Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Existem ainda
a vida na natureza para os Escoteiros Sonhadores?
Uma vez um Chefe escoteiro
me disse que a juventude de hoje não tem mais os sonhos de outrora, de viver na
natureza, fazendo sua própria comida, aprendendo com os pássaros, observando a
vida dos animais das florestas sentindo o perfume das flores silvestres e do
cheiro da terra. Será possível que hoje onde a tecnologia toma forma e é amada
pelos jovens perdemos o contato com a natureza? BP dizia que acima das torres
das igrejas ainda havia um belo céu estrelado para se visto.
Não tenho dados ou
mesmo uma pesquisa feita com os jovens que hoje estão escoteirando.
Sinceramente não posso analisar seus sonhos, suas aventuras, se eles ainda
observam as belas paisagens quando vão acampar, pensando que são um herói da
floresta com sua faca, seu facão abrindo trilhas entre as arvores em uma
floresta a ser explorada. Dizem que assim são os escoteiros poetas. Mas temos
ainda estes poetas escoteiros? Aqueles que amam por demais o silencio no campo,
que sonham em sair por aí, procurando campinas verdejantes e floridas, os vales
e bosques, as montanhas, as gargantas enormes, os despenhadeiros longínquos e
os picos mais distantes para ver diante de sí, a interminável obra de Deus. Temos
ou não temos?
Será que ainda
encontramos os caçadores de aventuras, aqueles que fazem as fotos mais lindas,
encontram paisagens fantásticas, curtem as cores do arco íris, adoram a vida
selvagem e lutam para estar em uma natureza intacta, que não desistem do sonho da
aventura. Ainda procuram ver uma aurora no inverno, sentir na face o vento da
natureza mãe. Mas não é isto que é belo? Olhar ali na colina um belo pássaro a
cantar, aproximar calmamente testando se é capaz, sentir seu corpo vibrar e sorrir
quando ele bater suas asas levantando voo e sonhando em voar com ele também.
Fico pensando se a
modernidade tirou os sonhos de outrora, de ver sem ser visto, de olhar gostosamente
o crepitar de uma fogueira, a beleza das fagulhas subindo aos céus lentamente
levada pela brisa e fechar os olhos sonhando com elas no infinito. Olhar a
chama do fogo, ver o sorriso dos irmãos escoteiros, o cantar da turma. Sonhando
coisas imagináveis de um grande acampador. Existem ainda os escoteiros que em
uma noite faceira, olham as estrelas brilhantes procuram uma lua que ainda não
veio um cometa que passa distraído? E aqueles que ouvem o sorriso de madrugada,
e batem palmas na aurora, procurando o nascer do sol vermelho como se foi no “atante”
e sentir a brisa da madrugada agradecendo a Deus por estar ali vivendo um sonho
fantástico.
Será que a modernidade
a tecnologia acabou com os sonhos escoteiros, preocupados agora com a visão de
uma caixinha de surpresas não mão que não tem o perfume das flores, não tem o
orvalho da madrugada e nem o som de um cantante riacho que passa sorrindo a sua
frente. Não sei, não sei mesmo, mas como velho escoteiro lhes digo, não tem
fortuna no mundo, que pague um nascer e um por do sol, uma floresta de sons
borburantes, o manejo dos galhos e dos troncos escondidos se remexendo para não
faltar seus cantos na escuridão das folhagens esbeltas. Que valor tem ver
milhares de borboletas, voando e encantando, embelezando o mundo que poucos podem
ver? Diga-me você!
Será que ainda temos
aqueles amantes da natureza que sorriem gostosamente sentindo no corpo os pingos
da chuva, remexendo as folhas caídas, deixando as formigas ao desabrigo e
correm para levar seu jantar do dia? O Plac plac no lago, recebendo a
chuvarada, os peixes a saltitar como a cantar para o mundo, quem sabe querendo
dizer – Como é belo a natureza e como é lindo ser Escoteiro!
Vale a pena perguntar quantas vezes alguém viu
um belo arco íris, na garganta montanhosa? E uma Águia enorme, voando esplendidamente
sobe os raios de sol parecendo um conto fantástico sendo levada pelo vento? E as nuvens esvoaçantes, mudando a cada minuto
e fazendo um belo balé no céu? Quantos pássaros você conhece? Quantos você
imitou no seu cantar paralelo, quem sabe o canário amarelo com a sua cara
metade no ninho a proteger sua prole?
São coisas maravilhosas que
somente os sonhadores os amantes da natureza são capazes de sentir. Colocar no
lago gelado, os pés do andar cansado, sorrindo para uma pedra que se formou
bela com o tempo, ver um sapinho tomar sol, uma cachoeira caindo, peixes que
estão subindo procurando lugar para desovar.
Será que isto não existe mais? O que posso
dizer que não existe nada mais belo e dele poder amar? Será que algum escoteiro
vai gostar do som da natureza sem gritos, sem assaltos sem vozes humanas, sem
barulho, sem telefone, sem televisão e só ele o escoteiro sentir a natureza
assumindo e o encobrindo da cabeça aos pés? É nesta hora que se adquire a
percepção da visão, do olfato, do tato e do paladar e a audição é perfeita.
Ninguém mais para dizer sim ou não. À noite, sem falar, sem se mexer a ver a
dança do acasalamento dos vagalumes, os grilos saltitantes, as formigas
serviçais, um tatu iluminado pela chama da fogueira. É incrivelmente belo.
Se você que está lendo ainda
pensa assim, podemos até dizer que ainda existem sonhos. E digo com sinceridade
bem aventurados os que ainda podem fazer tudo isto. Bem aventurados o que
militam no escotismo, pois mesmo não sendo anjo e nem profeta eu digo: É deles,
os escoteiros, só deles esta esplêndida natureza que Deus no deu.
Nota - Mais que uma mão estendida mais que um belo sorriso mais do que a alegria de dividir mais do que sonhar os mesmos sonhos ou doer às mesmas dores muito mais do que o silêncio que fala ou da voz que cala, para ouvir é, a amizade, o alimento que nos sacia a alma e nos é ofertado por alguém que crê em nós. A natureza... Será que ainda é um sonho perdido nas noites de verão?
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