Crônicas de
um Velho Escoteiro.
O bom e
gostoso acampamento Escoteiro.
Nunca será substituído. Sempre lembrado e
sempre marcado na vida de quem já participou. Ficar semanas de espera do dia,
ver o corre, corre das patrulhas a preparar seus materiais, revisar barracas,
contar os espeques, o varão, dobrar com aquele carinho que aprendeu. E o Saco
de Patrulha? – Intendente, tudo nos trinques? Tem facão? Machadinha? Lima
morsa? Tem martelinho? Serrotinho? E as panelas brilhando como sempre? Não
esqueça o coador de café, chega de coar nas meias! Risos. E assim tudo vai
sendo preparado, olhado e sonhado. Não nos esquecemos da ultima reunião de
patrulha – O Monitor lembrou a cada um sua função no campo. – Espero de vocês
muita alegria, muita vontade e que se divirtam e não esquecer que somos uma
equipe. Alguns são Patas tenras mas a maioria já sabe como é. Aproveitemos pois
esta oportunidade de viver a natureza, de sentir o vento, poder ver as estrelas
e mostrar nossas qualidades de patrulheiros da Leão!
E chega o dia, horário de
saída as oito, ônibus cheio, material já foi empacotado e colocado no
bagaceiro, uns olham para os outros, cada um com um sorriso diferente. Os
mateiros se ajeitam, os novatos tentam entender aquela algazarra gostosa e
organizada. As canções começam, um dos chefes está lá na frente olhando. Ele
sabe do valor de um acampamento Escoteiro. Os monitores tiram uma pequena
soneca. Sabem o que virá quando chegar lá. Conhecem o local pois foram lá com o
Chefe. Boa aguada, bambus à vontade, uma pequena floresta a sudeste, algum gado
solto no campo, uma bela lagoa que todos tomarão cuidado na hora do banho. Eles
têm conhecimento de parte do programa, do cardápio, dos horários. A Corte de
Honra discutiu tudo. O Monitor da Leão sabe o que é um acampamento. Ele fez
muitos. Nunca esqueceu o seu primeiro. Dias na cama, mãos sobre a nuca, a
pensar no que iria acontecer.
A saída para um acampamento
sempre é um espetáculo a parte. Mães, pais, avós, tias e vizinhos todos ali a
olharem seu pequerrucho, saber que vai ser o seu primeiro dia fora de casa, uma
preocupação do que vai acontecer. Ele sozinho e amigos no mato. No mato? E as
cobras? E se ele cair em um buraco? E se ele se afogar? E se cortar com o facão.
Mil coisas passam na mente destes super protetores. Esqueceram que um dia eles
irão partir, criar uma família sentir também na pele o que aconteceu com ele,
mas não vale a pena? Ele não tem que um dia ser dono de sí? Eles não tem que
aprender a lutar pela vida, seu lugar ao sol, tomar decisões? Ainda bem que
muitos dos pais sabem que esta é a hora. A hora que eles terão que decidir o
que vão fazer e para onde ir. Tomadas de decisões, olhar seu próprio material,
aprender a lavar, a cozinhar, a saber que ali eles não estão sós. São uma
patrulha, quem sabe seis, sete oito jovens como ele a viver a vida de herói da
selva. Um herói diferente, um herói que viveu na floresta, que sentiu na pele o
vento da chuva, que sabe que não vai fraquejar.
E eis que chegam à sua nova morada. Pastos
enormes, capins, arvores, sons de bichos, de pássaros, quem sabe o som do
regato que corre para o mar. Hora de trabalho. Monitores escolhem seu campo.
