Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Mensalidades + Taxas = Patrimônio perfeito.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Mensalidades + Taxas = Patrimônio perfeito.

                Verdade? Bem sabemos que hoje em dia sem pagar taxas ou mensalidades não podemos nos associar a nenhuma organização. As cobranças são perfeitas. Você pode pagar por depósito em banco, cartão, boletos ou mesmo pelo celular que oferece mil maneiras de tirar seu rico dinheiro do bolso. E no escotismo? Bem cada Grupo cada Região e a Nacional têm suas fórmulas mágicas. Mas não pense que vai ter alguma coisa de graça. Não vai. Ou você paga ou então vá ser Escoteiro em outra freguesia. Até que concordo, pois sem dinheiro não podemos fazer nada, no entanto isto está virando um pandemônio para muitos jovens que querem ser como os mais bem aquinhoados e não são. Se eu disser como foi no passado os novos ricos escoteiros vão cair matando. Vão dizer que passado era passado, presente é presente e devemos nos precaver para o futuro.

                  Eu não sirvo de exemplo. Sou péssimo nisto. Afinal meus pais eram paupérrimos, a cozinha era junto com a sala e sentávamos em caixotes para as refeições. A tal mistura que dizem aqui em Sampa era uma vez por mês. Então entro para os lobos, minha mãe deu um duro danado lavando e passando roupa para fora para comprar o brim azul e ela mesmo fez meu uniforme. O grupo me deu o lenço, o meião e o boné. – O Grupo deu? Deu sim. Os chefes e simpatizantes faziam tudo para facilitar nossa vida. Cresci, virei Escoteiro, eu mesmo fiz minha caixa de engraxate. Com ela comprei meu uniforme caqui, meu chapelão, meu cinto, minha faca, minha machadinha, a mochila ganhei do grupo, o cantil um chinês amigo do meu pai me deu. Hoje? Necas! Isto não existe mais. Mensalidades naquela época? Dinheiro de hoje por volta de dois reais. Mixaria? Pode ser, mas a maioria não podia pagar. Acampar? Cada um pedia a mamãe um pouco de cada coisa. Nunca passamos fome e fizemos belos e lindos acampamentos. Eu que o diga com minhas mais de setecentas noites de acampamento.

                  Quando um grupo resolvia convidar outros para uma atividade em conjunto todos traziam seus mantimentos. Nunca se pensou em taxas. Claro que muitas cidades os prefeitos doavam a intendência. A coisa começou a se complicar com os novos dirigentes com pensamentos modernos e viram onde tirar nosso rico dinheirinho nos eventos regionais e nacionais. Apareceram as tais taxas. No início pequena, mas depois foram crescendo. Nossa liderança regional e nacional sabiam que ali tinha uma mina de ouro. Quem pagaria? Os associados claro. E ela daria o que em troca? Boa pergunta. Falam bem dela, do tal de SIGUE que ensina a você tudo, da sede nacional que está em pleno vapor e dizem que é linda. Da cantina que vende no cartão, e deve ter mil formulas seguras para receber seu rico dinheirinho. Dizem que lá tem dezenas de funcionários e até profissionais bem treinados. Verdade? Não sei assim me disseram. Ela é supimpa. Tem várias formas de cobrança. Não conheço todas, mas não vende fiado, se não pagar o registro não participa de nada e olhe se quiser registrar tem numero mínimo e não tem choro e nem vela. E olhe tudo é barato, vestimenta até de duzentos reais. Você escolhe o número e ela fabrica para você. Não reclame se desbotar. Ela não troca depois de um mês.

                   Não vamos só reclamar, ela ajuda os mais humildes com isenção de mensalidades não das taxas. Exige uma documentação que muitos ficam pensando se vale a pena comprovar que é pobre. Ah! Como é duro ser pobre! Apresentou tudo que pediram então recebem a carteirinha. Gente fina é outra coisa. Mas as taxas não tem meu pé me dói. Se não pagar não participa. Nos eventos nacionais elas são exigidas e soube que até em Jamborees Internacionais ou outros eventos fora do Brasil, ela cobra sua taxa fora a do país anfitrião. E em dólar, por favor! Vamos ficar só no Brasil. Vejamos as taxas dos jamborees no Brasil. Claro que eles tiveram inúmeros patrocínios, mas a taxa individual é sagrada. Ou melhor, salgada. Você paga uma taxa de quase um salário mínimo ou mais, tem o transporte ida e volta, alimentação extra e se quiser passear na cidade vai gastar mais umas moedinhas. Este ano a Assembleia Nacional será realizado no norte do pais. Um Chefe lá faz o que pode para dar tudo que pediram. Tentou hotéis mais baratos, tudo, mas a taxa tem que pagar a nacional não perdoa.

