Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Ao meu amigo, Chefe Zé das Quantas. Brejo Seco – Brasil.



São Paulo 30 de junho de 2017.
Ao meu amigo,
Chefe Zé das Quantas.
Brejo Seco – Brasil.

                   Meu caro amigo Zé das Quantas, ou melhor, Chefe Zé. Quanto tempo eim? Preciso voltar às origens e passar uns dias aí com você. Saudades e muitas dos velhos tempos. Disseram-me que você ficou no tempo e ainda faz aquele escotismo de raiz, tradicional e como nos deixou Baden-Powell. Lembra quando descobrimos na gaveta da sede aquele livro dele? Como se chamava? Ah! Lembrei-me, Escotismo para Rapazes. Chefe Zé, dizem que aquele foi modificado e o original tem outro tema. Esta turma de hoje Zé são estudiosos doutores, pensadores pedagogos e o escambal. Têm de tudo.

                 Nós dois Zé ficamos parados no tempo, eles sabem tantas coisas que fico de orelha caída perto deles. Mas a vida é assim não é Zé? Pelo menos você ainda é um Escoteiro simples, sem tantas ambições que aqui a gente fica pensando se o escotismo tivesse salário seria um Deus nos acuda! Mas estou escrevendo para lhe contar as novidades. São tantas Zé, que se fosse colocar todas precisaria de muitas páginas e sei da sua dificuldade para ler e eu em escrever. Risos.

                 Pode-me dizer como vai o Escoteirinho de Brejo Seco? Soube que cresceu, agora está fazendo o SENAI em Barra do Onça. Vai a cavalo todo dia. Menino marreta não Zé? Lembra-se de quando comprou sozinho toda sua tralha do uniforme? Nunca reclamou, trabalhou sem parar engraxando, seu uniforme dona Nazinha caprichou. Olhe Zé, o Escoteirinho é danado, comprou um cantil, comprou sua faca escoteira, comprou seu facão e sua machadinha. Quando ia acampar ia orgulhoso sabendo que se vai para o mar avie-te em terra.

               Soube que ele tentou o Lis de Ouro e não conseguiu. Pois é Zé, se não tem registro, se não tem computador para “fuçar” no tal SIGUE nunca iria conseguir. Coitado do Escoteirinho Zé. Lembra-se de seus sonhos em ir naquele acampamento nacional? Quando viu a taxa, taxiou em suas pernas e chorou. Nunca poderia pagar. Afinal Zé ele aprendeu que era melhor fazer seu escotismo aventureiro aí em Brejo Seco do que se elevar pelos ares nas riquezas que hoje são exigidas aqui para ser Escoteiro.

              Ontem Zé eu e Célia ficamos falando no “Para ser Escoteiro” do Chefe Floriano. Lembra quando fomos fazer o Curso de Adestramento Básico na capital? Ele que era regional quem conseguiu passagens e estadia de graça. Lembra o show de pioneiras que demos? Foi demais. Zé hoje tudo mudou. Os cursos são modernos, todos sentadinhos em uma sala com ar condicionado e um formador falando e falando... Hoje Zé se quiser um novo uniforme só pagando o que a UEB pedir. Dizem que é quase meio salário mínimo e você Zé mal ganha dois não é?

                 Zé quer saber? Tem muitos chefes gente boa que faz escotismo de ótima qualidade. Aquele nosso orgulho de se apresentar a comunidade com garbo e elegância para muitos ficou no passado. Outro dia elogiei dois chefes de caqui, calça curta, bem uniformizados. Esqueci que ao lado deles tinha outros com a vestimenta. Zé choveu reclamações. Mas o que posso fazer Zé? Como posso aplaudir uniformes mal postados, chefes que não se esmeram em mostrar seu orgulho na apresentação? Eles são modernos, acataram a nova vestimenta e a usam com seu orgulho pessoal. Que eles fiquem felizes com o que estão fazendo.

                      Bem Zé, não posso me alongar muito. Há tantas coisas a recordar, tantas coisas que queria comentar com você, que nem sei por onde começar. Aqueles acampamentos aventureiros, aquelas jornadas incríveis que fizemos no Vale do Sol, aquelas travessias em jangadas no Rio Jaguari. Lembra Zé quando fomos ao Acampamento Distrital de Patrulhas? Nunca esqueci. Foi uma festa. Tudo feito por patrulha. Hoje Zé? Hoje é acampamento de férias de ricos. Não precisa mais apresentar com patrulha, A “quentinha” vem pronta e existe restaurantes sofisticados. Saudades do nosso tempo com o feijão e arroz na mochila Zé.

                Pois é Zé, vou indo, vou me divertindo, escrevendo minhas histórias, falando mal de tudo que acho errado e ouvindo o que não quero ouvir. Que importa se sou ultrapassado? Que importa que o estudado e o sem estudo também são escoteiros? Que importa o dinheiro Zé se sem ele Baden-Powell construiu uma fraternidade mundial? Zé meu amigo, aqui ninguém pergunta, ninguém consulta, ninguém pesquisa. Os donos do poder agem e fazem o que querem. Impõe seus pensamentos suas idéias e o mundo vai girando, a terra não vai parar, mas o escotismo? Zé sempre pergunto, onde estão os resultados? Os resultados meu Deus! Só eles importam. Mas existem Zé? Existem sim, ainda bem que gente como você e o Escoteirinho de Brejo seco ainda faz escotismo de verdade.

Chega Zé, vou terminando, se ainda estiverem vivos mande meu abraço ao Mané do Brejo o Tomé Esqueleto o Joaquim Espoleta e o Mario cozinheiro. Saudades danada deles. Quem sabe antes de partir para as estrelas eu possa ir até Brejo Seco e dar aquele abraço cantar o Velho Rataplã, sentar com vocês em volta de um fogo, contar “causos” daqueles cabeludos quando você se apaixonou pela Mariquinha da Fazenda do Nestor. Ainda bem que se casaram na delegacia. Risos. E não esqueça Zé. Diga ao Escoteirinho que seus acampamentos ainda são os melhores do mundo. Que ele não se preocupe com os Jamborees caros do Brasil. Para nós Zé não vale a pena. Quando vamos pagamos para ser Staff. Dou risadas ao me lembrar daquele sub campo de chefia na Beira do Rio Jaguari com todos pulando no rio e alguém gritando: - Não sei nadar! Não sei nadar! Foi demais Zé.

Abraços a Mariquinha sua esposa, Josefa sua filha e claro ao meu orgulho pessoal o Escoteirinho de Brejo Seco. Sempre Alerta!

Chefe Osvaldo, vulgo Vado Escoteiro.

Nota: - Apenas uma carta para um amigo do meu saudoso passado Escoteiro. Simples, sem muita pompa e sem muita delonga e que até hoje nunca esqueci. Que vontade de ir até lá, dar nele aquele abraço, um aperto de mão de escoteiros da roça e um sorriso que só aqueles que tem alma e coração Badeniano sabem dar.

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