Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Precisava ser
assim?
Não. Não precisava. É triste
ver alguém vir aqui e deixar escrito que está partindo. Deixou sua alcateia,
deixou sua tropa e se vai. Alguns
costumam voltar outros guardam mágoas. Mas afinal o escotismo não é um mundo
novo, uma nova descoberta onde muitos falam em alto e bom som que seu coração é
escoteiro? Pois é, a pessoa chega menino ou grandão. Ela ou ele motivados.
Investem nos conhecimentos (estes nunca perdem) e partem para o voluntariado.
Se sentem bem, acreditam na fraternidade. Dão sorrisos, abraços e apertos de
mão.
Ai chega uma hora que dá um “traque”,
melhor sair, não quer partir para o ataque, se afasta e se vai. E os cursos que
fez? E as amizades que deixou? De quem a culpa? Do Zé Be Deu? Ora bolas, não
fizemos um juramento de fazer o melhor possível? – Mas Chefe, dizem alguns não
dá mais... Ouve uma mistura de pensamento, de doutrina e uma teoria que não deu
certo. Pisaram no meu pé. Doeu. Pensei em revidar, mas valia a pena? Entrei por
amor e não iria partir para a violência. Afinal escotismo não é amor
fraternidade e paz?
É sempre assim. Um ano vai, um ano fica e o
tempo passa. É como se fosse um funil cheio de boas intenções, mas ali tem os
vaidosos, tem os arrogantes, os esnobes e tantos outros que jogam a sua maneira
escorraçando alguns para o fundo do funil. Caramba! Isto é escotismo? Moço me
respondem, é sim, eles são a minoria, mas fazem um barulho que machuca aos
ouvidos de muitos. Ai eu penso comigo: - Poxa vida! A gente acredita em
fraternidade em amor em igualdade e aí estão os novos do poder? São os donos os
proprietários e fazem o que querem fazer? Eles são os ricos, compraram todas as
ações ao portador e as preferenciais?
E a fila continua. Hoje saiu o
Zé, amanhã sai a Maria. A gente escreve, não desista, lute, mas lutar por quê?
Se você deu um pouco de sua vida e achou que podia ajudar e vem um sacripanta
qualquer para te apoquentar o que fazer? Tenho outras coisas para fazer. Minha família,
meu trabalho meus amigos e tantas coisas mais... Eu poderia completar que ele
gastou o que não podia, ajudou demais, pensou em receber um agradecimento ou
até mesmo uma medalha. – Pagou Zé? A medalha só vai se formalizar por escrito e
com cheque junto. Entendeu papudo?
A fila ainda é grande. Muitos
ficam na sua sem interferir com os grandões. Os donos do poder. Sabe meu amigo,
eu não sei por que aparece este tipo de gente no escotismo. Chegam com ar de
bacana, se realizando no comando, sorrindo por ver tantos obedecendo. E eles
estão cheios de ideias, não sei se tem ideais. Coisas de Badenianos que eles
ainda não entenderam. E a UEB? Ou a EB? Cada dia mudando, um dia irão dizer que
são BE. Be Prepared? Não Chefe, não. Brasileiros Escoteiros! Buáa!
Pois é, aqueles que aqui postaram comentando
sua saída receberam solidariedade. Pelo menos o Facebook serve para isto. Tem
muitos para dizer tanto que a gente nem sabe para onde ir. Mas cá prá nós... A
EB não deveria enviar um e-mail, uma cartinha perguntando por que saiu? Custa
dizer que ele é importante? Espere sentado diz o Zé das Quantas. A UEB nunca
escreverá nada. Nem um até logo ela diz afinal tem muitos para defendê-la. Ela
está lá no seu canto, dando ordens e a turma do Sim Senhor cumprindo sem
reclamar.
Sou macaco velho. Conheço isto
desde o Trem de Ferro espirrando fumaça em cada curva e eu de guarda-pó branco
andando prá lá e prá cá em cada vagão. Já me deram muitas vezes o passe livre,
a carta de alforria. Eu agradeci e continuei, pois entendo estes sacripantas
que fazem o que querem ou aqueles que gritam e berram: - Escreveu para o
Escritório Nacional? Telefonou para o Zé Grandão? Reclamou na Assembleia? E
pode? E resolve? Só os tolos acreditam nisto.
Infelizmente a fila dos que se vão
vai continuar. Eles ou alguns irão dar um até logo aqui, outros dirão que é por
pouco tempo, mas a gente sabe que a maioria não volta mais. Setenta anos...
Setenta anos escoteirando. Sabe a melhor época? Menino sorridente, correndo por
aí, calça curta no joelho, mochila nas costas subindo um parapeito que se
formou na montanha da vida do escoteiro que era eu.
“Senhor ou Senhora” fico triste
com sua partida. Se tivesse poderes o que não tenho, gostaria de dar uma
medalha de Bons Serviços, uma de Gratidão e quem sabe uma Cruz São Jorge por
tudo que fez e mereceu. Não precisaria pagar por algo que fez. Seu trabalho não
tem preço. Triste por sua partida, mas sei que levas no coração uma lembrança
de um sorriso de uma criança, de um aperto de mão, de um sonho que se alojou no
coração e nunca mais vais esquecer!
E eu, vou ficando. Até quando?
Até a hora de partir. Nada me fará sair. Mas Chefe: - O Senhor não é mais um “Maciste”
para escoteirar! Dou risadas e penso: - Sair e desistir não é meu lema. Posso
perder uma batalha, mas mesmo partindo um dia desta vida levarei comigo uma
vitória de ter feito o que fiz sorrindo e acreditando que se tivesse de começar
tudo novamente, faria tudo de novo!
Nota de rodapé: - Existe em nosso
grandioso movimento, uma legião. Uma Legião de Esquecidos. São de diversas
idades, podem ser jovens, lobos ou voluntários que um dia acharam que podiam
ajudar. Não estão mais aqui. Resolveram partir por achar que ali não era mais o
seu lugar. Não receberam na saída nenhum elogio, nenhum agradecimento, nenhuma
condecoração. Afinal para que? Não precisa. Eles agora fazem parte de uma
Legião, uma Legião dos esquecidos.
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