Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Chefes Escoteiros que ficaram na história.
Estamos vivendo uma nova era do escotismo. Lideranças aparecem e
desaparecem sem deixar rastro. Alguns permanecem tentando escrever seus nomes
nas páginas da história do Escotismo Brasileiro. Ao seu modo estão mudando
nosso destino como se eles soubessem onde devemos chegar. São muitos, alguns
ficam outros desaparecem e a gente não ouve mais falar. Nas páginas dos novos
poetas, pensadores, doutores professores e pedagogos a educação escoteira tem
outra forma de fazer e interpretar. As idéias de B-P não servem mais para os
tempos do futuro. Dizem que os jovens se preocupam mais com as descobertas da
física, da matemática, das descobertas tecnológicas. Assim dizem os novos
pedagogos do escotismo. A vida ao ar livre está sendo substituída pela sala de
aula, pela sede, por um programa moderno e viver na natureza fazendo aventuras
se tornou um empecilho pelas exigências burocráticas que são exigidas.
Eu um Velho teimoso e
mordaz escrevo o que não devo. Dizem que sou espirituoso e que desconheço a
realidade do século XXI. Acho que sou e serei sempre um eterno saudosista dos
tempos idos que marcaram uma geração. Homens e mulheres forjados no verdadeiro
espírito Escoteiro onde a fraternidade tem seu lugar sem distinção de classe,
credo ou mesmo burocracias exigidas para provar que é um Escoteiro do Brasil. Hoje
me lembrei de alguns nomes que ficaram na história escoteira. Nomes que
dignificaram o Escotismo de Baden-Powell. Nomes que nunca serão esquecidos
passe o tempo que passar. Se eles estão lá no Grande Acampamento, se abraçando,
confraternizando seja de que pais ou associação for eu não sei. Desculpem-me os
que conheceram outros nomes que aqui deixei de citar. Minha única intenção foi
de mostrar que já tivemos homens escoteiros que pudemos orgulhar.
Quem já ouviu histórias do Velho Lobo? Sim o primeiro a ser chamado
assim. Benjamim Sodré, o Almirante famoso que emprestou seu nome para a
história escoteira e soube muito bem explorar a metodologia entre os pares que
viveu e conheceu. Sua história escoteira é rica em detalhes, em construir
felicidades, em dar sem receber e dar um aperto de mão honesto e não só para
aquele quem tem o registro na UEB. Vamos pular o grande Velho Lobo e procurar
nas páginas da história outro que foi um orgulho para nós. O Ministro Guido
Mondin. Ministro? Sim, tivemos um ministro, valoroso, não vaidoso, que fazia
questão da flor de lis da lapela onde estivesse. Gostava de dizer que era
Escoteiro de coração. Não tinha meias palavras, não gostava de bajulação. Sempre
pronto a colaborar com o escotismo brasileiro sem ostentação. Não se colocou em
um pedestal, como muitos fazem hoje. Seu poema ficou na história e dizia tudo
sobre seu temperamento e do que achava dos novos chefões que hoje pululam por
aí.
- Escoteiro... - “Despe teu uniforme, interesseiro, Pois não é
nele que vive a Disciplina”. Nem por vesti-lo te fazes Escoteiro, Como o exige
nossa lúcida doutrina. Que importa a Promessa que te ensina a ser da nossa
causa um Cavalheiro, sem a conquista da insígnia peregrina do caráter de um
homem verdadeiro? Escotismo é escola de Lealdade, de Amor, de Ação e
Inteligência, isenta de arrogância e veleidade. Se não o compreendeste, então
importa que o construas primeiro, na consciência. Cumpre a nossa Lei… e depois
volta! – Falar mais o que deste homem?
Não podemos esquecer-nos
do Chefe João Ribeiro dos Santos. Um Escoteiro que preferia o título de Chefe a
ser chamado de doutor. Um homem cativante, alegre e conhecer de tantos assuntos
que nem podemos imaginar. Seu exemplo foi servir. Servir ao próximo, a
comunidade e principalmente o escotismo que era um apaixonado. Suas obras
Escoteiras ficaram para sempre marcadas na memória. Suas letras musicais
inesquecíveis. Quem não se lembra da divertida “Panelas”? Da “Canção do
Lobinho”? E daquela que é cantada até hoje de norte a sul do Brasil? – “Viemos
do norte, do sul e do leste, viemos do oeste de todo Brasil”! Demais. Quando
milhares de jovens repetiu seu canto dizendo: Lavando as panelas somos todos
irmãos? Uma frase que ficou na história. Ele viajava pelo Brasil para dar
cursos, foi agraciado na época com os títulos mais desejados de Gilwell Park
tais como ADCC (Assistente Deputado Chefe de Campo) e depois DCC (Deputado
Chefe de Campo) sabemos que poucos conseguiram ter.
E o Chefe Francisco Floriano de Paula? Seus
livros foram sucesso e até hoje lembrados. “Para ser Escoteiro” ficou na
história. Desmembrado em três partes, Noviço, Segunda Classe e Primeira Classe foram
lidos pelos escoteiros de norte a sul do Brasil. Doutor, Professor catedrático,
deu sua vida pelo escotismo. Já Velho quase cego estava lá, dirigindo cursos
nos campos escola sempre ajudando e colaborando. Tivemos muitos homens
escoteiros valorosos, mas não posso me esquecer dele, um exemplo de amor ao
próximo, que teve a audácia de conseguir verba estadual para custear cursos a
chefes de todo o estado. Tive a honra de tê-lo como Diretor do meu primeiro
Curso da Insígnia de Madeira. Tive a honra de apertar sua mão, tive a honra de
abraçá-lo como um filho e nunca mais esquecê-lo.
Foram muitos os
Grandes Chefes que ficaram na história. Discorrer sobre cada um deles seria uma
honra, mas precisaria de um livro. Fico aqui algumas pequenas lembranças. O meu
amigo Sauro Bartolomei, um sorriso nos lábios, incapaz de uma critica ou uma
ofensa. Viajava para onde o convidavam sem nada cobrar. E o meu líder Chefe
Darcy Malta, um homem a quem devo tudo na vida escoteira. São tantos meu Deus!
Tantos que as lágrimas aparecem só ao lembrar. E hoje? Como são forjados os
novos lideres? Tem algum que vai para os anais da história? Que raça temos que
não sabe dar a mão sabe ser amigo e dizer que mesmo não sendo da UEB somos
todos irmãos? Que raça estamos fabricando onde primeiro se vê brigas, processos
condenatórios, exigências burocráticas, corrida atrás de valores financeiros? Aqueles
que se arrogam como juiz a dizer que é o dono do nome Escoteiro? Já me
perguntei e não reluto em perguntar novamente: - Baden-Powell deu por escrito
seus direitos autorais? Disse que o escotismo pertence a algum país? Quem pode
se arvorar como dono? Isto é escotismo?
Ainda lembro com
saudades do nosso passado, do nosso marketing, do proselitismo Escoteiro, de grandes
empresas, organizações da mídia que faziam para nós. Hoje? Amigo esqueça. Se
vamos ter alguma mídia é melhor não ler. Não vai gostar. Se alguns destes novos
lideres que dirigem ao seu modo o escotismo brasileiro vai ficar na história eu
não sei. Sei que os resultados não são bons. Falta credibilidade, somos
achincalhados e visto pela população como um movimento falido. Falido na
apresentação pessoal, no garbo, nas ações, nas palavras e nas suas memórias. Saudades
de uma época, de homens dignos que elevaram o nome Escoteiro como orgulho da
nação.
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