Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

sexta-feira, 18 de março de 2016

Em meus sonhos volto sempre a Gilwell.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Em meus sonhos volto sempre a Gilwell.

               É bom dar uma volta no tempo. Sabemos que muitas lembranças ficaram na história. É página virada no livro da vida. Uma utopia que como o vento vem e vai. Sonhos existem e até podemos realiza-los já que cada um tem uma maneira de sonhar. Tem aqueles que analisam tudo friamente, outros intelectualmente e eu com o coração. Não sei escrever sem por um pouco de fantasias e ilusões em minhas palavras. Ouve uma época que se esperava tudo de um Escotista portador da Insígnia de Madeira. Qualidades técnicas, conhecimentos, experiência, e o melhor, o exemplo. Você não ia ver um Escotista com Insígnia se portando de maneira inadequada. Nunca. Ele sempre tinha um porte altivo sem ser antipático ou constranger alguém pelas suas conquistas. Eu o via como destemido, ou melhor, um catedrático em escotismo. Afinal ele já era um docente que terminou a Faculdade e estava pronto para lecionar. Ele tinha que se portar como Insígnia de Madeira. Esquecer o abraço? O sorriso? O primeiro Sempre Alerta firme para mostrar que estava mais alerta que os demais? Nunca. Assim eram assim os Insígnias que eu conheci no passado. Sei que haviam outros, mas não é destes que gostaria de falar. Eles não foram exemplos de que nós escoteiros esperamos da formação de alguém que teve em Gilwell suas origens.

              Dava gosto ver seu porte, seu olhar, alguns se sentindo verdadeiros chefes irmãos e amigos de todos que participavam do escotismo. Sabiam que o aperfeiçoamento nunca terminava. Afinal quando se reunião sempre cantavam que um dia à volta a Giwell ia acontecer. “Volta a Giwell terra boa, um curso assim que eu possa eu vou tomar”. Ele podia ser um bom lobo, um maçarico, um marrom ou um vermelho. Podia não estar mais escoteirando ou lobeando, mas seus conhecimentos precisavam aumentar. Eles ou elas sabiam que suas sessões agora seriam exemplo, mais olhadas, mais vistas e mais cobradas. Eles sabiam que seus uniformes deviam ser impecáveis. Nada de invenções. Quando você via um ou uma, com seu porte altivo, seu lenço bem dobrado, seu anel bem colocado, colarinho abotoado, uniforme bem passado, seu cinto brilhando, o orgulho do sapato engraxado você sorria. Ali está mesmo um verdadeiro membro de Giwell.

              Quando você convidava um para lhe ajudar em um curso qualquer, não corriam para aceitar. Primeiro sua Tropa, sua Alcatéia se sobrasse um tempinho nunca negava ajudar. Diferente de hoje. Olhe Chefe preciso ver. Posso dar uma resposta outro dia? Temos acampamento, ou temos excursão ou prometi aos jovens participar com eles Era assim. Não saiam correndo e aceitando e dizendo aos quatros ventos – Agora sou IM agora sou o tal! Nada disto. E quando você visitava suas sessões? Dava gosto de ver. A gente sabia que seu caderno não foi enfeite, copiado de outros. A gente sabia que os livros de Baden Powell não foram encadernados e guardados em um lugar qualquer. Não quero aqui criticar os insígnias de hoje. Conheço centenas deles que nada ficam a dever daqueles do passado. Eles quando se apresentam sabem que muitos sentem orgulho de suas sessões escoteiras. A eles, os de hoje meus parabéns.

              Entretanto tem alguns que não “pegaram” (termo de BP) o sentido da coisa. O que são suas responsabilidades. Muitos esqueceram suas origens do exemplo, da boa apresentação do garbo. Alguns adotaram as novas fases do escotismo moderno. Tem muitos que amarram o lenço de Giwell no pescoço saem por aí esquecendo que existe um uniforme para se apresentar ao público e aos jovens de sua sessão. Dizem alguns que a moda é assim. Até para um Insígnia? No passado quando se recebia o lenço se sentia o peso da responsabilidade. Olhar o certificado dava orgulho. O lenço então? Dava um frio na espinha, a gente tremia, e pensava que agora tudo mudou. Sabia-se que apesar do coração Escoteiro, do amor aos seus jovens a responsabilidade era outra.

               Infelizmente fico decepcionado com o que estou vendo hoje. Fico pensando no orgulho de muitos Insígnias que se foram. Não só os que foram para as estrelas como milhares que não estão mais na ativa. Exemplos que temos motivo para orgulhar. Com a falta que temos de mão de obra Escoteira qualificada é triste ver este abandono. Sei que os dirigentes não pensam assim. Não existe uma preocupação com a evasão. Sair se tornou rotina. Quem sabe pensam que cada um escolhe o seu caminho e se eles resolveram sair paciência. Uma vez pensei em termos uma pesquisa anual para saber o porquê desta evasão de adultos principalmente insígnias. Uma orientação para que as regiões fossem pesquisar o porquê saíram. Ouvir suas opiniões. Quem sabe mudar? Afinal quantas experiência perdemos com a saída de muitos deles. Seria difícil dizer a cada um verbalmente ou com uma cartinha: - Chefe nos conte o que ouve. Queremos melhorar. Precisamos de muitos com experiência para ajudar. Sei que isto é utópico, e difícil de acontecer? Existiria interesse? Poderíamos ser mais flexíveis, mais humildes, aprender de novo a ouvir? É difícil entender posições antagônicas.

                        Fico pensando e buscando no fundo de minhas memórias a fraternidade de outrora feita por homens e mulheres com espírito Escoteiro a lutar por um lugar ao sol em nosso Brasil. Um dia sonhei na maior reunião de Gilwell já feita. De todos que saíram e dos que ainda estão na ativa. Seriamos quantos? Milhares e milhares talvez. Quem sabe nesta reunião teríamos escotistas nos mais altos escalões pensando diferente, vendo novas ideias, entendendo novas ideologias, sempre em uníssemos com o mesmo ideal de melhorar conhecimentos, aprender uns com os outros, uma amizade sem igual. Quem sabe uma reunião de Gilwell em volta de uma fogueira, sentindo o calor do fogo e da fraternidade presente, as brasas aos poucos adormecendo, as fagulhas lânguidas e serenas subindo aos céus, e uma conversa franca pudesse surgir. Quem sabe pensar que ali teríamos B-P na mente, junto de nós e em nosso coração a nos guiar.

                     É bom sonhar mesmo sabendo que a realidade é outra. Nossos devaneios em amar uns aos outros, pensando de olhos abertos que nosso escotismo pode ser mais flexível, com mais amor, sem intuitos de grandeza, sem arrogâncias que não ajudam em nada. Isto não pode ser somente sonhos. Sonhos quando acreditamos se realizam. E assim encerro meus pensamentos com a mais bela canção de Gilwell que já cantei:

“Em meus sonhos volto sempre a Gilwell, onde alegre e feliz eu acampei
Vejo os fins de semana com meus velhos amigos e o campo em que eu treinei”

 “É mais verde a grama lá em Gilwell, onde o ar do Escotismo eu respirei
E sonhando assim vejo B-P, que sempre viverá ali”.

(Canção de Gilwell - Letra e Música: Ralph Reader).

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