Levar o material, o sol a pino, alguns fraquejam mas são soberbamente lembrados
de suas responsabilidades pelos monitores. Ele o Monitor sabe que o inicio não
é fácil. Armar barracas, preparar o fogão suspenso feito de barro, Não esquecer
os toldos por causa da chuva se vier. As pioneirias irão surgir, o mais novato
sorri sem jeito, quer um facão para cortar uma árvore! Os novatos são assim,
nem aprenderam ainda a usar o facão, mas haverá tempo para isto. Três apitos,
sinal de reunir todos. A bandeira já está preparada. Os touros foram escolhidos
para serem naquele dia a patrulha de serviço. Eles sabem o que fazer. São meninos
profissionais Escoteiros. A bandeira farfalhando vai ao ar, o vento bate, ela
reflete o orgulho dos que estão ali pelo seu país.
Um jogo, um tempo livre
para um lanche pois neste dia haverá só um lanche à tarde, o jantar e uma
bebida quente na hora de recolher. Poxa! Tem um comendo biscoitos? Não pode.
Ali é um por todos e todos por um. O que um come é direito dos demais comer
também. O Monitor sorrindo explica, ele entende, não fará mais isto. Vem à
tarde, o cansaço do primeiro dia começa a aparecer. Eles sabem que os chefes
estão lá no seu campo. Não virão aqui, só se convidados. Cada um tem sua casa e
seu direito de receber quem quiser. Vem à noite, fumaça no fogão, olhinhos fixo
na frigideira que frita linguiças. Uma fome enorme! Ninguém mexe, só quando o
cozinheiro chamar todos, agradecerem a Deus pela refeição e se regalarem com
aquela refeição dos deuses. A noite chega firme. As estrelas no céu brilham. Um
jogo noturno, um medo enorme dos novatos, mas no final sorriso em profusões.
Hora de dormir, um toque longo do Chifre do Kudu avisando que o amanhã vem aí.
Boa noite!
O primeiro dia se foi, o
segundo também o terceiro é o penúltimo. Todos cansados mas alegres. Cada
patrulha fez o máximo para transformar seu campo na extensão de sua casa. Tem
mesa, cadeiras, bancos, um cercado para lenha lonado, uma casa de bambu pequena
para abrigar o material de sapa. Construíram um belo WC contra o vento bem lá
atrás do acampamento! Fossas de líquido, de detritos fossas de todo jeito. Hoje
tem Fogo de Conselho. A espera é longa, as patrulhas se preparam, cada uma vai
se apresentar no palco do mundo. As estrelas irão assistir, um cometa irá
passar saudando a todos. Mais um fogo para lhes dar o calor e lembranças que
ficarão gravadas na mente por toda a vida. Um final maravilhoso! Mãos
entrelaçadas, olhos húmidos a cantar que não é mais que um até logo, não é mais
que um breve adeus. Uma palma Escoteira, hora de dormir, monitores fazem sua
última corte de hora e rememoram o que ali aconteceu. Todos sorriem, hora de
dormir também.
A chegada, no caminho quase
todos dormindo, o corpo cansado mas a mente preparada para o próximo.
Aprenderam a viver na selva, aprenderam a fazer fazendo, agora sabem que não
são mais pata tenra, são Escoteiros e escoteiras de primeira classe. A chegada,
mães, pais, tios, primas, avós todo mundo ali a esperar preocupados. Mal sabem
eles que tem filhos e filhas agora preparados para enfrentar a vida. O
escotismo nestes quatro dias de campo
lhes deu anos de aprendizado na cidade. Este acampamento vai deixar saudades,
vai deixar marcas profundas, lembranças de um tempo que ficará na história no
livro da vida de cada um. Ah escotismo! Que poder você tem? O que faz para
construir tantos sorrisos, valentes jovens a aprender o bem e o mal? Prometo
pela minha honra! E ele chega a casa, conta tudo, pais, mães, tias, avós
primas, vizinhos em volta a ouvir. – Eu não tive medo! Eu enfrentei a
escuridão, eu enfrentei a chuva, aprendi a amar meus irmãos e...
Acampar! A maior
aventura que um Escoteiro ou uma Escoteira pode viver!
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