                    Quando da realização da Assembleia Nacional em São Paulo um passarinho me contou que a Região conseguiu patrocínio para tudo. Poderia ter sido tudo gratuito. A Nacional bateu o pé. Precisamos manter nosso caixa disseram. Muitas regiões fazem das tripas e corações para cobrar menos, mas agora a mensalidade do registro regional foi incorporada e se paga a parte. E os Grupos Escoteiros? Estes vivem na luta atrás de bens de capital, sem posses, sem recursos batendo prego em bancos de areia na beira dos rios. Sei que tem alguns com uma estrutura bem montada para receber o que lhe é devido. A maioria, entretanto nem receber suas mensalidades conseguem. E quando vão acampar? É um Deus nos acuda! Pede aqui, pede ali pede acolá. Participar de eventos regionais e nacionais agora é individual. Se algum jovem pode pagar vai e os demais ficam. Não exigem mais patrulhas completas. Agora é individual e lá as turminhas se formam enquanto os chefes na sua maioria passeiam de lá para cá a discutir o escotismo mundial de Baden-Powell. Soube que para cada jovem participante nestas atividades tem mais de trintas chefes presentes.

                        Não podemos reclamar. Tem cursos de dar em doido. Pode pagar a taxa? Então vai. Não pode? Faça economia bicho! Afinal não quer aprender? O Movimento Escoteiro é único onde o voluntário tem de pagar para ajudar. Ele paga suas taxas, mensalidades, dos seus filhos e olhe que tem muitos que pagam até dos filhos dos outros, pois ele chega com aquela carinha e diz: - Chefe! Eu não posso pagar! Quem dera eles tivessem uma estrutura profissional para cobrar dos pais às mensalidades. Tem grupos que são bem estruturados e tem soluções para tudo. Jantar dançante, bingo, festa do sorvete e não vai faltar a feijoada. Bendita feijoada que os chefes se matam para vender os ingressos e nem sempre dão os resultados esperados. Eu digo sempre falar é fácil, mas alguém da direção arregaçar as mangas e dizer: - Chefe conte comigo, sou da Região e da UEB, vim ombrear com você para montar um caixa em seu grupo de dar inveja. Sonho? Deve ser sim, pois me belisquei e acordei na hora.

                         Não adianta assessor pessoal, distrital, cursos e o escambal. Sempre teremos Grupos Escoteiros neste grande Brasil cuja estrutura é simples e nunca possuem nada no caixa. Fechar? Será que a UEB pensa assim ou vê neles uma maneira de arrecadar para ela? Cá prá nós, aqueles que labutam em grupos humildes sabem que nem sempre podem contar com os pais. Dizer para eles que quem precisa do escotismo são eles e não você é utopia. Ele na sua maioria não pagam as mensalidades. Afinal quem ganha um dois ou três salário mínimo, de onde vai tirar uma sobra? E o leite das crianças? Quem tem coragem de dizer: - Se não pode pagar, não traga seu filho aqui!  


                 Enfim como diz aquele Chefe bem formado, lenço bonito no pescoço, vestimenta nova, camisa para fora da calça (está nos trinques) bom emprego que olha para seus alunos no curso e diz: - Não existe almoço grátis. – Você pergunta: - E um pãozinho com manteiga tem? Acho que sim, quando for visitar a sede regional ou nacional eles vão lhe convidar para um almoço grátis no melhor restaurante ou vão mandar o cantineiro buscar um pãozinho seco e duro para você. Pois é e pensar que Baden-Powell pensou que quem precisava do escotismo eram os mais humildes e hoje vemos isto aí chega a doer não?

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