurora no inverno, sentir na face o vento da natureza mãe. Mas não é isto que é belo? Olhar ali na colina um belo pássaro a cantar, aproximar calmamente testando se é capaz, sentir seu corpo vibrar e sorrir quando ele bater suas asas levantando voo e sonhando em voar com ele também.

                        Fico pensando se a modernidade tirou os sonhos de outrora, de ver sem ser visto, de olhar gostosamente o crepitar de uma fogueira, a beleza das fagulhas subindo aos céus lentamente levada pela brisa e fechar os olhos sonhando com elas no infinito. Olhar a chama do fogo, ver o sorriso dos irmãos escoteiros, o cantar da turma. Sonhando coisas imagináveis de um grande acampador. Existem ainda os escoteiros que em uma noite faceira, olham as estrelas brilhantes procuram uma lua que ainda não veio um cometa que passa distraído? E aqueles que ouvem o sorriso de madrugada, e batem palmas na aurora, procurando o nascer do sol vermelho como se foi no “atante” e sentir a brisa da madrugada agradecendo a Deus por estar ali vivendo um sonho fantástico.

                        Será que a modernidade a tecnologia acabou com os sonhos escoteiros, preocupados agora com a visão de uma caixinha de surpresas não mão que não tem o perfume das flores, não tem o orvalho da madrugada e nem o som de um cantante riacho que passa sorrindo a sua frente. Não sei, não sei mesmo, mas como velho escoteiro lhes digo, não tem fortuna no mundo, que pague um nascer e um por do sol, uma floresta de sons borburantes, o manejo dos galhos e dos troncos escondidos se remexendo para não faltar seus cantos na escuridão das folhagens esbeltas. Que valor tem ver milhares de borboletas, voando e encantando, embelezando o mundo que poucos podem ver? Diga-me você!

                        Será que ainda temos aqueles amantes da natureza que sorriem gostosamente sentindo no corpo os pingos da chuva, remexendo as folhas caídas, deixando as formigas ao desabrigo e correm para levar seu jantar do dia? O Plac plac no lago, recebendo a chuvarada, os peixes a saltitar como a cantar para o mundo, quem sabe querendo dizer – Como é belo a natureza e como é lindo ser Escoteiro!

                Vale a pena perguntar quantas vezes alguém viu um belo arco íris, na garganta montanhosa? E uma Águia enorme, voando esplendidamente sobe os raios de sol parecendo um conto fantástico sendo levada pelo vento?  E as nuvens esvoaçantes, mudando a cada minuto e fazendo um belo balé no céu? Quantos pássaros você conhece? Quantos você imitou no seu cantar paralelo, quem sabe o canário amarelo com a sua cara metade no ninho a proteger sua prole?

              São coisas maravilhosas que somente os sonhadores os amantes da natureza são capazes de sentir. Colocar no lago gelado, os pés do andar cansado, sorrindo para uma pedra que se formou bela com o tempo, ver um sapinho tomar sol, uma cachoeira caindo, peixes que estão subindo procurando lugar para desovar.  

                      Será que isto não existe mais? O que posso dizer que não existe nada mais belo e dele poder amar? Será que algum escoteiro vai gostar do som da natureza sem gritos, sem assaltos sem vozes humanas, sem barulho, sem telefone, sem televisão e só ele o escoteiro sentir a natureza assumindo e o encobrindo da cabeça aos pés? É nesta hora que se adquire a percepção da visão, do olfato, do tato e do paladar e a audição é perfeita. Ninguém mais para dizer sim ou não. À noite, sem falar, sem se mexer a ver a dança do acasalamento dos vagalumes, os grilos saltitantes, as formigas serviçais, um tatu iluminado pela chama da fogueira. É incrivelmente belo.


                Se você que está lendo ainda pensa assim, podemos até dizer que ainda existem sonhos. E digo com sinceridade bem aventurados os que ainda podem fazer tudo isto. Bem aventurados o que militam no escotismo, pois mesmo não sendo anjo e nem profeta eu digo: É deles, os escoteiros, só deles esta esplêndida natureza que Deus no deu.

Nota - Mais que uma mão estendida mais que um belo sorriso mais do que a alegria de dividir mais do que sonhar os mesmos sonhos ou doer às mesmas dores muito mais do que o silêncio que fala ou da voz que cala, para ouvir é, a amizade, o alimento que nos sacia a alma e nos é ofertado por alguém que crê em nós. A natureza... Será que ainda é um sonho perdido nas noites de verão?

sábado, 6 de janeiro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Síntese de uma semana que passou.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Síntese de uma semana que passou.

