Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Conversa ao pé do fogo. Roland Erasmus Philips.


Conversa ao pé do fogo.
Roland Erasmus Philips.

                         Muitos de nós escoteiros já ouvimos falar de Roland Erasmus Philips, principalmente pelo seu livro O Sistema de Patrulhas, considerado como a melhor publicação sobre o tema. Em 1911, em uma caminhada pelos campos de Liverpool, encontrou alguns membros da Quarta Tropa Escoteira de Blundellsands. Ao conversar com estes jovens, Roland soube que precisavam de um líder. Foi assim que, aos 21 anos de idade, Roland Philipps encontrou o trabalho que conduziria sua breve vida. Como Comissário Escoteiro, entre 1912 e 1914, desempenhou as tarefas nesta área de maneira brilhante e escreveu o famoso livro Sistema de Patrulhas: um complemento à obra básica do Escotismo, o Escotismo para Rapazes, de Baden-Powell.

- Roland Erasmus Philipps foi o segundo filho da Rt. Hon. Lord St. Davids, 1st Viscount St Davids PC de Richmond Terrace, Whitehall, Londres. A primeira esposa de seu pai, Leonora, era alemã e filha de J Gerstenberg; Ela morreu em 1915. Seu irmão mais velho, o capitão Hon. Colwyn Erasmus Philipps, foi morto em ação em maio de 1915. Roland chegou a Southgate House (Hawkins) da Escola Twyford. Ele foi para o New College, Oxford em 1907 e ao sair da Universidade trabalhou por seis meses no escritório da Pacific Steam Navigation Company, com sede em Liverpool. Um fim de semana, durante uma caminhada no campo, ele conheceu alguns membros do movimento Boy Scout local e, durante uma conversa, descobriu que eram pouco de líderes e se ofereceu para ajudar. Posteriormente, o movimento escoteiro deveria dominar sua vida.

Em 1912, ele veio a Londres para trabalhar pouco tempo nos escritórios da Union Castle Steamship Company, embora escolhesse viver em Bethnal Green, uma área desesperadamente pobre e degradada de Londres. Ele apareceu na sede da Escopo Imperial "clamando" como ele disse "para um trabalho" e foi nomeado Comissário Assistente para o País de Gales e depois escreveu alguns manuais populares para líderes de patrulha. Ele passou a ser o Comissário Distrital do Oriente e Nordeste de Londres e o Comissário Consultivo para as Escolas Preparatórias. 

Todo tipo de serviço social reivindicava seu interesse. Ele trabalhou em nome dos domicílios do Dr. Barnardo, da Sociedade Waifs e Strays, da Missão dos Marinheiros e de outras instituições de caridade, e pouco antes da guerra foi adotada como candidata liberal para o South Glamorgan. Ele comprou uma casa, 29 Stepney Green, como um centro para o Movimento Boy Scout, que se tornou Roland House, e embora vendido na década de 1960, ainda é conhecido por esse nome.

Em agosto de 1914, ele se ofereceu e foi publicado no 9º Batalhão Royal Fusiliers e partiu para a França no final de março de 1915, embora ele e seu irmão Colwyn voltem na Inglaterra apenas alguns dias depois para o funeral de sua mãe. Antes de retornar à frente, ele almoçou com Baden-Powell e ficou com ele em sua casa em Ewhurst, Kent, nos dias 12 e 13 de abril. Por volta dessa época, ele foi promovido ao posto de Capitão.

Em 13 de maio de 1915, seu irmão Colwyn foi morto em ação, liderando seu regimento dos Royal Horse Guards em uma carga de baionetas contra as trincheiras alemãs. Chegando tão pouco tempo após a morte de sua mãe, e a morte de seu melhor amigo, Anthony Slingsby, em ação, isso foi um golpe pesado. Isso o fez perceber que as chances de sua própria sobrevivência não eram muito altas.

Em outubro de 1915, o tenente Arthur Basil Kemball Cook (Colégio 1898-19014; Staff 1914) juntou-se ao 9º Royal Fusiliers; Ambos morreram no mesmo dia no Somme em julho de 1916. Ele recebeu o MC em março de 1916 por galanteria conspícua durante um ataque ao infame Redoubt de Hohenzollern em Le Bassee, durante o qual ele recebeu três feridas de bala e um corte severo. Apesar das feridas no ombro, fontes afirmam que ele recebeu suas feridas em auxílio de homens feridos, ele mesmo matou quatro inimigos com o revólver. Ele foi enviado para casa para se recuperar, mas voltou com seu batalhão no início da Batalha do Somme em 1º de julho de 1916.

No dia 3 de julho, ele estava na linha de frente em Ovillers e ficou debaixo de um forte fogo alemão, a trincheira de Phillips recebeu um golpe direto, o que abriu sua ferida no ombro, embora ele se recusasse a deixar a linha. No início da manhã de sete de julho, enquanto esperava o sinal para atacar, sua trincheira recebeu um golpe direto de uma casca e ele foi enterrado no caos resultante. Os homens dele o cavaram a tempo de ele liderar o assalto. Ele foi quase imediatamente ferido na perna por estilhaços e derrubado. Ele lutou, mas foi atingido pela cabeça quando quase nas trincheiras inimigas.

20 oficiais e 508 outras filas do 9º Royal Fusiliers foram mortos naquele dia. Ele foi enterrado na extensão do cemitério comunal de Aveluy. Após a guerra, uma festa da Roland House visitou os campos de batalha e pagou à sepultura de Philipps, onde o decoraram com o emblema Scout. Mais tarde, a cruz de madeira original foi levada para Roland House.

Mais detalhes do envolvimento de Philipps com o movimento Scout podem ser encontrados em: http://scoutguidehistoricalsociety.com/roland.htm.


Ele saiu de sua casa em Stepney para o movimento escoteiro e, por um tempo, tornou-se a residência do Comissário. Em seguida, tornou-se um ponto de parada para ex-scoutmasters em seu caminho para a frente. Após a guerra, abriria órfãos que precisassem de alojamento, e também proporcionaria um local de encontro para oficiais escoceses, uma biblioteca e alojamento para visitantes. Foi vendido na década de 1960.

