Conversa ao
pé do fogo.
Cozinha
mateira? Sei não!
Hoje existe uma plêiade de bons
mateiros que se divertem no campo a fazerem comida mateira. Nos dias de hoje
porque não? É o pão do caçador? A sopa de cebola? O pão do minuto? Ovo no
espeto? Ovo na casca de laranja? Ovo no barro? Milho assado na brasa? A maçã
recheada? Frango no barro? Carne moída na batata? Arre! São centenas se deixar os
mateiros Escoteiros engordam esta lista em minutos ou horas. Dizem os bons
técnicos mateiros que a comida mateira escoteira é a técnica de se cozinhar sem
a utilização de utensílios domésticos. Dizem também que é a comida típica dos
Escoteiros nos acampamentos. Um deles disse que preparar a própria comida é um
desafio e sempre uma grande distração para os jovens. Saber improvisar, ter
paciência ver como substituir as tradicionais panelas (pelo menos se tem uma
vantagem, evitar lavar panelas, arre!).
Nada como um bom fogo, boas achas
para brasa e já pensou colocar ali uma banana verde uma cebola, uma batata e
enrolar o pão do caçador para depois de cozido se deliciar? Só não vale um
churrasco no campo de patrulha. Não vale? Vale sim, uma noite fria, um bom fogo
mateiro, caçar uns patos do mato ou marrecos, quem sabe uma carninha de tatu,
uma cobrinha bem limpa e cortar em rodelas pequenas ficadas em espetinhos, ou
de um belo Gavião que vou baixo e se danou? Bom demais. Bem sei que hoje isto
não pode, mas quantos patos selvagens ainda existem por aí? Está dando sopa nas
lagoas o pato-do-mato, pato-crioulo, pato-bravo, cairina, pato-selvagem e o
pato-mudo. Haja patos para encher a “pança” dos escoteiros. Risos. Não pode?
Bem o respeito à natureza e a liberdade dos animais e pássaros precisam ser
respeitados. Mas ouve uma época que nós Escoteiros vivíamos da natureza
selvagem. Na mochila não faltava meio quilo de sal, um vidro de gordura de
porco, (quase não havia óleo de cozinha) eu gostava de uns dentes de alho e
dependendo o lugar a acampar isto bastava. Lista de mantimentos? Meu Deus! Nem
pensar.
Será que teríamos jovens para um
acampamento assim? Uma mochila, uma manta, mudas de roupas e material de
higiene, uma pequena lona de 1,5x1,5, claro não podia faltar uma boa faca
mateira, um canivete Escoteiro, uma machadinha pequena e mais nada. Ops esqueci
o sal a gordura e o alho. Sem eles dava para se virar, mas no máximo alguns
dias. E você quer ir comigo? Use de sua imaginação e lá vamos nós. Para onde?
Para onde o vento nos levar. Quem sabe na lagoa do Epaminondas? Gente boa.
Sempre a nos presentear com um franguinho vivo ou morto. Risos. A lagoa era o
máximo. Dela tirávamos belas traíras, bagres e quando chovia enormes corvinas.
Pegamos uma vez um pequeno Jacaré. Coitado serviu a seis seniores sem saber que
eles adoraram. E os patos selvagens dando sopa a pedir: - Nos faça no espeto
bem tostado, por favor! Risos. Uma sopa? Era só desencavar a macaxeira, ou
melhor, o aipim, mandioca-doce, mandioca mansa e frita então? Bela lagoa. Era
como dizia Pero Vaz de Caminha, nesta lagoa se plantando tudo dá. Mas ele
estava errado, nela não precisava plantar, pois tudo dava.
Mas vamos lá, não vamos ficar
somente na lagoa, quem sabe ir até o Rio Chorão? Gente ali vamos nos fartar de
peixe, Zé Bigode o intendente da Patrulha Leão, aquele que não tinha bigode
disse que pegava com as mãos. Verdade ou não na piracema lá na curva da
Cachoeira do Cavalo eu mesmo peguei vários. Mochila nas costas, desfraldem a
bandeira e lá vamos nós continuar nossa jornada. Cuidado ao atravessar o Riacho
do Piraçu, a correnteza é forte, mas se amarre no cipó e fique frio. Melhor
arranchar ali. Tem uma clareira na Mata do Guaporé linda de morrer. Cada um faz
uma coisa. Um prepara o fogo mateiro, outro veja a lenha, eu vou buscar uns
timburés e uns xuxu do mato. Aqui tem dos grandes. E você Akelá entre na selva
e veja se encontra uma colmeia e devagar sem alarde retire um ou dois favos.
Não tenha medo das abelhas. Afinal elas sabem que você é uma escoteira. Vamos
retirar da cera todo mel que precisarmos. Vamos nos empanturrar de doces de
mel. Tem vasilhame? Que isto minha cara Chefe, estava na lista?
Acho que não vai chover turma portando
durmam com Deus. Que o céu seja sua barraca. Fiquei a vontade para contar as
estrelas, façam seu pedido ao passar de um cometa brilhante no céu. Eu hoje nem
papo quero, estou cansado e preciso de descanso, pois amanhã o dia não vai ser
mole. Sei onde estão as galinhas d’angolas selvagens. Muitos as chamam de
Cocar. Vamos pegar três e vamos nos regalar. Um bom cipó e aqui na floresta
eles abundam em todo lugar. Você sabia que temos uma grande variedade deles? Tem
espécies medicinais, são bons para diarreia, hepatite, leishmaniose e até
câncer. Bem não sou medico, mas além de servirem como uma boa corda, os uso
como tempero e conheço um com aroma e sabor de alho e cravo. Putz! Sua meia
está furada Chefe? Troque já. Calo nas jornadas não é bom. E vamos dar belos
galopes atrás delas e não acreditem nelas, são danadas para gritarem: - Tô
fraco! Tô fraco! Risos. Se forem bons chefes vamos pegar umas três rapidamente.
Depois abrimos o bucho, deixamos as penas, dentro um pouco de óleo e sal e já
devemos ter pronto as assadeiras. Três buracos de uns 40 de fundo por 12
polegadas de diâmetro. Cobrir com barro (as galinhas d’angola) e colocar na
brasa fechando o buraco em seguida.
Agora pé na taboa. Deixe as
gostosas galinhas d’angola se aquecendo. Vamos voltar em três horas e elas
estarão prontas. Ao tirar o barro saem as penas. E que delicia! Mochila nas
costas e lá vamos nós novamente. Na Floresta do Jangadeiro vai ser fácil
encontrar a Castanha e o Açaí. E olhe o que não falta lá é o Palmito (uma
delícia) e na descida vamos passar pelo Lago Vermelho. Uma vez encontrei lá
belos inhames, maracujás bananas da terra e folhas de lobrobô. Não conhecem?
Risos. Vais ver o ensopado que vamos fazer sem panelas. Sem panelas? Calma. É o
truque que uso. Não conto para ninguém, só para quem acampa comigo risos. Quem
vai aguentar cinco dias assim? E dez dias? É não é fácil. O melhor mesmo é voltar
a Comida mateira. Tudo é levado da sede. Lá é só preparar. Mas você que esteve
comigo nesta bela viagem de sonhos aventureiros não gostou? Lembra-se do
Macaquinho que pulou em seu ombro na selva do Soldado? São tantas lembranças
que tenho certeza estes cinco dias vão lhe marcar para sempre. Quem sabe um dia
vamos voltar?
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