                 Levantei tarde. Meu corpo só pedia cama. Velho não tem jeito. Ainda prostrado na cama com as mãos embaixo da cabeça meus pensamentos correram por tempos passados e tempos de hoje. Isto eu faço sempre. Seis dias de 2018. Só? Só, não tem mais. Tenho que sobreviver por mais um ano. Será que dá? Amigos e amigas insistem em dizer que não posso partir. Dizem que minhas histórias não podem parar. Seria bom se isso fosse verdade. Não brigo com o mundo, não brigo com meu destino. Aceito sem discutir. Não dou nó em pingo d’água. Presto continência aos doutores e não fujo da “raia”.

                 Como sempre escrevi na segunda, na terça na quarta quinta e sexta. Antes os sábados eu aplaudia a meninada escoteira pela reunião gostosa que ia acontecer. Hoje não. A maioria em férias. Entendo. É necessário aproveitar para dar uma viajada nas pelejas da vida. Quem não precisa? Eu sei Chefe que você tem outros afazeres e não só escotismo. Não discuto. Escotismo não é uma escola diária onde as matérias são dadas conforme a formação dos alunos. É uma maneira de aprender brincando, cantando e fazendo coisas que na sala de aula não existe. Nosso Líder dizia que o campo e aprender a fazer fazendo vivendo em grupo é o suficiente. Uma vez por semana por menos de três horas é o suficiente.

                Quatro por mês, quarenta por ano, descontando dois meses de férias. Juntando os acampamentos excursões e o escambal, temos uma média de duzentas horas por ano. Dizem que não precisamos mais. Outros reclamam. Eu prefiro não dizer nada, vivi os dois lados da razão e minha opinião eu prefiro não dar. Muitas vezes calando não esticamos discussões que não levam a nada.

                - Voltando à semana, no dia primeiro escrevi o artigo com o título Os Sonhos não Podem Morrer. Foi uma espécie de mea-culpa pelas respostas ferinas que dei a alguns que não concordaram com meu pensamento. Faço isso sempre, mas é duro você passar na escola escoteira por setenta anos e ver um aprendiz desdizer do que você disse. Isto hoje é frequente. Temos muitos cientistas escoteiros que sabem onde devemos caminhar sem medo de errar.

                - No dia dois prestei uma homenagem à canção “A Árvore da Montanha”. Achei que ela merecia um tributo por parte dos escoteiros. Queira ou não do lobinho ao pioneiro, do Chefe ao dirigente todos conhecem o repique da Arvore da Montanha. Como sempre era uma história simples e poucos se arriscaram a comentar. – No dia três em minha crônica perguntei: - “Qual o melhor acampamento para você?”. Fiz uma resenha do ontem e do hoje, da falta de locais, de materiais e que muitos estão trocando o campo pela boa ação na cidade, limpando córregos, praças ruas e o escambal. Isto tem futuro? Ninguém ousou comentar.

               - Hã! No dia três também postei um conto. “A dor de uma saudade”. Para chorar e poucos se arriscaram a ler. No dia quatro lasquei uma nova foto de BP em minhas paginas e grupos. Baden-Powell e seus comentários abespinhados, nem preocupantes, mas analítico no seu modo de pensar. Pela foto (ela tá bonito pacas!) e pelos comentários houve uma revoada nos comentários e compartilhamentos. Neste mesmo dia publiquei “As Associações Escoteiras no Brasil.”. Foi à conta. Dezenas de comentários a favor e alguns contra. Bateu o recorde da semana em compartilhamentos. Fico feliz quando dou uma martelada no dedo e todos gritam de dor. Risos.

              - Ontem dia cinco Escrevi mais uma carta a Baden-Powell. Fictícia é claro. Ele não vai receber. Uma pena. Mas quem sou eu um pobre mortal enviar uma carta espiritual a Baden-Powell? Necas de catibiriba. Mas me senti bem ao escrever. Poucos concordaram comigo. À noite a minha história “De ilusão também se vive”, não repercutiu. O sonho e a morte do Chefe Polar não teve muitas adesões. Histórias são assim, compridas poucos leem do começo ao fim. Entendo.

