Crônicas de um Velho Chefe
Escoteiro.
O eterno desconhecido.
Estes dias que fiquei de molho na
minha barraca de primeiros socorros, tive a oportunidade de lembrar e memorizar
muitos fatos escoteiros que aconteceram em minha vida. São tantos que hoje
mergulhei profundamente naqueles desconhecidos que estão sempre presente ao
Grupo Escoteiro, e fazem parte na mente de alguns como a mesa, a cadeira, a
escrivania que estão ali para servi-los e quando não estão mais aí sim sentimos
falta. Minha personagem não é um ser inanimado, é um ser vivente, presente tem
sangue e sabe sorrir. Ele não é um Chefe Escoteiro, não está junto aos meninos,
não vai acampar, não veste o uniforme e poucos fizeram a promessa. Quando
alguém lhe agradece, quando recebe uma palma ou um bravôo, ele diz: - Obrigado,
não foi nada! Estou aqui para ajudar e servir.
Não esqueço o Oscar. No Grupo
Escoteiro São Jorge onde iniciei minha saga escoteira. Todo sábado lá estava
ele na sede. Custou a receber uma copia da chave. Era o faxineiro, o faz tudo,
o tesoureiro, secretário e umas “cositas” mais. Participava do cerimonial. Para
ele um orgulho. Disseram para ele não fazer a saudação. Acampamentos? Nunca.
Quem sabe foi naquela atividade de lobos para ajudar. Ajudar? Necas! Cozinhar,
limpar os banheiros e outros mais. E assim aconteceu em outros Grupos. No Walt
Disney onde fui Chefe de Tropa era frei Marcolino. Incansável. Trabalhador nato
pelos seus paroquianos no Convento do Alto da Serra e sem esquecer jamais dos
escoteiros. Uniforme? Necas. Nunca vestiu se fez a promessa eu nem sei. Quando
os militares assumiram o poder, Defendeu com unhas e dentes seus escoteiros da
sanha dos militares do DOPS.
Conheci outros. Incansáveis que
nem do nome me lembro. Aqui em São Paulo ajudei no Grupo Escoteiro Paineiras.
Eram tantos que o Francisco Presidente sorria de orelha a orelha. No Águia
Branca onde fiquei onze anos poderia dizer da Dona Adélia, do Padre Bruno e de
tantos outros que não vestiram uniforme, mas tinham prazer em ajudar e
colaborar. Quantas vezes os visitei? Quantas noites conversando, reunindo
diretoria, falando, cansando e deixar os dias passar? E não foram os únicos.
Sei que tem centenas espalhados nos Grupos Escoteiros do Brasil. Homens e
mulheres que são os autênticos voluntários no escotismo. Terão seus nomes
gravados nos panteões dos heróis?
Raciocinem comigo. O Chefe tem mais
motivação pelo que faz. São os meninos e meninas, são as amizades, são as
atividades Escoteiras na sede ou no campo, são os Fogos de Conselhos, as
descobertas e as atividades aventureiras. Ele se torna um herói para os meninos
e até mesmo para alguns destes desconhecidos que dificilmente terão o sabor que
o escotismo pode dar aqueles que se põe a luta junto à meninada por este mundão
de Deus. Eles não. São desconhecidos a não ser para os que estão ali ao seu
lado. Chegam e saem dizendo simplesmente boa tarde ou boa noite.
Quando você precisa de alguma
coisa, lá está ao telefone falando com ele. Ficam felizes em serem registrados,
terem sua carteirinha, mas tem mais fora isto? O que os motiva? São lembrados
para uma medalha de bons serviços? Ou será que a UEB não vai reconhecer seus
bons serviços? Recebem um sorriso simplesmente e nem são distinguidos com a
Insignia da Madeira. Não participam da reunião do distrito. Quantos deles já foram
a uma atividade escoteira regional ou nacional? Pois é. Sei que alguns me dirão
que em seu grupo eles recebem o que merecem receber. Vou contar nos dedos da
mão quantos receberam uma medalha ou ate mesmo um certificado de agradecimento.
Lembro-me da Tati Bernardi que
escreveu: - Eu tô sempre indo embora, mas aí vai um super clichê: - É de tanto
que eu só queria ficar. E queria que você não achasse que sou sempre um louco,
ainda que eu seja! – Será que aqueles eternos desconhecidos não diriam assim:
Eu só queria alguém pra vencer comigo esses dias terrivelmente chatos! Se eu
pudesse eu voltaria no tempo para dizer a todos eles: Amigos, saudades nós
matamos, lembranças nós guardamos, tristeza nos superamos, amigos nós
descobrimos, mas pessoas especiais como você, nós nunca esquecemos! Ah!
Saudades demais deles e de tantos que nos trouxeram tanta força e na hora não
soubemos dizer muito obrigado.
Estes desconhecidos são os
verdadeiros heróis do escotismo. Não vestem o uniforme, não são amigos dos
deuses do poder, não recebem medalhas, nem mesmo uma frase de agradecimento.
Para a liderança irracional eles não existem a não ser ali, em um cantinho do
registro dizendo: - Senhor Fulano, secretário. Mais nada. Pode fazer cinco,
dez, quinze anos. Nunca usaram um distintivo de atividade, quem sabe um de
lapela. Não importa, eles na menção que se faz do intelectual e moderno
Escoteiro são apenas um... Nada. Sabem servir, sorrir e dizer podem contar
comigo. Mas como fazem falta. Fazem falta demais...
Se você meu caro amigo e
leitor tem alguém que é esquecido, faça seu trabalho. Dê a eles o que merecem.
Não apenas um aperto de mão tem muito mais a fazer do que simplesmente dizer: -
No meu grupo eles são valorizados!
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