Crônica de um Velho Chefe Escoteiro.
Distintivo de Lapela Escoteiro. (Button).
“Levei um ano de minha adolescência com um
lenço enrolado no pescoço, flor-de-lis na lapela e pureza no coração, para
descobrir que não passava de um candidato à solidão. Alguma coisa ficou, é
verdade: a certeza de que posso a qualquer momento arrumar a minha mochila,
encher de água o meu cantil e partir. Afinal de contas aprendi mesmo a seguir
uma trilha, a estar sempre alerta, a ser sozinho, fui escoteiro — e uma vez
escoteiro sempre escoteiro”. (de um antigo escoteiro).
O Button é um objeto na maioria das vezes redondo ou com outro formato
que contém conteúdo promocional publicitário ou decorativo. É pregado na roupa
ou outra superfície com um alfinete e são usados para indicar a adesão a algum
movimento, causa ou partido político. Pois é, no escotismo temos um que hoje
pouco se vê nos paletós, gola da camisa ou em outro lugar escolhido. Quem já teve
um nunca esqueceu. Hoje época que fazíamos questão de presentear autoridades,
simpatizantes e todos nós do Grupo Escoteiro o usávamos. Não era caro e juntávamos
nossa economia para ir até a Loja Escoteira no Rio de Janeiro e trazer uma
baciada. Quando o vi pela primeira vez me encantei. Só não chorei porque o
sonho era real e mesmo sem o uniforme eu poderia mostrar que era um escoteiro.
Pequeno, dourado com uma linda flor de lis em cores verde e amarelo era
um distintivo que me deu enormes alegrias. Na primeira vez minha mãe me deu
dizendo que era presente do meu tio da capital. Passei a usá-lo na gola
diariamente. Tinha uma presilha que se prendia na gola facilmente. Cidade
pequena víamos que os Rotarianos e os sócios do Lions Club usavam o seu. Na
câmara de vereadores cada um desfilava com sua escolha pessoal. Quando
presenteamos não exigimos que fosse usado, mas a maioria passou a usá-lo com
prazer em seu terno ou na gola da camisa. Totonho da Padaria, Leôncio barbeiro
e seu Zé do Armazém não tiravam o dele.
Mesmo não sendo uma peça para usar no uniforme ele estava sempre lá na
camisa um pouco de lado para o lenço não ficar por cima. Quando víamos alguém
com ele sorriamos de ponta a ponta. E na estação de trem? Eu gostava de ficar
lá em horas livres e ver os passageiros em seus vagões sorrindo, cantando e
comendo seus lanches que ninguém deixava para trás. Era avistar um com o Button
e a gente gritava: - Sempre Alerta! Se o trem fosse ficar mais tempo não
faltaria um aperto de mão um abraço e até mesmo contar de onde era e qual
grupo.
Não esqueço lá por volta de 1952 foi feito uma “vaquinha” para comprar
cintos, chapéus, e distintivos de segunda e primeira classe. Valparaiso um Sênior
foi escolhido para ir até a capital. O Senhor Lair prefeito e muitos vereadores
entraram na vaquinha para que eles tivessem também o Button dos escoteiros.
Valparaiso fez um bate volta das boas. Quase 30 horas de viagem ida e volta em
estrada de terra batida. Voltou no dia seguinte. Escoteiro não tem essa de
reclamar. Chegou sorridente com vários pacotes e até um saco de chapéus. Ele
foi para a sede e ela se encheu de escoteiros lobos e chefes. Isto em plena
terça feira.
Quando Valparaiso começou a contar como era o mar, a Igreja da
Candelária e as grandes avenidas apinhadas de carros e ônibus formou-se uma
roda em volta dele e ficamos lá boquiabertos com tudo que ele falava. Trouxe
também alguns livros que eu não conhecia para a biblioteca do Grupo. Para ser
Escoteiro, Guia do Chefe Escoteiro, Guia do Escoteiro e Escotismo para rapazes.
Fizeram uma fila na biblioteca reservando datas para levá-los para casa. E a
Loja Escoteira? Ele sorria e falava quanta coisa tinha lá. Jurei para mim mesmo
que um dia eu também iria lá comprar o que quisesse!
Pois é, meu Button ou meu
distintivo de lapela com uma linda flor de lis nunca esqueci. Hoje quase não se
vê mais aquele Botton lindo verde e amarelo nos antigos escoteiros, nos
escoteiros sem uniforme e autoridades seja elas religiosas ou politicas eu não
vejo mais. Sei que ele está a venda nas lojas escoteiras, mas é muito pouco
usado. É fato que identificar hoje um antigo escoteiro é difícil. Há não ser
que seja conhecido. Agora deram para colocar o lenço em roupa civil e se acham
uniformizados. É triste ver um Insígnia de Madeira fazendo assim. O exemplo de
B.P ficou esquecido. Poucos se importam com sua apresentação na sociedade
brasileira.
Estou aqui pensando por que
estou escrevendo sobre o Distintivo de Lapela. Afinal nem mesmo reconheço
distintivos especiais conquistados pelos escoteiros há não ser as especialidades.
A Segunda e Primeira classe ficaram na história. A primeira e segunda estrela
não é mais usada. Nem mesmo sei quantos Lis de Ouro e Escoteiro da Pátria
recebem por ano. Breve estaremos copiando os americanos que usam uma faixa para
colocar as centenas de especialidades. Se eu demorei quatro meses para
conquistar a de primeiros socorros, hoje muitos demoram algumas horas. Ainda
não tenho uma explicação para tantas especialidades. Mas é uma seara moderna.
Eu sou do passado e quem sabe o novo programa poderá trazer resultados surpreendentes.
Assim espero.
Meu distintivo de Lapela é uma
sombra que desapareceu quando o sol se foi. Eu perdi o meu em uma enchente onde
morava em uma cidade do interior. Lá se foram muitas lembranças, fotos e até
mesmo meu primeiro uniforme de lobo e escoteiro. Mas chega de ficar forçando
lembranças que não tem mais utilidades para os dias de hoje. Mas se você meu
caro amigo ou minha cara amiga escoteira usar seu Button quando sem uniforme,
se motivar seus amigos escoteiros ou ex-Escoteiros a ter o seu quem sabe
teremos muitos perguntando: - O que é isto? Isto? Ora meu caro, sou um
escoteiro e ele me identifica como um Badeniano de coração.
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