Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O bom e gostoso acampamento Escoteiro.


Crônicas de um Velho Escoteiro.
O bom e gostoso acampamento Escoteiro.

                 Nunca será substituído. Sempre lembrado e sempre marcado na vida de quem já participou. Ficar semanas de espera do dia, ver o corre, corre das patrulhas a preparar seus materiais, revisar barracas, contar os espeques, o varão, dobrar com aquele carinho que aprendeu. E o Saco de Patrulha? – Intendente, tudo nos trinques? Tem facão? Machadinha? Lima morsa? Tem martelinho? Serrotinho? E as panelas brilhando como sempre? Não esqueça o coador de café, chega de coar nas meias! Risos. E assim tudo vai sendo preparado, olhado e sonhado. Não nos esquecemos da ultima reunião de patrulha – O Monitor lembrou a cada um sua função no campo. – Espero de vocês muita alegria, muita vontade e que se divirtam e não esquecer que somos uma equipe. Alguns são Patas tenras mas a maioria já sabe como é. Aproveitemos pois esta oportunidade de viver a natureza, de sentir o vento, poder ver as estrelas e mostrar nossas qualidades de patrulheiros da Leão!

                  E chega o dia, horário de saída as oito, ônibus cheio, material já foi empacotado e colocado no bagaceiro, uns olham para os outros, cada um com um sorriso diferente. Os mateiros se ajeitam, os novatos tentam entender aquela algazarra gostosa e organizada. As canções começam, um dos chefes está lá na frente olhando. Ele sabe do valor de um acampamento Escoteiro. Os monitores tiram uma pequena soneca. Sabem o que virá quando chegar lá. Conhecem o local pois foram lá com o Chefe. Boa aguada, bambus à vontade, uma pequena floresta a sudeste, algum gado solto no campo, uma bela lagoa que todos tomarão cuidado na hora do banho. Eles têm conhecimento de parte do programa, do cardápio, dos horários. A Corte de Honra discutiu tudo. O Monitor da Leão sabe o que é um acampamento. Ele fez muitos. Nunca esqueceu o seu primeiro. Dias na cama, mãos sobre a nuca, a pensar no que iria acontecer.

                   A saída para um acampamento sempre é um espetáculo a parte. Mães, pais, avós, tias e vizinhos todos ali a olharem seu pequerrucho, saber que vai ser o seu primeiro dia fora de casa, uma preocupação do que vai acontecer. Ele sozinho e amigos no mato. No mato? E as cobras? E se ele cair em um buraco? E se ele se afogar? E se cortar com o facão. Mil coisas passam na mente destes super protetores. Esqueceram que um dia eles irão partir, criar uma família sentir também na pele o que aconteceu com ele, mas não vale a pena? Ele não tem que um dia ser dono de sí? Eles não tem que aprender a lutar pela vida, seu lugar ao sol, tomar decisões? Ainda bem que muitos dos pais sabem que esta é a hora. A hora que eles terão que decidir o que vão fazer e para onde ir. Tomadas de decisões, olhar seu próprio material, aprender a lavar, a cozinhar, a saber que ali eles não estão sós. São uma patrulha, quem sabe seis, sete oito jovens como ele a viver a vida de herói da selva. Um herói diferente, um herói que viveu na floresta, que sentiu na pele o vento da chuva, que sabe que não vai fraquejar.

                   E eis que chegam à sua nova morada. Pastos enormes, capins, arvores, sons de bichos, de pássaros, quem sabe o som do regato que corre para o mar. Hora de trabalho. Monitores escolhem seu campo. Levar o material, o sol a pino, alguns fraquejam mas são soberbamente lembrados de suas responsabilidades pelos monitores. Ele o Monitor sabe que o inicio não é fácil. Armar barracas, preparar o fogão suspenso feito de barro, Não esquecer os toldos por causa da chuva se vier. As pioneirias irão surgir, o mais novato sorri sem jeito, quer um facão para cortar uma árvore! Os novatos são assim, nem aprenderam ainda a usar o facão, mas haverá tempo para isto. Três apitos, sinal de reunir todos. A bandeira já está preparada. Os touros foram escolhidos para serem naquele dia a patrulha de serviço. Eles sabem o que fazer. São meninos profissionais Escoteiros. A bandeira farfalhando vai ao ar, o vento bate, ela reflete o orgulho dos que estão ali pelo seu país.

                     Um jogo, um tempo livre para um lanche pois neste dia haverá só um lanche à tarde, o jantar e uma bebida quente na hora de recolher. Poxa! Tem um comendo biscoitos? Não pode. Ali é um por todos e todos por um. O que um come é direito dos demais comer também. O Monitor sorrindo explica, ele entende, não fará mais isto. Vem à tarde, o cansaço do primeiro dia começa a aparecer. Eles sabem que os chefes estão lá no seu campo. Não virão aqui, só se convidados. Cada um tem sua casa e seu direito de receber quem quiser. Vem à noite, fumaça no fogão, olhinhos fixo na frigideira que frita linguiças. Uma fome enorme! Ninguém mexe, só quando o cozinheiro chamar todos, agradecerem a Deus pela refeição e se regalarem com aquela refeição dos deuses. A noite chega firme. As estrelas no céu brilham. Um jogo noturno, um medo enorme dos novatos, mas no final sorriso em profusões. Hora de dormir, um toque longo do Chifre do Kudu avisando que o amanhã vem aí. Boa noite!   

                   O primeiro dia se foi, o segundo também o terceiro é o penúltimo. Todos cansados mas alegres. Cada patrulha fez o máximo para transformar seu campo na extensão de sua casa. Tem mesa, cadeiras, bancos, um cercado para lenha lonado, uma casa de bambu pequena para abrigar o material de sapa. Construíram um belo WC contra o vento bem lá atrás do acampamento! Fossas de líquido, de detritos fossas de todo jeito. Hoje tem Fogo de Conselho. A espera é longa, as patrulhas se preparam, cada uma vai se apresentar no palco do mundo. As estrelas irão assistir, um cometa irá passar saudando a todos. Mais um fogo para lhes dar o calor e lembranças que ficarão gravadas na mente por toda a vida. Um final maravilhoso! Mãos entrelaçadas, olhos húmidos a cantar que não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus. Uma palma Escoteira, hora de dormir, monitores fazem sua última corte de hora e rememoram o que ali aconteceu. Todos sorriem, hora de dormir também.

                   A chegada, no caminho quase todos dormindo, o corpo cansado mas a mente preparada para o próximo. Aprenderam a viver na selva, aprenderam a fazer fazendo, agora sabem que não são mais pata tenra, são Escoteiros e escoteiras de primeira classe. A chegada, mães, pais, tios, primas, avós todo mundo ali a esperar preocupados. Mal sabem eles que tem filhos e filhas agora preparados para enfrentar a vida. O escotismo nestes quatro  dias de campo lhes deu anos de aprendizado na cidade. Este acampamento vai deixar saudades, vai deixar marcas profundas, lembranças de um tempo que ficará na história no livro da vida de cada um. Ah escotismo! Que poder você tem? O que faz para construir tantos sorrisos, valentes jovens a aprender o bem e o mal? Prometo pela minha honra! E ele chega a casa, conta tudo, pais, mães, tias, avós primas, vizinhos em volta a ouvir. – Eu não tive medo! Eu enfrentei a escuridão, eu enfrentei a chuva, aprendi a amar meus irmãos e...

Acampar! A maior aventura que um Escoteiro ou uma Escoteira pode viver!       

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