                Queira ou não foi uma boa semana. Meus boas noites foram recordações do meu tempo de escoteiro. Muitos não acreditam e eu não obrigo ninguém a acreditar. Eu e Célia todas as tardes vamos para a varanda para ver a vizinhança passar. Tarde! Dizem. Eita gente educada. Não temos montanha para ver o por do sol, fingimos que vemos suas cores indo se misturar com o negrume da noite. No pensamento já estou a martelar meus escritos da próxima semana. Dia nove só um.

               Já me considero um Velhote fazendo um novo aniversário. Comerei um pedaço de bolo, atenderei telefonemas de quem me quer bem e lerei os escritos dos amigos me desejando parabéns. Gosto disso. Muitos não se arriscarão a escrever, preferem os “chatos” símbolos Smiley e Emoji. Ops! Desculpem. Ainda sou da moda antiga prefiro um escrito de olá, tudo bem, mas que venham símbolos, não vou reclamar.

                Eita velho chato. Um dia um Chefe me disse: - Chefe nem morto iria participar do seu grupo. Voce é um pé no saco. Kkkkkk. Pois é, tem gente que gosta tem gente que não. Como dizia o Chefe Wander meu compadre: - E ele ficou com uma cara de “Besta” enfiou a viola no saco e se mandou para as montanhas. Dizem que vive lá até hoje!
Boa tarde.     

Nota - Uma resenha da semana que passou e do que escrevi. Nada de novo no Front! Comentários que li daqueles que se arriscaram ler. Como sempre sou danadamente crítico e velhote metido a Impeesa, um lobo dorminhoco que dorme demais. Evitei ao máximo contestar quem foi contrário aos meus pensamentos. Afinal eles estão na ativa e eu escondido na Toca da minha morada e pouco posso sair para ajudar. Uma bela e linda tarde para todos, abraços fraternos!


quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Qual o melhor acampamento para você?


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Qual o melhor acampamento para você?

                       Todos dizem e repetem que não existem nada melhor no escotismo que o acampamento. Acampar realmente é uma aventura sem igual. Tem acampamentos que deixam saudades, mas tem outros que duram uma eternidade e existe uma torcida silenciosa pedindo para ele acabar. Hoje dizem que já não se pode fazer acampamentos nos moldes de Gilwell. Falta de local, falta de material, falta de madeirame, falta de tudo. É discutível. Vejo filmes e fotos de escoteiros europeus e americanos no YouTube e no Google com a escoteirada mandando ver. Fazem pioneiras, fossas, fazem excursões em lugares lindos de morrer. E aqui não pode? Ou não tem? Beleza! Estão todos uniformizados! E aqui?

                     Acredito que cada um sabe onde o sapato aperta. Mas fico com pena dos jovens de hoje com suas “quentinhas”, em alguns grupos com acampamentos de sessões misturados, pais dando “pitaco”, um sistema de Patrulha diferente, monitores cansados e no final como não tem aquele sabor de um verdadeiro acampamento Escoteiro, lá vão eles pular no barro para se divertir. Pelo menos isto não? Sem desmerecer nenhum barreiro que encontraram ou fizeram por aí. Mas o verdadeiro acampamento, por Patrulha, com seu campo próprio, com sua cozinha, com suas pioneirías, com sua liberdade sem o Chefe para amolar é bom demais.

                    Algumas tropas adoram acampamentos distritais, regionais e ou mesmo os Jamborees Internacionais e Nacionais. Tem chefes que juntam seu rico dinheirinho para pagar os gastos de passagem, de hospedagem, das taxas de campo dos lenços feitos para trocar ou vender, dos distintivos do escambal. Não vejo muitos falando nos meninos. Até mesmo fico em dúvida se não são chefes turistas. Largam seus lobos para trás ou dão férias. Alguns levam de Mulambo alguns seniores ou guias que papai tem Money para pagar. Não confundir, nem todos são assim.

                    Eu tive a sorte de participar de acampamentos de tirar o chapéu. Descrevê-los hoje seria uma leviandade para alguns novos e teria que ter um tempo enorme para contar. Acampamento bom é aquele difícil, com chuva da boa, com vento jogando a barraca no tempo, com pioneirías caindo, com bois invadindo, com onça rosnando a noite, com feijão queimado, com bife torriscado e uma sopa cheia de preparados de capim, mosquitos e o diabo a quatro!

