Crônicas de um Velho Chefe
Escoteiro.
Sorria você vai dar um gostoso
Grito de Patrulha.
Vez ou outra nos passa
despercebido à união, a força e o orgulho quando damos o Grito de Patrulha. Até
hoje muitos param para ver o grito quando uma Patrulha se prepara. Dá para ver
o espirito de Patrulha, o espírito escoteiro e a vibração quando todos seguram o
bastão, elevado no ar o grito sai emocionante para alegria dos patrulheiros
presentes. O Grito de Patrulha faz parte das grandes místicas e tradições no
escotismo. Tem um simbolismo que encanta. Espero que nenhum “çabio” da
Escoteiros do Brasil resolva cancelar em nome da modernidade.
Muitos dos nossos
simbolismos, místicas e tradições estão desaparecendo. O grito é único. Cada um
tem seu estilo, uma maneira de gritar, a entoação que dá uma marca própria à
patrulha. Difícil esquecer o primeiro grito. Conheci patrulhas que deram seu
grito em montanhas, vales, florestas inóspitas e me empolguei com uma que
resolveu dar o grito dentro de uma jangada caindo em uma bela cascata de águas
cristalinas e enfumaçadas.
Li um dia que um jovem pedia
sugestões para o grito. Assustei. O
Grito não é dele é de todos na patrulha. Todos têm direito a opinar quando a Patrulha
é nova. Se não é o antigo não pode ser trocado. Por tradição deve permanecer
para sempre. Gostar ou não gostar não dá direito a troca. O Grito não é dele, é
de todos que passaram um dia por aquela Patrulha. O antigo escoteiro se lembra
dele com orgulho e gosta de às vezes sozinho ou não lembrar gritando como nos
velhos tempos. Afinal o grito surgiu pelas mãos de todos.
Outro dia um disse para
mim: - Chefe eu dei um grito de patrulha naquele acampamento regional! Bacana –
Bacana mesmo. Hoje não, os encontros nacionais e regionais na maioria das vezes
são participantes individuais, patrulhas não vão mais unidas, não há grito a
não ser se alguns se reúnem e resolvem fazer o seu. - Sabe Chefe aquele
Jamboree na Inglaterra realizado no Olympia? Aquele bem no coração de Londres?
Eram mais de 8.000 escoteiros de 34 países. Como deve ter sido fantástico
quando todos deram seus gritos de Patrulha.
Dar um grito e não
esquecer são coisas de escoteiros que vão guardando tudo no coração. Coração!
Como cabe lembranças e coisas gostosas que acontecem com a gente. Eu conheci
milhares de patrulhas. Adorava vê-las dar o grito, adorava ver o sorriso e
sabia que o melhor sorriso era do novato, do noviço ou pata-tenra. Ele quando
começa se sente mais um da turma. Ele acredita que seus sonhos de aventureiro
estão prestes a começar.
Todos são responsáveis
pelo grito. Tenha ou não participado de sua criação. O grito é eterno,
constante, imortal, imutável e infinito. Não se muda. Ele não tem dono,
pertence a todos que um dia estiveram na Patrulha e dele fizeram sua história. Olhe,
já vi gritos de todos os tipos. Alguns eu dei risadas, outros me emocionei. Não
importa a letra sua interpretação importa o orgulho em dizer. O Grito deve
constar no Livro de Patrulha enquanto ela existir.
Uma vez em uma Indaba um Chefe contou em volta
do fogo a volta ao seu grupo quarenta anos depois. Chefes! Ele disse: - Deu vontade de dizer para os mais novos onde
tivemos o orgulho de dar o grito em nossas andanças, acampamentos atividades
aventureiras. E que alegria. Com lágrimas nos olhos ele gritava com os mais
novos com o sentimento no coração.
Soube uma vez que uma
Patrulha ficou dois meses discutindo seu grito. Sempre empate na hora de
escolher. O que fazer? O Conselho de Patrulha achou que o desempate deveria ser
do primeiro lobo que passasse para a Tropa. Demorou mais dois meses. Enfim foi
escolhido o grito: – Demais. Nem vou contar como era. Ele existe até hoje. Tem
mais de quarenta anos de existência.
Os gritos de guerra surgiram há muitos
séculos atrás. Foram criados para motivar pessoas ou soldados quando iam lutar
em uma guerra. O mais conhecido é do povo Maori que até hoje é copiado por
equipes de todos os tipos de esporte. Lembro-me um pouco dele: - Te Rauparaha Haka (trecho) Ka mate, ka mate! Ka ora,
ka ora! Ka mate! ka mate! ka ora! ka ora! Tēnei te tangata pūhuruhuru Nāna nei
i tiki mai whakawhiti te ra Ā, upane! ka upane! Ā, upane, ka upane, whiti te
ra! Hi! - (É a morte! É a morte! É a vida! É a vida! É a morte! É a morte! É a
vida! É a vida! Este é o homem cabeludo Que fez o sol brilhar de novo Juntos!
Todos juntos para o topo! Juntos! Todos juntos para o topo, o sol brilha de
novo! Sim!).
Se
é bonito não sei. Só sei que o grito mais bonito é o da minha patrulha, da sua e
a de todos nós! – Temos também os gritos de tropa, de alcateia e de grupo. Ouve
um Distrito que criou o dele. O da UEB quase não é conhecido. Quem sabe ela
mesma acha seu grito sem graça. (Arrê, Arrê, Arrê. (três vezes) – Pró Brasil?
Maracatu!). Olhe, vibrei quando ele foi dado em um Acampamento Regional de
Patrulha com mais de 800 participantes. Todos fazendo o gesto com o chapéu e os
braços. Emocionante demais.
Contaram-me que existe uma Patrulha de Gilwell
que estiveram lá por volta de 1956 e se encontram a cada dois anos para darem
seus gritos e falarem dos velhos tempos. Um dos chefes ficou responsável pelo
bastão e o totem. Não existem lugares para dar o grito. Grito é grito, seja em português, latim, francês, inglês, ou
mesmo em linguagem galáctica ou em tupi-guarani. É uma tradição que se mantem
para sempre. - Que as patrulhas gritem. Alto e em bom tom. Que mostrem a todos
sua força, sua vontade seu orgulho em ser Escoteiro. Grito de Patrulha, quem já
deu nunca mais vai esquecer! Ele é imortal!
Nota –
O Chefe Paulo Cabello está convidando as patrulhas escoteiras e seniores para
enviarem a ele os gritos, gravados para montarem uma galeria no seu Site Lis Brasil.
Ideia formidável. Merece meu aplauso e a participação de todos. Valorizem seus
gritos, façam dele uma lembrança para ser conhecido e amado para todo o sempre!
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