Nota de rodapé: - Nota – O seu livro O Sistema de Patrulhas está à disposição para quem o desejar em PDF. Basta fazer o pedido em meu e-mail ferrazosvaldo@bol.com.br 

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Estou saindo do Escotismo.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Estou saindo do Escotismo.

                 Não sei por que estou escrevendo esta carta. É uma carta de pedido de demissão. Demissão? Isto mesmo, eu estou saindo do Escotismo. Não dá mais. Muitas amarguras e descontentamento com estas trilhas cheias de normas e exigências por parte dos Diretores e Presidentes do Escotismo. Desculpe meus amigos não dá mais. Sinto que não vou fazer falta, nem um bom dia os famosos me dão mais. Acho melhor sair. Ficar para que? Assim como eu tem centenas reclamando da prepotência, dos novos filósofos escoteiros, do desejo de que para subir tem que pisotear na cabeça de alguém. Isto é escotismo?

                Poderia ter passado um e-mail, meio mais moderno de se comunicar. Mas quem ia ler? A carta eu xeroquei (palavra danada eim?) e mandei para muitos que estão no altar das ilusões de uma corte de nobres que não existe. Sei que não terei respostas. Eles não se incomodam com o Zé, com o Bastião e eu. Melhor sair do que ficar escrevendo e dizendo o que penso de nossa liderança tão afoita em mestrado no escotismo brasileiro. Nunca iria dizer adeus. Nunca. Mas tudo tem seu tempo sua hora e seu lugar. Estou partindo e não pretendo mais voltar.

                 Eu sei que não estou sozinho. Sempre tem um aqui se queixando, pegando seu boné e se mandando para nunca mais voltar. São queixosos que dizem ter sido perseguidos, admoestados por alguém que não chega aos seus pés. Vale a pena continuar? Não vale. Se lutei se dei parte dos meus sonhos e da minha vida não valeu? Vou pegar o primeiro trem para Pasárgada. Lá eu serei feliz. Bendito Manuel Bandeira que foi antes que eu. Em Pasárgada terei outros sonhos, terei outra vida. Lá tem gente bonita, tem belas escoteiras e tem uma praia linda prá namorar.

                  Não vou escrever muito. Não adianta explicações. Nem tampouco adianta mostrar minha revolta pelo que fazem ao escotismo de hoje e o que vai ser no futuro. Futuro? Será que teremos futuro? Não importa, para mim tudo acabou. Eu sempre disse a mim mesmo que nem morto eu sairia do escotismo. Afinal serei obrigado a passar no Grande Acampamento quando partir. Lá eu terei bons momentos com B.P e amigos que devem estar lá. Mas eu ficar? “nem morta Zé”, “nem morta”. Um abraço uma canção um Volta a Gilwell e tchau! Pego no rabo do primeiro cometa que passar e Bau, Bau. Sei que lá nem todos vão apertar a minha mão.

                   Escreverei poucas palavras. – Povo livre e prisioneiro do Escotismo, estou partindo, aqui eu não volto mais. Vou-me embora pra Pasárgada Lá serei Escoteiro do rei, lá vestirei meu caqui querido com o chapéu que escolherei. Lá farei pioneiras, construirei uma toca na Montanha da Felicidade e ali irei morar para sempre. Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não posso acampar, lá não tem UEB e burocracia, Só paisagens para amar. Terei aventuras mil que Que Baden-Powell sorridente Dirá: Osvaldo felicidades e boa estadia em Pasárgada.

                   Escreverei no Facebook comunicando minha saída aos milhares de amigos do Brasil e do planeta Terra. Ser escoteiro aqui não dá mais. Chega de exigências, chega de escotismo moderno. Eu sou um escoteiro do passado, meu escotismo é simples e fácil de fazer. Em Pasárgada armarei minha barraca no pico do monte feliz. Andarei de bicicleta escalarei mil montanhas subirei na pedra dos sonhos, tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado deito na beira do rio, na sombra do abacateiro, pois como bom ex-escoteiro, voltarei de novo a cantar.

                 Adeus, portanto meus amigos. Vou me juntar à turma dos esquecidos. Não chorem com minha partida. Estou indo para Pasárgada, em Pasárgada tem de tudo é outra civilização. Tem um processo seguro de fazer escotismo de montão. Vou-me embora pra Pasárgada. Aqui eu não volto mais, adeus UEB dona de tudo, Adeus amigos queridos, adeus... Não sei quando vou voltar...


                Osvaldo! Osvaldo! Acorda de novo estes pesadelos? Pare de gritar que vai embora do escotismo. Vai nada. Voce sabe que viveu escoteiro morrerá escoteiro e será escoteiro por toda sua existência. Eita Célia que não me deixa sonhar. Estava indo para Pasárgada. Lá tem escoteiro feliz. Não tem a Legião dos Esquecidos, não tem falta de imaginação. Tem sonhos que a gente não quer acordar!         

Nota de rodapé: -  Estou indo para Pasárgada, lá eu serei feliz.
Tem escotismo prá pobre, Tem escotismo sem par...
Tem escoteiras bonitas para a gente namorar.

E quando eu estiver mais triste mais triste que não tem jeito
Na conversa ao pé do fogo ouvirei histórias do peito.
Vou embora para Pasárgada. — Lá sou Escoteiro do rei —
Terei o grupo que eu quero no bairro que escolherei.
(Baseado no original de Manuel Bandeira).

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Conversa ao pé do fogo - Ser monitor


Conversa ao pé do fogo.
Ser Monitor.

                     É notável o papel que desempenha a Patrulha no Escotismo. Mas também é certo que ela será o que for o seu Monitor. O valor pessoal do Monitor, não o duvidemos, irá sempre influir tanto na vida social da Patrulha como na vida pessoal de cada individuo que a forma. Quando um dia perguntaram a Baden-Powell que grau escolheria nos quadros do escutismo se não fosse Chefe Mundial, ele respondeu: "Se me permitissem escolher um posto no Movimento, escolheria o de Guia de Equipa". Com isto queria significar o Grande Chefe, que julgava que o papel mais interessante dentro do escutismo é o de Guia de Equipa. Quando um dia perguntaram a Baden-Powell que grau escolheria nos quadros do escotismo se não fosse Chefe Mundial, ele respondeu: "Se me permitissem escolher um posto no Movimento, escolheria o de Monitor de Patrulha". Com isto queria significar o Grande Chefe, que julgava que o papel mais interessante dentro do escotismo é o de Monitor de Patrulha.

                    Disse um dia Proebel "é necessário que a vida do rapaz seja uma festa contínua; ele deve formar-se por meio do jogo, da alegria e da amizade. Baden-Powell para corresponder a esse desejo criou para os rapazes e moças algo de formidável onde eles possam desenvolver-se numa atmosfera de alegria e de bom humor". Eis o Escotismo que ele criou sobrepondo dois quadros cheios de atrativos: O quadro do ideal cavalheiresco e o quadro da vida de explorador, dos quais fez nascer à bela aventura da Vida Escoteira. O Monitor encontra aqui a sua grande missão, fazer dos seus rapazes atores desta aventura, sendo ele o mesmo realizador e um dos atores. Quanto mais viva for à realização, mais animado, agradável e feliz sairá o filme. Treinando os seus escoteiros, entusiasmando-os, amando-os e assim eles seguirão o seu monitor até ao final, evitando o aborrecimento nas atividades da patrulha, procurando criar cada vez mais qualquer coisa de novo, sem parar, vivendo sempre com o ideal de seguir sempre em frente até ao mais longe possível. Em tudo onde o monitor participe, deve ele acabar com os momentos vazios, cheios de palavras e de circunstância sem qualquer finalidade, porque antes de mais uma palavra clara e direta vale mais do que muitas palavras ocas.

                      A missão do monitor passa nada mais do que ser o Treinador, aquele que rega o que está árido, o Irmão Mais Velho, aquele que cura o que está ferido, o Modelador, aquele que dobra o que é duro e que aquece o que está frio, e finalmente o Exemplo, aquele que guia os passos dos desencaminhados. Para o Monitor obter bons resultados com o seu trabalho precisa ter: - sacrifício, dedicação, exemplo, franqueza, coragem, energia, pois a grande condição indispensável para se exercer uma ação de formação junto dos seus escoteiros é o seu exemplo como Monitor. O Monitor não deve esquecer que deve partilhar esta missão de formação, com os seus Chefes, com o Assistente, com o seu Submonitor, pois deles exige-se a colaboração nesse sentido. Importante é que o Monitor nunca esqueça que a sua presença não deverá nunca apagar o individualismo de cada um dos seus patrulheiros. Por outro lado é bastante positivo que cada rapaz saiba que o seu Monitor está sempre pronto para ajudá-lo e que pode contar sempre com ele.

                         O Monitor não é mais do que o modelador hábil que do barro mais resistente, dos caracteres mais difíceis, consegue fabricar autênticas obras de arte, Escoteiros conscientes, Homens para a Vida. O Monitor antes de realizar esforços por formar os seus elementos, tem que os conhecer bem, assim que os mesmos entrem para a sua equipa, assim será uma demonstração de que o Monitor se interessa pelos seus elementos, conhecendo os seus interesses, os seus gostos, os seus divertimentos, os seus estudos, a sua vida familiar e a sua vida no seio do seu Grupo. O Monitor deve ser responsável e isso implica saber responder pelos seus atos em qualquer momento. Partimos pelo pressuposto que todo o Verdadeiro Monitor é responsável, mas a sua responsabilidade situa-se até que ponto? Quem é que é responsável pelo Monitor?

Primeiramente, o Monitor é responsável pela sua própria pessoa. Como sabemos do Monitor dependem outras sete pessoas, que o seguem, que o examinam, que colocam várias provas e obstáculos ao seu carácter e que conhecem melhor o Monitor que o próprio Monitor e finalmente são sete pessoas que imitam o seu Monitor, quer nas virtudes quer nos defeitos. Tudo o que acontecer dentro das competências do Monitor aos seus Escoteiros dependerá quase sempre do Monitor e do seu Submonitor da vontade de ambos. É necessário que o Monitor e o sub. saibam primeiramente o que desejam para si e depois de o saberem concretamente é que saberão o que querem para os outros.

                      Resumindo, conclui-se que o Monitor não é leal se exigir dos outros seus elementos algo que não exige de si, se lhes impuserem normas ou regras e é ele o primeiro a desobedecê-las. O Monitor deve sempre pensar num grau de exigência maior em relação a si do que dos seus elementos. O Monitor é Responsável pela sua patrulha, pois ele responde por ela onde quer se seja, quer em reuniões, quer em atividades, quer em jogos. Por isso o Monitor é responsável pelo espírito da sua patrulha/equipa, e, portanto deve ser o Monitor que o deve incutir nos seus irmãos escoteiros. O Monitor é também responsável pelo seu Grupo, pois a ele cabe um papel fundamental na discussão da vida do grupo a que pertence.

                       O Monitor não deve nunca deixar esse papel de lado, pois essa incumbência que é dada ao ele deve ser utilizada da melhor forma. Se a Chefia necessita do apoio dos seus Monitores no sentido de lhes ouvir as suas opiniões, informar sobre algumas indicações, falar sobre o espírito entre as patrulhas e a tropa e decidir os passos da caminhada da Tropa, o Monitor tem uma grande quota de responsabilidade sobre as orientações tomadas e realizadas pelo seu Grupo. Por último, o Monitor é Responsável por cada um dos seus escoteiros de patrulha, pois é ele que deve ser o primeiro a fazer com que os seus patrulheiros adquiram o verdadeiro Espírito Escotista, o espírito que se encontra presente na Lei do Escoteiro.

                      O Monitor não é apenas aquele que se diverte com os seus patrulheiros, mas sim aquele a quem compete fundamentalmente velar pela formação moral, intelectual, física, técnica e religiosa, é responsável pelos que abandonaram o escotismo, é responsável por aqueles que nunca sentiram o escotismo.

Adaptado do livro "Pistas para o Monitor de Patrulha”.

Nota de rodapé: - As melhores tropas estão onde a responsabilidade está nas mãos dos monitores. Este é o segredo do sucesso de muitos chefes escoteiros quando eles têm seus monitores fazendo seu trabalho como se eles fossem os assistentes da chefia. Os chefes escoteiros são capazes de continuar e aumentar o tamanho de suas tropas começando novas patrulhas ou colocando novos escoteiros nas existentes. Espere grande coisa de seu Monitor de Patrulha e nove vezes em dez ele vai superar sua expectativa. Mas se você continuar a trata-los como bebês e nunca confiar a eles coisas a serem feitas, você nunca vai tê-los fazendo nada por sua própria iniciativa. Baden-Powell.

sábado, 19 de agosto de 2017

Somos todos irmãos - escotismo sem fronteiras


Escotismo sem fronteiras.

“Somos do mesmo sangue, tu e eu”! Palavras de Kaa à serpente da Jângal.

A amizade é como um boomerang; tu dás a tua amizade a um dos teus companheiros, e depois a outro e a outro ainda, e eles retribuem-te com a sua amizade. Assim, a tua amizade e boa vontade iniciais vão-te fortalecendo a medida que vão sendo transmitidas aos outros, e acabam por regressar a ti, em retribuição, tal como o boomerang regressa à mão de quem o lança.
Se não tiveres medo das pessoas que encontras nem sentires antipatia por elas, também elas, da mesma maneira, não te recearão nem desconfiarão de ti e terão tendência para gostar de ti e serem tuas amigas.

Lord Baden-Powell of Gilwell.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Crônica de um Velho Chefe Escoteiro. “Porca lá miséria”


Crônica de um Velho Chefe Escoteiro.
“Porca lá miséria”

              Não me levem a mal, nada que em português significasse “miséria vagabunda”. Mas isto faz parte da mente de um Velho Chefe Escoteiro? “Necas de catibiriba”. Nos meus percalços da vida não deixo a vida me levar, eu a levo aonde quero ir. Neste fim de semana que dizem ser o meu dia, assim quiseram os comerciantes para faturar me lembrei da lei de BP no seu original. Não me prendi no primeiro artigo que dizia que a Honra, para os escoteiros, é ser digno de confiança. Nem no segundo, pois não temos reis nem rainha para jurar lealdade. Aos nossos grandiosos políticos a gente nem pensa nisto. Gosto do quarto que diz que o escoteiro tem o dever de ser útil e ajudar o próximo.

               Mas deixemos de lado que o escoteiro é amigo e irmão de todos ou que o escoteiro é cortês. Claro que sabemos que ele tem a obrigação de ser amigo dos animais e das plantas e que obedece as ordens dos seus pais, do seu Monitor ou do seu Chefe escoteiro. Mas fiquemos presos ao oitavo. Gosto dele. BP achou que a gente iria assoviar quando nos defrontássemos com qualquer dificuldade. Bom isto. Às vezes fico pensando se o escoteiro não é humano. Se ele não pode chorar, reclamar e nem maldizer uma maldita pedra que tropeçou no caminho.

               Eu ando por “aqui” com muitas coisas que vem acontecendo em minha vida. Uns amigos que não estão perto são mestre em escrever para mim e dizer que sorrir é o melhor remédio. Eles tem culpa? Não tem afinal eu sou mestre em dizer que a felicidade é fazer os outros felizes. (Eita BP que não sai da minha mente). Sou um escoteiro sortudo, graças a Deus. Fiquei alguns meses atrás doze dias em uma enfermaria lá pras bandas de Purgatório. Passei a andar de bengala, aumentou as doses de inalação e remédios. Bom demais! Foi duro subir no pé de jaca para pegar uma Jaca. Olhe não sou muito fã de Jaca, mas sei que tem gente que gosta.

               Continuando minhas contestações do sorrir sempre, ontem voltando da casa da minha filha no meu velho e sistemático carrinho, eis que aconteceu uma fantástica maravilha. Ele começou a cuspir água, fervendo o motor e só por um milagre consegui estacionar na Marginal do Tietê. Celular para pedir socorro? Não tinha. – Célia, vou atravessar as diversas fases da marginal. Ela me olhou de olhos arregalados! Precisamos Célia. E lá fui eu de bengala e tudo pedido aos carros para parar depois de saltar três obstáculos o valente Chefe conseguiu pedir socorro a um motorista de uma ambulância que gentilmente me emprestou seu celular. Graças a Deus que não precisei usar a dita.

               Voltei e esperei meu filho vir me rebocar. Enquanto isto fiquei praguejando em vez de cantar o Rataplã e gritar viva BP e seu oitavo artigo. Tentei assoviar e não consegui. Pensei comigo mesmo se não assovio o artigo não vale! Risos. Eram mais ou menos quatro da tarde e lá pelas oito da noite estava em casa bufando. Afinal mudei minha rotina de aspirar meu medicamento do pulmão e fazer a “danada” da inalação. Ai eu pensei com meus botões (faltam dois na minha blusa de frio). – E agora? Duro sem tostão e sem carro o que fazer?

               Hoje cedo peguei minha bengala, eterna companheira de subidas na minha rua e lá fui eu na padaria comprar pão. Meditava... Lia e relia em pensamento a lei escoteira de cima para baixo e de baixo para cima. – Parei no que BP disse que o escoteiro é sóbrio econômico e respeita o bem alheio. Este era fácil de seguir, pois roubar um carro não estava no meu programa. Nunca tive uma poupança. Meu carrinho me dava uma mão para correr até Purgatório ou levar a Célia que também não anda nada bem. Pensei com meus botões (de novo?): E daí! Não é bom caminhar? Quem sabe caminhando refresco meu pensamento da revolta de políticos ladrões que só roubam milhões.

                 Resolvi parar de pensar. Afinal eu sei que amanhã é outro dia. Ainda estou igual ao dono do carrão que quando furou o pneu viu que não tinha macaco. Praguejou porque um carro como aquele não tinha macaco. Praguejando sem parar viu uma casa e quando abriram à porta ele gritou: - Macaco dos infernos! E falou um palavrão. Eu? Não vou praguejar. Vou esperar o mecânico aqui em minha casa. Quem sabe ele vendo minha carinha de “tristeza” vai consertar meu carrinho de graça? Pois é, a vida é cheio de altos e baixos, montanhas e vales, o jeito é assoviar como diz BP. Preciso treinar de novo meu assovio!


                 Engraçado, depois de velho não consigo mais assoviar. Nada como ser persistente, alegre, um perfeito escoteiro feliz com a vida, vai chegando uma brisa em forma de vento sopra no meu rosto e eu dou uma bela gargalhada! SAPS BANDEN-POWELL! - SAPS? Cacilda! - Logo eu? Danado de SAPS! Vá sapear nos raios que o parta! Risos. E eis que começo a ouvir uma canção de anjos e querubins e pipoca um enorme clarão no céu e em uma nuvem lá esta ele. - Garboso no seu uniforme e dizendo para mim: - Vado Escoteiro, o Escoteiro é limpo no pensamento, na palavra e na ação. Ímpio BP! Sempre a me perseguir!

Nota de rodapé: - Apenas uma crônica quase real para passar o tempo. Afinal somos ou não somos sublimes e corajosos escoteiros? As dificuldades a gente tira de letra. – risos, boa essa! – Bom falar, mas difícil de realizar. Agora é pé na taboa e partir sem reclamar viajando na Empresa de Viação Vulcabrás. Meu carrinho se foi e sorrindo vou esperar ele voltar. Risos.

sábado, 12 de agosto de 2017

Tradições valem a pena mantê-las?


Conversa ao pé do fogo.
Tradições valem a pena mantê-las?

                  Dizem que eu devia me preocupar com coisas mais importantes no escotismo. Pode ser, mas gosto de falar sobre elas. Tradições e simbologia fazem parte da nossa vida escoteira e cria uma mística própria que nos encanta. Dizem que quem não tem tradições não tem memória. - Escrevi muitos artigos sobre o tema. Tenho muitos condensados, mas um artigo escrito há bastante tempo por Fernando Robleño para mim sintetiza o que penso sobre tradições. Postando seu artigo e esperando que Fernando ainda tenha o mesmo pensamento.

Esta temida tradição escoteira.
Nas eleições deste ano (2012), fui votar no colégio municipal onde estudei quando criança. Permiti-me passear pelo bairro onde cresci. Foi pitoresco, quase surreal, ver crianças empinando pipa, jogando bola na rua e trocando figurinhas na calçada. Até porque é um bairro de periferia e imagino que não são todos os que têm um computador ou um videogame como opções de ócio. O escotismo aqui, lembremos, é de inclusão, ou seja, contempla os do “Playstation” e os da “pipa”.

Se a questão da tradição escoteira girasse ao redor da substituição de uma bússola por um GPS, ou de um Atari por um Wii, ou de uma pipa por um aeromodelo, quão fácil ficaria o diálogo neste ou em qualquer outro blog. Bastaria estar por dentro das novas tecnologias e pronto. Mas não se trata somente disso.

Pessoalmente, não assimilo a questão da tradição escoteira. Não sei quando ela começou. Seria aquela que vivi no final dos nos 80 como membro juvenil? Ou aquela, para os mais entrados em idade, vivida na década de 60? Não sei, ademais, se ela deveria existir, já que a escravidão, por exemplo, foi uma tradição neste país.  Não entremos no mérito da “tradição de Baden-Powell”, já que é digna de uma tese, sendo separada por fragmentos a começar pelo próprio Escotismo para Rapazes, o qual sofreu atualizações das mãos do próprio fundador até pouco antes de sua morte; mas há, ainda, os que insistem em que a primeira edição pensada para uma Inglaterra colonialista é a que vale.

Cabe ao povo, e somente a ele, decidir quando uma tradição acaba e quando ela começa. E não uma junta diretiva ou uma comissão. Não adiantará assinar leis estabelecendo uma tradição ou decretando seu fim se o povo não a aceitar. Não sendo assim, cedo ou tarde, ela acaba minguando e caindo no esquecimento, provando que não passou de uma moda passageira, longe do que entendemos por tradição. O próprio escotismo é prova disso: se é uma tradição encontrar escoteiros na rua aos sábados, é porque de 1907 pra frente o povo aderiu à ideia.
Para ilustrar o pensamento, a bandeira do Mercosul deveria ser hasteada, por lei (sequer é uma tradição), em todos os estabelecimentos públicos oficiais. Quantos de nós já vimos uma bandeira do MERCOSUL?

E não há meio de afrontar uma tradição sem deixar feridos pelo caminho. E esses feridos podem ser os que mais precisamos num movimento em queda livre, já que trazem na bagagem as rugas de alegria em relação ao que deu certo, e as cicatrizes daquilo que não vingou.

Traslademos o pensamento à associação escoteira. Uma instituição que não aposta na própria imagem e no que ela representou e representa há décadas, não poderá mostrar seriedade ou firmeza naquilo que crê ou faz. Um desenho que sempre estampou aqueles uniformes levados com galhardia, livros publicados na década de 60 (período mais fértil da literatura escoteira), se é apagado de nossa história da noite para o dia por uma comissão sem que haja uma justificativa de impacto à margem da démodé “são os jovens”, não somente mostrará que a associação não acredita em sua imagem, mas que sente dificuldade em valorizar aquilo que fez dela o que é hoje - “um país que não conhece sua história, tende a cometer os mesmos erros no futuro”.

E se por uma questão de moda se tratasse, ela, a moda, é tão passageira como o passar das estações. Não podemos afirmar o mesmo no que se refere à tradição, que se perpetua com o passar dos tempos, é aceita e mantida pelo povo: ela fala por si e não há necessidade de vendê-la, sequer enfeitá-la.

Não se trata de mudanças somente de imagens, ou de roupas, ou de modas, ou de gadgets. É que a própria instituição se resiste às mudanças. E por uma dessas ironias que nos cruzam o caminho, nos mostra essa resistência justamente porque ela, a instituição, não quer mudar sua forma de governar, sua “tradição” política, mesmo que seja para um bem comum e mesmo que os associados a reivindiquem.

Com o artifício da internet, o povo desfruta de portais de transparência, mas parece que o escotismo não precisa disso. Enquanto o voto direto representa uma democracia, nós não o temos. Enquanto a participação dos associados, o patrimônio máximo de uma associação, é levada em boa conta em qualquer segmento, no escotismo se faz a engenharia inversa.

Há aqueles com o discurso na ponta da língua: “mas o foco é o jovem”. Lembremos que são 12 mil adultos os que mantêm essas crianças interessadas em escotismo.  A modernização que traz resultados, como se vê lá fora, é justamente essa: a de se saber dar o devido valor ao adulto - a meritocracia. Mas nossos sites, longe de se atualizarem, preferem apenas gastar umas poucas linhas ao voluntariado.

No meu tempo era melhor? Lembro-me de minha infância com carinho, mas não me atrevo a equipará-la a outra infância ou adjetivá-la de “a melhor”. Hoje é melhor? Para os jovens que vivem esse tempo, sim.

Mas para os adultos, que são os alicerces do movimento escoteiro, talvez seja um fardo demasiado grande que carregam a favor de crianças, porque a associação contribui para tanto. O escotista, o adulto, quer atuar onde a meritocracia funcione; quer ser ouvido, quer estar onde possa apertar a mão de um comissário distrital; ter uma conversa ao pé do fogo com algum dirigente nacional; receber uma carta lhe congratulando. A associação, ao contrário, se distancia cada vez mais do seu maior patrimônio, daquele que defende o nome da causa escoteira esteja lá onde estiver: o adulto, o “chefe”.

Não sei se será outra quimera, mas acredito piamente que o escotismo brilha mais por inciativas isoladas destes adultos do que associativamente falando. O movimento escoteiro no Brasil não perde jovens para a internet ou para videogames. Os perde para ele mesmo. Passamos de um movimento que oferecia algo único, praticamente competindo sozinho, a um movimento que oferece o mesmo que outros, apenas com outra roupagem. A premissa da “escola de cidadania” não passará de um mantra se não nos fazemos ver e, por conseguinte, não sermos lembrados.

Fernando Robleño.

Nota de rodapé: - (significado de tradição: - É uma palavra com origem no termo em latim “traditio”, que significa entregar ou passar adiante. A tradição é a transmissão de costumes, comportamentos, memórias, rumores, crenças, lendas para pessoas de uma comunidade, sendo que os elementos transmitidos passam a fazer parte da cultura.). Um artigo para passar o tempo enquanto as reuniões escoteiras pipocam por todo o Brasil.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Precisava ser assim?


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Precisava ser assim?

                Não. Não precisava. É triste ver alguém vir aqui e deixar escrito que está partindo. Deixou sua alcateia, deixou sua tropa e se vai.  Alguns costumam voltar outros guardam mágoas. Mas afinal o escotismo não é um mundo novo, uma nova descoberta onde muitos falam em alto e bom som que seu coração é escoteiro? Pois é, a pessoa chega menino ou grandão. Ela ou ele motivados. Investem nos conhecimentos (estes nunca perdem) e partem para o voluntariado. Se sentem bem, acreditam na fraternidade. Dão sorrisos, abraços e apertos de mão.

                Ai chega uma hora que dá um “traque”, melhor sair, não quer partir para o ataque, se afasta e se vai. E os cursos que fez? E as amizades que deixou? De quem a culpa? Do Zé Be Deu? Ora bolas, não fizemos um juramento de fazer o melhor possível? – Mas Chefe, dizem alguns não dá mais... Ouve uma mistura de pensamento, de doutrina e uma teoria que não deu certo. Pisaram no meu pé. Doeu. Pensei em revidar, mas valia a pena? Entrei por amor e não iria partir para a violência. Afinal escotismo não é amor fraternidade e paz?

               É sempre assim. Um ano vai, um ano fica e o tempo passa. É como se fosse um funil cheio de boas intenções, mas ali tem os vaidosos, tem os arrogantes, os esnobes e tantos outros que jogam a sua maneira escorraçando alguns para o fundo do funil. Caramba! Isto é escotismo? Moço me respondem, é sim, eles são a minoria, mas fazem um barulho que machuca aos ouvidos de muitos. Ai eu penso comigo: - Poxa vida! A gente acredita em fraternidade em amor em igualdade e aí estão os novos do poder? São os donos os proprietários e fazem o que querem fazer? Eles são os ricos, compraram todas as ações ao portador e as preferenciais?

               E a fila continua. Hoje saiu o Zé, amanhã sai a Maria. A gente escreve, não desista, lute, mas lutar por quê? Se você deu um pouco de sua vida e achou que podia ajudar e vem um sacripanta qualquer para te apoquentar o que fazer? Tenho outras coisas para fazer. Minha família, meu trabalho meus amigos e tantas coisas mais... Eu poderia completar que ele gastou o que não podia, ajudou demais, pensou em receber um agradecimento ou até mesmo uma medalha. – Pagou Zé? A medalha só vai se formalizar por escrito e com cheque junto. Entendeu papudo?

               A fila ainda é grande. Muitos ficam na sua sem interferir com os grandões. Os donos do poder. Sabe meu amigo, eu não sei por que aparece este tipo de gente no escotismo. Chegam com ar de bacana, se realizando no comando, sorrindo por ver tantos obedecendo. E eles estão cheios de ideias, não sei se tem ideais. Coisas de Badenianos que eles ainda não entenderam. E a UEB? Ou a EB? Cada dia mudando, um dia irão dizer que são BE. Be Prepared? Não Chefe, não. Brasileiros Escoteiros! Buáa!  

               Pois é, aqueles que aqui postaram comentando sua saída receberam solidariedade. Pelo menos o Facebook serve para isto. Tem muitos para dizer tanto que a gente nem sabe para onde ir. Mas cá prá nós... A EB não deveria enviar um e-mail, uma cartinha perguntando por que saiu? Custa dizer que ele é importante? Espere sentado diz o Zé das Quantas. A UEB nunca escreverá nada. Nem um até logo ela diz afinal tem muitos para defendê-la. Ela está lá no seu canto, dando ordens e a turma do Sim Senhor cumprindo sem reclamar.

             Sou macaco velho. Conheço isto desde o Trem de Ferro espirrando fumaça em cada curva e eu de guarda-pó branco andando prá lá e prá cá em cada vagão. Já me deram muitas vezes o passe livre, a carta de alforria. Eu agradeci e continuei, pois entendo estes sacripantas que fazem o que querem ou aqueles que gritam e berram: - Escreveu para o Escritório Nacional? Telefonou para o Zé Grandão? Reclamou na Assembleia? E pode? E resolve? Só os tolos acreditam nisto.

            Infelizmente a fila dos que se vão vai continuar. Eles ou alguns irão dar um até logo aqui, outros dirão que é por pouco tempo, mas a gente sabe que a maioria não volta mais. Setenta anos... Setenta anos escoteirando. Sabe a melhor época? Menino sorridente, correndo por aí, calça curta no joelho, mochila nas costas subindo um parapeito que se formou na montanha da vida do escoteiro que era eu.

              “Senhor ou Senhora” fico triste com sua partida. Se tivesse poderes o que não tenho, gostaria de dar uma medalha de Bons Serviços, uma de Gratidão e quem sabe uma Cruz São Jorge por tudo que fez e mereceu. Não precisaria pagar por algo que fez. Seu trabalho não tem preço. Triste por sua partida, mas sei que levas no coração uma lembrança de um sorriso de uma criança, de um aperto de mão, de um sonho que se alojou no coração e nunca mais vais esquecer!


              E eu, vou ficando. Até quando? Até a hora de partir. Nada me fará sair. Mas Chefe: - O Senhor não é mais um “Maciste” para escoteirar! Dou risadas e penso: - Sair e desistir não é meu lema. Posso perder uma batalha, mas mesmo partindo um dia desta vida levarei comigo uma vitória de ter feito o que fiz sorrindo e acreditando que se tivesse de começar tudo novamente, faria tudo de novo! 

Nota de rodapé: -  Existe em nosso grandioso movimento, uma legião. Uma Legião de Esquecidos. São de diversas idades, podem ser jovens, lobos ou voluntários que um dia acharam que podiam ajudar. Não estão mais aqui. Resolveram partir por achar que ali não era mais o seu lugar. Não receberam na saída nenhum elogio, nenhum agradecimento, nenhuma condecoração. Afinal para que? Não precisa. Eles agora fazem parte de uma Legião, uma Legião dos esquecidos.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Lembranças de Baden-Powell. A Fraternidade mundial.


Lembranças de Baden-Powell.

A Fraternidade mundial.

Os Indianos chamavam Kim o «Pequeno Amigo de Todo o Mundo», e todos os Escoteiros deviam esforçar-se por merecer esse nome. O espírito é que conta. A nossa Lei e Promessa de Escoteiros, quando realmente as pomos em prática, afastam todas as ocasiões de guerras e lutas entre as nações.

Sempre que se encontram, um pouco por todo o mundo, os Escoteiros são irmãos. Têm os seus sinais secretos pelos quais se reconhecem, e são prestáveis e hospitaleiros para todos. Um Escoteiro seria capaz de te oferecer o que tivesse de melhor para te dar de comer e para te alojar, mas esperaria tanto que lhe pagasses por isso como que lhe cuspissem na cara. Um Escoteiro é capaz de sacrificar a sua vida para salvar o seu amigo ou mesmo para salvar um estranho... especialmente se esse estranho for uma mulher ou uma criança.

Se todos os homens tivessem desenvolvido em si mesmos o sentido da fraternidade, o hábito de pensar em primeiro lugar nas necessidades dos outros, e de subordinarem a elas as suas ambições, prazeres ou interesses pessoais, teríamos um mundo muito melhor onde viver. «Um sonho utópico», diriam alguns, «mas não passa de um sonho, por isso nem vale a pena tentar».

Mas se, ao sonharmos, nunca estendêssemos as mãos para agarrar a substância dos nossos sonhos, jamais conseguiríamos progredir.

Com o advento da boa vontade e da cooperação, as discórdias triviais que têm dividido as nações cessarão, as classes e os credos deixarão de professar-se irmãos enquanto agem como inimigos e dividem contra si mesmos a sua própria casa.

O Escotismo é uma Fraternidade - um organismo que, na prática, não olha a diferenças de classe, crença, país e cor, por meio do espírito indefinível que o anima - o espírito de cavalheiro de Deus.

Irmãos Escoteiros, peço-vos que façais uma escolha solene.
Existem diferenças de pensar e de sentir entre os povos do mundo, tal como existem diferenças físicas e de línguas. A guerra ensinou-nos que, se uma nação tentar impor a sua vontade particular às outras nações, uma cruel reação seguir-se-á inevitavelmente.

O Jamboree ensinou-nos que, se exercitarmos a tolerância mútua e o hábito de fazermos concessões recíprocas, então haverá compreensão e harmonia. Se for essa a vossa vontade, partamos daqui totalmente decididos a fomentar essa camaradagem entre nós e entre os nossos rapazes, através do espírito mundialmente espalhado da Fraternidade Escoteira, para que possamos ajudar a desenvolver a paz e a felicidade no mundo e a boa vontade entre os homens.

Irmãos Escoteiros, respondei-me. Unir-vos-ei a mim neste propósito.
Como Deus deve rir-se perante as pequenas diferenças que nós, homens, erguemos entre nós sob a camuflagem da religião, da política, de patriotismo ou de classe, esquecendo-nos do maior de todos os laços - o da Irmandade da Família Humana!

Queremos que a próxima geração veja mais longe, e que olhe os outros como irmãos, filhos de um único Pai, em todo o mundo, qualquer que seja a crença ou a cor, o país ou a casta de cada um.


Com boa vontade e cooperação, as nações estender-se-ão e os políticos descobrirão que já não é possível arrastar para a guerra povos que se encaram amistosamente. Descobrirão que o que conta é a vontade dos povos.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Conversa ao pé do fogo. Pequenas dicas Para chefes escoteiros novos.


Conversa ao pé do fogo.
Pequenas dicas Para chefes escoteiros novos.

             Quem sabe no seu distrito ou na sua área onde atua como Chefe escoteiro tem algum Velho Chefe Escoteiro para dar boas dicas de atividades de Tropa? Já procurou algum? Eis que perguntei a um se ele tinha algumas dicas para eu passar aos meus amigos Chefe de Tropa. Ele fechou os olhos pequenos e me disse – Dicas? Quem sabe tenho? Acho que muitos estão esquecendo que o escotismo é feito no final de semana. Duas ou três horas e acabou a reunião. Portanto é um movimento semanal. O intervalo de uma semana a outra desanima a escoteirada. Assim sem uma boa motivação vamos perder muitos que irão procurar outras formas de se divertirem.

              Uma das minhas preferidas é o passo duplo. Conhece? Sei que a maioria tira de letra e você. O passo duplo para treinar é fácil. Uma trena um giz e um quarteirão em volta da sede. Ver quantos metros. Cada Escoteiro dá a volta para ver a medida do seu passo. Chama-se duplo porque você dá dois passos para valer um. Se a volta no quarteirão é de 300 metros, veja quantos passos deu e dividir por 300. O resultado se dividido por três vai ser metragem quanto o Escoteiro percorreu a cada 100 metros. Entendeu? E para que serve? É um meio artesanal para saber a distancia percorrida. Mas lembre-se não faça só em um dia tem de ser exercitado sempre. Mesmo não estando em atividade escoteira. Na primeira vez repita com cada escoteiro pelo menos três vezes.

               Vejamos agora o passo Escoteiro. Encontrar uma estrada ou uma trilha para treinar é o excencial. Uma patrulha mede a distancia (já aprenderam o passo duplo), enquanto outra percorre no passo escoteiro se revezando depois. Como? Simples, quarenta correndo e quarenta andando normal. Procure fazer com que cada jovem percorra pelo menos um quilometro. Ensine aos monitores que irão ensinar seus escoteiros que não é uma prova de corrida. O objetivo é treinar cada escoteiro em saber quanto tempo ele consegue atingir um ponto demarcado sem se cansar. Treinar a respiração e manter uma media de sua corrida. Na primeira vez sempre é bom ter assistentes para que todos façam simultaneamente os treinos.

              Outra dica.  Em reunião dê o tempo livre necessário para que as patrulhas adestrem Semáforas com seus patrulheiros. Claro que pensamos que cada Patrulha tem sua bandeirola na medida certa. Acreditamos que nesta atividade você já adestrou seus monitores. Dê um tempo para que cada Patrulha ensine pelo menos três círculos (ver as letras de cada círculo). Após o tempo dado cada Patrulha irá transmitir alguma palavra (usando as letras ensinadas) a outra Patrulha. O objetivo é que todos os patrulheiros sejam alternadamente Sinaleiros e Receptor, ou seja, transmitindo e recebendo mensagens. Não é difícil algum tempo depois montar um jogo onde se transmite para cada Patrulha para que ela execute o que foi transmitido. Uma ou duas tarefas sejam suficientes para a primeira vez. Não esquecer que a transmissão e recepção de semáforas têm normas. Na internet é fácil conseguir isto. Na outra reunião faça o mesmo com os círculos restantes.

                Adestramento de pistas. Não pistas comuns de caminho a seguir evitar e etc. Procure uma estrada vicinal onde tenha um córrego ou nascente. Na estrada encharque bem a terra e comece o treinamento. Treine pegadas de jovens andando, correndo, carregando peso, andando para trás ou mesmo de grande peso. Todos ficam em volta vendo cada Patrulha treinar e aprender. Repita duas ou três semanas depois. O bom é deixar as pegadas ficarem secas para que todos possam reconhecer quem as fez. Quando a patrulha estiver bem adestrada quem sabe ela sozinha criar suas próprias pegadas? De maneira tal que todos da patrulha podem reconhecer de quem é para um futuro grande jogo escoteiro.

             Parece coisa de pata tenra, mas não é. O treinamento com o nó de evasão em uma árvore fazendo ao descer com que ele seja desmanchado é divertimento na certa. E subir em arvores com o auxilio do Balso pelo Seio? E com o nó de correr ou o arnês em uma corda em volta de uma árvore e passar a corda uma ou duas vezes pelo nó para levantar ou arrastar peso? É excelente para substituir o moitão.  E o treinamento de fogueiras (cuidado no local onde for fazer). Porque não deixar que cada um faça um fogo tipo pirâmide para ser aceso com um palito de fósforos sem usar combustível ou papel e que fique aceso por pelo menos cinco minutos? Que tal treinar um fogo de conselho tipo São João contando as madeiras usadas para que ele se mantenha aceso por mais de duas horas sem receber combustível? (lenha).

              Que tal usar uma tarde para observação de pássaros nos ninhos ou galhos e animais tirando fotos e vence a Patrulha que conseguiu chegar mais perto?  E porque não pescar? Sabia que nenhum Escoteiro deve ir para o campo sem ter um pequeno bornal na mochila com pequenos apetrechos de pesca? Um cabo, (nylon), dois anzóis pequenos e médios, uma chumbada pequena e pronto. Tudo acondicionado em uma latinha com tampa. Já pensou todas as patrulhas fritando gostosos lambaris fritos? Uma delicia!

              Que tal uma reunião exclusiva ao ar livre para aprender a ler mapas, fazer um esboço de Gilwell? Aprender a identificar os pontos cardeais, colaterais, subs-colaterais, azimute, graus e tudo feito por patrulhas se possível com bussolas Silva ou Prismáticas? Mas isto é tarefa para os monitores adestrarem suas patrulhas, para isto você os adestrou antes. Dizem que a bússola Starter 123 da Silva é uma excelente escolha aos iniciantes no universo da orientação, Já pensou uma tarde inteira preparando uma corrida de bigas com boas amarras paralelas, quadradas, tripés e porque não muitas costuras de arremate? Todos fazendo simultaneamente por Patrulha? O importante é ver se todos estão gostando e não se preocupar tanto com jogos, canções palestras (ufa!) e formaturas.


                 Existem muitas ideias. Não complique na primeira vez. Aprender a fazer fazendo e não você fazer para mostrar que sabe. Monitores são os responsáveis por tudo e você o responsável por eles. Aventuras são descobertas e não uma maneira de copiar outros fazendo. O que é quero dizer é que Bandeira, oração, inspeção, chamada, jogo e canção enche a paciência. Crie algum novo. Converse com seus monitores. Eu sempre digo e repito se os meninos fazem suas reuniões em suas ruas ou bairros e tem seus programas porque não ouvir o que eles têm a dizer?

Prefácio: - “O acampamento ideal para mim, é aquele em que todos andam alegres e ocupados, em que as Patrulhas se mantêm intactas em todas as circunstâncias, e todos os Monitores de Patrulha e todos os Escoteiros sentem verdadeiro orgulho no seu acampamento e nas suas construções”. Baden-Powell.