Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Quando termina a motivação o que
fazer?
Chegando o
final de ano. Mais uma leva de chefes entrando para a Legião dos Esquecidos.
Quem são eles? São os que desistiram. Tiveram seus motivos. Sabemos que a UEB
as Regiões e Distritos não se preocupam com eles. Os grupos perdem e correm a
procurar substitutos. Quantos já se foram? Mil? Cinquenta mil? Cem mil? Pense e
depois me diga. Nunca na vida real iremos saber, pois não existe um senso sobre
isto. Não precisamos estar presentes em cada Grupo Escoteiro para saber. E olhe
estamos falando de adultos, pois de jovens nem adianta falar. Assim como todos
que um dia foram Escoteiros e saíram ninguém se lembra. Eu os chamo da Legião
dos Esquecidos. Fiz até um artigo sobre o tema. Hoje me veio à mente um dos
motivos que fazem com que partamos das fileiras Escoteiras para nunca mais
voltar. Cada um de nós sabemos o que acontece quando estamos na ativa. Sabemos também
que os jovens nos motivam e nos fazem sorrir, mas os adultos? Ufa! É difícil viver
em grupo onde cada um tem seu próprio idioma em uma enorme torre de babel.
A motivação nem sempre é
constante, É difícil aconselhar quem não há tem mais. Quem não passou por isto?
Tem hora que você desanima. Dá vontade de largar tudo e sair por ai. Outros
ainda insistem, mas sabem que o caminho que estão seguindo não leva ao sucesso.
Se procurarmos um serviço de autoajuda teremos vários. As belas frases de
efeito pululam por todos os lados. Todas com belas palavras, mas que não nos
fazem sentir revigorados como antes. O escotismo é interessante. No início tudo
são flores, sorrisos, promessas, alguns até deixam as amizades que tinham em
troca de novas que conquistaram. Nos primeiros meses, e até nos primeiros anos
aqueles mais chegados que não foram catequisados espantam com tanto carisma,
com tanta alegria e demonstração de que ele alcançou um novo patamar, uma nova
vida. Agora sou feliz ele pensa. Será mesmo?
Dizem os poetas que o que
mais sofremos no mundo não é a dificuldade, é o desânimo em superá-la. Não é a
provação, é o desespero diante do sofrimento. Não seria o fracasso e sim a
teimosia de não reconhecer os próprios erros.
Mas o maior poeta já tinha dito que tudo isto são palavras e palavras
nada mais são que palavras. Eu já passei por isto. Inúmeras vezes. Os problemas
são diversos. Familiar, profissional, falta de ética, de amor, tratamento
diferenciado, de sinceridade dos que se dizem irmãos de uniforme e de sangue e
tantos sorrindo para você e você querendo chorar. Sabe da vontade de encontrar
um buraco e se enfiar nele. Claro tem os mais fortes. Eles não transmitem para
ninguém seus desânimos. São fortes. Tem sempre uma explicação para tudo. Mas
será que dizem a verdade?
Se notarmos bem a matemática
Escoteira ela é simples. Trinta e poucas reuniões por ano. Somando as reuniões
de sede, acampamentos e excursões que sabe podemos chegar a aproximadamente
quinhentas horas anuais. Claro, prevendo quatro atividades (e aí considerei às
de vinte horas do dia) e considerando também nove meses de atividade, pois
muitos têm férias em julho, dezembro e janeiro. Se estiver certo dedicamos
cerca de vinte dias por ano ao escotismo. Claro que tem aqueles mais abnegados
com o dobro de horas trabalhadas. Para uns uma eternidade para outros muito
pouco. Mas porque então o desanimo? Olhem, existem vários motivos, mas para mim
o principal deles é a decepção com o ser humano. Querer abancar o mundo e dizer
que o líder é aquele que sabe liderar e ser liderado é fácil. Mas nem todos
pensam assim. Tem os déspotas, que com o tempo a gente se sente ameaçado por
uma força opressora mesmo vindo de alguém que se diz amigo de todos e irmãos
dos demais.
Nestas horas é que todos nós
sentimos falta de um aperto de mão carinhoso sincero. Que falta que faz um
abraço, um sorriso uma palavra de carinho principalmente daqueles que
convivemos em ambiente que achamos familiar no grupo Escoteiro. Tem aqueles que
nos olham como se fossemos parte do todo, indispensáveis em todos os sentidos,
mas não é assim a maioria. Estes nos veem como indesejáveis, subservientes,
dispensáveis, e se pudesse diriam: - Vocês estão aqui para servir e mais nada!
Lembrem-se da promessa! Para ser como eu tem que “ralar”. E então vem aquele
desanimo aquela vontade de sumir de mandar todo mundo às favas. Nem sempre
fazemos na hora. A promessa que fizemos é um nó que nos atou nos sonhos
escoteiros. Insistimos e alguns dão a volta por cima, mas outros, estes não
conseguem. Quem sabe está aí um dos motivos da grande perda que temos de
adultos que estão nos ajudando como voluntários, mas foram considerados eternos
desconhecidos.
Não é o programa somente que
nos afeta. Poderiam ser nossas finanças que apertam a cada atividade, a cada
taxa cobrada seja em cursos e tem alguns que voluntários Escoteiros que pagam
mensalidades. Pode! Está ali ajudando e paga para ajudar. Não sei e até posso
estar enganado, mas se todos que labutam nas lides escoteiras, do mais alto
escalão a aquele que está dando tudo de si pudessem mudar tentar um pouco ser
mais irmão, não pensar em si próprio e dizer ao seu amigo palavras gostosas de
motivação: - Que alegria em te ver novamente! - Aceite um forte aperto de mão
sincero! - Posso te dar um abraço? - Quero que saiba que você é muito
importante para nós, não nos deixe nunca, pois sem você iremos perder muito na
expansão do nosso Movimento Escoteiro.
E aí quem sabe, seu
desânimo seria guardado lá bem no fundo do bornal, pois você passou a acreditar
que agora estava vivendo entre irmãos escoteiros. E você iria acreditar que não
haveria mais os superiores, não haveria mais aquele sorriso de desdém, não
haveria mais a conversa de esquina, a conversa de comadre. Ninguém iria
desmerecer seu trabalho. Mas olhe, de vez em quando é bom dar um passo a
frente. Faça um pouco a sua parte. Como dizia o nosso fundador e repetido por muitos,
a felicidade só é completa quando você também conseguir fazer a felicidade dos
outros!
¶Põe tuas mágoas bem no
fundo do bornal e sorri, sorri e sorri,
O que importa é vencer
o mal, mantem sua alegria,
Não importa você se
zangar, pois o mal há de acabar e então!
Põe tuas mágoas bem no
fundo do bornal e sorri, sorri e sorri.¶.
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