                   Mas no passado tínhamos bons acampamentos Distritais, Regionais e até mesmo os Nacionais. Cada estado com sua característica. Mas necas de taxas, de soberba, de ser o maior, de não ter o sistema de patrulhas em seu programa. Dizem que os grandes acampamentos não dá. Já pensou o maior Jamboree do mundo que aconteceu na Suécia com mais de 40.000 participantes? Gente demais. Nem sei se dava para abraçar todo mundo. Esqueci-me de dizer, o Brasil participou com mais de 800 membros. Garanto que oitenta por cento era de chefes. Eita chefes danados! Já estamos mudando para União dos Chefes Escoteiros do Brasil!

                    Mas aqueles menorzinho, de 400, 600 e até 1000 participantes eram “supimpas” como se diz, feitos à moda antiga. Patrulha completa, entrando no campo cantando o Rataplã levantando seu totem, sorridentes e dizendo: - Chefe Onde é nosso Sub. Campo? Existia isso assim. Sub. Campo, com Chefe e Assistente. Eu mesmo tive a honra de ser um Chefe de um Sub. Campo Sênior com 36 patrulhas. Que orgulho em formar, vibrar com seus gritos de patrulha, seus abraços e apresentar: - Chefe De Campo, orgulhosamente apresento o Sub Campo Sênior Anhanguera... Sempre Alerta!

                    As patrulhas se preparavam com antecedência. O material nos trinques. Sapa bem oleado e afiado. As panelas brilhavam. Muitas levavam seu bornal de víveres. Nada de ganhar ou comprar. Outros acampamentos o Chefe ou Distrital dava duro para conseguir uma intendência de víveres para todos. Quando chegavam recebiam seu quinhão para todos os dias. Era uma festa quando se ouvia um silvo longo de um chifre de Kudu. A turma batia palmas vendo os intendentes correndo a galope para atender ao Intendente Geral do campo. Eita, que saudades... Bom demais!

                   Hoje tudo mudou. É moderno. Tem restaurante tem gente que paga taxa para ser um “Staff”. Tem outros que prefiro chamar de turistas que vão para papear, ficar com as chefes, guias e os escambal e depois contar prosa do que fizeram ou deixaram de fazer. Muitos adoram dizer palavrões, gritar sem necessidade e andar de maneira inadequada no campo. Mas sei que tem uma boa parte de escoteiros e escoteiras e de chefes que se divertem, gostam das brincadeiras, dos desafios e da liberdade que em outros lugares não tem. Nada diferente de Acampamento de Férias de Empresas especializadas oferecem.

                    É mesmo. Hoje tudo é moderno. Soube que nos Estados Unidos fizeram um acampamento onde apareceram quinhentos mil escritos. Foi um pandemônio, um escambal. Não sei como mudaram ou como dispensaram os que sonhavam em participar. Americano tem disto. Dizem que eles tem uma quota de participantes para qualquer Jamboree. Primeiro mundo, endinheirados se deixar qualquer Jamboree passa de 200.000 acampados. Mas será que isto é bom? Como dizia meu Compadre Wander, lá no céu nos espiando: - “tem gente que gosta”.

                   Mas meus amigos e inimigos (juro que não sei quem são) o melhor acampamento, o melhor mesmo é aquele de Patrulha, todos amigos e irmãos, construindo um belo fogão, uma bela mesa, uns bancos rústicos e na hora das refeições brincar, comer, cantar e dizer: - Chefe! Quando vai haver outro como este? Pois é, quem já fez sabe como é e sabe também que o verdadeiro acampamento é aquele que faz do escoteiro ou escoteira uma pessoa de verdade, com ética, com honra, com lealdade e sem esquecer com grande fraternidade!


Nota - Acampar! Bom demais! Viver em plena natureza, ouvir o cantar dos pássaros, brincar com o pé na água fria cristalina de um riacho, de gritar “Madeiraaaa”! de olhar sua construção, da boia do cozinheiro que não termina, de uma pescaria, de uma armadilha para pássaros e depois soltar! De uma tardinha em volta da mesa lonada, dos bancos que construíram, dos jogos noturnos e depois, pois, pois... Do fogo de Conselho. Demais. Dar as mãos, cantar, e finalmente dizer: Meu irmão escoteiro, não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus!