Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Precisava ser assim?


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Precisava ser assim?

                Não. Não precisava. É triste ver alguém vir aqui e deixar escrito que está partindo. Deixou sua alcateia, deixou sua tropa e se vai.  Alguns costumam voltar outros guardam mágoas. Mas afinal o escotismo não é um mundo novo, uma nova descoberta onde muitos falam em alto e bom som que seu coração é escoteiro? Pois é, a pessoa chega menino ou grandão. Ela ou ele motivados. Investem nos conhecimentos (estes nunca perdem) e partem para o voluntariado. Se sentem bem, acreditam na fraternidade. Dão sorrisos, abraços e apertos de mão.

                Ai chega uma hora que dá um “traque”, melhor sair, não quer partir para o ataque, se afasta e se vai. E os cursos que fez? E as amizades que deixou? De quem a culpa? Do Zé Be Deu? Ora bolas, não fizemos um juramento de fazer o melhor possível? – Mas Chefe, dizem alguns não dá mais... Ouve uma mistura de pensamento, de doutrina e uma teoria que não deu certo. Pisaram no meu pé. Doeu. Pensei em revidar, mas valia a pena? Entrei por amor e não iria partir para a violência. Afinal escotismo não é amor fraternidade e paz?

               É sempre assim. Um ano vai, um ano fica e o tempo passa. É como se fosse um funil cheio de boas intenções, mas ali tem os vaidosos, tem os arrogantes, os esnobes e tantos outros que jogam a sua maneira escorraçando alguns para o fundo do funil. Caramba! Isto é escotismo? Moço me respondem, é sim, eles são a minoria, mas fazem um barulho que machuca aos ouvidos de muitos. Ai eu penso comigo: - Poxa vida! A gente acredita em fraternidade em amor em igualdade e aí estão os novos do poder? São os donos os proprietários e fazem o que querem fazer? Eles são os ricos, compraram todas as ações ao portador e as preferenciais?

               E a fila continua. Hoje saiu o Zé, amanhã sai a Maria. A gente escreve, não desista, lute, mas lutar por quê? Se você deu um pouco de sua vida e achou que podia ajudar e vem um sacripanta qualquer para te apoquentar o que fazer? Tenho outras coisas para fazer. Minha família, meu trabalho meus amigos e tantas coisas mais... Eu poderia completar que ele gastou o que não podia, ajudou demais, pensou em receber um agradecimento ou até mesmo uma medalha. – Pagou Zé? A medalha só vai se formalizar por escrito e com cheque junto. Entendeu papudo?

               A fila ainda é grande. Muitos ficam na sua sem interferir com os grandões. Os donos do poder. Sabe meu amigo, eu não sei por que aparece este tipo de gente no escotismo. Chegam com ar de bacana, se realizando no comando, sorrindo por ver tantos obedecendo. E eles estão cheios de ideias, não sei se tem ideais. Coisas de Badenianos que eles ainda não entenderam. E a UEB? Ou a EB? Cada dia mudando, um dia irão dizer que são BE. Be Prepared? Não Chefe, não. Brasileiros Escoteiros! Buáa!  

               Pois é, aqueles que aqui postaram comentando sua saída receberam solidariedade. Pelo menos o Facebook serve para isto. Tem muitos para dizer tanto que a gente nem sabe para onde ir. Mas cá prá nós... A EB não deveria enviar um e-mail, uma cartinha perguntando por que saiu? Custa dizer que ele é importante? Espere sentado diz o Zé das Quantas. A UEB nunca escreverá nada. Nem um até logo ela diz afinal tem muitos para defendê-la. Ela está lá no seu canto, dando ordens e a turma do Sim Senhor cumprindo sem reclamar.

             Sou macaco velho. Conheço isto desde o Trem de Ferro espirrando fumaça em cada curva e eu de guarda-pó branco andando prá lá e prá cá em cada vagão. Já me deram muitas vezes o passe livre, a carta de alforria. Eu agradeci e continuei, pois entendo estes sacripantas que fazem o que querem ou aqueles que gritam e berram: - Escreveu para o Escritório Nacional? Telefonou para o Zé Grandão? Reclamou na Assembleia? E pode? E resolve? Só os tolos acreditam nisto.

            Infelizmente a fila dos que se vão vai continuar. Eles ou alguns irão dar um até logo aqui, outros dirão que é por pouco tempo, mas a gente sabe que a maioria não volta mais. Setenta anos... Setenta anos escoteirando. Sabe a melhor época? Menino sorridente, correndo por aí, calça curta no joelho, mochila nas costas subindo um parapeito que se formou na montanha da vida do escoteiro que era eu.

              “Senhor ou Senhora” fico triste com sua partida. Se tivesse poderes o que não tenho, gostaria de dar uma medalha de Bons Serviços, uma de Gratidão e quem sabe uma Cruz São Jorge por tudo que fez e mereceu. Não precisaria pagar por algo que fez. Seu trabalho não tem preço. Triste por sua partida, mas sei que levas no coração uma lembrança de um sorriso de uma criança, de um aperto de mão, de um sonho que se alojou no coração e nunca mais vais esquecer!


              E eu, vou ficando. Até quando? Até a hora de partir. Nada me fará sair. Mas Chefe: - O Senhor não é mais um “Maciste” para escoteirar! Dou risadas e penso: - Sair e desistir não é meu lema. Posso perder uma batalha, mas mesmo partindo um dia desta vida levarei comigo uma vitória de ter feito o que fiz sorrindo e acreditando que se tivesse de começar tudo novamente, faria tudo de novo! 

Nota de rodapé: -  Existe em nosso grandioso movimento, uma legião. Uma Legião de Esquecidos. São de diversas idades, podem ser jovens, lobos ou voluntários que um dia acharam que podiam ajudar. Não estão mais aqui. Resolveram partir por achar que ali não era mais o seu lugar. Não receberam na saída nenhum elogio, nenhum agradecimento, nenhuma condecoração. Afinal para que? Não precisa. Eles agora fazem parte de uma Legião, uma Legião dos esquecidos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

obrigado pelos seus comentários